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Massacre de Janaúba

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Massacre de Janaúba
Massacre de Janaúba
Imagem do local após o incêndio
Local Janaúba, Minas Gerais
Data 5 de outubro de 2017
Tipo de ataque Incêndio criminoso, assassinato-suicídio, infanticídio
Mortes 14 (incluindo o autor)
Feridos 37
Responsável(is) Damião Soares dos Santos
Motivo desconhecido

O massacre de Janaúba foi um massacre escolar ocorrido no dia 5 de outubro de 2017, em uma creche municipal no município de Janaúba, no estado brasileiro de Minas Gerais.

O vigilante noturno da creche Gente Inocente, no bairro Rio Novo, ateou fogo em si mesmo, em uma professora e em várias crianças, o que causou várias mortes.[1]

Na manhã de 5 de outubro de 2017, o vigilante noturno do Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, Damião Soares dos Santos, de 50 anos, chegou à creche dizendo que ia entregar um atestado médico. Depois de entrar, ele invadiu uma sala de aula, onde dezenas de crianças entre 3 e 7 anos de idade estavam participando de atividades normais da escola. Ele então trancou a porta e lançou combustível sobre várias crianças, funcionários e sobre si próprio, ateando fogo em seguida.[2] De acordo com o delegado regional Bruno Fernandes, ele chegou a abraçar algumas crianças no meio das chamas.[1]

Como resultado da sua ação, um incêndio tomou conta das dependências, morrendo no local quatro crianças, e deixando dezenas de feridos. Mais seis crianças, as professoras Heley de Abreu e Jéssica Morgana, a auxiliar Geni Oliveira, e o próprio agressor morreram, depois de serem socorridos, totalizando quatorze mortos.[3][4][5][6][7]

Parte dos feridos teve o quadro agravado pela inalação de fumaça. Algumas vítimas foram transferidas para a Santa Casa de Montes Claros, a cerca de 130 km de Janaúba. As vítimas com queimaduras mais graves foram transferidas, utilizando-se aeronaves, para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, a cerca de 550 km e que tem atendimento especializado em queimaduras.[8]

Damião Soares dos Santos, autor do crime

O vigia Damião Soares dos Santos, nascido em 21 de maio de 1967 na cidade de Porteirinha, que faz divisa com Janaúba,[9] escolheu o aniversário de três anos de morte do pai para o incêndio na creche. A polícia encontrou galões de gasolina em sua casa e, dois dias antes do incêndio, ele falou à família que iria morrer e que iria dar aquele "presente" aos parentes. Ele era caçula entre os irmãos de uma família pobre de sete mulheres e quatro homens. Era um indivíduo discreto e que vendia para as crianças picolés feitos por ele mesmo.[1]

Damião era funcionário efetivo da prefeitura desde 2008 e estava afastado da creche desde julho, primeiro por conta de férias e depois alegando problemas médicos. Uma de suas irmãs alegou que o vigia vinha apresentando problemas mentais que começaram depois que o pai morreu. Em 2014 ele procurou o Ministério Público Estadual, que o encaminhou para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Janaúba, mas Damião recusou o tratamento.[1]

Ele nunca se casou ou teve filhos, e a casa de dois cômodos onde morou nos últimos anos era, de acordo com o delegado, "totalmente insalubre e inóspita". Nas buscas realizadas no imóvel, os agentes da Polícia Civil encontraram anotações com textos confusos e pouco concatenados, contendo referências ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Uma nota da Polícia Civil chegou a falar que o vigia era "obcecado por crianças".[1]

O prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), classificou a tragédia como "catastrófica". Ele pediu ajuda ao governo estadual, que disponibilizou helicópteros e hospitais, e a municípios vizinhos, que forneceram ambulâncias e o estoque de medicamentos para queimados.[10] O governador Fernando Pimentel decretou luto oficial de três dias e determinou que todas as forças de segurança e de saúde do estado trabalhem no atendimento às vítimas e na investigação, além da criação de um posto de comando emergencial na cidade.[11]

Professora Heley de Abreu Silva Batista.

Em uma postagem no Twitter o presidente Michel Temer disse: "Eu que sou pai imagino que esta deve ser uma perda muitíssimo dolorosa. Espero que essas coisas não se repitam no Brasil. Lamento imensamente essa tragédia com as crianças em Janaúba (MG). Quero expressar minha solidariedade às famílias."[12]

Em 8 de outubro, Temer concedeu à professora Heley de Abreu Silva Batista, que morreu no incêndio, a Ordem Nacional do Mérito. Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República disse que "a homenagem é concedida a pessoas que deram exemplos de dedicação e serviço ao País e à sociedade brasileira" e que "este é o caso da Professora Heley Batista, que sacrificou sua própria vida para salvar a vida de seus alunos, em um gesto de coragem e de heroísmo que emocionou a todos", completou. A professora ficou conhecida por ter conseguido salvar parte das crianças que estavam na creche e também por ter lutado contra o vigilante que provocou o incêndio.[13]

O governo federal também liberou 8,7 milhões de reais para a reconstrução da creche incendiada e para a construção de outras duas instituições de ensino, sendo que uma delas iria receber o nome da professora Heley Batista. Também será construído um memorial em homenagem às vítimas.[14]

A imprensa internacional também repercutiu o ataque à creche de Janaúba. A rede britânica BBC destacou que vídeos mostram as cenas de caos na área de fora da creche e que 40 pessoas foram levadas a hospitais.[15] O jornal estadunidense The New York Times[16] e o canal de notícias CNN[17] também relataram a situação, dando destaque para o fato de o homem ser funcionário do local. O jornal argentino La Crónica destacou que as crianças morreram após um homem ter "enlouquecido" e colocado fogo em uma creche.[18]

Indenização

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A Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais interpôs ação civil pública contra o município de Janaúba pedindo indenizações por danos morais, patrimoniais e estéticos às vítimas e familiares. O Defensor Público Gustavo Dayrell afirmou que “em virtude da posição de garantidor, o município é responsável pela incolumidade física das crianças enquanto estiverem nas dependências da creche, respondendo por qualquer lesão sofrida, seja qual for sua natureza”[19] e que o vigia era servidor público municipal. Apontou ainda omissão por parte da prefeitura de Janaúba que permitia o funcionamento da creche mesmo sem alvará do Corpo de Bombeiros, e que esta não tinha saída de emergência.

A Prefeitura de Janaúba assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para o pagamento de indenizações as vítimas ao incêndio, ressaltando que "o pagamento antecipado das indenizações não implica qualquer confissão ou declaração de que o Município de Janaúba/MG tenha agido com culpa ou de qualquer forma concorrido para o mencionado incêndio".[20]

Referências

  1. a b c d e BBC Brasil, ed. (7 de outubro de 2017). «Do isolamento à perversidade, os últimos dias do vigia que incendiou creche em MG». Consultado em 8 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 8 de janeiro de 2018 
  2. «Morre mais uma criança de creche incendiada em Janaúba (MG); já são dez vítimas». UOL Notícias. 7 de outubro de 2017. Consultado em 7 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2017 
  3. «Após três meses internado, menino vítima de tragédia em Janaúba morre em BH». Portal G1. 11 de janeiro de 2018. Consultado em 11 de janeiro de 2018. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2018 
  4. «Mais uma vítima do ataque à creche em Janaúba morre em Montes Claros». Portal G1. 4 de dezembro de 2017. Consultado em 4 de dezembro de 2017. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2017 
  5. «Morre mais uma vítima do incêndio em creche de Janaúba». Portal Terra. 6 de novembro de 2017. Consultado em 6 de novembro de 2017. Cópia arquivada em 6 de novembro de 2017 
  6. Aline Aguiar (9 de outubro de 2017). «Sobe para 11 o número de mortos na tragédia de Janaúba (MG)». Jornal Hoje. Consultado em 9 de outubro de 2017 
  7. «Morre professora que tentou salvar crianças em creche de MG; nº de mortos em incêndio chega a 9». UOL Notícias. 6 de outubro de 2017. Consultado em 7 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2017 
  8. «Vigia que incendiou creche em MG não seguiu tratamento psiquiátrico, diz perito». UOL Notícias. 6 de outubro de 2017. Consultado em 7 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2017 
  9. Ricci, Larissa; Paranaiba, Guilherme; Vale, João Henrique do; Lobato, Paulo Henrique. «Distúrbio psiquiátrico e obsessão: saiba quem era o vigia que matou crianças em Janaúba». Estado de Minas. Consultado em 8 de outubro de 2017 
  10. EM.com.br, ed. (5 de outubro de 2017). «'É catastrófico', diz prefeito sobre tragédia com crianças em creche de Janaúba». Consultado em 8 de outubro de 2017 
  11. G1, ed. (5 de outubro de 2017). «Fernando Pimentel vai a Janaúba após tragédia em creche com mortos». Consultado em 8 de outubro de 2017 
  12. UOL, ed. (5 de outubro de 2017). «Sou pai e imagino que seja uma perda muitíssimo dolorosa, diz Temer sobre incêndio em creche». Consultado em 8 de outubro de 2017 
  13. O Estado de S. Paulo, ed. (8 de outubro de 2017). «Temer concede homenagem a professora morta em tragédia na creche de Janaúba». Consultado em 9 de outubro de 2017 
  14. Sara Alves (10 de outubro de 2017). «Temer libera R$ 8,7 mi para construir duas creches em Janaúba (MG)». Consultado em 11 de outubro de 2017 
  15. BBC, ed. (6 de outubro de 2017). «Brazil nursery attack: Children set on fire in Minas Gerais». Consultado em 16 de outubro de 2017 
  16. «Death Toll at Brazil Day Care Center Rises to 9» (em inglês). The New York Times. 6 de outubro de 2017. Consultado em 7 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2017 
  17. Charner, Flora; Ben Westcott, Ben. «Four children killed after Brazil day care center set ablaze by security guard». CNN. Consultado em 7 de outubro de 2017 
  18. Estadão Conteúdo (5 de outubro de 2017). O Estado de S. Paulo, ed. «Imprensa internacional repercute ataque a creche em MG». Consultado em 8 de outubro de 2017 
  19. Minas, Estado de; Minas, Estado de (21 de novembro de 2017). «Defensoria Pública responsabiliza prefeitura de Janaúba por incêndio em creche». Estado de Minas. Consultado em 18 de janeiro de 2019 
  20. Minas, Estado de; Minas, Estado de (4 de dezembro de 2017). «Prefeitura de Janaúba assina termo para pagar vítimas de ataque em creche». Estado de Minas. Consultado em 18 de janeiro de 2019