Santa Companha
A Santa Companha, também chamada Procissão das Almas ou Acompanhamento é uma das lendas da mitologias populares galega e do Norte de Portugal.[1] Também se registra uma lenda similar em Astúrias, chamada de Güestia (Hoste). Chegou também ao Brasil.[2]
Faz parte do tema de crenças europeias designadas por Caçada Selvagem.
Tradicionalmente é descrita como uma procissão de mortos ou almas em pena que à noite percorre os caminhos duma paróquia portando círios, sendo o cheiro à cera o principal sinal de que a Santa Companha anda perto.
Sua missão é visitar todas aquelas casas nas quais pronto haverá um passamento (morte).
Etimologia
[editar | editar código-fonte]O nome poderia provir do latim "sancta cum pania" ('santa companhia', embora uma tradução mais literal de "companhia" seria, "que comem do mesmo pão").
Descrição
[editar | editar código-fonte]A procissão costuma ir encabeçada por um vivo portando uma cruz e um caldeiro de água benta seguido pelas almas com os círios acesos, nem sempre visíveis, notando-se a sua presença no cheiro à cera e no vento que se ergue quando passa.
Esta pessoa viva que precede a procissão pode ser homem ou mulher, dependendo de se o orago da paróquia for respectivamente santo ou santa.
O portador da cruz não voltará a cabeça em nenhum momento nem renunciará aos seus cargos precedendo a Santa Companha. Só ficará livre quando encontrar outra pessoa pelo caminho a quem entregar a cruz e o caldeiro, momento no qual esta passará a substituí-lo.
Para se escapulir desta obriga de substituição, a pessoa que veja passar a Santa Companha deve traçar um círculo no chão e se deitar boca abaixo sem olhar para nenhum espírito. A pessoa que leva a cruz e o caldeiro a cada passo adelgaça mais e volve-se mais branco até que possa ceder o caldeiro a outro.
Versões
[editar | editar código-fonte]Embora todas as versões coincidissem em considerar a Santa Companha como uma anunciadora da morte, há diferentes versões.
Na maioria das histórias a Santa Companhia realiza a suas aparições à noite, porém, há também relatos de saídas diurnas.
Xoán Cuveiro Piñol [3] escreve: Companha: entre o vulgo, crida hoste ou procissão de bruxas que andam à noite alumiadas com ossos de mortos, chamando nas portas para que as acompanhem, os que desejam que morram depressa....
Outros nomes
[editar | editar código-fonte]A Santa Companha também é conhecida com os nomes de:
- Procissão das almas: aplicado especialmente no Sul da Galiza, sobretudo em Ourense e Portugal.[4]
- Hoste: aplicado em algures ao formar a comitiva uma espécie de hoste.
- Estatinga ou estadinga: considerada uma derivação de «hoste antiga» ou «Inimigo antigo» (um eufemismo por "Demônio).
- Estadeia: derivação provável de «estadal», o círio usado para iluminar aos defuntos, ou também de demora (estadia).
- Avisião: nome aplicado antigamente nos Foios e Quadrazais (Sabugal) e Vale de Xalma (Espanha).
- Pantaruxada: nome infreqüente.
- Pantalha: em opinião de Vicente Risco, fusão dos términos «Pantasma» (fantasma) e «Espantalho».
- Visão: aparição.
- Visita: em clara referência à intencionalidade da aparição.
Lendas análogas
[editar | editar código-fonte]Existe, dentro das crenças galegas, outra procissão chamada de "procissão das Xás", muito semelhante à Santa Companhia, mas que se diferencia desta em que não são fantasmas de mortos os que vão nela, senão fantasmas de indivíduos vivos, que não lembram nada o dia seguinte e que vão enfraquecendo até falecer.
É análoga[5] à lenda irlandesa de Banshee e à britona de Ankou.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- BECOÑA IGLESIAS, Elisardo (1980). La Santa Compaña, El Urco y Los Muertos. [S.l.: s.n.]
- LISÓN TOLOSANA, Carmelo. La Santa Compaña. Akal. [S.l.: s.n.] ISBN 8446021641
- PAREDES, Xoán M. (2000). Curiosities across the Atlantic: a brief summary of some of the Irish-Galician classical folkloric similarities nowadays. Galician singularities for the Irish. Chimera, no. 15, University College Cork (Ireland). [S.l.: s.n.]
Referências
- ↑ Revista de etnografia do Museu de Etnografia e História (Porto, Portugal), Volume 3, Capítulos 1-2, 1964
- ↑ «Jangada Brasil Abril 2001 Ano III - nº 32». Consultado em 14 de novembro de 2012. Arquivado do original em 27 de junho de 2013
- ↑ Diccionario Gallego (1876)
- ↑ Teófilo Braga. Biblioteca Digital do Alentejo
- ↑ PAREDES, Xoán M. (2000). «Curiosities across the Atlantic: a brief summary of some of the Irish-Galician classical folkloric similarities nowadays. Galician singularities for the Irish» (em inglês). Dept. of Geography, University College Cork, Irlanda. Consultado em 14 de agosto de 2008. Arquivado do original em 4 de outubro de 2008