Linguagem sexista
Linguagem sexista faz referência às expressões que difamam a pessoas de ambos os sexos com respeito a seus atributos ou funções dentro da sociedade ou meio. A expressão se emprega para se referir ao sexismo associado ao uso da linguagem. Diversos organismos e legislações recomendam usar uma linguagem não sexista, a cujo fim se editaram guias e se desenvolveram políticas inclusive legislativas.[1]
Características
[editar | editar código-fonte]Linguagem sexista, também chamada de androcêntrica, são os rasgos relacionados com os preconceitos culturais relacionados com a identidade sexual, frequentemente sócios ao machismo, à misoginia ou a um desprezo real ou aparente dos valores femininos.[2]
A linguagem sexista refere-se à discriminação de pessoas, que se manifesta no uso da linguagem de um sexo se considerar inferior a outro. Isto se dá em dois sentidos: por um lado, no que diz respeito à identidade sexual de quem fala, e por outro no que se refere ao tratamento discriminatório que sofrem as mulheres no discurso, seja pelo termo utilizado ou pela maneira de construir a frase.[3]
Em idiomas como o espanhol, o gênero gramatical tem por forma não marcada o masculino dos substantivos e adjetivos, de forma que passa a ser o gênero masculino o inclusivo ou includente em frente ao feminino marcado, que passa a ser o gênero exclusivo ou excludente: "Os alunos desta classe" inclui homens e mulheres, mas "as alunas desta classe" exclui os homens.[4]
Por outra parte, o feminino pode ter conotações semânticas despetivas (oposição zorro/zorra; homem público/mulher pública; ser um galo/ser uma galinha) ou de coisificação (ou objetificação) e passividade (impressor/impressora). Estas diferenças percebem-se também a nível léxico (algo é "cojonudo" se é bom, um "coñazo" se é mau, ainda que "acojonado" é assustado e em alguns países de língua latina güevón é sinônimo de 'torpeza' e cuquito, sinônimo de 'terno').[5]
O uso sexista na denominação de títulos oficiais, profissões, cargos ou ofícios pode-se corrigir através de diversos processos de feminilização. Um destes processos é o legislativo. A título de exemplo, na Espanha ditou-se a Ordem Ministerial de 22 de março de 1995, que se adequa a denominação de títulos acadêmicos oficiais à condição feminina ou masculina de quem os obtenham.[6]
Linguagem neutra
[editar | editar código-fonte]Alguns movimentos e militâncias atuais, principalmente algumas vertentes inseridas no feminismo, afirmam que a corrente e que a linguagem atual é sexista, já que usa do gênero masculino genérico, o qual se relaciona com a definição de sexo masculino para o que se começou a definir a linguagem não sexista. Apesar de não haver consenso,[7] tais movimentos propõem que se pode evitar o emprego excessivo do masculino usando, entre outras, as seguintes estratégias:[8][9][10][11][12][13][14]
- Nomes coletivos (professorado, em vez dos professores, alunado, em vez de alunos...)
- Perífrase ("a pessoa interessada", em vez de "o interessado")
- Construções metonímicas (a juventude, em vez dos jovens) ou (os estudantes, em vez dos alunos)
- Desdobramentos (senhores e senhoras, meninos e meninas)
- Uso de barras (estimado/a, sr/a) ou parênteses (cirurgiões(ãs), alemã(e)s, cidadã(o); enfermeiro(a))
- Omissão de determinantes ou emprego de determinantes sem marca de gênero ("a cada contribuinte" em lugar de "os contribuintes")
- Uso de formas pessoais genéricas ou formas não pessoais dos verbos ("é preciso atender mais" em lugar de "é preciso que o aluno atenda mais").[15]
- Ambiguação de a/o por arroba (@s candidat@s) ou a/e por æ (escritoræ, diretoræs)
- Uso da linguagem neutra ("Alune precisa focar, João é muito chatx")
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ claudiomoreno. «sexismo na linguagem – Sua Língua». Consultado em 29 de junho de 2020
- ↑ «Sexismo y androcentrismo». puntogenero.inmujeres.gob.mx. Consultado em 29 de junho de 2020
- ↑ Pérez Belchí, Azahar. Uso del lenguaje en los textos de los servicios públicos desde una perspectiva de género (lenguas, español e inglés) (PDF). España: [s.n.] 3 páginas
- ↑ Llamas Sáiz, Carmen (2015). «Academia y hablantes frente al sexismo lingüístico: ideologías lingüísticas en la prensa española». Circula (1): 196–215. ISSN 2369-6761. doi:10.17118/11143/7995
- ↑ «El significado sexista de las palabras, la discriminación del lenguaje * SOY OPTIMISTA». SOY OPTIMISTA (em espanhol). Consultado em 29 de junho de 2020
- ↑ BOE. «Orden Ministerial de 22 de marzo de 1995, por la que se adecua la denominación de títulos académicos oficiales a la condición femenina o masculina de quienes los obtengan» (PDF)
- ↑ Declercq, Marie (10 de julho de 2020). «Linguagem neutra: proposta de inclusão esbarra em questões linguísticas». tab.uol.com.br. Consultado em 3 de abril de 2021
- ↑ Hawad, Helena Feres (26 de junho de 2012). «O paradoxo da linguagem não sexista». Revista Letra. 1. ISSN 1806-5333. doi:10.17074/rl.v1i0.17
- ↑ Bosque, Ignacio (4 de março de 2012). «Opinión | Sexismo lingüístico y visibilidad de la mujer». Madrid. El País (em espanhol). ISSN 1134-6582
- ↑ «Escrevemos 'alunos(as)' ou 'alunos/as'? Parênteses ou barra? | Sobre Palavras». VEJA. Consultado em 2 de maio de 2021
- ↑ «Por uma linguagem menos sexista». Jornal Plural. 14 de junho de 2021. Consultado em 24 de agosto de 2021
- ↑ «Linguagem inclusiva — Manual de Comunicação». www12.senado.leg.br. Consultado em 24 de agosto de 2021
- ↑ «Guia de linguagem inclusiva». www.tre-pb.jus.br. Consultado em 24 de agosto de 2021
- ↑ Lomotey, Benedicta Adokarley (2011). «On Sexism in Language and Language Change – The Case of Peninsular Spanish». Linguistik Online. 70 (1). ISSN 1615-3014. doi:10.13092/lo.70.1748
- ↑ Mäder, Guilherme Ribeiro Colaço (2015). «Masculino genérico e sexismo gramatical»