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Por Lucianne Carneiro — Do Rio


A desaceleração do mercado de trabalho, prevista para 2023, deve ocorrer em 2024, apontam economistas. A expectativa é de uma dinâmica ainda positiva, mas o emprego deve ser afetado, de um lado, por crescimento menor da economia e, por outro, pelo retorno de pessoas à força de trabalho, o que pode pressionar a taxa de desemprego.

O ano passado foi de um mercado forte, com patamares recordes, como no caso de população ocupada, trabalhadores informais e massa de rendimentos, além do segundo maior contingente de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que começou em 2012. A força do setor formal é, inclusive, um dos destaques positivos do ano.

A taxa de desemprego, por sua vez, chegou ao menor nível em quase dez anos, com 7,5% no trimestre encerrado em novembro, a menor para o período desde 2014 (6,6%) e também na série da pesquisa, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda está, no entanto, 0,9 ponto percentual acima desse nível.

Para 2024, as projeções de dez bancos e consultorias apontam para uma taxa média de desemprego entre 7,5% e 8,3%, segundo levantamento do Valor Data, com taxas de até 8,4% no fim do ano. As estimativas sugerem algum aumento frente a 2023.

A Tendências Consultoria, por exemplo, vê taxa média de 8,2% em 2024, ante 8% em 2023. Já a LCA Consultores prevê taxa de 8,3% no fim deste ano, ante 7,2% no fim de 2023. Com uma visão mais otimista, o Banco Inter projeta taxa média de 7,7% em 2024, abaixo dos 8,1% estimados para o ano passado.

Um dos fatores que ajudam a explicar o nível mais baixo do desemprego em 2023, apontam especialistas, é que até agora a taxa de participação - que mede a parcela da população em idade de trabalhar que está empregada ou procurando trabalho - está abaixo do observado antes da pandemia. Isso significa que parte dos trabalhadores que saiu ou foi expulsa do mercado durante a pandemia ainda não retornou. E acredita-se que esse regresso ao mercado avance em 2024.

“Não há uma expectativa de reversão dos ganhos vistos em 2022 e 2023. Em 2024, esperamos uma manutenção da dinâmica positiva do mercado de trabalho, mas ainda sobre uma base deteriorada. Quando se compara em relação há uma década não se vê tantos ganhos no mercado como deveriam ter ocorrido. De qualquer forma, a taxa de desemprego deve sofrer alguma pressão”, afirma o economista da Tendências Lucas Assis.

Esperamos manutenção da dinâmica positiva do mercado, mas ainda sobre uma base deteriorada”
— Lucas Assis

O contingente de pessoas ocupadas vem batendo recordes mês a mês e ultrapassou pela primeira vez os 100 milhões pela primeira vez - está em 100,5 milhões, pelo dado mais recente. São 805 mil trabalhadores a mais que um ano antes, no trimestre encerrado em novembro de 2022, ou alta de 0,8%.

A boa notícia de 2023 é que foi uma expansão puxada pelo setor formal. Entre os trabalhadores do setor privado com carteira assinada, o aumento foi de 2,5%, ou de 935 mil pessoas, usando a mesma base de comparação. Já os trabalhadores informais tiveram expansão de 1,5%, ou 592 mil pessoas.

E esse mercado formal, que tende a uma remuneração maior, ajudou nos sinais positivos apontados pelo rendimento do trabalhador e pela massa de rendimentos. A renda média subiu 3,8% no trimestre encerrado em novembro, ante igual período de 2022, para R$ 3.034, enquanto a massa de rendimentos alcançou recorde de R$ 300,2 bilhões, com alta anual de 4,8%.

“O mercado de trabalho teve uma evolução forte ao longo de 2023, uma continuação do movimento de 2022, que já tinha surpreendido. E isso com um avanço do setor formal, que deve permitir que se chegue ao fim do ano com expansão da renda média entre 5% e 6%. Nossa avaliação é que o mercado continua robusto em 2024”, diz a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória.

Por trás do aumento da ocupação e da formalidade em 2023, economistas apontam o crescimento da economia, o crescimento demográfico, ganhos da reforma trabalhista, com menor judicialização de processos, e também a menor procura por trabalho, indicada numa taxa de participação ainda aquém do pré-pandemia.

A taxa de participação, que estava em 63,4% no trimestre encerrado em fevereiro de 2020, ainda se encontrava em 62% no dado mais recente, do trimestre encerrado em novembro de 2023. De meados de 2020 ao início de 2021 chegou a ficar abaixo dos 60%.

“O mercado de trabalho mostrou uma resiliência muito maior que a esperada em 2023 e claro que isso tem a ver com a atividade econômica. Além disso, observa sinais de que a reforma trabalhista lá de trás foi importante. Mas a tendência é de alguma desaceleração em 2024” diz o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Fernando de Holanda Barbosa Filho.

Ele pondera sobre o nível da taxa de participação, que reflete “a saída muito grande de pessoas do mercado de trabalho, especialmente entre os trabalhadores de mais baixa renda”. “Isso levanta a possibilidade de ligação com o aumento do valor do Bolsa Família”, nota.

O efeito do programa de transferência de renda na busca por trabalho também é citado por outros economistas, como Lucas Assis, da Tendências, Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, e Rafaela Vitória. A leitura, no entanto, é que este impacto tende a se diluir este ano, com manutenção do Bolsa Família no mesmo patamar, sem reajustes acima da inflação, a atualização do Cadastro Único (CadÚnico) e aumento da renda do trabalho formal.

“Em 2023, houve reajuste do salário mínimo em dois momentos e uma reformulação do Bolsa Família, o que gerou possível desincentivo à busca por trabalho entre os trabalhadores menos qualificados e de menor renda. Neste ano não se espera reajuste real do salário mínimo nem ampliação do Bolsa Família. Com o retorno ao mercado das pessoas que estavam como inativas, há pressão na taxa de desemprego”, explica Assis.

Para Bruno Imaizumi, o ajuste dos cadastros das famílias unipessoais no Cad Único deve estimular o retorno de muitos ao mercado. O número de famílias na categoria, que chegou a um pico de 5 milhões, foi reduzido em 1,6 milhão, segundo ele. O formato do Auxílio Brasil - versão do Bolsa Família lançada pelo governo Bolsonaro em 2022 - incentivou que famílias se dividissem na hora do cadastro, já que o valor de R$ 600 era o mesmo independentemente do número de pessoas de cada família.

Na avaliação de Imaizumi, o mercado de trabalho continuará com desenvolvimento positivo, mas “mais comedido”. “A desaceleração deve ocorrer, querendo ou não. No período entre a saída da recessão de 2025/2016 e antes da pandemia, entre 2017 e 2019, o mercado evoluía positivamente, mas de maneira lenta. E não deve ser muito diferente em 2024”, diz.

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