Agência Brasileira de Inteligência
Logomarca da ABIN | |
Edifício sede, em Brasília. | |
Resumo da agência | |
Formação | 7 de dezembro de 1999 (24 anos) |
Órgãos precedentes | Serviço Nacional de Informações (etc.) |
Sede | Brasília |
Orçamento anual | R$ 674.8 milhões (2020)[1] |
Executivos da agência | Luiz Fernando Corrêa[2], Diretor-Geral |
Agência mãe | Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República |
Sítio oficial | www |
Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) é o serviço de inteligência civil do Brasil, sendo o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). A função principal da agência é investigar ameaças reais e potenciais, bem como identificar oportunidades de interesse da sociedade e do Estado brasileiro, e defender o estado democrático de direito e a soberania nacional. Foi criada por lei durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1999. Apesar de a agência ter sido criada há pouco tempo, a atividade de inteligência[3] no Brasil já existe desde 1927.
Como a maior parte dos órgãos estatais, os cargos da Abin são preenchidos, desde 1994, através de concurso público. Ainda fazem parte da agência alguns ex-funcionários dos órgãos de inteligência que a antecederam, sobretudo do chamado SNI, criado durante a ditadura militar e extinto pelo presidente Fernando Collor de Mello em 1990.
Apesar do nome, a agência não tem natureza autárquica, tratando-se de órgão da administração direta integrante da Presidência da República. É fiscalizada pelo controle externo exercido pelo Congresso Nacional, que possui uma comissão mista de senadores e deputados para este fim, denominada CCAI (Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência).
Histórico
[editar | editar código-fonte]Conselho de Defesa Nacional
[editar | editar código-fonte]As atividades de inteligência no Brasil têm início no Governo Washington Luís, que instituiu, em 1927, o Conselho de Defesa Nacional. O objetivo era suprir o executivo de informações estratégicas.[4]
Serviço Federal de Informações e Contrainformação
[editar | editar código-fonte]Desde então vários órgãos se sucederam, acompanhando a conjuntura nacional e internacional. Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, foi criado o Serviço Federal de Informações e Contrainformação (SFICI), vinculado à estrutura do Conselho de Segurança Nacional. No final da década de 1950, o SFICI consolidou-se como principal instrumento de informação do Estado brasileiro. Seria sucedido pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), com o advento do regime militar.[5]
Serviço Nacional de Informações
[editar | editar código-fonte]Originalmente, o SNI era uma agência civil sob o comando do general reformado Golbery do Couto e Silva. Diz-se que o SNI era a espinha dorsal do controle totalitário do regime. Embora houvesse uma polícia secreta no Brasil desde a era Vargas, a participação militar aumentou sua importância com a criação do SNI. Ele se desenvolveu a partir do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, que Golbery tinha estabelecido para minar o governo anterior de João Goulart. Na teoria, o SNI supervisionou e coordenou as agências de inteligência das três Forças Armadas, mas na prática as agências do serviço mantiveram sua autonomia. A influência do SNI pode ser medida pelo fato de que importantes presidentes do período, como Médici e Figueiredo, foram diretores do órgão.[5]
Durante o regime militar, o SNI teria sido encarregado pelos governos de então por tarefas como censura, investigação de cidadãos considerados dissidentes políticos ou subversivos e de movimentos sociais diversos, tarefas que não se coadunam com a ideia de um serviço de Inteligência democrático. Há indícios, inclusive, de que o SNI teria sido uma agência-membro da chamada Operação Condor, que visava manter e disseminar ditaduras de caráter anticomunista na América Latina.[5]
Subsecretaria de Assuntos Estratégicos
[editar | editar código-fonte]Entre a extinção do SNI em 1990 e a criação da Abin em 1999, o serviço estatal de inteligência ficou nas mãos da Subsecretaria de Assuntos Estratégicos.[6]
Agência Brasileira de Inteligência
[editar | editar código-fonte]A Agência Brasileira de Inteligência é um órgão criado em 7 de dezembro de 1999, pela lei 9.883/1999, durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso.[7] Entre o período de extinção do SNI (Serviço Nacional de Informações), em 1990, e sua criação, em 1999, a Atividade de Inteligência do Governo Federal ficou a cargo de secretarias e subsecretarias da antiga Casa Militar, tudo sob a Coordenação Geral do Agente da Interpol cedido ao Governo Brasileiro, Dr. William Magalhães. As ligações entre a Abin e o SNI, portanto, resumem-se à ocupação das mesmas instalações e a parte do quadro de funcionários que se manteve na atividade de Inteligência depois da extinção do SNI, quando a maioria dos servidores foi demitida do serviço público.[8]
Comando
[editar | editar código-fonte]A Abin é chefiada por um diretor-geral, sediado em Brasília, ao qual se subordinam vinte e seis superintendências regionais, localizadas nos diversos estados da federação. O diretor-geral, por sua vez, está subordinado ao Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), órgão que sucedeu à antiga Casa Militar. Quando de sua criação, em dezembro de 1999, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o primeiro diretor-geral da Abin foi o coronel Ariel Rocha de Cunto. O ministro-chefe do GSI era, à época, o general Alberto Mendes Cardoso. De dezembro de 2000 a julho de 2004 a diretora-geral da Abin foi a psicóloga Marisa Almeida Del'Isola Diniz (ex-professora da Escola de Inteligência, na época do SNI). De 13 de julho de 2004 a 13 de julho de 2005 o diretor da Abin foi Mauro Marcelo de Lima e Silva, delegado da Polícia Civil de São Paulo, que ganhou destaque junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por sua atuação naquele estado na área de crimes cibernéticos.[carece de fontes]
A partir de setembro de 2005, o cargo de diretor-geral passou a ser exercido por Márcio Paulo Buzanelli profissional na Atividade de Inteligência desde 1978. Em outubro de 2007, o cargo passou a ser ocupado por Paulo Fernando da Costa Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal. No entanto, em meio a denúncias relativas a irregularidades supostamente cometidas em ações conjuntas da Abin e da Polícia Federal na chamada Operação Satiagraha, Lacerda acabou sendo exonerado em setembro de 2008, após ter feito declarações falsas em audiência perante Comissão Parlamentar de Inquérito. Sucedeu-o interinamente no cargo Wilson Roberto Trezza, integrante dos quadros da agência.[9] Janér Tesch Hosken Alvarenga foi nomeado pelo presidente Michel Temer para o cargo de diretor-geral da Agência. Tomou posse como diretor-geral em 1.º de setembro de 2016.[10] O governo de Bolsonaro nomeou o ex-delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem como Diretor da Abin, teve sua aprovação pelo Senado em 26 de julho de 2019[11] e tomou posse em 20 de julho do mesmo ano.[12]
Representações no exterior
[editar | editar código-fonte]Atualmente o órgão mantém adidâncias em 20 países, espalhados em 5 continentes.[13]
Continente | País |
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América do Sul | Argentina |
Bolívia | |
Paraguai | |
Peru | |
Colômbia | |
Venezuela | |
América do Norte | México |
Estados Unidos | |
África | África do Sul |
Europa | França |
Portugal | |
Itália | |
Alemanha | |
Ásia | Índia |
Jordânia | |
Japão | |
China | |
Rússia | |
Oceania | Austrália |
Controvérsias
[editar | editar código-fonte]Governo Jair Bolsonaro
[editar | editar código-fonte]De 2019 a 2021, a ABIN rastreou celulares de quem frequentava o Supremo Tribunal Federal. A PF identificou 33.000 acessos de localização telefônica. [14][15] Em junho de 2020, o The Intercept Brasil revelou que a ABIN solicitou ao SERPRO acesso total ao banco de dados de carteiras de motoristas (CNHs), ou seja, o Registro Nacional de Condutores Habilitados (RENACH), o que corresponde a dados de 76 milhões de brasileiros (36% da população), com atualização mensal dos dados, considerando-se que são emitidas mais 1,5 milhão de CNHs todo mês.[16] Os dados a que a ABIN queria acesso, sobre cada cidadão habilitado a dirigir, incluem: "nome, filiação, CPF, endereço, telefones, foto, e dados dos veículos (inclusive com nomes de proprietários anteriores, situação e procedência)".[16] O fornecimento de dados estava previsto para iniciar-se em maio de 2020, duraria até maio de 2021, e custaria pouco mais de R$330.000.[16] O SERPRO chegou a criar um código interno para a projeto: "11797 (Abin – Extração Denatran)".[16] A ABIN confirmou a operação, dizendo que "A obtenção, a integração e o compartilhamento de bases de dados são essenciais para o funcionamento da atividade de inteligência".[16] Em 20 de outubro de 2023, a Polícia Federal prendeu dois servidores da Abin por usar sistemas de GPS para rastrear celulares sem autorização judicial na gestão do presidente Jair Bolsonaro.[17]
Em 11 de julho de 2024, a Polícia Federal, que deflagrou uma nova fase da operação Última Milha, prendeu cinco suspeitos de envolvimento com a "Abin paralela" no governo de Jair Bolsonaro.[18][19] Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.[18] A Polícia Federal disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o senador Renan Calheiros, outros parlamentares, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e jornalistas foram incluídos na lista de supostas vítimas da espionagem ilegal.[20][21]
Em 10 de outubro de 2024, a Polícia Federal do Brasil prendeu o assessor Daniel Ribeiro Lemos, suspeito de divulgar informações falsas durante o governo de Jair Bolsonaro, na quinta fase da Operação Última Milha. Lemos foi nomeado recentemente pelo deputado federal Pedro Jr, do Partido Liberal.[22] No mesmo dia, o deputado federal Pedro Jr afirmou que demitiu Lemos após a prisão dele em uma operação da Polícia Federal.[23]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Contraespionagem
- Espionagem
- Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
- Lista de serviços de inteligência por país
- Serviço de inteligência
- Serviço Nacional de Informações (SNI)
Referências
- ↑ Ministério da Economia, ed. (2019). «ORÇAMENTOS DA UNIÃO PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁRIA EXERCÍCIO FINANCEIRO 2020» (PDF). Brasília. Consultado em 9 de fevereiro de 2024
- ↑ https://www.gov.br/abin/pt-br/assuntos/noticias/novo-diretor-geral-da-abin-e-aprovado-pelo-senado#:~:text=O%20Senado%20Federal%20aprovou%20a,%2Dfeira%20%E2%80%93%2017%20de%20maio.
- ↑ «A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA». Consultado em 22 de abril de 2014. Arquivado do original em 6 de junho de 2013
- ↑ Decreto nº 17.999, de 29 de Novembro de 1927 Câmara dos Deputados. Acessado em 24/10/2010.
- ↑ a b c Abin (ed.). «80 anos da Atividade de Inteligência no Brasil». Consultado em 28 de novembro de 2015[ligação inativa]
- ↑ Paulo Motoryn (27 de dezembro de 2023). «Governo FHC espionou MST e até correntes do PT». The Intercept Brasil. Consultado em 4 de fevereiro de 2024. Cópia arquivada em 4 de fevereiro de 2024
- ↑ «Abin novamente alvo de investigações: entenda o que é a agência e quais são suas principais funções». G1. 11 de julho de 2024. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ Luísa Marzullo (14 de março de 2023). «Conheça a história da Abin, agência usada por Bolsonaro para monitorar localização de pessoas via celular». O Globo. Consultado em 26 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 27 de janeiro de 2024
- ↑ O Globo Online (14 de outubro de 2009). «Comissão do Senado aprova indicação de Wilson Trezza para a Abin». Consultado em 17 de outubro de 2009
- ↑ Pedro Peduzzi (1 de setembro de 2016). «Funcionário de carreira, Janér Tesch é o novo diretor-geral da Abin». Agência Brasil. Consultado em 4 de janeiro de 2017
- ↑ «Senado aprova delegado de Polícia Federal para dirigir a Abin». Senado Federal. Consultado em 16 de agosto de 2019
- ↑ Braziliense, Correio; Braziliense, Correio (11 de julho de 2019). «Delegado da PF Alexandre Ramagem toma posse como novo diretor-geral da Abin». Correio Braziliense. Consultado em 16 de agosto de 2019
- ↑ «Estrutura». Consultado em 22 de janeiro de 2018
- ↑ PODER360 (4 de novembro de 2023). «PF recupera monitoramentos da Abin de adversários de Bolsonaro». Poder360. Consultado em 15 de novembro de 2023
- ↑ «Abin de Bolsonaro espionou ilegalmente políticos, jornalistas, advogados e ministros do STF, diz PF». Estadão. Consultado em 15 de novembro de 2023
- ↑ a b c d e Documentos vazados mostram que Abin pediu ao Serpro dados e fotos de todas as CNHs do país Publicado em 06 de junho de 2020. Consultado em 28 de outubro de 2020.
- ↑ Natuza Nery, Camila Bomfim, Vladimir Netto, Isabela Camargo, Fabio Amato, Reynaldo Turollo Jr, César Tralli, Andréia Sadi e Mateus Rodrigues (20 de outubro de 2023). «PF prende dois servidores e apura se Abin rastreou celulares de forma ilegal na gestão Bolsonaro». G1. Consultado em 23 de outubro de 2023
- ↑ a b Fábio Amato, José Vianna, Márcio Falcão e César Tralli (11 de julho de 2024). «Abin paralela: PF prende 4 e faz buscas para apurar esquema de espionagem ilegal e fake news». G1. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ «Ex-diretor da Abin, Ramagem nega uso ilegal de sistemas para espionar autoridades e interferir em processos». G1. 12 de julho de 2024. Consultado em 12 de julho de 2024
- ↑ Daniela Lima (11 de julho de 2024). «Espionagem da Abin atingiu Arthur Lira e Renan Calheiros, diz PF». G1. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ Márcio Falcão, Fábio Amato e José Vianna (11 de julho de 2024). «Abin paralela: veja lista de autoridades e jornalistas que foram espionadas na gestão Bolsonaro». G1. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ «Abin paralela: PF prende suspeito de divulgação de fake news». G1. 10 de outubro de 2024. Consultado em 11 de outubro de 2024
- ↑ Kevin Lima (10 de outubro de 2024). «Deputado diz que demitiu servidor preso por suposta participação na 'Abin paralela'». G1. Consultado em 11 de outubro de 2024