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Arrancada Heroica

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Tela que reproduz a Arrancada Heroica de 1942

Arrancada Heroica é a denominação usada para o episódio histórico futebolístico paulistano que marcou, em 1942, a mudança forçada de nome do Palestra Itália para Sociedade Esportiva Palmeiras[1]. O fato começa com as pressões para o clube de futebol, de origem italiana, mudar seu nome durante a Segunda Guerra Mundial quando o Brasil, governado pelo então presidente Getúlio Vargas, declarou guerra aos países do "Eixo" (Alemanha, Itália e Japão) e se alinhou aos países "Aliados", (Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França, e outros países). Termina com a vitória por 3 a 1 do Palmeiras em sua primeira partida com este nome em jogo decisivo contra o São Paulo que lhe rendeu o título do Campeonato Paulista de 1942[2].

Sentido horário, do topo à esquerda: Forças chinesas na Batalha de Wanjialing; forças australianas durante a Primeira Batalha de El Alamein; aviões alemães Stuka na Frente Oriental; forças navais estadunidenses no Golfo de Lingayen; Wilhelm Keitel assinando a Rendição Alemã; tropas soviéticas durante a Batalha de Stalingrado

Contexto da Segunda Guerra

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Durante a Segunda Guerra Mundial, depois de manter uma posição neutra ao longo dos três primeiros anos do conflito, em fevereiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo, depois que alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no Oceano Atlântico. Tal iniciativa foi uma sinalização da posição formalizada meses depois, quando o Brasil se junta aos Aliados e declara guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

Ante disso, no mesmo ano, uma portaria homologada ainda em março de 1942, sob decreto de número 4.166, determinou que os bens pertencentes a alemães, italianos e japoneses, tanto de pessoas físicas como jurídicas, poderiam ser confiscados e usados pelo governo brasileiro para compensar prejuízos gerados por países da guerra contra o Brasil. Outra determinação do Governo Getúlio Vargas foi realizada por meio de decreto que proibia qualquer entidade de usar nomes relacionados a países do Eixo, sob pena de perda de patrimônio.

Com pressões cada vez maiores, vários clubes ligados ao eixo foram obrigados a mudar de nome. Os casos mais emblemáticos são: Palestra Italia (da colônia italiana), Deutsch Sportive e Sport Club Germânia (ambos da colônia alemã) em São Paulo. E o Palestra Italia de Belo Horizonte (da colônia italiana) que também foi obrigado a mudar de nome, dando origem ao Cruzeiro, em Minas Gerais.

As pressões sobre o Palestra

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Já em março de 1942, tentando evitar complicações, o paulistano Palestra Itália decidiu mudar o nome para Palestra de São Paulo. Outra alteração foi feita no escudo institucional, que ganhou uma adaptação mais nacionalista, com a retirada da cor vermelha e o acréscimo de um tom amarelo, em referência às cores da bandeira brasileira[3].

As modificações não foram suficientes, pois as pressões políticas da época eram imensas. Para alguns setores da sociedade, a despeito da palavra “palestra” ter origem grega, ela fazia referência à Itália. Por isso, as exigências para mudança de nome e aplicações de punições eram cada vez maiores. Dirigentes do então Palestra acusam até os dias de hoje o São Paulo Futebol Clube[4] como um dos adversários responsáveis pelas maiores pressões nos meios políticos, já que, segundo eles, havia interesse do rival no Estádio Parque Antártica.[5] No São Paulo, a tese sobre o estádio é tida como "fantasiosa".[6]

A mudança definitiva

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Na noite do dia 14 de setembro de 1942, a diretoria do Palestra reuniu-se em sessão extraordinária para discutir a exigência, de uma mudança total do nome. Depois de horas de discussão e resistência, e da sugestão de nomes como Piratininga e Paulista, decidiu-se finalmente por Sociedade Esportiva Palmeiras, em parte pela preservação da letra P nos escudos e símbolos do clube, e em parte em homenagem à Associação Atlética das Palmeiras, clube então extinto mas que sempre manteve excelente relacionamento com o Palestra Itália, tendo fornecido apoio decisivo em diversas ocasiões de litígio com dirigentes do futebol paulista.

A reunião que trouxe a mudança de nome definitiva do Palestra para Palmeiras foi realizada dias antes do jogo decisivo que poderia ter o campeão do Campeonato Paulista de 1942.

Oberdan Cattani, lendário goleiro do Palmeiras, que esteve na Arrancada Heróica

Como o Palestra era o líder da competição e restavam dois jogos para fim, contra São Paulo e Corinthians, bastava uma vitória alviverde para a conquista do título. Por coincidência, após a alteração de nome, o Palmeiras enfrentaria justamente o São Paulo, tida como grande responsável pela perseguição e por uma campanha na qual o então Palestra era acusado de ser "inimigo da pátria" por ser de origem italiana.

A Arrancada Heroica

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A decisão aconteceu no dia 20 de setembro de 1942, o Palmeiras entrou em campo pela primeira vez com o nome que é conhecido até os dias de hoje. Com o intuito de evitar as vaias que eram prometidas pelos rivais, a equipe surgiu no gramado do Estádio do Pacaembu com uma bandeira do Brasil, puxada pelo então 2º Vice-Presidente do clube, Adalberto Mendes, que era capitão do Exército Brasileiro. A iniciativa e a imagem emocionante, chamada depois de Arrancada Heroica[7], foi aplaudida pelos torcedores presentes e ajudou a amenizar a pressão sobre a equipe alviverde.

O jogo com o São Paulo foi tenso e violento, com vitória alviverde por 3 a 1, e abandono de campo da equipe tricolor aos 21 minutos do segundo tempo, quando o árbitro marcou um pênalti cometido por Virgílio em Og Moreira. Com o placar e a fuga tricolor[8], o Palmeiras ganhou a primeira taça com o novo nome. Com a derrota, o São Paulo terminou em terceiro, atrás do Corinthians, vice-campeão.

O jogo decisivo

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20 de setembro de 1942 Palmeiras 3 — 1 São Paulo Estádio do Pacaembu, São Paulo
Público: 45.913
Árbitro: Jaime Janeiro Rodrigues

Cláudio Gol 19 do 1.º tempo
Del Nero Gol 43 do 1.º tempo
EchevarrietaGol 14 do 2.º tempo
Waldemar de Brito Gol 23 do 1.º tempo
Virgílio Expulso

Palmeiras: Oberdan, Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Waldemar Fiúme, Villadóniga, Lima e Echevarrieta. Técnico: Armando Del Debbio.

São Paulo: Doutor, Piolin e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho, Waldemar de Brito, Leônidas, Remo e Pardal. Técnico: Conrado Ross.

Homenagens à data

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Ala dedicada à Arrancada Heroica na Sala de Troféus do Palmeiras

A Arrancada Heroica é não somente um episódio histórico ligado ao Palmeiras, mas também à história do esporte na cidade de São Paulo. No dia 11 de outubro de 2005, foi sancionada na capital paulista a Lei n.º 14.060, que definiu o dia 20 de setembro como o "Dia da Sociedade Esportiva Palmeiras". A data passou a ser lembrada anualmente, já que passou a integrar o Calendário Oficial do Município[9].

Outra homenagem ao episódio foi o batismo de uma passarela nas proximidades da sede do Palmeiras, no bairro da Água Branca, em São Paulo. Ela fica sobre a Avenida Antártica e tem o nome de “Passarela Palmeiras – Arrancada Heroica 1942”[10].

  • CAMPOS JÚNIOR, Celso de - 1942 - O Palestra vai à Guerra. São Paulo: Editora Realejo, 2012.
  • DUARTE, Orlando - O alviverde imponente. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
  • FERRARI, Osni - Oberdan Cattani, a Muralha Verde. São Paulo. Edição própria, 2004.
  • GALUPPO, Fernando Razzo - Alma Palestrina. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2009.
  • GALUPPO, Fernando Razzo - Morre líder, nasce campeão!. São Paulo: BB Editora, 2012.
  • HELENA JÚNIOR, Alberto - Palmeiras, a eterna Academia - 2ª Edição. São Paulo: DBA, 2003.
  • STORTI, Valmir e FONTENELLE, André - A história do campeonato paulista. São Paulo: Publifolha, 1997.
  • UNZELTE, Celso Dario e VENDITTI, Mário Sérgio - Almanaque do Palmeiras. São Paulo: Editora Abril, 2004.

ONOFRIO, Lucas - Sabe Ser Brasileiro - Arrancada Heroica 1942. São Paulo: Documentário, 2017.

Referências