Usuário(a):JoséRodrigues20/Testes
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Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos | |
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Ficheiro:Cpfelogo.png | |
Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada | |
Fundação | 17 de Dezembro de 1924 (100 anos) |
Fundador(es) | António Rodrigues Nogueira |
Encerramento | 4 de novembro de 1986 (38 anos) |
Sede | Largo de São Carlos, Nº4 - 1 118 Lisboa Codex |
Empregados | ~ 800 |
Introdução
[editar | editar código-fonte]Com as suas principais instalações Fabris localizadas em Canas de Senhorim (concelho de Nelas, distrito de Viseu), a companhia desfrutou de uma série de condições privilegiadas. De entre das quais:
- Boa localização no que toca aos transportes (tanto rodoviários como ferroviários (com ramais privativos ligados à rede ferroviária da Beira Alta)
- Bom fornecimento de energia elétrica, já que as instalações fabris localizavam-se perto das centrais elétricas que as alimentavam.
História
[editar | editar código-fonte]Primórdios da CPFE (1908 a 1924)
[editar | editar código-fonte]No dia 13 de Janeiro de 1908, António Rodrigues Nogueira requereu a utilização da energia motriz das águas na serra da Estrela. O seu requerimento foi deferido por decreto de 20 de Abril de 1912, diploma que concedia «provisoriamente a António Rodrigues Nogueira licença para represamento e utilização das águas pluviais e fluviais que convergem à lagoa Comprida, na serra da Estrela [...]».
Já que se verificava uma produção excessiva de energia elétrica pela Empresa Hidroelétrica da Serra da Estrela (EHESE), fundada em 1909, a ideia da instalação de uma indústria que aproveitasse os respetivos excedentes foi concebida pelo empresário. Cerca de cinco anos após a concessão de 20 de Abril de 1912, por meio do alvará n° 51, foi concedido a «António Rodrigues Nogueira patente de introdução de nova indústria para o fabrico de carboneto de cálcio, pelo prazo de dez anos, contados da data deste alvará»4 . Por esta altura, o industrial andava à procura dos melhores terrenos para a instalação dos fomos elétricos. Inicialmente desejou comprar a Quinta da Cal, em Nelas, não tendo o negócio sido concluído por considerar exorbitante o preço por metro quadrado. Acabou por comprar os terrenos em frente da estação da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (CP) em Canas de Senhorim a António de Abreu Madeira, sendo este negócio datado de Agosto de 1917.
Fabricação de Carboneto de Cálcio (1924)
[editar | editar código-fonte]Nos termos do Decreto n.° 8364, de 2 de Setembro de 1922, que publicou o regulamento da higiene, salubridade e segurança nos estabelecimentos industriais, a CPFE, após novo requerimento, obteve a concessão do alvará n.° 3012 «para um estabelecimento de 1ª classe, fábrica de carboneto de cálcio» . Foi com aquela designação — fábrica de carboneto de cálcio ou fábrica de carboneto e, em linguagem popular, fábrica de carboreto — que foi conhecida a CPFE no meio local e regional. Como qualquer empresa, a CPFE teve a sua própria identidade. Ora, como primeiro e único produto durante mais de duas décadas, e continuando a ser essencial nos decénios seguintes, o carboneto de cálcio foi, sem dúvida, a base da identidade da empresa.
Com a instalação da central hidroelétrica de Vila Cova (concelho de Seia, distrito da Guarda) pela EHESE em 1937, «passou a ser regular o fornecimento de energia eléctrica e d'ahi um aumento de produção de carboneto de cálcio» .Tal situação refletiu-se na receita de vendas pelos finais dos anos 30, ultrapassando 4 milhões de escudos em cada um dos anos de 1937 e 1938. Sendo necessária a sua expansão, e a seu pedido, a CPFE foi autorizada a instalar «mais um forno de iguais características». Iniciada, entretanto, a Segunda Guerra Mundial, e devido às dificuldades na importação de combustíveis, a iluminação passou a ser feita em muitas terras da província quase exclusivamente por meio de gasómetros de acetileno.
Por isso, face à maior procura de carboneto de cálcio, a CPFE foi autorizada «a ampliar com um quinto forno elétrico, para o fabrico de carboneto de cálcio, a sua fábrica daquele produto». A indústria do carboneto de cálcio atravessou então uma fase de crescimento não só pelas razões indicadas, mas também por não haver concorrentes. No entanto, a instalação da Empresa Industrial do Freixo, em 1946, provocou uma redução nas vendas e a consequente baixa de produção. Nestas circunstâncias, a instalação de mais um forno elétrico, solicitada em Novembro de 1942, foi autorizada em Dezembro de 1947, com a condição de ser utilizado apenas para realizar experiências. Apesar deste condicionamento, o carboneto de cálcio viria a contribuir para a grande viragem dos anos 50 e 60. O aumento de consumo justificou novos requerimentos para a instalação de mais fornos elétricos, sendo deferidos por despachos de 20 de Agosto de 1957 a instalação do 7.° forno e a 8 de Abril de 1959 a instalação dos 8.° e 9.° fornos para o fabrico de carboneto de cálcio.
Principais clientes do Carboneto de Cálcio: Ar Líquido e Sogás (Mercado Interno) e Marrocos, Paquistão, Angola e Moçambique (Mercado Externo).
Fabricação de Ferro-Gusa (1946)
[editar | editar código-fonte]Também neste sector, a CPFE esteve atenta às necessidades do país, sendo pioneira na produção de ferro-gusa para a indústria de fundição. Na sequência de experiências levadas a cabo a partir de 1946, e admitida a possibilidade do fabrico de ferro-gusa em forno elétrico, a CPFE foi autorizada «a produzir ferro-gusa na sua fábrica sita em Canas de Senhorim, utilizando o equipamento fabril atualmente montado». Mais de 90% da composição de gusa era constituída por sucata de ferro, limalhas de ferro, pedaços de louças esmaltadas e retalhos de folha-de-flandres. A exportação destes desperdícios provocou algumas dificuldades na sua obtenção por parte da CPFE, pelo que solicitou a proibição da venda para o mercado externo. O governo, acedendo ao pedido, proibiu, «pelo prazo renovável de um ano, a exportação de limalhas de aço de torno, de desperdícios de folha-de-flandres, desestanhados e por desestanhar e de folhangas». Esta medida governamental provocou o aumento da produção de ferro-gusa, o que se refletiu nas vendas.
Quanto ao mercado interno, a CPFE passou a ser a única empresa abastecedora de ferro-gusa a partir de Agosto de 1965, altura em que a segunda organização produtora daquele produto metalúrgico, a empresa Vicominas, sediada em Vila Cova (concelho de Vila Real), interrompeu a laboração, continuando encerrada durante o ano de 1966.
No que respeita ao mercado externo, foram estabelecidas relações comerciais com os mercados ultramarinos portugueses, sendo vendidas, em 1966, 200 toneladas de ferro-gusa para Angola. As vendas para esta província ultramarina duplicaram em 1967, contribuindo, desse modo, para o aumento do respetivo montante naquele ano para o mercado externo. No mercado interno, a CPFE abasteceu grandes empresas de fundição, como a Oliva, a Metalúrgica Duarte Ferreira e a Fundição e Construções Mecânicas de Oeiras. O mercado externo teve como principais clientes Marrocos e Espanha, além das províncias ultramarinas portuguesas, em especial Angola.
Fabricação de Cianamida Cálcica (1954)
[editar | editar código-fonte]A montagem das instalações foi lenta devido a atrasos das diversas firmas estrangeiras envolvidas neste processo, tais como a firma alemã Klochner-Humboldt-Deutz, a organização canadiana L'Air Liquide Society e as empresas belgas J. Verbecke, Fonderie Batta, Établissement Léon Bernard, A. Reichardt e Ateliers de Constructions Electriques. Após a instalação de 64 fornos elétricos de 250 kVA, edifícios de ensilagem, central produtora de azoto, laboratório específico, foram realizados os primeiros ensaios de produção em Abril de 1954.
Visto ser a única fabricante de cianamida cálcica, a CPFE foi autorizada a produzir 8000 toneladas anuais. No entanto, face aos valores da produção e do consumo crescentes, foi autorizada a ampliar as suas instalações fabris com mais 32 fornos elétricos de 250 kVA, para uma capacidade de produção até 15 000 toneladas anuais.
A capacidade de produção da CPFE era suficiente para o consumo. Apesar disso, nos últimos anos da década de 60 o consumo ultrapassou as 10 000 toneladas anuais. De facto, devido ao surto verificado na catividade florestal, a procura aumentou, refletindo-se no valor das vendas realizadas.
Fabricação de Ferro Silício (1955)
[editar | editar código-fonte]A CPFE realizou as necessárias experiências, tendo concluído a viabilidade da produção de ferro-silício em forno elétrico, para o que foi legalmente autorizada.
Contudo, o fabrico de ferro-silício durante a Segunda Guerra Mundial não atingiu grandes proporções, tendo deixado de ser produzido a partir de 1945, visto já não ter consumo no país. No entanto, após a instalação da indústria da cianamida cálcica, a CPFE reiniciou em 1955 a produção de ferro-silício. As matérias-primas utilizadas eram o coque, o carvão vegetal, as limalhas de ferro, a estilha de madeira e o quartzo. Este mineral era a matéria-prima que mais contribuía para o fabrico de melhor qualidade, a qual era aferida pela quantidade de silício proveniente da redução do quartzo por acção do carbono.
A produção inicial continha apenas 45% de silício; no entanto, na campanha de 1960-1961, e coincidindo com a exploração das pedreiras do Monte de Santa Luzia (Pascoal, concelho de Viseu), foi fabricado ferro-silício com 75% de silício. Mais tarde, embora em pequena quantidade, foi fabricado ferro-silício ainda mais puro, com 90% a 95% de silício.
Fabricação de Sílício-metal (1976)
[editar | editar código-fonte]A indústria de silício metal iniciou-se na campanha de 1976-1977. O ferro-silício, foi determinante para a laboração da CPFE nos últimos dez anos da sua existência. As matérias-primas utilizadas eram o quartzo (com baixo teor de alumina), a hulha (com baixo teor de cinzas) e a estilha.
O silício-metal continha 99% de silício e 1% de impurezas. O silício-metal era utilizado, principalmente, como aditivo na siderurgia e nas indústrias químicas e do alumínio. Exclusivamente para o fabrico de silício-metal, foi instalado o forno elétrico n°15, cuja capacidade de produção anual era de 15 000 toneladas e, devido à sua instalação, a potência elétrica de todo o conjunto fabril passou de 30 MW para 80 MW.
O consumo de energia elétrica, depois de ter atingido 206 milhões de kWh em 1974, atingiu 283 milhões de kWh em 1977 e 360 milhões de kWh querem 1978, quer em 1979. A maior parte da produção (cerca de 90%) era exportada para Inglaterra, Alemanha, Japão, Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Fabricação de Outros Produtos
[editar | editar código-fonte]No mesmo despacho de autorização para fabricar ferro-silício, a CPFE foi licenciada para produzir ferro-manganês e silício-manganês. No entanto, os estudos sobre a viabilidade técnica para produzir ferro-manganês foram concluídos por Chagas Roquete apenas em 1950.
Quanto ao silício-manganês, as experiências para o respetivo fabrico foram concluídas em 1955 e «a fabricação em escala industrial» iniciou-se apenas em 1962. Estes produtos eram vendidos sobretudo para as empresas Metalúrgica Duarte Ferreira, Cimpor e F. J. Soares Mendes. Contudo, a entrada em funcionamento dos fornos para a fabricação de cianamida cálcica e a produção de ferro-silício relegaram o fabrico de ferro-manganês e de silício-manganês para segundo plano. Com a finalidade «de obter, pelos retalhos desestanhados, mais matéria--prima para o fabrico de ferro-gusa», a CPFE foi autorizada a instalar «uma secção de desestanhagem de desperdícios de folha-de-flandres».
Após a conclusão dos estudos necessários para o fabrico de pasta para elétrodos, a CPFE foi autorizada em 1956 a instalar também aquela indústria «a partir de carvões desgasificados em forno eléctrico». Esta indústria teve particular interesse para a CPFE, uma vez que a pasta Soderberg era essencial para o fabrico de elétrodos, que, por sua vez, eram imprescindíveis para o funcionamento dos fornos elétricos.
Decadência e Fecho (1986)
[editar | editar código-fonte]Apesar dos sucessivos investimentos, quer em equipamento quer em operários, a adesão á União Europeia, a recessão do Escudo e os atrasos no pagamento da Energia Elétrica não contribuíram para a saúde financeira da Companhia.
Podemos definir o último dia de laboração da fábrica como o dia 4 de Novembro de 1986, visto que a 5 de novembro de 1986, a EDP ordenou o corte do fornecimento de energia á Fábrica, metendo em risco o seu futuro. Esta matéria acaba posteriormente por ser tema na Assembleia da República, com o intuito de o Governo tentar ajudar nas negociações de energia entre a EDP e a Companhia.
A Companhia acaba por encerrar, passando todo o seu património, por decisão judicial, para a Sociedade de Credores (Sociedade Portuguesa de Eletrometalurgia S.A).
Em finais de 1987 foi criada a Forbel - Novos Fornos da Beira-Alta Ldª , Empresa destinada a reativar as instalações e equipamentos da Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos, cujo património passara para a Sociedade supramencionada; para o efeito, a Forbel arrendara à Sociedade de Credores as instalações fábris desativadas.
Poucos registos existem sobre a Forbel. Sabe-se que laborou, desde Agosto de 1989 até 1991 com 90 trabalhadores. Em meados de Abril de 1991, a Forbel entrou num processo de despedimento de trabalhadores dos seus 80 trabalhadores, á data, deixando muitos sem alternativa laboral devido á sua idade, e alguns com casos de silicose. A Forbel acabou por encerrar em 1991.
Em 2001, o sucateiro de ovar, Manuel Godinho, comprou os terrenos da Fábrica, com o objetivo de os transformar num estaleiro, acabando por deixar no mesmo um vasto espólio de produtos nocivos, resultantes da sua atividade como sucateiro. (entretanto já limpos).
Instalações
[editar | editar código-fonte]A instalação da CPFE em Canas de Senhorim foi condicionada por dois fatores determinantes para a implantação de qualquer indústria: a proximidade da fonte de energia e os meios de transporte. As centrais transformadoras de energia elétrica não estavam muito longe e as redes ferroviária e rodoviária passavam exatamente ao lado. Além disso, nos contactos estabelecidos entre António Rodrigues Nogueira e o proprietário dos terrenos onde viria a ser implantada a CPFE, aquele industrial não deixou de insistir na circunstância de que o terreno se destinava a uma fábrica num meio rural, constituindo um grande melhoramento para a povoação, com a consequente criação de postos de trabalho e melhor nível remuneratório do que na agricultura.
A partir de modestas construções iniciais, a CPFE constituiria um vasto conjunto fabril, formado por terrenos, instalações fabris e equipamentos, ocupando cerca de 200 000 m2 de área, da qual mais de 20 000 m2 de superfície coberta.
Indústria transformadora por excelência, a CPFE muniu-se, contudo, de infraestruturas de tipo extrativo noutros locais para se autoabastecer das matérias-primas essenciais às suas indústrias. Daí os equipamentos instalados na região de Tapeus (concelho de Soure, distrito de Coimbra), no Monte de Santa Luzia, em Pascoal, já referido, e nas pedreiras do Senhor da Ascensão, em Ferreira de Aves (concelho de Sátão, distrito de Viseu).
A fábrica ficou «instalada e prompta a funcionar» em Outubro de 1922. Os três fornos elétricos, de 1350 kVA cada um, e o equipamento acessório, nomeadamente a oficina de serralharia, constituíram até 1939 o núcleo fabril.
Neste ano foi instalado o 4.° forno e o 5.° em 1943. A partir de então, e após a realização de estudos para aplicação dos fornos elétricos a outras indústrias, além do carboneto de cálcio, as instalações fabris foram aumentadas sucessivamente. Para além da implantação de 96 fornos elétricos de 250 kVA para o fabrico de cianamida cálcica entre 1951 e 1957, foram instalados até 1963 mais 8 fornos de maior potência, que provocaram uma profunda reestruturação dos serviços fabris.
Nestas circunstâncias, o carboneto de cálcio passou a ser produzido pelos fornos 1, 2, 3, 7, 8 e 9 (potência unitária de 3500kVA).
Os fomos 4, 5 e 6 (com 2200 kVA de potência cada um) produziram ferro-gusa.
Os fornos 10, 11 e 12 (qualquer deles com a potência de 3500 kVA) fabricavam ligas de ferro, sobretudo de ferro-silício, ferro-manganês e silício-manganês.
O forno 13, com uma potência de 2500 kVA, nunca foi instalado, porque se destinava ao sector de fundição, atividade industrial que a CPFE não chegou a exercer.
O forno 14 (potência de 12 000 kVA) foi instalado para produzir exclusivamente ferro-silício.
O forno 15, na década de 70, para a produção de silício-metal.
Como é óbvio, todo este conjunto de fornos foi acompanhado pela construção e ampliação de diversas infraestruturas, como armazéns, silos, poços de água, oficinas de serralharia e de eletricidade, laboratório de análises químicas, subestação de transformação de energia elétrica, ramal privativo da linha férrea.
As primeiras passadeiras rolantes foram instaladas pelos finais da década de 50; um conjunto de moagem e de elevação de matérias-primas para os fornos, do qual também fazia parte uma torre metálica com cerca de 16metros de altura, data de 1959; básculas, sarilhos, reguladores automáticos, prensas, empilhadoras, mecanização dos parques de calcário e de carvão, são alguns dos equipamentos mecânicos instalados nos anos 60. Apesar disso, a mecanização das instalações da CPFE não passou de um arremedo. Na verdade, pelos finais da década de 60, Chagas Roquete reconhecia a necessidade de uma autêntica mecanização, perante as «dificuldades na venda de produtos e em face de uma concorrência cada vez mais aguerrida e evoluída».
Matérias-Primas
[editar | editar código-fonte]Quais foram as matérias-primas utilizadas pela CPFE?
Na fase inicial da atividade fabril, quando a produção se circunscrevia ao carboneto de cálcio, foram utilizadas, como matérias-primas de origem nacional a cal e a energia hidroelétrica, procedendo do estrangeiro o coque e os elétrodos. Na resposta ao questionário enviado à 2.a Circunscrição Industrial, com sede em Coimbra, a 3 de Agosto de 1939, lê-se que a cal era proveniente da «região da Figueira da Foz» e a eletricidade da «serra da Estrela», enquanto o coque era importado da «Alemanha e Inglaterra» e os elétrodos procediam da «França e Alemanha».
Iniciou-se, entretanto, a Segunda Guerra Mundial e a situação agravou-se relativamente aos artigos importados. Na verdade, nos finais de 1940 a importação de elétrodos da "Société des Electrodes de la Savoie", de França, da firma alemã C. Conradty e da Société Electrocarbonium, de Itália, tinha atrasos superiores a doze meses relativamente à data das encomendas, o que levou à importação do mercado americano. Este passou a ser então o único mercado abastecedor, embora de modo irregular, após a entrada dos Estados Unidos da América no conflito mundial, chegando «a parar a fábrica por falta de elétrodos» durante o ano de 1941.
Nestas circunstâncias, foi decidido proceder «a estudos aturados no sentido de fabricá-los, o que, felizmente, nos foi possível». Apesar disso, não era suficiente o autoabastecimento, porque algumas matérias-primas escasseavam no mercado português, continuando, por isso, dependentes da importação.
Quanto ao coque, as dificuldades na importação foram compensadas pelo fornecimento da firma Companhias Reunidas Gás e Electricidade, embora «de menor rendimento do que o do estrangeiro e com abastecimento difícil em quantidades». Durante o ano de 1941 foi recebido algum coque estrangeiro, embora «ao preço de Esc. 625.00 por tonelada, com vagon em Lisboa, quando em tempo normal era de Esc. 260.00». Deste modo, à dificuldade na obtenção do coque associou-se o agravamento dos preços, o que levou a CPFE a utilizar também, no fabrico de carboneto de cálcio, o carvão vegetal. Uma das particularidades da CPFE ao longo da sua existência foi a de ter diligenciado em se autoabastecer das matérias-primas necessárias ao funcionamento das suas indústrias. Com efeito, quer explorando pedreiras para obtenção de calcário e quartzo, quer transformando matérias-primas para reutilizar, a CPFE teve sempre como grande objetivo a redução de compras tanto no mercado interno como no mercado externo.
Os casos da cal e do quartzo merecem lugar de relevo, como matérias-primas fundamentais para quatro das suas principais indústrias: a cal para o fabrico de carboneto de cálcio, sendo este a matéria-prima essencial para o fabrico da cianamida cálcica; o quartzo para a produção de ferro-silício e de silício-metal. A cal era comprada até 1961 na região da Figueira da Foz, no entanto, depois de análises efetuadas na Alemanha, a cal foi considerada de fraca qualidade para o fabrico de carboneto de cálcio, além de a sua aquisição ser cada vez mais difícil, em quantidade e preço. Segundo Chagas Roquete, a CPFE podia «ser obrigada a reduzir a fabricação de carboneto e cianamida por falta daquela matéria-prima». Deste modo, e ainda segundo Chagas Roquete, «procedeu-se ativamente ao estudo da utilização de uma zona de pedreiras com reserva suficiente, nunca inferior a um milhão de toneladas de calcário, em Tapeus-Soure». As previsões apontaram para uma exploração de 500 toneladas por dia, quantidade confirmada logo após o primeiro mês de exploração.
Para extração de quartzo foram estabelecidas condições de arrendamento com a Câmara Municipal de Viseu para exploração de pedreiras no Monte de Santa Luzia. Ainda antes da assinatura formal do contrato, ou seja, em 1960, já a CPFE havia explorado 3500 toneladas, elevando-se para 20.000 toneladas a extração de quartzo durante o ano de 1961. O departamento mineiro, que tinha «a seu cargo a exploração de grupos de pedreiras de quartzo e de calcário», adquiriu também o direito à exploração da pedreira do Senhor da Ascensão, em Ferreira de Aves. Nesta pedreira foram explorados quartzo e feldspato; no entanto, como este mineral não era utilizado pela CPFE, a quantidade extraída foi sempre comercializada para a indústria de porcelanas de Vista Alegre e de Sacavém.
As matérias-primas referidas anteriormente eram essenciais para a fabricação dos produtos já indicados; no entanto, nada seria transformado sem aquela que para a CPFE era, sem dúvida, a fundamental: a energia elétrica.
Aliás, como vimos já, foram os excedentes de energia elétrica produzida pela EHESE (Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela) que constituíram a razão de ser da CPFE. Aquela circunstância criou relações de total dependência da CPFE em relação à EHESE durante mais de três décadas no que concerne ao fornecimento de energia elétrica. Esta dependência dissipou-se, entretanto, com a grande mudança dos anos 50, nomeadamente com a instalação da indústria da cianamida cálcica. Sendo previsível o aumento de consumo com a instalação daquela indústria, a CPFE obteve a garantia da EHESE de um fornecimento mínimo anual de 20 milhões de kWh.
O consumo excedeu, porém, as previsões. De 1 a 2 milhões de kWh por ano, consumidos na década de 20 - tendo passado de 2,5 milhões de kWh em 1930 para cerca de 5 milhões de kWh em 1948 - a CPFE consumiu 56milhões de kWh em 1956. No consumo deste último ano já está incluída a energia elétrica fornecida pela Companhia Nacional de Eletricidade (CNE).
De facto, a partir de Janeiro de 1956, a CNE passou também a fornecer energia elétrica à CPFE, através das instalações da Companhia Hidroelétrica do Norte de Portugal (CHENOP) e da EHESE. No entanto, a partir de 1961 foi efetuada a ligação direta à rede nacional, através da subestação da CNE instalada em Vila Chã (concelho de Seia, distrito da Guarda). Embora sujeita a anos hidrológicos deficitários, devido a invulgares estiagens, a CPFE ficou com garantias de laboração, acentuando a sua expansão industrial. O consumo de energia elétrica nos anos 60 é revelador do crescimento atingido pela empresa. Na verdade, o fornecimento de energia elétrica às instalações fabris da CPFE acabou por beneficiar tanto António de Abreu Madeira — devido à instalação elétrica na sua casa de habitação, nos termos do acordo com Rodrigues Nogueira no ato da venda dos terrenos — como a população daquela localidade. Foi, sem dúvida, um dos importantes benefícios para o meio local, através da CPFE, numa época em que a maioria da população portuguesa não usufruía ainda das vantagens da utilização da energia elétrica.
Recursos Humanos
[editar | editar código-fonte]Técnicos
[editar | editar código-fonte]Foram muitos os técnicos que trabalharam na CPFE, desde aqueles que possuíam um curso industrial de nível secundário ou médio até aos portadores de habilitações académicas de grau superior. A necessidade de técnicos, indispensável desde os primeiros momentos, acentuou-se sobretudo a partir dos inícios da década de 50, aquando da montagem dos fornos para a produção de cianamida cálcica. A inevitabilidade de técnicos tomou-se ainda mais premente no decénio de 60, com a montagem do forno 14, para a produção de ferro-silício, e, posteriormente, com a instalação do forno 15, para a produção de silício-metal.
Convém, no entanto, sublinhar que, por volta de 1960, a CPFE passou por algumas dificuldades no recrutamento de técnicos superiores, exprimindo-se a preocupação nos seguintes termos: «A dificuldade é enorme, pois quem os tem, e bons, segura-os com ordenados elevados e gratificações, sendo a falta tão grande que há empresas que estão subsidiando alunos do 5.° ano do Técnico para, quando concluído o curso, irem para os seus serviços.». Visto isto, houve necessidade de formar futuros técnicos para integrar o quadro da Companhia. Nasceu assim, a Escola Técnica do Dão.
Embora não menosprezando o labor e dinamismo de outros técnicos superiores da empresa, julgamos que Manuel Barata, Chagas Roquete (professor do Instituto Superior Técnico) e Dionísio Augusto Cunha, pela obra empreendida na CPFE e nomeio local (sobretudo o segundo), justificam um lugar de relevo. Outros técnicos merecedores de destaque, pela sua condição de estrangeiros, foram Charles Miguet, Henri Perron e Jean Bouchard.
Operários
[editar | editar código-fonte]Quanto ao número de operários, apenas conhecemos oficialmente dados relativos a 1936 e 1939. Em 1936 o «número médio dos operários durante os períodos da nossa fabricação é de 95; o número médio dos nossos operários durante os intervalos da nossa fabricação é de 38». Em 1939, ainda segundo as informações dadas pelo diretor da fábrica à 2ªa Circunscrição Industrial, em Coimbra, consta a indicação de 85 operários adultos, 10 menores e 4 encarregados. No entanto, seguir-se-iam os anos áureos da Companhia e o consequente aumento de pessoal operário, que, segundo informações orais, terá atingido o número de 800 pelos meados da década de 60. Aliás, a partir do inquérito industrial de 1964, na parte relativa ao distrito de Viseu, e no que toca às indústrias básicas do ferro e do aço e às indústrias químicas, incluindo adubos, julgamos poder concluir que o número de 800 operários, segundo as informações orais, se aproxima da realidade.
Recrutamento
[editar | editar código-fonte]O recrutamento obedeceu, durante a maior parte da existência da empresa, a determinado «rito». Com efeito, uma vez que a laboração estava dependente das condições hidrológicas, as campanhas anuais decorriam, normalmente, entre Outubro/Novembro e Maio/Junho. Nestas circunstâncias, o ritual de recrutamento começava com o toque da sirene após a queda das primeiras chuvas outonais. Os operários podiam então inscrever-se para a campanha imediata, embora durante a campanha também houvesse admissões daqueles que solicitavam trabalho.
Num meio rural como aquele em que laborou a CPFE os diretores não contariam com pessoas ocupadas exclusivamente na atividade industrial; pelo contrário, eram camponeses que, a tempo parcial, trabalhavam na indústria, ou vice-versa, operários que, após oito horas de trabalho industrial, dedicavam, em regra, quase outras tantas à atividade agrícola. Estamos perante o operário-camponês, como é designado por H. Krier. A CPFE também não deixou de admitir adolescentes, filhos de operários e mulheres.
Impacto Social e Cultural em Canas de Senhorim
[editar | editar código-fonte]As obras de índole cultural e social na CPFE não estiveram a par das realizações materiais e, por isso, não acompanharam os sucessivos investimentos nas instalações de fabricação. Apenas nos finais da década de 1930, alguns valores sociais e culturais foram implementados.
Foi decidido criar uma Caixa de Previdência para o Pessoal Operário, cujo regulamento, pelo carácter inovador, era o seguinte:
- A todos os operários serão prestados serviços clínicos e dados medicamentos para doenças não compreendidas na responsabilidade de A Mundial, onde todos os operários estão seguros.
- A todas as mulheres e filhos de operários serão prestados serviços clínicos no consultório do medico da Companhia.
- A todos os operários por doenças ou acidentes, enquanto durar a incapacidade para trabalho, comprovada clinicamente, será pago pelo seu maior salario: durante um primeiro período de 30 dias, o salario por inteiro; durante um segundo período de 60 dias, 80% do seu salário. Nos dois períodos acima entrará a parte correspondente à responsabilidade de A Mundial, saindo apenas da Caixa de Previdência, o complemento para atingir o estabelecido.
- A todos os operários será descontado para a Caixa de Previdência, um dia por mes do seu maior salario, desconto feito metade em cada quinzena.
- A Companhia concorrerá mensalmente para a Caixa de Previdência, com a quantia de Mil Escudos.
- Todo o operário que deixe de estar ao serviço da Companhia, perde na data da sua saída, todos os benefícios pela Caixa de Previdência concedidos.
- Nos primeiros quinze dias de cada mês, será afixado na Fábrica, um balancete do movimento havido no mês anterior.
- Esta Caixa de Previdência entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 1937.
O primeiro passo para a formação integral do homem é a instrução básica e, por isso, os administradores da CPFE sentiam a necessidade de facultar uma instrução mínima aos seus operários, porque havia chefes de turno e capatazes que eram analfabetos, pelo que eram incapazes de preencher o seu próprio relatório. Daí as facilidades concedidas por António Marques da Silva para que todo o pessoal operário da CPFE pudesse aprender a ler, concedendo «um premio de duzentos escudos a cada operário que consiga aprender a ler em cada período anual [...] para o que subsidiará o professor da localidade». As primeiras aulas foram ministradas por António Gomes de Almeida a partir de Dezembro de 1937. Em qualquer sector de atividade, a produtividade depende da qualificação da mão-de-obra. No campo industrial, se não houver uma política deformação profissional da parte do Estado, ou se, porventura, for insuficiente, caberá às empresas o encargo de uma formação adaptada às respetivas técnicas e, por conseguinte, a efetuar nos locais de trabalho.
Na CPFE apenas no momento de reestruturação e relançamento da empresa, em meados da década de 50, a administração reconheceu como «absolutamente indispensável que na fábrica se faça escola, sabendo aproveitar aprendizes que tenham qualidades». Os aprendizes eram orientados por técnicos especializados no campo da eletricidade e da serralharia, tendo sempre como grande objetivo a melhoria no processo produtivo.
A CPFE acabaria por transformar-se, nas décadas de 50 e 60, numa verdadeira escola profissional e foi determinante para a instalação da Escola Técnica do Dão, em Canas de Senhorim, pondo à disposição imóveis e recintos anexos e permitindo a colaboração dos seus técnicos superiores. A nível local e regional, a CPFE contribuiu para a melhoria das condições de vida das populações, criando centenas de postos de trabalho sobretudo a homens que até à sua admissão se dedicavam exclusivamente à agricultura. Além disso, é digna de registo a criação da Caixa de Previdência do Pessoal Operário, pelo seu carácter inovador na região. E, porque a instrução técnica é importante no contexto industrial, e devido ainda, em regra, à falta de escolas técnicas fora das capitais de distrito, a CPFE transformou-se numa verdadeira escola profissional, sobretudo nos campos da eletricidade e da serralharia, com evidentes consequências na melhoria do processo produtivo.
Foi ainda responsável pela criação de um bairro social com casas geminadas, predominantemente para operários/técnicos especializados mesmo em frente á Fábrica. Dispunha ainda de uma Biblioteca e de uma Casa do Pessoal dos Fornos Eléctricos.
Estatísticas da Companhia
[editar | editar código-fonte]Anos | Vendas no Mercado Interno | Diferença em percentagem | Vendas no Mercado Externo | Diferença em percentagem |
---|---|---|---|---|
1965 | 17 732 | (Valor anterior desconhecido) | 1 318 | (Valor anterior desconhecido) |
1966 | 19 859 | + 12% | 1 535 | + 16,5% |
1967 | 12 140 | - 39% | 2 069 | + 34,8% |
1968 | 11 685 | - 0,4% | 2 295 | + 10,9% |
1969 | 12 041 | + 3% | 5 883 | + 156,3% |
Anos | Energia Elétrica em kwh | Diferença em percentagem |
---|---|---|
1960 | 70 300 000 | + 25,5% (em relação a 1956, 56 milhões) |
1961 | 79 100 000 | + 12,5% |
1962 | 89 000 000 | + 12,5% |
1963 | 128 400 000 | + 44,3% |
1964 | 124 500 000 | - 3,1% |
1965 | 151 400 000 | + 21,6% |
1966 | 160 100 000 | + 5,7% |
1967 | 130 505 340 | - 18,5% |
1968 | 150 149 090 | + 15,1% |
1969 | 198 372 300 | + 32,1% |
Anos | Vendas no Mercado Interno | Diferença em percentagem | Vendas no Mercado Externo | Diferença em percentagem |
---|---|---|---|---|
1965 | 31 220 | - | - | - |
1966 | 36 460 | + 16,8% | 1 535 | - |
1967 | 29 271 | -19,5% | 2 069 | + 114,2% |
1968 | 29 743 | + 1,6% | 2 295 | - 19% |
1969 | 35 838 | + 20,5% | 5 883 | + 9,9% |
Fontes
[editar | editar código-fonte]Duarte Sampaio Loio - Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos: subsídios para a sua história — 1917-1967[1]
Jornal de Notícias - Edição de 23 de Março de 1993
Facebook - Grupo "A Fábrica C.P.F.E"
- ↑ Loio, Duarte (1996). «Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos: subsídios para a sua história — 1917-1967». Instituto Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Consultado em 2021 Verifique data em:
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