Saltar para o conteúdo

Entrevista motivacional

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Entrevista motivacional (EM) designa uma forma de técnica de entrevista baseada na terapia centrada no cliente e desenvolvida originalmente para o tratamento psicoterapêutico de dependência de drogas e álcool. Objetivo é, através de uma determinada forma de fazer perguntas e superar ambivalências, desenvolver motivação intrínseca para uma mudança de comportamento por parte do cliente (paciente).[1]

Conceitos básicos da EM

[editar | editar código-fonte]

Dissonância e consonância

[editar | editar código-fonte]

Consonância designa em EM uma situação em um relacionamento (por exemplo entre terapeuta e paciente) em que as partes estão de acordo quanto à estruturação desse relacionamento, por exemplo quanto ao tema a ser tratado e aos papéis de cada uma das partes. Dissonância, pelo contrário, designa uma situação em que as partes não estão de acordo, elas por assim dizer, lutam uma contra a outra. A dissonância em um relacionamento é caracterizada sobretudo por resistência por parte do paciente.

Resistência, em EM, designa respostas do paciente que apresentam (1) argumentos a favor do status quo, (2) desvantagens de uma mudança, (3) a intenção do indivíduo de não querer modificar o próprio comportamento ou (4) um pessimismo com relação a uma mudança. Apesar do que o termo costuma sugerir, ou seja, de que o paciente é "culpado" pela resistência, a resistência em EM é vista antes como o resultado da interação entre terapeuta e paciente. Ou seja, determinado comportamento do terapeuta pode desencadear resistência no paciente. Duas grandes causas de resistência são o desentendimento quanto ao objetivo da consulta (ex. o terapeuta está convencido de que o paciente deve parar de consumir drogas e este se encontra ainda ambivalente) e quanto aos papéis das partes (ex. o terapeuta se apresenta como especialista e e paciente se sente ofendido e ferido em sua autonomia).

EM baseia-se no princípio de que o paciente se encontra muitas vezes em um estado de ambivalência: ele não sabe se quer ou não modificar seu comportamento (ex. consumo de drogas). Ou seja, ele possui argumentos que defendem a manutenção do problema e outros que defendem uma mudança de comportamento. No entanto se alguém (ex. o terapeuta) assume a posição de defensor da mudança, o paciente acaba tendo de assumir a defesa da manutenção da situação como ela está - ou seja, resistência. O objetivo da EM é, então, permitir ao próprio paciente oferecer os argumentos e as razões a favor de uma mudança. Exatamente como no caso da resistência, o comportamento do terapeuta pode auxiliar o paciente a dar respostas favoráveis a uma mudança. Esse tipo de resposta, chamado em EM change-talk (ing. respostas de mudança), é assim caracterizado por apresentar (1) desvantagens do status quo, (2) vantagens de uma mudança, (3) intenção de se modificar ou (4) um otimismo com relação a uma mudança.[1]

A postura básica da EM

[editar | editar código-fonte]

EM baseia-se em três posturas básicas do terapeuta com relação ao cliente, que têm por fim diminuir a resistência e aumentar o número de respostas de mudança[1]:

  • Cumplicidade - O terapeuta constrói um relacionamento com o cliente e procura valorizar o conhecimento e o ponto de vista do cliente, criando um clima propício para uma mudança. Assim EM distingue-se de outras formas de psicoterapia que trabalham com confrontação, que procuram forçar o cliente a tomar consciência e aceitar uma "realidade" que ele não quer ver ou assumir;
  • Evocação - O terapeuta parte do princípio de que o cliente possui recursos e motivação para a mudança; estes devem ser reforçados pelo terapeuta através de referências aos valores, objetivos e percepções do cliente. EM diferencia-se dessa forma de outras formas de psicoterapia que procuram ensinar e dar conselhos ao paciente de como ele deve se comportar;
  • Autonomia - O direito e a capacidade do cliente de definir seu comportamento e de tomar suas próprias decisões é reforaçada. EM não se basiea, assim, na autoridade do terapeuta para dizer ao cliente o que ele deve fazer.

Os quatro princípios

[editar | editar código-fonte]

A postura básica acima descrita se realiza através de quatro princípios práticos, que norteiam o comportamento do terapeuta[1]:

  1. Expressar empatia;
  2. Desenvolver discrepâncias entre o comportamento atual do paciente e seus valores, objetivos e desejos;
  3. Desviar-se de resistência;
  4. Propiciar a autoeficácia, ou seja, a confiança do cliente em ser capaz de resolver os próprios problemas

Referências

  1. a b c d Miller, William R. & Rollnick, Stephen (2009).Motivierende Gesprächsführung. Freiburg i. Br.: Lambertus. ISBN 978-3-7841-1900-7
  • Miller, William R. & Rollnick, Stephen. Entrevista motivacional. Porto Aleger, RS: Artmed. ISBN 8573077387
  • Miller, William R.; Rollnick, Stephen & Butler, Christopher C. (2008). Entrevista Motivacional No Cuidado Da Saude. Porto Alegre, RS: Artmed. ISBN 8536317027

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]