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Fusta

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Fusta com pavilhão português (Itinerario de Jan Huygen van Linschoten)

A fusta[1][2] é uma embarcação comprida e estreita, de fundo chato, dotada de remos, velas e entre um e três mastros, que conheceu particular uso durante o período dos Descobrimentos.[3]

A fusta pertence à família das embarcações a remos.[3] Mostra algumas semelhanças com a galé, embora seja de dimensões mais reduzidas,[4] e com o bergantim, embora este fosse de voga simples, i.e. contava com um único remador por banco e por remo, ao passo que as fustas podiam ser birremes ou trirremes.[3] Com efeito, as fustas contavam com dois a cinco remos por bancada, os quais por seu turno albergavam 15 a 30 bancos de remadores.[3][4]

A fusta pautava-se pela borda direita e pela proa de beque longo, armado de esporão.[4]

Contava com entre um a três mastros, designadamente o traquete, que vinha com vela redonda; o grande e a mezena ou artimão, que por seu turno, contavam com velas bastardas triangulares.[4]

Caracterizavam-se, também, por terem um tendal à popa, sobre o qual se montava um toldo e, por vezes, alguns paveses junto à borda.[4] Estavam dotadas com um ou dois pequenos canhões na proa, para defesa.[4]

Tendo em conta o significativo comprimento deste tipo de embarcações, que podia chegar até aos 25 metros, e dado o seu insignificante pontal, as fustas não podiam ter coberta, de maneira que a aguada (o espaço onde se armazenava a água potável da embarcação) se situava debaixo das xareta e os mantimentos nos paióis volantes ao pé da amurada.[4]

A ré e avante tinham chapitéu e castelo semelhantes aos das embarcações das fragatas de navegação fluvial.[4]

Tipologia e uso

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A fusta é um exemplo paradigmático de um certo tipo de barcos a remos, commummente designado fustalha[3] (por alusão às fustas), onde se inseriam embarcações a remos, como a galeota, o bergantim ou a fragata.[5]

Devido às suas dimensões reduzidas e pequeno calado, a fusta era capaz de navegar em águas pouco profundas e muito junto à costa.[4] À guisa das galés, gozava de boa bastante manobrabilidade, por virtude de não estar estritamente dependente do vento.[4]

Estes tipos de embarcações tiveram uma considerável importância na aproximação e nos combates junto à costa, tarefa, por sinal, difícil para navios de maior calado e com menor manobráveis em espaços apertados como era o caso dos navios à vela.[5] Os Portugueses empregaram estas embarcações da família das galés no Oriente, quase desde a sua chegada e no Norte de África desde que para aí navegaram, quer como resposta a meios naúticos idênticos, lá encontrados, quer enquanto manifestação de uma notável capacidade de adaptação às circunstências geográficas e bélico-nauticas com que se depararam.[5]

Abonações históricas

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Nas "Curiosidades de Gonçalo de Sousa", lê-se: "Fustas são nauios de remos ligeiros de trinta e cinquo remos levão vinte e cinquo ate trinta soldados brancos de guerra. Tres ou quatro falcoens; trinta remeiros".[6]

Na obra de Bluteau, a fusta surge descrita como «Embarcação comprida e chata, de velas, e remos. Alguns a chamao Liburna».[7]

A fusta é uma das embarcações mais referidas por Fernão Mendes Pinto na sua obra «Peregrinação», tendo-se servido desta como ponto de referência para, por analogia, se reportar a alguns dos tipos de embarcações orientais, com que se deparou.[4]

Uma das mais célebres viagens de fusta, foi a de Diogo Botelho Pereira que, em 1535, foi de Cochim a Lisboa, dar a nova da fundação da fortaleza de Diu.[4]

Na hierarquia da Marinha portuguesa, consta referência ao posto de capitão de fusta, em 1433.[4] Por igual, há também alusão ao posto alcaide de fusta, que terá surgido na segunda metade do século XV.[4]

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «fusta». Dicionário Priberam. Consultado em 25 de julho de 2023 
  2. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de fusta». aulete.com.br. Consultado em 25 de julho de 2023 
  3. a b c d e Domingues, Francisco Contente (2004). Os navios do mar oceano : teoria e empiria na arquitectura naval portuguesa dos séculos XVI e XVII. Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa. pp. 274–275. ISBN 972-98766-9-X 
  4. a b c d e f g h i j k l m n Marques Esparteiro, António (2001). Dicionário Ilustrado de Marinha. Lisboa: Clássica Editora. 596 páginas. ISBN 972-561-325-2 
  5. a b c Domingues, Francisco Contente (2004). Os navios do mar oceano : teoria e empiria na arquitectura naval portuguesa dos séculos XVI e XVII. Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa. p. 271. 520 páginas. ISBN 972-98766-9-X 
  6. Mendonça, Henrique Lopes de (1971). Estudos sobre navios portugueses nos séculos XV e XVI. [S.l.]: Ministério da Marinha 
  7. Bluteau, Rafael (1783). VOCABULARIO PORTUGUEZ, E LATINO, AULICO, ANATOMICO, ARCHITECTONICO, BELLICO, BOTANICO, Brasilico, Comico, Critico, Chimico, Dogmatico, Dialectico, Dendrologico, Ecclesiastico, Etymologico, Economico, Florifero, Forense, Fructifero, Geographico, Geometrico, Gnomonico, Hydrographico, Homonymico, Hierologico, Ichtyologico, Indico, Isagogico, Laconico, Liturgico, Lithologico, Medico, Musico, Meteorologico, Nautico, Numerico, Neoterico, Ortographico, Optico, Ornithologico, Poetico, Philologico, Pharmaceutico, Quidditativo, Qualitativo, Quantitativo, Rhetorico, Rustico, Romano, Symbolico, Synonimico, Syllabico, Theologico, Terapeutico, Technologico, Uranologico, Xenophonico, Zoologico: AUTORIZADO COM EXEMPLOS DOS MELHORES ESCRITORES PORTUGUEZES, E LATINOS, E OFFERECIDO A EL-REY DE PORTUGAL, D. João V. - Vol. IV. Lisboa: No Collegio das Artes da Companhia de Jesu. p. 242. 759 páginas 
  • Curiosidades de Gonçalo de Sousa..., Reservados da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra; Henrique Lopes de Mendonça, Estudos sobre Navios Portgueses nos séculos XV e XVI, Lisboa, Ministério da Marinha, 1971 (1ª Ed.,1982)