Saltar para o conteúdo

Companhia Matte Larangeira

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Vila Industrial de Campanário - Companhia Matte-Laranjeira, na fronteira Brasil-Paraguai

Inicialmente denominada Empresa Matte Larangeira, a Companhia Matte Larangeira foi uma empresa que surgiu de uma concessão imperial ao comerciante Thomaz Larangeira, por serviços prestados na Guerra do Paraguai. Atuou na exploração de erva-mate no sul do Mato Grosso.

Sua primeira sede foi em Concepción, no Paraguai,[1] onde, em 1877,[2] inicia a exploração de erva-mate. Posteriormente sua sede foi transferida para Porto Murtinho, tendo se estabelecido anos mais tarde em Guaíra (Paraná).

A Companhia foi a responsável pela fundação das cidades de Porto Murtinho e Guaíra. Para se ter ideia do seu poder econômico, no seu auge, tinha um lucro seis vezes superior à arrecadação de impostos do estado do Mato Grosso inteiro.

Empresa Matte Larangeira

[editar | editar código-fonte]

O Decreto Imperial nº 8 799, de 9 de dezembro de 1882, autorizava, a Larangeira, a exploração da erva-mate nativa por um período inicial de 10 anos.,[2] Entretanto, esse decreto não impede a exploração por parte dos moradores locais.[3] Larangeira funda a Empresa Matte Larangeira[4] a partir desta concessão imperial.

Thomaz Larangeira trouxe, do sul do país, fazendeiros que conheciam o manejo da erva-mate. Também foram utilizadas a mão de obra de índios da região e de paraguaios, iniciando o ciclo de produção da erva-mate.[5]

Com a Proclamação da República do Brasil em 1889, a área de concessão é, sucessivamente, ampliada, sempre com o apoio de políticos influentes, como Joaquim Murtinho, Manuel José Murtinho e General Antônio Maria Coelho. Através do Decreto nº 520, de 23 de junho de 1890, são ampliados os limites de suas posses e consegue o monopólio na exploração da erva-mate em toda a região abrangida pelo arrendamento. Em 1895, a área arrendada é ampliada, sendo superior a 5 000 000 hectares.[3]

Cia Matte Larangeira

[editar | editar código-fonte]

Em 1892, é assinado novo contrato de concessão com o estado, com exclusividade para exploração dos ervais.[2] Após assinado esse contrato, o Banco Rio Branco e Matto Grosso, da Família Murtinho, compra 14 540 ações (100 mil-réis por ação), cabendo, a Larangeira, 460 ações. A empresa passa a se denominar Companhia Matte Larangeira,[4] sendo obrigada a transferir a sua sede para o território do Mato Grosso.

Em julho de 1892, a Companhia Matte Larangeira comprou a Fazenda Três Barras, de Boaventura da Mota, à margem esquerda do rio Paraguai, e construiu um porto para exportação de erva-mate cancheada. Esse porto foi nomeado de Porto Murtinho, pelo Superintendente do Banco Rio e Mato Grosso Dr. Antônio Corrêa da Costa, em homenagem a Joaquim Murtinho.[4]

A atividade gerava muito lucro, estimulando o aumento da exportação. Em 1900, a região teve grande desenvolvimento graças à Companhia Matte Larangeira, e passou a embarcar chá para a Argentina. O transporte do mate — colhido num vasto império extrativo no atual estado de Mato Grosso do Sul — exigia 800 carretas e 20 mil bois.[1][4]

A Companhia encarregava-se da exploração e exportação da erva semielaborada (cancheada) para Buenos Aires. Nesta cidade, outra empresa, a Francisco Mendes Gonçalves & Cia., encarregava-se da industrialização e distribuição do produto no mercado argentino e outros. A erva-mate atingiu grandes centros urbanos como Assunção (Paraguai), Buenos Aires (Argentina) e até Inglaterra, França e Itália.[1]

Mão de obra indígena

[editar | editar código-fonte]

Em 1895, a Cia. Matte Larangeira recebeu 5 000 000 hectares em arrendamento de terras devolutas. Essa área compunha o território dos Kaiowás e Guaranis.[3] A Companhia utilizou, ao longo da sua história, mão de obra indígena, principalmente das etnias Kaiowá e Guarani. Mesmo com o início da demarcação das reservas indígenas em 1915 na região de Amambai, o espaço geográfico ocupado pelos índios e pela Cia Matte Larangeira era o mesmo, sendo intensa a utilização da mão de obra indígena na exploração de erva-mate, inclusive sendo agenciados pelo Serviço de Proteção aos Índios.[2] Entre 1915 a 1928, reservas indígenas foram demarcadas pelo Governo Federal no estado do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul) devido aos deslocamentos que essas comunidades sofreram em função dos interesses da Companhia.[3]

Após denúncias do superintendente doutor Antonio Corrêa da Costa[3] e de prejuízos com o transporte da produção da Matte Larangeira,[5] o Banco Rio Branco decreta falência em 1902 e Thomaz Larangeira adquire seu espólio. Já a Cia. Matte Larangeira é vendida à companhia argentina Francisco Mendes & Cia,[4][5] passando a se chamar Larangeira Mendes e Companhia. É assinado, com o governo do estado, novo contrato de arrendamento, nos mesmos moldes do anterior, que vigoraria até 1916.[2]

Foi finalizada em 1906, para facilitar o transporte de erva-mate, uma ferrovia (Estrada de Ferro Porto Murtinho a São Roque), ligando o Porto Geral à Fazenda São Roque, com extensão máxima de 22[1][4][6] a 25[6] quilômetros. O projeto inicial de 1898 do doutor Antonio Corrêa da Costa[4] previa uma extensão de 42 léguas (231 a 277 quilômetros[7]).

Já em 1910, ocorre a transferência do foco principal de exploração de erva-mate para o Rio Paraná, reduzindo a sua importância estratégica para a empresa. Com o novo presidente de Mato Grosso, Joaquim Augusto da Costa Marques, que assumiu em 1911, avultaram as pressões da companhia Mate Laranjeira no sentido de renovar o arrendamento dos seus extensos ervais no sul do estado. A pretensão suscitou nova divergência entre Murtinho e Ponce: o primeiro defendia a prorrogação do contrato até 1930, com opção para a compra de 1 000 000 a 2 000 000 de hectares, enquanto Ponce queria a divisão da área em lotes de 450 hectares, que seriam oferecidos a arrendamento em hasta pública.

O general Caetano Manuel de Faria Albuquerque assumiu o governo matogrossense em 15 de agosto de 1915. Seus próprios correligionários conservadores tentaram forçá-lo à renúncia, e ele, tendo a seu lado Pedro Celestino, aceitou o apoio da oposição, num movimento que se chamou "caetanada". Contra seu governo organizou-se a rebelião armada, com ajuda da Matte Larangeira e seus aliados políticos. Com a morte de Generoso Ponce, a empresa ganhou novo trunfo com o apoio do senador situacionista Antônio Azeredo. Mas o antigo presidente do estado, Pedro Celestino Correia da Costa, tomou posição contrária. Os deputados estaduais hostis à prorrogação do contrato fizeram obstrução e impediram que ela fosse aprovada. Finalmente, a Mate Laranjeira foi frustrada em suas pretensões, com a aprovação da Lei Número 725, de 24 de agosto de 1915. Seu monopólio foi quebrado em 1916.

Larangeira, Mendes & Cia

[editar | editar código-fonte]

A sede da Companhia foi transferida em 1918 de Porto Murtinho, para a Fazenda Campanário, no município de Laguna Caarapã. Sendo que a erva passou a ser exportada pelo Rio Paraná, ficando somente a produção dos ranchos próximos exportada por Porto Murtinho.[5] Desde 1902 a Companhia estabelece-se em Guaíra, inicialmente denominada de Porto Monjoli,[8] iniciando a construção de uma ferrovia Estrada de Ferro Guaíra a Porto Mendes em 1911,[1] que transporia as corredeiras da Sete Quedas.

Entre 1926 e 1929, a Cia., por várias vezes, emprestou dinheiro para o Governo de Mato Grosso e assumiu o compromisso de construir vários prédios públicos, conseguindo a renovação das concessões.[3]

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Argentina criou restrições à erva-mate brasileira e a empresa entrou em dificuldades.[1] O domínio da Companhia segue até 1943, quando Getúlio Vargas assume o poder, criando os Territórios de Ponta Porá e Iguaçu, e anulando a concessão.[2]

Em 17 de abril de 1944, é assinado o Decreto n.º 6 428,[8] por Getúlio Vargas, incorporando, ao Serviço de Navegação da Bacia do Prata (SNBP), o Distrito de Guairá, a Estrada de Ferro Guaíra a Porto Mendes, assim como o material e instalações fixas, instalações portuárias e todas as instalações e material flutuantes.

A empresa recebeu um prazo para a liquidação de seus negócios e seus edifícios foram todos leiloados, bem como todas as estalagens, oficinas, rebanhos e tropas. Apesar disso, a empresa continuou operando a EF Porto Murtinho, transportando madeira (quebracho) da empresa até a usina da Floresta Brasileira S. A. para extração de tanino, até pelo menos 1958, existindo indicações (vagas) de que, em 1971, os trens ainda estariam em operação.[6]

Referências

  1. a b c d e f Flávio R. Cavalcanti (1 de fevereiro de 2004). A primeira ferrovia do Oeste do Paraná. [S.l.]: Centro-Oeste nº 87 
  2. a b c d e f Eva Maria Luiz Ferreira (2007). A participação dos índios Kaiowá e Guarani como trabalhadores nos ervais da Companhia Matte Larangeira (1902-1952) – Dissertação de Mestrado. [S.l.]: Universidade Federal da Grande Dourados 
  3. a b c d e f Adelaido Luiz Spinosa Vila. «Participação da mão-de-obra indígena na Companhia Matte Larangeira». Consultado em 8 de março de 2009. Arquivado do original em 27 de novembro de 2010 
  4. a b c d e f g Alcimar Lopes Lomba (2002). O transporte ferroviário na Companhia Mate Laranjeira (1906-1944). [S.l.]: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul / Dourados 
  5. a b c d PM Porto Murtinho. «Histórico». Consultado em 5 de junho de 2009. Arquivado do original em 2 de maio de 2009 
  6. a b c Ralph Mennucci Giesbrecht. «E. F. Mate Laranjeira (Município de Porto Murtinho, MS)». Consultado em 25 de maio de 2009 
  7. Cesar Rogério Cabral / Markus Hasenack / Rovane Marcos de França. MÓDULO I UNIDADE CURRICULAR TOPOGRAFIA I. [S.l.]: CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA 
  8. a b Prof. Dr. Omar Fedato Aleksiejuk. «Cronologia Histórica de Guairá». Consultado em 6 de março de 2009. Arquivado do original em 2 de março de 2009