Arvid Noe
Arne Vidar Røed, conhecido na literatura médica como Arvid Darre Noe (23 de julho de 1946 – Horten, 24 de abril de 1976), foi um marinheiro e caminhoneiro norueguês que se tornou um dos primeiros casos conhecidos de HIV/AIDS. O seu caso foi o primeiro confirmado de HIV contraído na Europa, muito embora a doença não tenha sido identifica à época de sua morte. O vírus foi espalhado para sua esposa e sua filha mais nova: ambas também morreram; este foi o primeiro caso documentado de AIDS contraída por um grupo de pessoas antes da epidemia do início da década de 1980.[1] Os pesquisadores que estudaram os casos referiram-se a Røed como o "marinheiro norueguês" e através do anagrama "Arvid Noe" para manter sua identidade em segredo: o seu nome verdadeiro, Arne Vidar Røed, só se tornou conhecido após sua morte.
Doença e morte
[editar | editar código-fonte]Røed começou a trabalhar como marinheiro em 1961, quando tinha 15 anos de idade. Por volta de 1968, Røed já não trabalhava mais no serviço marítimo e passara a trabalhar como caminhoneiro, rodando por boa parte da Europa (principalmente na então Alemanha Ocidental). Em 1968 Røed começou a sofrer com dores nas juntas, linfedema e infecções pulmonares (1968 também foi o ano em que o adolescente americano Robert Rayford apresentou os primeiros sintomas; mais tarde, ele foi identificado como o primeiro caso de AIDS na América do Norte[2]). A condição médica de Røed estabilizou-se com tratamento até 1975, quando seus sintomas voltaram a piorar. Ele desenvolveu dificuldades motoras e demência, falecendo em 24 de abril de 1976. Sua esposa também adoecera com os mesmos sintomas, morrendo em dezembro daquele ano. Embora os dois filhos mais velhos não tenham nascido infectados, a terceira, uma menina, morreu em 4 de janeiro de 1976 aos oito anos de idade, tendo sido a primeira pessoa que morreu de complicações da AIDS de forma documentada fora dos Estados Unidos. Røed, sua esposa e sua filha foram enterrados em Borre, Vestfold, Noruega.
Investigações posteriores
[editar | editar código-fonte]Aproximadamente uma década após a morte de Røed, testes feitos pelo dr. Stig Sophus Frøland, do Hospital Nacional de Oslo, a partir de amostras de sangue de Røed, sua filha e sua esposa, todos deram resultado positivo para HIV.[3]
Baseando-se em pesquisas conduzidas após sua morte, acredita-se que Røed tenha contraído HIV em Camarões em 1961 ou 1962, onde se sabe que ele era sexualmente ativo com muitas mulheres locais, inclusive prostitutas.[4] Røed foi infectado com o HIV-1 grupo O, que se sabe ter sido prevalente em Camarões no início da década de 1960.[5]
Durante seu período como caminhoneiro, de 1968 ta 1972, Røed manteve atividade sexual com muitas prostitutas e quase certamente passou o HIV a elas; por sua vez, estas mulheres quase certamente passaram a doença a outros clientes.[6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Gaëtan Dugas — um homossexual canadense que trabalhava como comissário de bordo, reputado como ter infectado entre 245 a 350 homens gays de 1972 até sua morte em 1984 e que foi intitulado "Paciente Zero" pelo autor Randy Shilts; esta alegação mais tarde foi refutada;
- Grethe Rask — médica dinamarquesa infectada em 1964 no Congo-Léopoldville (atual República Democrática do Congo) ou em 1972 durante uma cirurgia; falecida em 1977;
- Robert Rayford — afro-americano de 15 anos, natural de St. Louis, que foi a primeira morte confirmada pela AIDS na América do Norte; faleceu em 1969.
Referências
- ↑ «The Sea Has Neither Sense Nor Pity: the Earliest Known Cases of AIDS in the Pre-AIDS Era». www.discovermagazine.com
- ↑ «Documentation of an AIDS virus infection in the United States in 1968.». JAMA. 260. PMID 3418874. doi:10.1001/jama.1988.03410140097031
- ↑ Frøland, S.S., et al.. "HIV-1 Infection in Norwegian Family before 1970". The Lancet. 11 June 1988. Pp. 1344-1345
- ↑ Hooper, Edward, Sailors and star-bursts, and the arrival of HIV, from the British Medical Journal, 1997
- ↑ Hooper 1999 p.321
- ↑ Hooper 1999 p.519