Asfixiologia forense
Trata-se de uma área da medicina legal que estuda as afixias de um modo geral. A palavra "asfixia" significa "sem pulso" (a + sphyxis). Essa denominação foi dada pelos antigos, pois acreditavam que, através das artérias, circulava o pneuma[1]. O uso atual da expressão, no entanto, quer dizer a supressão da respiração.
Conceito
[editar | editar código-fonte]Trata-se de uma área da medicina legal que estuda as afixias de um modo geral. Asfixia é um fenômeno causado pelo impedimento da passagem do ar pelas vias respiratórias, resultando em uma alteração bioquímica do sangue[1]. Esse processo inibe a hematose (transformação do sangue venoso em sangue arterial), o que pode levar o indivíduo à morte. A palavra "asfixia" significa "sem pulso" (a + sphyxis) em sua origem. Essa denominação foi dada pelos antigos, pois acreditavam que, através das artérias, circulava o pneuma. O uso atual da expressão, no entanto, quer dizer a supressão da respiração. Embora consagrado pelo seu emprego corriqueiro, o termo "asfixia" deveria ser substituído, para garantir exatidão técnica e científica, por anóxia (ausência de oxigênio no sangue) ou hipoxemia (pouco oxigênio no sangue). O fenômeno da asfixia, sob o ponto de vista médico-legal, pode ser causado por impedimento mecânico de causa fortuita, violenta e externa em circunstâncias as mais variadas. Ou como uma perturbação oriunda da privação, completa ou incompleta, rápida ou lenta, externa ou interna, do oxigênio.
Classificação
[editar | editar código-fonte]As classificações da asfixia são as mais variadas. Elencaremos aqui as principais:
Classificação de Afrânio Peixoto[1]
[editar | editar código-fonte]- Asfixias Puras - são manifestadas pela anoxemia e hipercapneia
- Asfixias em ambientes por gases irrespiráveis:
- Confinamento;
- Asfixia por monóxido de carbono;
- Asfixias por outros vícios de ambiente.
- Obstaculação à penetração do ar nas vias respiratórias:
- Sufocação direta (obstrução da boca e das narinas pelas mãos ou das vias aéreas mais inferiores);
- Sufocação indireta (compressão do tórax);
- Transformação do meio gasoso em meio líquido (afogamento);
- Transformação do meio gasoso em meio sólido (soterramento).
- Asfixias em ambientes por gases irrespiráveis:
- Asfixias Complexas - interrupção primária da circulação cerebral, anoxemia, hipercapneia; inibição por compressão dos elementos nervosos do pescoço
- Constrição passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo (enforcamento).
- Constrição ativa do pescoço exercida pela força muscular (estrangulamento).
- Asfixias Mistas - graus variados dos fenômenos respiratórios, circulatórios e nervosos (esganadura)
Classificação de Thoinot[2]
[editar | editar código-fonte]- Asfixias mecânicas por constrição do pescoço; enforcamento; estrangulamento por mão; estrangulamento por laço.
- Asfixias mecânicas por oclusão dos orifícios respiratórios externos.
- Asfixias mecânicas por respiração num meio líquido (submersão), ou num meio pulvurulento (soterramento).
- Asfixias mecânicas resultantes da oclusão das vias respiratórias por corpos estranhos.
Classificação de Oscar Freire[2]
[editar | editar código-fonte]- Modificações físicas do ambiente:
- modificações quantitativas dos componentes do ar (diminuição de oxigênio, aumento de gás carbônico, aumento de temperatura, excesso de umidade): confinamento.
- modificações qualitativas:
- ambiente líquido em lugar de gasoso: afogamento;
- ambiente sólido em lugar de gasoso: soterramento.
- Obstáculos mecânicos no aparelho respiratório:
- nas aberturas aéreas (narina, boca e glote): sufocação direta.
- nas vias aéreas, por constrição externa, devida a laço acionado pelo peso da própria vítima: enforcamento.
- nas vias aéreas, por constrição externa, devida a laço acionado pela força muscular ou equivalente: estrangulamento.
- nas vias aéreas, por constrição externa, devida à ação da mão: esganadura.
- Obstáculo na oxigenação das hemácias: asfixia pelo monóxido de carbono, segundo alguns autores.
- Supressão da expansão torácica por contenção externa: sufocação indireta.
Asfixias em Geral
[editar | editar código-fonte]É necessário entender que para que a respiração se processe em condições de normalidade é exigido um ambiente externo que contenha ar respirável, com um teor de oxigênio de aproximadamente 21%, nitrogênio 78%, gás carbônico 0,03%, portanto, praticamente livre de gases tóxicos, e que haja permeabilidade das vias respiratórias, elasticidade do tórax, expansão pulmonar, circulação sanguínea normal e volume circulatório em quantidade e qualidade suficientes para transportar o oxigênio à intimidade dos tecidos e garantir regularidade à hematose, assim como uma pressão atmosférica compatível com a fisiologia respiratória.[1][2]
Nem todo o oxigênio do ar inspirado alcança os alvéolos pulmonares: 4% dele fica retido pelas vias aéreas superiores. Isto posto, a proporção de oxigênio do ar alveolar é de 17% e não 21%.
O homem precisa dessa taxa de oxigênio para sobreviver, portanto, um percentual de 7% de oxigênio no ar atmosférico ocasiona perturbações orgânicas relativamente graves, e um percentual de 3% ou um ar com grande quantidade de gases irrespiráveis ou tóxicos, acarreta morte por exaustão de oxigênio pulmonar e hipercapneia.
Ao nível dos alvéolos pulmonares ocorre a hematose, ou seja, a transformação, por osmose, do sangue venoso, vindo do coração direito, em arterial, pela perda de gás carbônico e conquista de oxigênio. A tensão do gás carbônico é mais elevada no sangue do que no ar alveolar. Em troca, a tensão do oxigênio é maior nos alvéolos do que nos capilares pulmonares. Essa diferença de pressão entre os gases do ar alveolar e os do sangue é que motiva as permutas de gás carbônico por oxigênio na hematose pulmonar.[2]
Denomina-se ar circulante ou respiratório a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões (cerca de 500cc), em respiração calma. Ar complementar (1.500cc) é o maior volume de ar introduzido nos pulmões, numa inspiração forçada. Ar de reserva (1.500cc) é a quantidade de ar eliminado numa expiração profunda. Ar residual é nome que se dá ao volume de ar (1.000cc) que sempre permanece nos pulmões, por mais forçada que seja a expiração. Assim, a capacidade vital, total do ar circulante, do complementar e do de reserva é 3.500cc, e a capacidade pulmonar, conjunto do residual e do de reserva, 2.500cc. A capacidade total dos pulmões soma, pois, 4.500cc.[2]
A frequência respiratória normal é, em média:[2]
recém-nascido 40-45 movimentos respiratórios por minuto
lactente 25-30 movimentos respiratórios por minuto
pré-escolar 20-25 movimentos respiratórios por minuto
escolar 18-20 movimentos respiratórios por minuto
adolescente 18 movimentos respiratórios por minuto
A frequência dos movimentos respiratórios é de 16 por minuto, no adulto normal, em repouso. Nas mulheres, em repouso, admite-se 18-22 movimentos por minuto.[2]
Geralmente, a cada movimento respiratório, no indivíduo normal, em condições de repouso físico e mental, correspondem 4 pulsações cardíacas.[2]
Chama-se eupneia a respiração normal; bradipneia, a diminuição dos movimentos respiratórios, e taquipneia, o aumento da frequência respiratória. A bradipneia é também denominada espaniopneia e oligopneia, e a taquipneia, polipneia e hiperpneia. Dispneia é a respiração forçada e difícil. Jimenez Dias a definiu como “a sensação de uma respiração que não se realiza bem”. Ortopneia é termo que indica dispneia tão intensa que obriga o indivíduo a sentar-se para dar inteira liberdade de ação aos músculos auxiliares da respiração. Apneia é a pausa ou suspensão temporária da respiração.
Referências
- ↑ a b c d FRANÇA, Genival Veloso (2011). Medicina Legal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan
- ↑ a b c d e f g h CROCE, Delton (2012). Manual de Medicina Legal. São Paulo: Saraiva