Realidade (revista)
Capa da primeira edição da revista "Realidade" | |
Categoria | Jornalismo |
Circulação | abril de 1966 - março de 1976 |
Editora | Editora Abril |
País | Brasil |
Baseada em | Sociedade |
Realidade foi uma revista brasileira lançada pela Editora Abril em abril de 1966, que circulou até março de 1976.[1]Apresentava características inovadoras para a época, com matérias em primeira pessoa, fotos que deixavam perceber a existência do fotógrafo e design gráfico pouco tradicional. Destacou-se também por suas grandes reportagens, permitindo que o repórter 'vivesse' a matéria por um mês ou mais, até a publicação. Foi inspirada nas revistas Life, Look e Paris Match, mas com uma pauta mais revolucionária do que elas. A proposta de publicação que valorizava as grandes reportagens foi elaborada pelo diretor editorial Roberto Civita, juntamente com jovens jornalistas da Quatro Rodas, liderados por Paulo Patarra,[2] que fez a seguinte definição sobre a revista: “o inusitado, o violento, o estranho, o impossível, o movimento e o belo são os assuntos de capa”.[3]
Fases da revista
[editar | editar código-fonte]Ao longo de sua existência, a revista passou por três diferentes fases.
Primeira fase
[editar | editar código-fonte]A primeira fase da revista, de 1966 a 1968,[4] foi provavelmente a mais notável, quando os grandes temas do momento, muitas vezes polêmicos, eram abordados em matérias totalmente esmiuçadas, dentro de uma forma de escrita surgida nos Estados Unidos — o New Journalism, de Tom Wolfe, Gay Talese e outros — que combinava eficientemente clareza e objetividade em uma estrutura com foco narrativo, o jornalismo literário. Nesse novo estilo, os jornalistas tinham total liberdade para escrever os textos em primeira pessoa, inserir diálogos com travessões, fazer descrições minuciosas de lugares, feições e objetos. Além disso, era possível alternar o foco da narrativa de observador onipresente para testemunha ou participante dos acontecimentos.
Realidade era uma revista que trabalhava com a emoção: investia-se muito no jornalista para que ele conseguisse transmitir em suas reportagens uma ideia real do fato. Nessa primeira fase, a grande reportagem é a principal característica editorial do periódico.
Mas em 1968, pouco antes do AI-5, Patarra foi desligado da revista, sem ser demitido da Editora Abril. A Igreja Católica, assim como outros setores da sociedade, pressionou a editora para que não abordasse temas controversos, no que não foi atendida por Patarra.[2]
Dezembro de 1968 traria o endurecimento do regime militar. Decretado o AI-5, estabelecia-se a censura prévia. A edição daquele mês marcava o fim do melhor período de Realidade, segundo os autores José Marão e José Hamilton Ribeiro.[5]
Segunda fase
[editar | editar código-fonte]Em 1969, Realidade entra em sua segunda fase, que duraria até meados de 1973. Além das mudanças suscitadas pela instauração do AI-5, essa segunda fase resulta de dissidências internas na redação, muitas também decorrentes da censura.[6] O texto perde o tom de denúncia, embora o formato da reportagem não tenha sofrido mudanças bruscas. Permanecia o estilo literário, a pesquisa de campo e investigação, o valor ilustrativo da imagem. Entretanto, pouco a pouco, a revista foi assumindo o modelo newsmagazine ou revista de informação.[7]
Terceira fase
[editar | editar código-fonte]A partir de outubro de 1973, as capas de Realidade dão uma guinada radical. O periódico abandona a pauta investigativa. Proliferam nas edições seguintes os "como fazer" e os verbos no imperativo, como "saiba", "transforme", "vença" etc. Até a paginação da revista revela semelhanças com Veja à época.[7] Em janeiro de 1976, Realidade vendeu 120 mil exemplares, metade do que fora vendido em sua estreia, dez anos antes. Seu último número seria lançado dois meses depois [1]
Apesar do seu curto período de existência, a revista Realidade é considerada um divisor de águas na imprensa brasileira.
Referências
- ↑ a b «Realidade : 50 anos»
- ↑ a b NOGUEIRA, Aline dos Santos (2018). A revista Realidade como marco comunicacional brasileiro:uma breve recapitulação da história revolucionária do veículo. [S.l.]: Alcar sudeste 2018 - V Encontro Sudeste de História da Mídia. p. 3-4
- ↑ SEVERIANO, Mylton (2013). Realidade: história da revista que virou lenda. [S.l.]: Insular. p. 77. ISBN 9788574746173
- ↑ FARO, José Salvador Revista Realidade, 1966-1968: tempo da reportagem na imprensa brasileira. Canoas: Ed. da Ulbra, 1999.
- ↑ «José Marão e Hamílton Ribeiro lançam livro sobre a revista Realidade». 20 de dezembro de 2010
- ↑ (1988, p. 18)
- ↑ a b Revista realidade (1966-1976): modelo de reportagem transitório entre as revistas ilustradas e de informação, por Fernando Marcondes Torres. ACTA Científica - Ciências Humanas vol. 2, n° 9. 2º semestre de 2005.