José Willington Germano
José Willington Germano | |
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Nascimento | 25 de julho de 1947 Santana do Matos, RN |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | professor, historiador e sociólogo |
Principais trabalhos | Estado Militar e Educação no Brasil: 1964-1985 e Lendo e Aprendendo: a Campanha "De Pé No Chão Também Se Aprende A Ler" |
José Willington Germano (Santana do Matos[nota 1], 25 de julho de 1947) é um professor, historiador e sociólogo brasileiro, mais conhecido pelos seus trabalhos sobre a educação no Brasil durante a ditadura militar.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Desde o Ginásio militou no movimento estudantil. Militou no PCB e no PCBR, durante a ditadura militar foi perseguido e respondeu a inquéritos policiais.[2]
Formou-se bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 1971, mestre em Sociologia em 1981 pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e doutor em Educação em 1990 (Unicamp). Atuou no Movimento de Educação Popular e na Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte. Em 1978 ingressou como professor efetivo da UFRN, tornou-se pesquisador e professor da Pós-Graduação, chegando a ser Pró-Reitor de Extensão. Foi vice-presidente do Fórum Nacional de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras.[3][2][4] Por doze anos presidiu a Cooperativa Cultural Universitária, única cooperativa do país que mantém uma livraria universitária, e que segundo Yuno Silva é "uma referência nacional", a responsável "pela administração da famosa Livraria do Campus. Espaço cultural dos mais ativos dentro da Universidade Federal, que não esmorece na constante intenção de atrair e envolver a comunidade externa". Foi nomeado presidente benemérito em 2016.[5]
Desde 1992 coordena o Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação, no qual é responsável pela formação de estudantes de graduação em Iniciação Científica e de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado.[2][6] Recentemente, coordena a pesquisa Memórias do Brasil: Itinerários e Singularidades da Formação Social, Educativa e Cultural, voltada para divulgar o pensamento social brasileiro, permitindo ações e denúncias sobre a realidade social do país.[2]
Colaborou com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade,[7] é membro do Comitê Científico do Instituto Federal do Rio Grande do Norte,[8] foi consultor das revistas Pró-Posições e Raízes, e membro da Comissão Editorial das revistas Cronos, Revista de Filosofia do Direito, do Estado e da Sociedade, e Educação & Sociedade.[9]
As pesquisas das quais tem participado como colaborador e coordenador trazem sempre três preocupações: a) a história como princípio norteador; b) a prudência como forma de abordagem e produção do conhecimento; c) a ecologia dos saberes como forma de tradução dos conhecimentos sociais e culturais em conhecimento científico.[10]
Obra
[editar | editar código-fonte]Com "uma significativa produção científica" que "contribui para o debate e a reflexão no âmbito acadêmico",[11] Germano é uma referência em história da educação, políticas educacionais e suas relações com a sociedade no período ditatorial recente.[2][12][13][14][15][16] Foi um dos autores mais citados nos trabalhos apresentados no V Seminário Nacional de Educação de 2001.[17] De acordo com a pesquisadora Geovânia Toscano, Germano "tem se destacado como um dos intelectuais brasileiros que mais tem se dedicado à pesquisa sobre a temática educação no período da ditadura civil-militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, e também acerca daquelas que envolvem educação, movimentos educacionais e pensamento social brasileiro".[18] Foi homenageado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais na série "Bibliografia Viva", sendo descrito como um intelectual cujas contribuições "têm relevante destaque e auxiliam a pensar como o Estado, o sistema capitalista, a democracia, o processo de globalização têm impactado a realidade brasileira desde, pelo menos, o golpe civil-militar de 1964".[3]
Entre suas principais influências estão Karl Marx, Boaventura de Sousa Santos, Gramsci[2] e Boris Cyrulnik.[18] Entre seus livros se destacam Estado Militar e Educação no Brasil: 1964-1985 e Lendo e Aprendendo: a Campanha "De Pé No Chão Também Se Aprende A Ler", ambos com várias edições.[2][3]
Estado Militar... faz uma análise da ação interventora do Estado na educação brasileira durante a ditadura militar, mostrando a diferença entre os objetivos anunciados e as prioridades efetivas do Estado, e os efeitos que as políticas implementadas no período produzem até hoje. Resenhando o livro, Eva Barros disse que é "uma leitura indispensável a todos aqueles que se interessem pelos problemas sociais, em particular as pessoas comprometidas com a transformação da sociedade brasileira".[19] Para Fabiana Sena, "a interpretação de Germano a respeito da educação no período do Regime Militar é extremamente relevante para a História da Educação no Brasil, possibilitando o desvelamento das lógicas contraditórias, embora interrelacionadas no interior das políticas educacionais. Estado Militar e Educação no Brasil 1964 – 1985 permite aos leitores compreenderem como se constituiu, sobre a educação, um discurso político autoritário, num tempo de repressão, silenciamento e apagamento dos direitos humanos e da cidadania da população brasileira".[20]
Segundo o pesquisador da UFMG Luciano Mendes, embora seja mais conhecido pelo seu livro sobre a educação na ditadura, "ele tem um outro trabalho [Lendo e Aprendendo...] que é muito importante, que retoma um momento crucial da educação no Brasil, sintetizado na Campanha De Pé no Chão Também Se Aprende A Ler", uma contribuição importante "para a compreensão da história deste período, não apenas da educação, mas num espectro mais amplo, da sociedade brasileira".[2] Disse Leilany Oliveira que Lendo e Aprendendo... é uma das principais referências sobre os movimentos educacionais populares do Brasil na década de 1960,[12] e segundo Aliny Pranto, Germano é um dos autores clássicos sobre o tema.[21] No lançamento da quarta edição em 2022, Germano disse:
- "O Brasil vem passando por uma onda crescente de retrocessos, com a ascensão da extrema direita nos espaços de poder político. Assim como em 1964, a educação, cultura e os seus defensores, voltaram a sofrer perseguições. Diante desse cenário, a quarta edição do Lendo e Aprendendo: A Campanha De Pé no Chão surge como um ato de resistência às tentativas de censura ao pensamento crítico e à produção científica. Esta publicação abre um leque para a esperança, oportunizada pelo fortalecimento da memória daqueles que contribuíram e acreditaram na materialização de uma educação popular".[12]
Publicações
[editar | editar código-fonte]- Um cordel para Luiz Gonzaga, o menestrel do sertão (coautor, 2013)
- Lendo e Aprendendo: a Campanha De Pé No Chão (2010)[4]
- Estado Militar e Educação no Brasil: 1964 - 1985 (2005)[4]
- Os caminhos do RN (2003)[4]
- Globalização e desigualdade (2003)[4]
- A Educação no Rio Grande do Norte — Fontes Oficiais (coautor, 2000)[4]
- Lendo e Aprendendo: a Campanha "De Pé No Chão Também Se Aprende A Ler" (1989)[4]
- Escreveu muitos artigos para revistas especializadas e anais de congressos do Brasil e exterior[2][4] e escreveu capítulos para 30 livros.[9]
Prêmios e títulos
[editar | editar código-fonte]- 2016: Título de Presidente Benemérito da Cooperativa Cultural Universitária.[5]
- 2014: Título de Professor Emérito da UFRN "em reconhecimento ao seu notável desempenho como educador e administrador na instituição".[2]
- 1999: Prêmio Estadual de Direitos Humanos Emmanuel Bezerra dos Santos, do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular/Movimento Nacional de Direitos Humanos.[10]
- 1971: Mérito Estudantil por ter sido o melhor concluinte do Curso de Graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Notas e referências
Notas
- ↑ A localidade de Açu, onde algumas fontes afirmam ter nascido o biografado, era na época um simples povoado subordinado município de Santana do Matos e só se emanciparia no ano seguinte.[1]
Referências
- ↑ «Ipanguaçu». IBGE Cidades. Consultado em 13 de setembro de 2022
- ↑ a b c d e f g h i j Araújo, Celsiane et al. "Educação e Política na obra de José Willington Germano". In: Bibliografia Viva. Faculdade de Educação UFMG, 27/05/2022
- ↑ a b c "Programa Bibliografia Viva homenagea o Prof. José Willington Germano nesta sexta (27)". Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, 24/05/2022
- ↑ a b c d e f g h Reis, Mônica Karina Santos. Uma ode ao livro: a educação, o bibliotecário, a formação para a vida. Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2014, pp. 70-71
- ↑ a b Silva, Yuno. "A nova direção da livraria do campus". A Tribuna do Norte, 07/04/2016
- ↑ Toscano, Geovânia da Silva. "Professor José Willington Germano". In: Inter-legere; 2012 (11).
- ↑ Duarte, Rafael. "10 anos depois, Comissão criada para apurar crimes da Ditadura tem inegável importância contra revisionismo, afirmam especialistas". Jornalistas Livres, 29/05/2022
- ↑ "Comitê Científico". Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
- ↑ a b "Produção Bibliográfica". Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas
- ↑ a b "Professor Wilington Germano recebe Título de Professor Emérito da UFRN nesta sexta (28)". ADURN Sindicato, 28/03/2014
- ↑ "Barros, Eva Cristini Arruda Câmara & Moraes, Maria Tereza de. "Política Educacional em Questão". In: Educação em Questão, 1993; 5 (2): 152-172
- ↑ a b c Oliveira, Leilany. "Quarta edição de livro comemora 40 anos de seu lançamento". A Tribuna do Norte, 05/01/2022
- ↑ Baquero, Marcello. Democracia, juventude e capital social no Brasil. Editora UFRGS, 2004, p. 52
- ↑ Cunha, Janaína Dias. A reforma universitária de 1968 e o processo de reestruturação da UFRGS (1964-1972): uma análise da política educacional para o ensino superior durante a ditadura civil-militar brasileira. Mestrado. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009, pp, 17-18
- ↑ Tamizari, Fábio. DEOPS, presente! Formas de controle dos professores, alunos e familiares na educação básica sob a ditadura civil-militar (1964-1985). Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018, p. 226
- ↑ O ensino de História no Ceará durante a ditadura militar: entre o prescrito e a memória de práticas docentes. Mestrado. Universidade Estadual do Ceará, 2017, pp. 18; 39
- ↑ Alves, Ana Elisabeth Santos; Pereira, Maria de Fátima; Rosário, Maria José Aviz do. "Balanço dos Seminários Nacionais e Jornadas de HistedBr". In: Coutinho, Cristiana Salvatti et al (orgs.). História e historiografia da educação: debates e contribuições. Navegando, 2018, p. 136
- ↑ a b Toscano, Geovânia da Silva. "Professor José Willington Germano". In: Revista Inter-legere, 2012 (11)
- ↑ Barros, Eva Cristini Arruda Câmara. "Estado militar e educação no Brasil (1964-1985), de José Willington Germano". In: Educação em Questão, 1993; 5 (2)
- ↑ Sena, Fabiana. "GERMANO, José Willington. Estado Militar e Educação no Brasil 1964-1985, 2 ed. Cortez Editores, 1993". In: Resenhas Educativas ANPED, 02/12/2020
- ↑ Pranto, Aliny Dayany Pereira de Medeiros. "A Campanha de pé no chão também se aprende a ler e a promoção da educação pela Cultura Popular". In: Research, Society and Development, 2017; 5 (3): 261-273
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