Anjos da Noite
Anjos da Noite | |
---|---|
Pôster de divulgação do filme. | |
Brasil 1987 • cor • 98 min | |
Gênero | drama |
Direção | Wilson Barros |
Produção | Alvaro Pedreira |
Coprodução |
|
Produção executiva | |
Roteiro | Wilson Barros |
Elenco | |
Música | Sérvulo Augusto |
Cinematografia | José Roberto Eliezer |
Direção de arte | Cristiano Amaral |
Figurino | Mariza Guimarães |
Edição | José Roberto Eliezer |
Companhia(s) produtora(s) | Super Filmes Embrafilme |
Distribuição | Embrafilme Europa Filmes |
Lançamento | 1987 |
Idioma | português |
Anjos da Noite é um filme de drama brasileiro de 1987 dirigido e escrito por Wilson Barros. É estrelado por Zezé Motta, Antônio Fagundes e Marco Nanini e acompanha a jornadas de diversos personagens durante a noite paulista.[1] O elenco secundário é composto por Cláudio Mamberti, Guilherme Leme, Aída Leiner e Chiquinho Brandão, e conta ainda com a participação especial de Marília Pêra.[2]
Anjos da Noite é o único filme de longa-metragem dirigido por Wilson Barros. Em seu lançamento, o filme foi considerado cult e apelidado pela crítica como um dos integrantes de um movimento do cinema nacional chamado "Neon-realismo", o qual abraçava a modernidade da narrativa.[3] O diretor de fotografia responsável foi José Roberto Eliezer. O filme conta com recursos de orçamento fornecidos pela Embrafilme e pela iniciativa privada.[4] Para a música, Sérvulo Augusto assinou o contrato. As filmagens começaram em 1986 e tiveram locações em São Paulo.[4]
O filme foi em geral bem recebido pela crítica cinematográfica. Em sua estreia no 20° Festival de Cinema de Brasília, em 1987, o filme recebeu o prestigiado Troféu Candango de Melhor Filme, além de receber os prêmios de Melhor Diretor (Wilson Barros) e Melhor Fotografia (José Roberto Eliezer).[5] Já no tradicional Festival de Gramado, o filme recebeu sete prêmios, incluindo os Troféus Kikito de Melhor Atriz para Marília Pêra e o Melhor Ator Coadjuvante para Guilherme Leme.[6]
Enredo
[editar | editar código-fonte]A trama é ambientada na noite paulista e gira em torno da solidão e das crises existenciais de diversos personagens que se cruzam pela cidade à procura de amor e aventura. O filme inicia-se acompanhando a resolução de dois assassinatos: o de um jovem executivo e o de um homem em uma banheira. Na cena inicial, vemos um monólogo da travesti Lola (Chiquinho Brandão), após assassinar seu amante na banheira do apartamento. Logo em sequência, o secretário Alfredo Nunes é morto por engano no lugar de Rudolph Asten, seu chefe. Esse erro é descoberto pela mídia e logo repercute pelos telejornais. É nesse momento em que dois outros personagens são apresentados: Malu Maneca (Zezé Motta) e Dr. Fofo (Cláudio Mamberti), uma empresária da noite paulsita e um delegado corrupto envolvido com narcotráfico e assassinatos.
Na agência da empresária Malu, a estudante de sociologia Cissa (Be Valério) está realizando uma pesquisa acadêmica e analisa a coleção de vídeos de Malu, a qual contém depoimentos de "damas da noite, transadores baratos, garotos de aluguel, doces travestis, tarados, gangsters tímidos e mascarados: meus anjos da noite", segundo a descrição da própria empresária. O assassino Bimbo (Aldo Bueno) chega à agência e questiona Cissa sobre a veracidade das gravações. Ele e a secretária Milene (Aída Leiner), sua amante, oferecem drogas e bebida à Cissa.
Concomitantemente na cidade, o diretor Jorge Tadeu (Antônio Fagundes) está ensaiando uma peça de teatro, a qual história se baseia na vida de um travesti que assassina seu amante em uma banheira. Para o elenco, Jorge se interessa por uma atriz, no entanto ele a leva para sua casa e exige uma noite de sexo em troca do papel. No apartamento de Jorge, a atriz encontra um cadáver na banheira, trazendo condições idênticas ao enredo da peça do diretor.
Nesse paralelo em que a verdade e ficção se misturam, um terceiro conjunto de ações é apresentado. Teddy (Guilherme Leme), um rapaz do interior que é abandonado pelo amante Guto (Marco Nanini) e trabalha como garoto de programa na agência de Malu. Ele passa então a atender o ex-namorado estabelecendo uma relação real e encenada. Ao fim do filme, durante o amanhecer, Cissa e Teddy se encontram em uma praça. Mesmo não se conhecendo, eles conversam de maneira melancólica sobre o vazio das relações pessoais.[1][4]
Elenco
[editar | editar código-fonte]- Zezé Motta como Maria Luíza Souto "Malu Maneca"
- Antônio Fagundes como Jorge Tadeu
- Marco Nanini como Guto
- Guilherme Leme como Teodoro "Teddy"
- Marília Pêra como Marta Brum
- Chiquinho Brandão como Mauro/Lola
- José Rubens Chachá como Leger
- Be Valério como Cissa
- Cláudio Mamberti como Dr. Fofo
- Aída Leiner como Milene
- Aldo Bueno como Bimbo
- Tuna Dwek como Carioca
- Cristina Mutarelli como Magali
- Ana Ramalho como Maria Clara
- Marcelo Mansfield como Paulo
- Eliana Fonseca como Joana
- Rosaly Papadopol como Marcela
- Sérgio Mamberti como Apresentador do telejornal
Produção
[editar | editar código-fonte]Antecedentes
[editar | editar código-fonte]O filme foi escrito e dirigido pelo cineasta paulistano Wilson Barros, sendo esse o único filme de longa-metragem de sua breve carreira. Ele faleceu aos 43 anos, em 1992, por complicações derivadas da AIDS. Barros pertenceu a uma conhecida geração de cineastas paulistanos da década de 1980, a qual possuía em sua grande parte estudantes de cinema da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA). A produção audiovisual desse período ficou conhecida como "Cinema de Vila" devido ao núcleo de produção de filmes instalado no bairro de Vila Madalena, em São Paulo.[4] Tais produções são caracterizadas por acompanhar jornadas de personagens que não estão em busca de grandes sonhos de transformações sociais e pelo constante uso de tecnologias nas relações sociais, além de homenagear costumes urbanos apresentando um Brasil que está em constante modernização.[4]
Anjos da Noite é uma continuidade da observação do cotidiano urbano da cidade de São Paulo já trabalhada por Wilson Barros em seus curtas-metragens que antecedem o filme.[4] Aqui, a cidade é apresentada como uma "personagem múltipla", expressando o fracasso das relações sociais mediadas por barreiras, televisão e telefones impostos pela vida urbana. Esses aspectos já estão presentes nas obras Disaster Movie (1979) e Diversões Solitárias (1983), ambos curtas-metragens produzidos por Barros.[4]
Desenvolvimento
[editar | editar código-fonte]O filme teve apoio financeiro da Embrafilme após ter seu roteiro premiado pela agência de filmes. Seu orçamento ainda teve suporte da produtora Superfilmes e de seus coprodutores, que incluem a atriz Marília Pêra e o compositor Sérvulo Augusto.
Recepção
[editar | editar código-fonte]Resposta da crítica
[editar | editar código-fonte]Anjos da Noite foi recebido positivamente pelos críticos de cinema. O filme faz parte de um seleto grupo de produções audiovisuais que marcaram a década de 1980 no cinema brasileiro. Foi citado pelo psicólogo Tales Ab'Sáber em seu livro "A imagem fria: cinema e crise do sujeito no Brasil dos anos 80", onde o autor disse que Anjos da Noite é um dos mais complexos do período e que "dá mais perspectivas para uma leitura da cultura".[7] Ainda segundo Ab'Sáber, a construção da narrativa do filme, a qual traz uma constante quebra de ponto de vista do espectador, representa um " jogo de aparências e fundos falsos".[8]
A crítica elogiou a estrutura narrativa fragmentada, em harmonia com ideias do diretor.[4] Foi apontado como o filme traz um apagamento de fronteiras que separam a realidade e a ficção, além de uma fragmentação da cidade e dos personagens.[4] Nelson Brissac Peixoto, crítico do jornal Folha de S.Paulo, escreveu: "A narrativa passa sem parar da história imediata para o teatro, para o vídeo ou para um depoimento jornalístico".[9] Já Amir Labaki, também escrevendo para a Folha de S.Paulo, relacionou o filme com a literatura pós-moderna estadunidense, em especial à obra de John Barth. Ambos autores escrevem obras "canibalescas" e "autocríticas", cujas apresentam uma fragmentação em sintonia com a percepção do personagens de seu tempo.[10]
Prêmios e indicações
[editar | editar código-fonte]Ano | Associações | Categoria | Recipiente(s) | Resultado | Ref. |
---|---|---|---|---|---|
1987 | Festival de Cinema de Brasília | Melhor Filme | Anjos da Noite | Venceu | [5] |
Melhor Diretor | Wilson Barros | Venceu | |||
Melhor Direção de Fotografia | José Roberto Eliezer | Venceu | |||
Prêmio AGFA de Melhor Fotografia | Venceu | ||||
Festival de Gramado | Melhor Filme | Anjos da Noite | Indicado | [6] | |
Melhor Diretor | Wilson Barros | Venceu | |||
Melhor Atriz | Marília Pêra | Venceu | |||
Melhor Ator Coadjuvante | Guilherme Leme | Venceu | |||
Melhor Direção de Fotografia | José Roberto Eliezer | Venceu | |||
Prêmio Kodak de Melhor Fotografia | Venceu | ||||
Melhor Cenografia | Cristiano Amaral e Francisco Andrade | Venceu | |||
Prêmio da crítica pela Linguagem Cinematográfica | Wilson Barros | Venceu | |||
1988 | Festival do SESC | Melhor Filme | Anjos da Noite | Venceu | [11] |
Melhor Diretor | Wilson Barros | Venceu | |||
Rio-Cine Festival | Melhor Direção | Venceu | |||
Melhor Som | Walter Rogério | Venceu | |||
Melhor Montagem | Renato Neiva Moreira | Venceu |
Referências
- ↑ a b «Anjos da Noite». Cine Players. 2020. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ «ANJOS DA NOITE». Livraria da Travessa. 2020. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ Hsu (10 de abril de 2022). «Diário de um Cinéfilo: Anjos da noite». Diário de um Cinéfilo. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ a b c d e f g h i «Anjos da Noite». Itaú Cultural. 2020. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ a b «20º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (1987) | Metrópoles». www.metropoles.com. 19 de agosto de 2017. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ a b «Memória: Em 1987, o cinema brilha em Gramado | Pioneiro». GZH. 8 de maio de 2017. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ «Folha de S.Paulo - Psicólogo analisa filmes brasileiros dos anos 80 - 8/8/1995». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ AB’ SABER, Tales. A cidade: técnica e superfície In: ______. A imagem fria: cinema e crise do sujeito no Brasil dos anos 80. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 109-156. [S.l.: s.n.]
- ↑ «PEIXOTO, Nelson Brissac. As imagens e os seres sublimes da cidade nua. Folha de S.Paulo, São Paulo, 26 set. 1987, p. A-27.»
- ↑ «LABAKI, Almir. Metalinguagem é a virtude de Anjos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 nov. 1987, p. A 37.»
- ↑ «ANJOS DA NOITE». Cinemateca Brasileira. 2007. Consultado em 3 de agosto de 2020
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Anjos da Noite. no IMDb.