História - Volume 1
História - Volume 1
História - Volume 1
PRÉ-VESTIBULAR
HIS
HISTÓRIA
1
COLEÇÃO PV
Copyright © Editora Poliedro, 2022.
Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610
de 19 de fevereiro de 1998.
ISBN 978-65-5613-318-8
Frente 2
1 História e Pré-história .......................................................................................109
História: e nós com isso?, 110
A Pré-história e as origens humanas, 113
Revisando, 117
Exercícios propostos, 120
Texto complementar, 124
Resumindo, 124
Quer saber mais?, 125
Exercícios complementares, 125
BNCC em foco, 128
1
Na década de 1990, o historiador indiano Sanjay Subrahmanyam propôs o que conhe-
cemos por “História Conectada”, que estabelece conexões entre diversas partes do
mundo sem reduzi-las a “dominantes” e “subordinadas” e sem promover uma compa-
ração direta, mas buscando semelhanças e diferenças entre elas. Nessa abordagem,
deve-se partir do micro ao macro, das partes ao todo e vice-versa. A compreensão
da história do Brasil, por exemplo, passa pela compreensão da história do Império
Português, bem como por um aprofundamento em relação à história do continente
africano e da própria América. Neste capítulo, conheceremos o processo de formação
dos impérios ibéricos, desde a constituição dos reinos de Portugal e Espanha até a
expansão marítima.
A formação dos reinos de Portugal e Espanha
Reconquista?
É comum a utilização do termo “Guerra de Reconquista” para designar o fenômeno que resultou na formação dos
reinos de Portugal e Espanha. No entanto, a ideia de “reconquistar” não se refere a algo que fora previamente conquis-
tado? Como podemos utilizar o termo “reconquista”, nesse contexto, se Portugal e Espanha sequer existiam no momento
em que a guerra aconteceu?
Além disso, é comum que a expressão venha acompanhada de um caráter religioso. Fala-se em uma “Guerra de Re-
conquista Cristã”. Como a península Ibérica estava ocupada por populações islâmicas desde o século VIII, a “Guerra de
Reconquista” seria, por essa perspectiva, uma retomada da cristandade sobre a região. Porém, qual é a legitimidade que os
cristãos possuíam sobre aquelas terras? Foram os cristãos os primeiros a ocuparem a península Ibérica?
Para que possamos compreender melhor o panorama que envolveu o confronto entre cristãos e islâmicos na península
Ibérica, devemos antes conhecer a história da ocupação humana nesse território.
OCEANO
ATLÂNTICO
Meridiano de Greenwich
Fonte: LE ROUX, Patrick. La Péninsule Ibérique aux époques Romaines (fin du IIIe S. av. n.è. - début du VIe s. de n.è. Paris:
Armand Colin, , p. 3. (Adapt.)
O mapa apresenta a pluralidade de grupos linguísticos que habitavam a Península Ibérica por volta de 3 a.C.
A diversidade de idiomas é um indicativo da heterogeneidade de etnias presentes entre os povos autóctones.
Também é possível identificar as primeiras colônias estabelecidas pelos fenícios (cartagineses) e pelos gregos.
OCEANO
ATLÂNTICO
M
ar
Cá
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40º
io
N
Mar Negro
h
reenwic
Mar Mediterrâneo
no de G
Meridia
FRENTE 1
0º
Fonte:MCEVEDY, Colin. Atlas da história medieval. São Paulo: Verbo, 999. p. 9. .
Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, inúmeros reinos bárbaros foram formados no antigo território de Roma. Na península Ibérica, dois
reinos se formaram: o Reino dos Suevos e o Reino dos Visigodos.
7
A península Ibérica e o islã Após a morte de Muhammad, o islamismo manteve a
Até aqui, vimos que a ocupação da península Ibérica pas- sua expansão e conquistou a Síria, a região da Mesopotâ-
sou por lusos, iberos, gregos, fenícios, romanos (pagãos e mia, a Palestina, a Pérsia, parte da Índia, a costa oriental e
cristãos), vândalos, suevos e visigodos. No entanto, a narrativa o norte do continente africano (conforme será tratado no
da formação de P ugal e Espanha tem início com a ocupação próximo capítulo) e a península Ibérica.
islâmica da região. Para entendermos como esse processo
Ocupação islâmica da península Ibérica
se consolidou, devemos antes conhecer um pouco sobre a
origem do islamismo. Em 711, durante o período do califado omíada, a ex-
pansão islâmica chegou ao Ocidente europeu. A derrota
A expansão islâmica dos visigodos para os árabes na Batalha de Guadalete deu
No século VII, na península Arábica, Muhammad (571- início à formação de uma série de reinos muçulmanos na
-62) fundou uma nova religião monoteísta: o islamismo. península Ibérica, entre eles os reinos de Valência, Granada
Tornando-se o seu representante máximo, o fundador, já e Al-Andalus.
consagrado como profeta, unificou política e religiosamente A existência de reinos na região perdurou até o
a península Arábica e iniciou um intenso processo de ex- século XV. Durante esse período, judeus, cristãos e muçul-
pansão religiosa na região. manos conviveram sob a garantia de tolerância religiosa nas
áreas dos reinos islâmicos. Apesar de terem de pagar mais
tributos e não poderem construir casas mais altas que as dos
Biblioteca Nacional da França
Cristanidade ocidental
OCEANO
ATLÂNTICO Cristanidade oriental
Islã
Papado
Patriarcado
ecumênico
ºN
40
M
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C
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Mar Negro
Roma Constantinopla
No século VIII, o califado
omíada havia adquirido
h
um território considerável.
reenwic
As regiões ao redor do
Mar Mediterrâneo
Mediterrâneo foram
no de G
Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas da história medieval. São Paulo: Verbo, 999. p. . (Adapt.).
A Revolução de Avis
Em 18, a morte do rei D. Fernando, “o Formoso”,
levou ao fim a dinastia de Borgonha e, consequentemente,
deu início a uma crise sucessória em Portugal. Sem que
houvesse um herdeiro legítimo ao trono português, o rei
de Castela, D. João I (casado com D. Beatriz, filha de D. Fer-
nando), reclamou para si a coroa de Portugal, assim como
a unificação dos reinos.
Em Portugal, descontentes com a possibilidade da ane-
xação por Castela, a baixa nobreza e a camada mercantil
Meridiano de Greenwich
a lenda, apareceu em diversas ocasiões para ajudar os ao longo da Idade Moderna, ou seja, Portugal realizou tais
cristãos contra os muçulmanos, tornaram-se personagens processos de maneira precoce em relação às demais mo-
heroicos no Império Espanhol. narquias do continente.
9
Atenção Reinos ibéricos antes da unicação espanhola
Meridiano de Greenwich
Reinos ibéricos
cristãos
Domínio islâmico
OCEANO Conquista de
ATLÂNTICO Granada após
o fim da Guerra
de Granada
(1482 a 1492)
Retrato de casamento
do rei Fernando de
Aragão e da rainha
Isabel de Castela.
Século XV. Óleo sobre
tela. Convento das
Augustinas, Chile.
A união de Fernando
de Aragão e Isabel
de Castela, os "reis
católicos", foi decisivo
para a formação
da Espanha.
crise da Idade Média não implica, necessariamente, de facilitar as relações comerciais, os reis recuperaram
um caráter pejorativo ao fenômeno. Assim, veremos sua importância, em um processo de centralização do
a economia de subsistência dar lugar a um modelo poder político.
11
Mercantilismo Navegar não era uma novidade para as sociedades
Do ponto de vista historiográfico, não há consenso sobre europeias. O mar Mediterrâneo, por exemplo, foi palco de
a economia de excedentes, desenvolvida durante a Baixa uma série de expedições e conflitos durante a Antiguidade.
Idade Média, ter sido uma economia capitalista ou não. Ainda A novidade da expansão marítima do século XV consistia
que seja possível identificar, por exemplo, algumas relações em navegar no oceano Atlântico.
capitalistas de trabalho no período, a classificação dessas prá- Por isso, é fundamental compreendermos que a na-
ticas econômicas é, ainda, tema de debate entre historiadores. vegação oceânica carregou um intenso caráter fantástico
Podemos, no entanto, utilizar o termo mercantilismo para durante a Antiguidade e a Idade Média. A civilização grega,
caracterizar o conjunto de práticas econômicas na Europa por exemplo, representou o oceano em diversas narrativas
Ocidental, principalmente entre os séculos XV e XVIII. míticas, como “Jasão e os Argonautas”. As “colunas de Hér-
Uma de suas principais características é o metalismo, cules” citam o Estreito de Gibraltar; os domínios de Hades
ou , ideia de que as riquezas de um reino eram (deus do "submundo" na mitologia grega) eram localizados
definidas pelo acúmulo de metais preciosos. Estes eram es- em direção ao poente (oeste) e, na Odisseia, de Homero,
senciais na produção monetária, então o valor das moedas Ulisses chega aos Campos Elísios pelo oceano.
dependia intrinsecamente da quantidade de metal (peso) O Navio chegou aos confins do profundo Oceano, onde
que cada uma possuía. Outras características do mercanti- surge a cidade dos Cimrios, sempre envolta em neblina e
lismo são: protecionismo alfandegário; manutenção de uma em nuvens: nunca o sol brilhante os visita com sua luz, nem
balança comercial favorável; concessão de monopólios a quando sobe para o cu cheio de astros nem quando do cu
particulares (a economia mercantil, como herança da Baixa se inclina para a terra, pois uma noite ali se estende sobre os
Idade Média, funciona em sistemas de monopólios tanto pobres mortais. L chegando, impelimos o navio para a praia,
para o comércio quanto para a produção); e, como veremos desembarcamos as reses e, seguindo o curso do Oceano fomos
mais adiante, o próprio colonialismo. ter ao lugar indicado por Circe. Perimedes e Eurloco segura-
vam com firmeza as vtimas; eu, desembainhando a cortante
A expansão marítima espada que levava o flanco, escavei um buraco do compri-
mento e da largura de um brao. Em seguida, ali despejei uma
Por que enfrentar os perigos das navegações?
libao para os defuntos: primeiro mel e leite, depois suave
A expansão marítima europeia, iniciada no século XV, vinho e, por fim, gua e por cima espargi a branca farinha. E
foi um marco da modernidade. dirigi uma ardente prece s lnguidas sombras dos mortos: de
As conquistas proporcionadas pelas assim chamadas volta a taca, haveria de imolar em minha casa uma estril vaca, a
“descobertas” representaram o início de um lento proces- melhor da manada, enchendo a pira de esplndidas ofertas;
so de transformação da posição econômica da Europa no a Tirsias, em particular, prometi sacrificar uma rs negra, a
mundo. Isso porque, ao contrário do senso comum euro- mais bela de todo o rebanho.
cêntrico da história, devemos considerar o poderio árabe HOMERO. Odisseia. So Paulo: Atena Editora, 1960. Disponvel em: https://
teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-05102007-151151/publico/TESE_
e os reinos africanos durante o período medieval. Essa LUCINEA_RINALDI.pdf. Acesso em: 25 ago. 2021.
hegemonia que a Europa começou a conquistar terminaria
apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Com a ascensão do cristianismo, durante o Império
disputa pela hegemonia passou a ser entre Estados Uni- Romano, o oceano recebeu conotações ambíguas. Ora era
dos e União Soviética e, posteriormente, com o final da visto de uma perspectiva positiva, como no Gênesis bíblico,
Guerra Fria, quando estendeu-se para a América e a Ásia. em que as águas serviam como oposição às trevas; ora
Houve também uma alteração no eixo de poder inter- recebia um caráter negativo, como na narrativa do dilúvio.
nacional. O Mediterrâneo deu lugar ao oceano Atlântico Contudo, no cristianismo surgem os primeiros santos pa-
como foco da disputa. tronos das navegações e dos navegadores: São Cristóvão
A expansão marítima significou, ainda, um processo (protetor dos caminhos), São Brandão, Santo Amaro e San-
de dominação cultural por meio da ocidentalização. Nas telmo (santos navegadores).
Índias, na América e no Japão, os valores, a mentalidade e Durante a Idade Média e com o apogeu do feudalismo,
a religiosidade europeus foram implementados – por vezes o oceano tornou-se sinônimo do desconhecido. Entendia-
impostos – como forma de consolidar a conquista sobre es- -se que a terra conhecida estaria toda rodeada por águas
sas regiões, ainda que no Japão tenham ocorrido reações e, assim, quanto mais distante do centro (terra), maiores
que modificaram essa dinâmica de ocidentalização. Seria seriam os perigos. Para o imaginário medieval, o oceano
a primeira experiência de “globalização” do Ocidente, que representava uma fronteira entre o que é real (visível) e
permitiu contatos interculturais (muitas vezes por meio da aquilo que está num campo mítico ou simbólico.
violência), ampliou os territórios conhecidos e favoreceu Navegar, portanto, representava o enfrentamento do des-
novos arranjos geopolíticos. conhecido, interpretado, na maioria dos casos, como sinônimo
de perigo. Ou seja, para além dos perigos concretos, como
os naufrágios (a maior parte das embarcações conseguia
realizar apenas uma única viagem), a falta de instrumentos
de precisão para se guiar, a ausência de mapas, as correntes
marítimas, entre outros riscos, devemos compreender o que
impulsionou o interesse pelas Grandes Navegações.
OCEANO
ATLÂNTICO
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40º N
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Mar Mediterrâneo
Fonte: CARTWRIGHT, Mark. Trade in Medieval Europe. World History Encyclopedia. Disponível em: https://www.worldhistory.org/article/3/trade-in-medieval-europe/.
Acesso em: ago. .
Renascimento Cultural
Além das questões de caráter político-econômico, houve uma importante transformação na mentalidade europeia. O
Renascimento Cultural (tema que será abordado com mais profundidade na frente 2) promoveu uma mudança na forma
de pensar e compreender o mundo em parte do Ocidente europeu.
A transição do pensamento teocêntrico para o antropocentrismo não promoveu abalos na fé ou na crença em Deus.
No entanto, favoreceu o desenvolvimento de uma cultura terrena. Essa forma secular de pensamento não questionava,
necessariamente, aquilo que era tido como fantástico ou maravilhoso; havia um desejo por descobertas, de ver com os
próprios olhos o que era tido como lenda.
O pensamento antropocêntrico não incentivou as Grandes Navegações por descreditar as lendas sobre os oceanos
FRENTE 1
serem habitados por criaturas monstruosas ou sobre o Oriente ser ocupado por homens com cabeça de cachorro, pigmeus
e gigantes. O antropocentrismo favoreceu a expansão ultramarina à medida que incitava um gosto pelo mistério e pelo
desconhecido, ou, como é comum aparecer na historiografia, um “gosto pela aventura”.
13
Revisando
4. Sobre a Revolução de Avis, ocorrida em Portugal no século XIV, pode-se afirmar que:
a) consolidou o processo de Reconquista cristã da península Ibérica.
b) permitiu que a burguesia mercantil assumisse o controle da política nacional.
c) promoveu um impedimento no desenvolvimento do projeto ultramarino lusitano.
d) contribuiu para a consolidação da centralização política do poder em Portugal.
e) favoreceu a fragmentação territorial do Condado Portucalense.
c) Mas o fecho no era perfeito [...] Ou dir-se-ia to comumente que os Reinos de Espanha so as “ndias dos outros
Reinos Estrangeiros”.
EXPLIQUE o sentido histórico dessa frase.
8. A questão religiosa foi uma marca fundamental da história da península Ibérica entre os séculos VIII e XVI. Caracterize
a forma com a qual os reinos mulçumanos e cristãos trataram os judeus na região.
9. UEL Durante os sculos XI a XIII verificou-se nas atividades agrcolas e artesanais da Europa Centro-Ocidental um conjunto
de transformaões (...) que repercutiram no crescimento das trocas mercantis. Situa-se a historicamente o chamado renas-
cimento urbano medieval.
A. E. Rodrigues e F. A. Falcon. A formação do mundo moderno. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 9.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto armar que tais mudanças econômicas:
a) caracterizaram-se pelo desenvolvimento das técnicas de produção e amplo emprego de recursos energéticos,
tais como carvão e petróleo.
b) implicaram no capitalismo mercantil incrementado pelo amplo comércio atlântico, fomentado por negociantes
italianos e príncipes alemães.
c) aumentaram a produção no campo e na cidade e fomentaram a circulação de bens e moedas, viabilizados por
novos instrumentos de crédito a governantes e comerciantes.
d) privatizaram as terras e introduziram um modelo de produção fabril, promovido pelo governo britânico.
e) reforçaram o predomínio político e comercial dos senhores feudais sobre os governos citadinos.
10. Caracterize as principais diferenças entre o modo de produção feudal e o modo de produção mercantilista ressaltan-
do como essa transição contribuiu para as Grandes Navegações.
FRENTE 1
15
Exercícios propostos
1. Qual é a relação entre o cristianismo e a formação dos 4. UFG Observe a imagem a seguir:
reinos de Portugal e Espanha? Explique.
17
A partir das unificações regionais que deram Tendo em vista a armação de Braudel e as ca-
origem aos Estados Nacionais Modernos, as racterísticas do mercantilismo, assinale a única
forças militares acabaram perdendo espaço. alternativa correta referente a um princípio ou ideia
Na medida em que a figura do monarca simbo- mercantilista.
lizava a ideia de nação e a identidade nacional, a) A liberdade econômica e o individualismo finan-
os exércitos perderam sentido e foram paulati- ceiro devem prevalecer acima do bem comum e
namente enfraquecendo ao longo dos séculos das políticas públicas.
XVII e XVIII. b) Todas as relações sociais de produção devem ser
Portugal foi o primeiro país europeu a se unificar definidas pela liberdade de contrato entre capital
em torno do que se entende por um Estado Na- e trabalho, visando o lucro coletivo.
cional Moderno. Tal primazia se deu pelo esforço c) É preciso crer que leis naturais regem o comércio
coletivo dos portugueses na reconquista cristã da e as indústrias, e devem, portanto, agir de acordo
Península Ibérica, então marcada pela presença com a “mão invisível” da economia.
dos árabes. d) A maneira ideal de se acumular riquezas é fazer
A não formação de quadros burocráticos especia- com que mais mercadorias sejam vendidas e me-
lizados foi um fator decisivo para o fracasso dos nor quantidade seja comprada pelo país.
Estados Nacionais Modernos e que levou aos
processos revolucionários dos séculos XVIII e XIX
12. Unimontes 2015 Em relação ao Mercantilismo (con-
que puseram ao fim tal modelo. Geralmente, os
junto de ideias e práticas de intervenção do Estado na
monarcas indicavam parentes ou amigos para a
economia), marque com a letra C (CORRETA) ou com a
gestão pública.
letra I (INCORRETA) cada uma das afirmativas.
A organização administrativa, a unificação de ta-
xas e leis e a liberdade comercial no espaço do Qualquer política econômica caracterizada pela
reino são fatores que explicam o apoio da nas- intervenção estatal deve ser classicada como
cente burguesia aos processos de centralização mercantilismo, independentemente da época de
política que levou a formação dos Estados Nacio- sua efetivação.
nais Modernos. Os Estados Nacionais que emergiram na Europa,
Soma: na Idade Moderna, implementaram práticas mer-
cantilistas para garantirem o fortalecimento de suas
10. Uece 2019 Escreva V ou F conforme seja verdadeiro economias.
ou falso o que se afirma nos itens abaixo sobre as mo- Na época do mercantilismo, a concepção dominan-
narquias ibéricas. te de riqueza era a de que a agricultura constituía a
A formação das monarquias ibéricas está ligada ao principal fonte da riqueza nacional.
processo de reconquista cristã. O metalismo e a busca pela balança comercial
As monarquias nacionais ibéricas se formaram an- favorável, além da obsessão por colônias, são ca-
tes das monarquias francesa e inglesa. racterísticas da política mercantilista.
O reino de Castela foi o único domínio espanhol A sequência CORRETA é
que não contou com minorias étnicas e religiosas.
a) C, C, I, I.
Defenderam tolerância e respeito, não obstante a
b) C, I, C, I.
maioria dos reinos cristãos.
c) I, I, C, C.
A sequência correta, de cima para baixo, é: d) I, C, I, C.
a) V, F, F, F.
b) V, F, V, V. 13. UPE 2017 O exerccio do mercantilismo pressupõe a
c) F, V, V, F. existncia de um Estado forte, capaz de planejar aspectos
d) F, V, F, V. importantes da economia e de realizar, posteriormente, a
prtica dessa planificao.
11. Uern 2015 Os descobrimentos martimos europeus do POMER, Leon. O surgimento das nações. So Paulo: Atual, 1987, p. 28.
sculo XVI esto inseridos no contexto da poltica mer- No contexto descrito pelo texto, o poder do Estado
cantilista. Essa poltica, segundo o historiador Fernand
Moderno estaria ligado à
Braudel “(...) reagrupa comodamente uma srie de atos
a) capacidade tributária da sociedade.
e de atitudes, de projetos, de ideias, de experincias que
b) possibilidade de exercício da guerra.
marcam, entre o sculo XV e XVIII, a primeira afirmao
c) amplitude da utilização de mão de obra escrava.
do Estado moderno em relao aos problemas concretos
que ele tinha que enfrentar”.
d) habilidade de mediação de conflitos internacionais.
(BRAUDEL, Fernand, Civilisation, Èconomie et Capitalisme, XVº XVIIIº Siècle;
e) quantidade de transações no comércio inter-
le Jeux de L’èchange. Paris: Armand Coln, 1979. in: MARQUES, 2006.) continental.
(Adaptado de H. B. Domingues, “Viagens cientficas: descobrimento e b) não pretendiam descobrir novos territórios, apenas
colonizao no Brasil no sculo XIX”, em Alda Heizer e Antonio A.
Passos Videira, Ciência, Civilização e Império nos trpicos.
estabelecer rotas para aventureiros e marginaliza-
Rio de Janeiro: Access Editora, 2001, p. 59.) dos da sociedade.
19
c) tinham como principal objetivo retirar as populações muçulmanas da Península Ibérica, após as Guerras de Reconquista.
d) eram feitas em condições precárias, pois eram clandestinas, ou seja, eram realizadas sem o consentimento das
Coroas europeias.
e) não ocorriam em condições apropriadas, embora a maior parte dos tripulantes das caravelas pertencesse à no-
breza feudal.
19. Unifesp Se como concluo que acontecer, persistir esta viagem de Lisboa para Calicute, que j se iniciou, devero faltar as
especiarias s gals venezianas e aos seus mercadores.
(Diário de Girolamo Priuli. Julho de 1501)
20. UPF 2016 Luís Vaz de Camões, um dos maiores nomes do Renascimento Cultural português, imortalizou, em sua
principal obra, a viagem de Vasco da Gama às Índias.
“J no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vo cortando
As martimas guas consagradas,
Que do gado de Próteo so cortadas.”
(CAMÕES. Os Lusíadas. Verso 19)
Assinale a alternativa que apresenta corretamente elementos relativos à participação de Portugal na expansão marí-
tima europeia nos séculos XV e XVI.
a) O total apoio da Igreja Católica, desde a aclamação do primeiro rei português, visando à expansão econômica e
religiosa que a expansão marítima iria concretizar.
b) Para o grupo mercantil, a expansão marítima era comercial e aumentava os negócios, superando a crise do sé-
culo XV; para o Estado, trazia maiores rendas; para a nobreza, trazia cargos e pensões; e, para a Igreja Católica,
representava maior cristianização dos “povos bárbaros”.
c) O pioneirismo português se deveu mais ao atraso dos seus rivais, envolvidos em disputas dinásticas, do que a
fatores próprios do processo histórico, econômico, político e social de Portugal.
d) A expansão marítima, embora contasse com o apoio entusiasmado do grupo mercantil, recebeu o combate
dos proprietários agrícolas, para quem os dispêndios com o comércio eram perdulários.
e) A burguesia, ao liderar a arraia-miúda na Revolução de Avis, conseguiu manter a independência de Portugal,
centralizou o poder e impôs ao Estado o seu interesse específico na expansão.
Texto complementar
A experiência do viajante
Na oitava fossa do oitavo círculo do "Inferno" de Dante, Ulisses, envolto numa língua de fogo, relata sua morte (Divina commedia, XXVI, 90-
142). Depois de separar-se de Circe, nada pode refrear seu ardente desejo de conhecer o mundo, os vícios e a as virtudes dos humanos. Nem a
lembrança de seu querido filho Telêmaco, nem o amor de sua esposa Penélope, nem a piedade devida a seu pai, Laertes, são capazes de conter
o desejo intenso de experiência, de sapientia mundi. Ulisses encontra-se no mar Mediterrâneo, com um único navio e alguns companheiros fiéis.
As descrições geográficas são precisas. De um lado observa a costa da Espanha, a última Hespéria; do outro, a costa do Marrocos, fim da África.
À sua direita deixa Sevilha; a sua esquerda Ceuta. Após um discurso no qual infunde coragem e firmeza em seus companheiros para seguir via-
gem, a nau cruza os pilares de Hércules, emblemáticas colunas plantadas por um semideus para que nenhum humano se atrevesse a ultrapassá-las.
Os pilares de Hércules eram, desde a Antiguidade, inscrições topográficas que representavam o limite do mundo conhecido e um símbolo da proibição
divina diante da insensata curiosidade humana. Além deles se estende um mar sem limites, tenebroso, o verde mar da escuridão.
Resumindo
y A formação dos reinos de Portugal e Espanha aconteceu de forma precoce em relação às outras regiões da Europa.
y Com a centralização do poder e as transformações políticas, econômicas e sociais que aconteceram na passagem da Idade
Média para a Idade Moderna, Portugal e Espanha foram pioneiros nas Grandes Navegações.
y As navegações foram motivadas pelo espírito de aventura e pela procura por metais preciosos e produtos de alto valor co-
mercial. De forma geral, as navegações ultramarinas visavam atender às demandas das práticas mercantilistas.
Livros
BETHENCOURT, Francisco; CURTO, Diogo Ramada (dir.). A expansão marítima portuguesa, 1400-1800. Lisboa: Edições 0, 00.
A obra apresenta análises diversas de aspectos políticos, econômicos, culturais e sociais da expansão marítima portuguesa.
MICELI, Paulo. O ponto onde estamos: viagens e viajantes na história da expansão e da conquista (Portugal, século XV e XVI).
Campinas: Editora Unicamp, 00.
O livro trata de aspectos do cotidiano das navegações portuguesas.
Exercícios complementares
1. Unicamp 2013 Tradicionalmente, a vitória dos cristos sobre os muulmanos na Batalha de Covadonga, na regio da
Pennsula Ibrica, em 722, foi considerada o incio da chamada Reconquista. Mais do que um decisivo confronto blico,
Covadonga foi uma luta dos habitantes locais por sua autonomia. A aproximao ideológica desta vitória, feita mais tarde
por clrigos das Astrias, conferiu batalha a importncia de um fato transcendente, associado ao que se considerava a
misso da monarquia numa Hispnia que tombara diante dos seus inimigos.
(Adaptado de R. Ramos, B. V. Sousa e N. Monteiro (orgs.), Histria de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2009, p. 17-18.)
2. Unesp As caravanas do Sudo ou do Niger trazem regularmente a Marrocos, a Tunes, sobretudo aos Montes da Barca ou ao
Cairo, milhares de escravos negros arrancados aos pases da África tropical (...) os mercadores mouros organizam terrveis
razias, que despovoaram regiões inteiras do interior. Este trfico muulmano dos negros de África, prosseguindo durante
sculos e em certos casos at os mais recentes, desempenhou sem dvida um papel primordial no despovoamento antigo
da África.
(Jacques Heers, O trabalho na Idade Média.)
islâmico.
e) os árabes ultrapassaram os Pirineus e mantiveram o domínio sobre o reino Franco, até o final da Idade Média
ocidental.
21
3. UEMG 2016
Durante a Idade Média, no ano de , nascia Maomé, conhecido por ser o profeta de Alá. Desde a sua morte até o
século XXI a crença em Alá tem sido difundida pela fé Islâmica que é, até hoje, predominante no norte da África e na
Península Arábica. Em , a expansão islâmica conquistara espaço na Europa Ocidental. Quase toda a Península Ibérica
ca sob o poder do Califado.
O que detém o avanço Islâmico é
a) a resistência do império Franco e o processo de reconquista ligado às monarquias locais fortemente influencia-
das pelo cristianismo.
b) a proposta, dos grupos dirigentes das Monarquias Ibéricas, de associar os preceitos islâmicos aos valores cris-
tãos, enfraquecendo assim as frentes de batalha.
c) a ação da Rússia em repressão aos islâmicos, formando uma frente combativa para manter as antigas monarquias
ibéricas.
d) a formação de um Reino Cristão que unia todas as monarquias europeias para combater os invasores.
4. FGV-RJ 2015 Da mesma forma que a Terra Santa, ainda que com identidade menor, a Pennsula Ibrica possibilitava
a reunio das ideias de paz (luta no exterior da Cristandade), de Guerra Santa (engrandecimento da Igreja em terra an-
teriormente crist) e de peregrinao (corpo santo apostólico em Santiago de Compostela). A Reconquista revelou-se
especialmente atraente, o que significativo, para o centro-sul francs (...) cujos cavaleiros foram os mais constantes
participantes ultramontanos da luta antimoura na Pennsula.
FRANCO JÚNIOR, Hilrio. Peregrinos, monges e guerreiros.Feudo-clericalismo e religiosidade em Castela Medieval. So Paulo: Hucitec, 1990, p. 161.
6. Unicamp (Adapt.) Os impérios desenvolveram diferentes estratégias de inclusão. O império romano permitia a multi-
plicidade de crenças, desde que a lealdade política estivesse assegurada. Espanha e Portugal, entretanto, apesar de terem
incorporado povos de línguas e culturas diversas sob seus governos, impuseram uma uniformidade legal e religiosa, prati-
cando políticas de intolerância religiosa como caminho preferencial para assegurar a submissão e a lealdade de seus súditos.
(Adaptado de Stuart B. Schwartz, Impérios intolerantes: unidade religiosa e perigo da tolerância nos impérios
ibéricos da época moderna, em R. Vainfas & Rodrigo B. Monteiro (orgs.), Império de várias faces. São Paulo: Alameda, 2009, p. 26.)
FRENTE 1
23
Desde a Idade Média, São Tiago Maior foi retrata- 9. FGV-SP 2014 Ao final da Copa do Mundo de fute-
do de várias formas. Nessa imagem do século XVII, bol disputada na África do Sul (), alguns dos
que recorre à Reconquista na Península Ibérica, sua jogadores da seleção da Espanha realizaram a volta
gura é representada como Matamouros. Com base olímpica como campeões desfraldando uma bandei-
na imagem, conclui-se que essa recorrência alude à ra da Catalunha. A respeito da História dessa região,
a) valorização da cultura islâmica, derivada do con- é correto afirmar:
tato com os muçulmanos. a) O reino de Aragão uniu-se ao de Castela com o
b) apropriação de personagens bíblicos, utilizados casamento dos reis católicos, Fernando e Isabel,
para legitimar a disputa territorial e religiosa. mantendo-se a autonomia de Aragão e o funcio-
c) formação de uma matriz cultural ibérica, renovada namento de cortes próprias.
pela fusão entre belicismo islâmico e apostolicis- b) A região da Catalunha promoveu uma revolução
mo cristão. ao final do século XVIII, influenciada pelos acon-
d) incorporação do princípio muçulmano da Guerra tecimentos transcorridos na França com a subida
Santa, favorecida pela expansão árabe. dos jacobinos ao poder.
e) adoção do ideal muçulmano de martírio, advindo
c) Durante a II República, a partir de 11, a região
da experiência adquirida nas Cruzadas.
perdeu sua autonomia e tornou-se uma das bases
das legiões falangistas que apoiaram Franco.
8. UFC (Adapt.) Leia, a seguir, trechos da canção “Quin-
d) A autonomia e o direito ao ensino da língua cata-
to Império” e responda as questões que seguem.
lã e seu emprego na administração pública foram
Parte 1 garantidos à Catalunha com o regime franquista,
(...) a partir de 16.
Meu sangue trilha,
e) Com a democratização, em 175, a região da
dos Mouros, dos Lusitanos.
Catalunha perdeu sua autonomia e isso desen-
Dunas, pedras, oceanos
cadeou o aparecimento de movimentos armados
rastreiam meu caminhar.
que lutam pela sua independência.
E sendo eu
que a Netuno dei meu leme,
com a voz que nunca treme 10. Unicamp 2018 A ideia de que a demanda de especiarias
fiquei a me perguntar: resultava da necessidade de disfarar o gosto da carne e
‘o que ser do peixe putrefatos um dos grandes mitos da história
que alm daquelas guas da alimentao. Na Europa medieval, os alimentos fres-
agitadas, turvas, calmas, cos eram mais frescos que os atuais, pois provinham da
eu irei l encontrar?’ produo local. Os alimentos em conserva mantinham-se
Parte 2 em salga, curtio, dessecao ou gordura, assim como
(...) hoje em dia so enlatados, refrigerados, liofilizados ou
Eu decifrei astros e constelaões, embalados a vcuo. De qualquer forma, os aspectos de-
conduzi embarcaões, terminantes do papel desempenhado pelas especiarias na
destinei-me a navegar. gastronomia eram o gosto e a cultura. A cozinha mui-
Atravessei to temperada com especiarias era objeto de desejo por
a Tormenta, a Esperana, ser cara e por “condimentar” a posio social dos ricos e
at onde o sonho alcana as aspiraões de quem ambicionava s-lo. Alm disso, a
minha F pude cravar.
moda gastronômica predominante na baixa Idade Mdia
Rasguei as lendas
europeia imitava as receitas rabes, que exigiam sabores
do Oceano Tenebroso,
doces e ingredientes fragrantes: leite de amndoa, extra-
para El Rey, o Glorioso,
tos de flores aromticas e outras iguarias orientais.
no h mais trevas no mar.
(Adaptado de Felipe Armesto-Fernndez, 1492: o ano em que o mundo
(NÓBREGA, Antonio; FREIRE, Wilson. “Quinto Imprio” In: NÓBREGA, começou. So Paulo: Companhia das Letras, 2017, p.27).
Antonio. Madeira que cupim não ri. So Paulo: Brincante, 1997, faixa 04.)
A partir do texto acima e de seus conhecimentos
a) Qual a relação dos mouros com a formação do
históricos:
Estado português?
a) defina o que são as especiarias e explique seu
b) Os versos a seguir, transcritos da segunda parte
significado social na Europa medieval.
da canção Quinto Império, sugerem algumas con-
b) explique como era feito o comércio de especia-
sequências das navegações portuguesas. Cite, a
rias na baixa Idade Média.
consequência sugerida por cada transcrição.
I. Atravessei / a Tormenta, a Esperança, 11. Unifesp (Adapt.) Mercantilismo é o nome normal-
II. até onde o sonho alcança / minha Fé pude cravar. mente dado à política econômica de alguns Estados
III. Rasguei as lendas / do Oceano Tenebroso, Modernos europeus, desenvolvida entre os séculos
IV. para El Rey, o Glorioso, / não há mais trevas no mar. XV e XVIII. Indique duas características desse sistema.
25
15. Unesp 2015
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, j no separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
Identique quatro características que, segundo o texto, marcaram a expansão marítima portuguesa dos séculos XV e
XVI. Exemplique com os versos do próprio poema.
16. Unesp (...) A abertura de novas rotas, a fim de superar os entraves derivados do monopólio das importaões orientais pelos
venezianos e muulmanos, e a escassez do metal nobre implicavam dificuldades tcnicas (navegaões do Mar Oceano) e eco-
nômicas (alto custo dos investimentos) (...), o que exigia larga mobilizao de recursos (...) em escala nacional (...) A expanso
martima, comercial e colonial, postulando um certo grau de centralizao do poder para tornar-se realizvel, constituiu-se (...)
em fator essencial do poder do Estado metropolitano.
(Fernando Novais, O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial.In: Carlos Guilherme Motta (org.), Brasil em perspectiva)
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o tema da Expansão Marítima dos séculos XV e XVI, é correto
armar que as navegações
a) constituíram uma realização sem precedentes na história da humanidade, uma vez que foram muitos os obstá-
culos a serem superados nesse processo, tais como a ameaça que representava o desconhecido e o fracasso
de grande parte das expedições, que desapareceram no mar.
b) propiciaram o fim do monopólio que espanhóis e italianos mantinham sobre o comércio das especiarias do
oriente através do domínio do mar Mediterrâneo, uma vez que foram os franceses e os portugueses, a despeito
das tentativas holandesas, que realizaram o périplo africano e encontraram o caminho para as Índias.
c) resultaram na hegemonia franco-britânica sobre os mares, o que, a longo prazo, permitiu a realização da acu-
mulação originária de capital e, através desta, o financiamento do processo de implantação da indústria naval,
o que prolongou esta hegemonia até o final da Primeira Guerra Mundial.
d) propiciaram o domínio da Holanda sobre os mares, fazendo com que a colonização das novas terras descober-
tas dependesse da marinha mercante daquele país para a manutenção das ligações comerciais entre os demais
países europeus e suas colônias no restante do mundo.
e) representaram o triunfo da ciência e da tecnologia resultantes das concepções cartesianas e, consequente-
mente, a destruição de lendas e mitos sobre o Novo Mundo, uma vez que as expedições revelaram os limites
do mundo e propiciaram rapidamente formas seguras de transposição oceânica.
Nestes versos identicamos uma comparação entre dois processos históricos. É válido armar que o poema compara
a) o sistema de colonização da Idade Moderna aos sistemas de colonização da Antiguidade Clássica: a navegação
oceânica tornou possível aos portugueses o tráfico de escravos para suas colônias, enquanto gregos e romanos
utilizavam servos presos à terra.
b) o alcance da expansão marítima portuguesa da Idade Moderna aos processos de colonização da Antiguidade
Clássica: enquanto o domínio grego e romano se limitava ao mar Mediterrâneo, o domínio português expandiu-se
pelos oceanos Atlântico e Índico.
c) a localização geográfica das possessões coloniais dos impérios antigos e modernos: as cidades-estado gregas
e depois o Império Romano se limitaram a expandir seus domínios pela Europa, ao passo que Portugal fundou
colônias na costa do norte da África.
d) a duração dos impérios antigos e modernos: enquanto o domínio de gregos e romanos sobre os mares teve um
fim com as guerras do Peloponeso e Púnicas, respectivamente, Portugal figurou como a maior potência marítima
até a independência de suas colônias.
20. FGV-RJ 2020 (…) Vossas Majestades, como católicos cristos e Soberanos devotos da santa f crist, seus incrementadores
e inimigos da seita de Maom e de todas as idolatrias e heresias, pensaram em enviar-me a mim, Cristóvo Colombo, s
mencionadas regiões da ndia para ir ver os ditos prncipes, os povos, as terras e a disposio delas e de tudo a maneira que
se pudesse ater-se para sua converso nossa f; e ordenaram que eu no fosse por terra ao Oriente, por onde se costuma ir
mas pelo caminho do Ocidente, por onde at hoje no sabemos com segurana se algum teria passado.
Cristóvo Colombo, Diários da Descoberta da América, Porto Alegre: L&PM, 1984, p. 29-31.
FRENTE 1
27
De acordo com o excerto dos Diários de Colombo, é correto armar:
a) A navegação pelo Atlântico com o objetivo de chegar às Índias era uma empreitada conhecida desde a Antiguidade.
b) As relações entre a Igreja e o Estado estavam intimamente ligadas no projeto de conhecimento e conquista
das Índias.
c) O acesso ao Oriente por rota terrestre era conhecido pelos europeus durante a Antiguidade, mas foi interrompi-
do durante a Idade Média.
d) A conversão dos muçulmanos e o combate às heresias foram fatores desprezados durante a expansão marítima
europeia dos séculos XV e XVI.
e) A viagem marítima tinha como objetivo principal pacificar a cristandade envolvida nos conflitos relacionados com
a Reforma Protestante.
BNCC em foco
EM13CHS102
1.
EM13CHS201
2.
EM13CHS204
3.
2
Descoberta ou “achamento”? Ocupação ou invasão? A chegada dos europeus à Amé-
rica constituiu um dos fenômenos mais complexos da história. O contato com os povos
ameríndios representava conhecer agrupamentos humanos que não correspondiam a
nenhuma de suas expectativas em termos de valores sociais, políticos ou religiosos.
Os choques ocorriam, geralmente, de maneira violenta, resultando no extermínio de
parte significativa das comunidades indígenas.
A conquista – militar, política, religiosa ou cultural – foi ferramenta imprescindível da
colonização. Ao longo do século XVI, Portugal e Espanha instalaram sistemas coloniais
na América, voltados para a acumulação de lucro na Europa.
Pioneirismo de Portugal As primeiras conquistas portuguesas
e da Espanha na expansão marítima Em 1415, Portugal promoveu a conquista de Ceuta, que
representou o início de sua expansão ultramarina. Localizada
O que justificou Portugal e Espanha terem sido pionei-
no noroeste do continente africano, Ceuta era um entreposto
ros do processo das Grandes Navegações?
comercial muçulmano que servia também como ponto de
Um primeiro aspecto, apesar de não ser central na com- partida para uma série de ataques no Mediterrâneo. Dessa
preensão do pioneirismo ibérico, é a localização geográfica forma, a tomada de Ceuta por Portugal representava uma
desses reinos, que possuíam um litoral recortado, favorável expansão do espírito cruzadístico que havia impulsionado
às navegações, sobretudo às principais rotas do Atlântico a chamada Guerra de Reconquista (ainda em curso nessa
e do Mediterrâneo. época), de contenção da religião islâmica.
Como vimos, a centralização política do poder em Por- Posteriormente, foram conquistadas as ilhas atlânticas
tugal e na Espanha foi precoce em comparação aos outros da Madeira (1425) e dos Açores (1427), de onde Portu-
reinos da Europa. Dessa forma, as respectivas monarquias gal iniciará o seu projeto colonizador, que debateremos
eram capazes de concentrar a arrecadação tributária e, mais adiante. Também foi conquistado o litoral ocidental
assim, financiar os empreendimentos marítimos, que não só da África. Após vencerem o desafio de transpor o Cabo
favoreceriam os comerciantes, como já vimos, mas também do Bojador (1434), os portugueses criaram uma série de
as práticas mercantilistas, beneficiando Portugal e Espanha. feitorias ao longo do continente africano: Guiné (1453),
Eram as monarquias centralizadas que permitiam a ob- Cabo Verde(1460) e São Tomé (1471). As feitorias eram
tenção de títulos, privilégios, soldos e recompensas aos entrepostos comerciais fortificados, nos quais trocava-se
navegadores. Em um navio, por exemplo, o capitão era um tabaco, armas e açúcar por marfim, ouro em pó, pimenta
representante do rei, exercendo autoridade suprema sobre malagueta e, posteriormente, africanos escravizados.
seus subordinados durante as viagens. O desejo de uma rota alternativa às Índias acentuou-se
Por fim, a questão do desenvolvimento técnico e tecnoló- com a tomada de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano,
gico. Não há algo que possamos chamar de uma “revolução em 1453. Com o fim da chamada “rota da seda” (rota comer-
técnica” no que diz respeito às Grandes Navegações, mas cial terrestre entre o Oriente e o Ocidente), Portugal tinha a
um processo de aperfeiçoamento gradual. possibilidade de adquirir o monopólio do comércio oriental.
No campo da Cartografia, a elaboração de portulanos
(mapas com nomes de portos escritos perpendicularmente Rotas para o Oriente – século XV
à costa) e de mapas de cabotagem foi uma das atividades
mais importantes para o sucesso das navegações. Inclusive,
cartógrafos eram disputados entre os reinos, o que acabou
transformando a Cartografia em questão política.
Entre os instrumentos e técnicas de navegação, o
uso do astrolábio e do quadrante (influências dos povos
árabes) possibilitou que os navegadores se orientassem
melhor. Uma agulha magnética conectada à rosa dos ven-
tos formou a bússola. Também houve aperfeiçoamento no
cálculo de latitude.
Em Portugal, especificamente, aprofundou-se o co-
nhecimento dos ventos alísios. Talvez, entre as inovações
tecnológicas lusitanas, deva ser destacada a criação das
caravelas, no início do século XV. As caravelas eram em-
barcações de pequeno porte, leves, rápidas e de fácil
manobrabilidade. Concebidas com dois e, posteriormente,
três mastros, conseguiam navegar com ventos contrários (po-
diam executar a manobra de “bolinar”, ziguezaguear contra
os ventos), além de possibilitarem o uso de remos, caso fosse
necessário. Também podiam se aproximar mais da terra.
Durante muito tempo, a historiografia debateu a res-
peito da existência da Escola de Sagres, concebida como
um espaço de ensino de técnicas de navegação. No en-
tanto, sem evidências de sua existência, ela foi tida, entre
os historiadores, como um mito criado a fim de enaltecer o
domínio português sobre os mares. Ainda não é possível
afirmar a sua existência, mas entende-se hoje que essa Chegar às “Índias” contornando o continente africano era a rota mais
longa. No entanto, ao romper com os intermediários, Portugal passou
escola possa ter sido um espaço em que especialistas a ser hegemônico no comércio de especiarias.
e estudiosos da navegação reuniam-se para debater e Fonte: O’BRIEN, Patrick (ed.). Philip’s Atlas of World History. Londres:
compartilhar seus conhecimentos. Philip’s, , p. -. (Adapt.)
Meridiano de Greenwich
OCEANO
Colombo aos reis espanhóis eram elevados. ATLÂNTICO
Com o aval de Fernando e Isabel, Colombo partiu em Trópico de Capricórnio
Os tratados ibéricos
0º
Ao compreenderem que o território atingido por Colom-
Fonte: Tratado de Tordesilhas. Britannica Escola. Disponível em: https://escola.
bo, em 1492, era um continente até então desconhecido britannica.com.br/artigo/Tratado-de-Tordesilhas/. Acesso em: ago. .
pelos europeus, acirraram-se as disputas entre Portugal e
Espanha pela legitimidade da exploração dessas terras.
Anteriormente, ainda em 1480, os reinos ibéricos ha- Terra à vista: Cabral e o Brasil
viam firmado o Tratado de Toledo. O acordo assegurava ao Em 1498, Vasco da Gama havia alcançado as Índias,
reino espanhol a exploração das terras ao norte das Ilhas dando início ao domínio português no Oriente. Após retor-
Canárias e, aos portugueses, as terras ao sul do referencial nar a Portugal, os relatos retratavam uma terra de riquezas
(garantindo a rota para o Oriente, contornando a África). (Vasco da Gama descreveu Samorim, rei de Calicute, como
Porém, a viagem de Colombo à América, sob a bandeira do uma pessoa adornada por joias, ouro e pedras preciosas)
reino espanhol, tornou necessária a redefinição dos limites e de produtos de alto valor comercial (o grão de pimenta
de exploração. comprado a 8 cruzados era vendido a 80 na Europa).
A legitimação da exploração das terras pautava-se Logo após o retorno de Vasco da Gama, o rei de Por-
na tradição canônica medieval que concedia ao papa – tugal, D. Manuel, enviou outra expedição às Índias com o
e, portanto, à Igreja Católica – a jurisdição universal so- intuito de aprofundar a relação com o Oriente e assegurar
bre o mundo. Em 1493, a Bula Inter Coetera propôs a o monopólio sobre o comércio de especiarias. Assim, no
delimitação da área de exploração a partir de uma linha dia 9 de março de 1500, partiu de Portugal uma grande
FRENTE 1
imaginária, a cerca de cem léguas a oeste de Cabo Ver- frota de treze caravelas e dez naus (embarcações usadas
de, deixando o território a oeste da linha para Castela e principalmente para fins militares), sob o comando do fidal-
o do leste para Portugal. No entanto, o papa Alexandre VI, go Pedro Álvares Cabral.
31
A frota de Cabral, porém, não chegou ao destino es- narrativas ameríndias contribuíram para a manutenção de
perado. Desviando mais a oeste do que o desejado, no uma perspectiva eurocêntrica sobre os povos nativos
dia 22 de abril de 1500, chegou a um trecho de terra logo da América.Nesse sentido, o historiador SergeGru-
batizado de Monte Pascoal, por causa do feriado da Páscoa. zinskifez uma profunda análise sobre as tentativas de
Em seguida, chegaram à região hoje conhecida como Porto escrever uma história indígena da Mesoamérica no sé-
Seguro, chamando-a de Ilha de Vera Cruz. Ao descobrir que culo XVI. A partir do trabalho do missionárioToribiode
não se tratava de uma ilha, alteraram o nome para Terra de BenaventeMotolinia (1482-156),Gruzinskiidentifica
Vera Cruz e, posteriormente, Terra de Santa Cruz. asdificuldadesmetodológicas queenvolviama escri-
tadessa história, uma vez que, para a Europa do século
Viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil e XVI, a produçãohistoriográfica dependia intrinsecamente
Calicute – 1500 de documentos escritos.
Portanto, o trabalho de construir uma história indígena
daMesoamérica, anterior ao contato com os espanhóis, a
partir de fontes orais e imagens foi um esforço significativo.
Tal observação, no entanto, não deve ser compreendida
como exaltação do empreendimento europeu, mas como
mecanismo de indagação às razões que seriam capazes
de justificar esse esforço.
Trópico de Câncer
Ashistóriasproduzidas por Motolinia sobre os di-
versos representantes indígenas permitem que esses
sejam concebidos como objetos homogêneos e está-
ticos, sendo, portanto, passíveis de transformações.
Equador
0º Ao inserir a história ameríndia na perspectiva europeia
OCEANO de tempo, a homogeneização indígena atende às ex-
ATLÂNTICO OCEANO
ÍNDICO pectativas da Europa de transformar os espaços e as
pessoas, além de sublimar as especificidades presentes
Trópico de Capricórnio
naqueles povos.
Meridiano de Greenwich
Golfo do México
Trópico de Câncer
NORTE
DO MÉXICO
OCIDENTE GOLFO
CENTRO
MAIA
OCEANO GUERRERO
OAXACA
PACÍFICO
AMÉRICA
CENTRAL
105º O
A influência olmeca se fez presente em várias loca- ca, deixaram uma série de legados, como o urbanismo e as
lidades da Mesoamérica. Teotihuacán, “a metrópole dos heranças religiosas, que se aperfeiçoaram posteriormente,
deuses”, talvez seja o melhor exemplo. Estabelecida no no período pós-clássico (950-1519).
33
A mais expressiva das civilizações da América Central Sua organização econômica tinha por base a agricultu-
no período da chegada dos espanhóis foi a mexica (asteca). ra e a exploração das populações dominadas. Promoveram
Os astecas desenvolveram um império que se estendeu do complexas obras de irrigação, como as chinampas, ou jar-
México até a região hoje co,mpreendida pela Guatemala, dins flutuantes, que eram pequenas ilhas artificiais feitas por
com mais de 300 mil quilômetros quadrados de área. Eles acumulação de lama das margens pantanosas de lagos, a
tinham como área central a atual Cidade do México, onde fim de expandir as áreas cultiváveis.
os astecas ergueram sua capital, Tenochtitlán, na qual, acre- A sociedade, assim como no passado mítico, baseava-
dita-se, viviam mais de 100 mil pessoas. -se em uma estrutura rígida, no topo da qual se encontrava
Os mexicas narram sua própria origem da seguinte uma camada de aristocratas e chefes militares, além dos
maneira: viviam na mítica Aztlan-Chicomoztoc (alguns sacerdotes. Estes mantinham o domínio sobre a massa
pesquisadores indicam que pode representar uma região de camponeses, que vivia sob um regime semelhante
ao norte do Vale do México), composta de sete caver- à servidão coletiva, além de um grande contingente de
nas e de povos que falavam o náhualt, idioma de muitos escravizados, normalmente prisioneiros de guerra. Havia
teotihuacanos. Socialmente subordinados por tlatoque uma divisão do trabalho na qual aos homens eram reser-
(governantes) e pipiltin (nobres), os macehualtin (como vadas as tarefas ligadas à agricultura (abóboras,pimentas,
se autodenominavam os mexicas, com uma conotação de milho, feijões, batatas, cacau, chicle, coca, tomate, quinoa,
“servos”) eram obrigados a ceder parte da sua produção algodão de fibra longa, tabaco e mandioca) e à produção
agrícola aos governantes como tributos. Descontentes especializada, enquanto às mulheres cabiam trabalhos
com a situação, seguiram a profecia do sacerdote Huit- domésticos, a feitura da massa de tortillas, a fiação e a
zilopochtli, que dizia que o deus Tetzahuitl Teotl havia tecelagem. Os mexicas conheciam o ouro, a prata, o co-
aconselhado que os mexicas migrassem até encontrar um bre e o estanho, além de algumas pedras preciosas. Eles
local em que avistassem uma águia pousada em um cacto também desenvolveram técnicas metalúrgicas na criação
devorando uma cobra. Essa imagem foi vista em uma ilha do
de adornos e ferramentas.
Lago Texcoco, e teria se tornado, em 1325, a cidade
A religiosidade mexica se desenvolveu a partir dos cul-
de Tenochtitlán.
tos ao sol e à terra. Ometeotl era, para os mexicas, “o deus
dual”, ao mesmo tempo pai onicriador e mãe universal; pai
Diego Rivera/Palacio Nacional, México
35
que, empilhados ao longo do tempo, sofreram a ação chamadas “bugigangas” europeias, como facas e ma-
de intempéries naturais e, assim, passaram por uma chados, promoveram profundas alterações nos modos
fossilização química. de vida dos povos ameríndios. Como formas de ador-
no, utilizavam pinturas corporais e ornamentos feitos
Joannis77 (CC BY 4.0)
Quando trazem para casa um inimigo, os primeiros a bater nele são as mulheres e as crianças. Depois colam nele penas
cinzas, raspam-lhes as sobrancelhas, dançam em volta dele e atam-no direito, de forma a não poder fugir. Depois dão-lhe
uma mulher, que o alimenta e também se entretém com ele. [...].
Alimentam bem o prisioneiro. Mantêm-no assim durante algum tempo e preparam-se para a festa. [...]. Confeccionam,
ainda, ramos de penas e os amarram à maça com a qual o matam. Fazem também uma grande corda, que chamam de mu-
çurana. Com essa corda amarram-no antes de matá-lo. [...]. Soltam a muçurana de seu pescoço e passam-na em volta do
corpo e depois puxam-na com força, dos dois lados. Ele agora fica amarrado no centro. Muitas pessoas puxam a corda de
ambos os lados. Deixam-no assim por algum tempo e põem à frente dele pequenas pedras, para que possa atirá-las contra
as mulheres que andam em torno dele e lhe dizem, de forma ameaçadora, como querem comê-lo. As mulheres estão pin-
tadas e, depois de ele ter sido esquartejado, devem andar em volta das cabanas com os quatro primeiros pedaços. Isso para
o grande regozijo dos remanescentes.
Casa da Índia (organização para administrar e organizar o comércio dos territórios dominados pelos portugueses no
Oriente), além do Conselho da Índia, as iniciativas em relação ao território americano limitaram-se, durante as primeiras
décadas, à expedição de reconhecimento e à exploração do pau-brasil.
37
Extração de pau-brasil
O pau-brasil (que acabaria influenciando no nome do território colonial) é uma árvore, que pode chegar até 15metros
de altura e era abundante na região da Mata Atlântica. A madeira do pau-brasil possui uma cor vermelho vivo que
remete a brasas de fogo (daí o nome Brasil) cuja resina servia para tingir tecidos. Além disso, a madeira era de ótima
qualidade para construções.
Interessado nas aplicações comerciais, Portugal concentrou os seus limitados esforços na região para extração
do pau-brasil. Inclusive, é importante lembrarmos que essa atividade acontecia em sistema de estanco régio, ou seja,
tratava-se de um monopólio da Coroa. Como as atenções estavam voltadas as “Índias”, a Coroa portuguesa conce-
deu o monopólio sobre a atividade para terceiros, principalmente a Fernando de Noronha e, depois a Jorge Lopes
Bixorda. A concessão de monopólios (de comércio ou produção) a particulares consistia em uma prática comum do
mercantilismo, e não somente reforçava a centralização política do poder, como também permitia um aumento sobre
as arrecadações (mesmo concedendo o monopólio, a Coroa continuava recolhendo tributos referentes às trocas).
A extração era feita de forma rudimentar, a partir de escambo com comunidades indígenas litorâneas. Os indígenas
extraíam o pau-brasil e o armazenavam em feitorias. A primeira feitoria foi montada, em 1504, na região onde hoje é
Cabo Frio. Em troca do trabalho, os indígenas recebiam as chamadas “bugigangas”. Porém, é necessário tomarmos
cuidado em associarmos o termo a um caráter pejorativo. Entre as “bugigangas” estavam objetos como: facas, ma-
chados, agulhas, foices, espelhos, chapéus, anzóis, panelas, pás etc. Para povos que não exerciam o domínio sobre
a metalurgia do ferro, essas ferramentas permitiram profundas transformações tanto na possibilidade de ampliar a
produção, quanto no tempo reservado ao ócio.
pela Europa, em relação às populações autóctones. derança do conquistador espanhol Hernán Cortés
S. F. Cook e W. Borah estimam a população indíge- (1485-1547). Em 1519, Cortés partiu de Cuba em dire-
na, na região do México, em 25 milhões de pessoas ção ao litoral do que hoje seria Vera Cruz, no México.
39
Com cerca de 600soldados, 15 cavaleiros e 15 ca- população mexica da cidade por fome, sede (as águas
nhões, os espanhóis conquistaram o centro mexica de foram envenenadas pelos espanhóis), doenças e enfren-
Tenochtitlán, que, à época, estima-se que possuía entre tamento militar. Em 1522, os antigos territórios do Império
100 mil e 300milhabitantes. Mexica tornaram-se a Nova Espanha.
Durante muito tempo, a fim de explicar a vitória Da mesma forma que as disputas internas foram utiliza-
espanhola diante de tamanha disparidade numérica, das na conquista do Império Mexica, o mesmo aconteceu
foi defendida e tese de que a civilização mexica teria no Império Inca.
facilmente se submetido aos espanhóis, uma vez que A sucessão ao trono inca poderia ser feita por qual-
acreditavam que se tratava de deuses. Em carta ao rei quer pessoa que tivesse parentesco com o rei. Não havia,
espanhol, Cortés diz que os mexicas o reconheceram portanto, uma linha sucessória definida, podendo ocupar
como o deus Quetzalcóatl. Porém, o historiador Mat- o trono filhos, sobrinhos, irmãos ou até mesmo primos do
thew Restall, em sua consagrada obra Sete mitos da antigo imperador. O final de um reinado era, normalmente,
conquista espanhola, aponta que essa interpretação um período de conflitos pela sucessão real. No início do
não está inteiramente correta. Para compreender a século XVI, quando os espanhóis tiveram contato com a
conquista de Cortés, devemos lembrar, inicialmente,
região andina, os irmãos Huascar e Atahualpa disputavam
que a civilização mexica era composta de uma vasta
o poder após a morte do pai deles, Huayna Capac.
heterogeneidade de comunidades indígenas submeti-
Francisco Pizarro (1471 ou 1476-1541), depois de já ter
das a um poder central. Os espanhóis, dessa maneira,
tentado, sem sucesso, conquistar os incas, usou a guerra civil
exploraram a rivalidade já existente entre os agrupa-
a seu favor. Após ter aportado na costa de onde hoje é o
mentos ameríndios.
Equador, em 1531, Pizarro marchou em direção ao Peru. Ao
A aliança entre os espanhóis e alguns indíge-
chegar a Cuzco, em 1532, a guerra civil havia terminado com
nas pode ser compreendida a partir da relação entre
a morte de Huascar, e o recém-vitorioso Atahualpa tentava se
Hernán Cortés e a indígena Malinche. Ela pertencia à
etnia Nahua e fazia parte da população nativa subme- consolidar como novo imperador.
tida aos mexicas. Por conhecer o idioma nahuatl, ela A fim de se impor aos incas, Pizarro explorou as riva-
dominava as tradições astecas e teria sido umas das lidades que permaneceram no império diante da disputa
responsáveis por transferir esse conhecimento aos es- entre os irmãos. Ao mesmo tempo que Pizarro apoiou os
panhóis, que, mediante vantagem de conhecer seus incas ligados a Huascar, nomeando-os para cargos diver-
inimigos, usaram isso ao seu favor. Além disso, ao co- sos, o conquistador espanhol sequestrou o novo imperador,
nhecer as dinâmicas internas, os espanhóis formaram Atahualpa, e exigiu como resgate um aposento cheio de
alianças com outros ameríndios descontentes com a ouro e dois outros cheios de prata. Mesmo após receber
submissão ao império de Montezuma II. Portanto, além o pagamento, o imperador inca foi condenado à morte e
dos pouco mais de 600 espanhóis, a conquista foi rea- executado pelos espanhóis.
lizada com o apoio de centenas de guerreiros ameríndios. Favorecido pela fragmentação interna, Francisco Pi-
Cortés submeteu a capital do Império Mexica, Teno- zarro conseguiu dominar Cuzco e Quito em 1533. Dois
chtitlán, a um cerco de 75 dias e consolidou a conquista anos depois, em 1535, Lima, a nova capital definida pela
em 13 de agosto de 1521, após a morte de boa parte da Espanha, foi fundada no Vice-Reino do Peru.
y, Califórnia, Estados Unidos.
B
as civilizações mexica e inca dominarem práticas metalúr- casos excepcionais, não é o suficiente para descrever o
gicas contribuiu para que as minas de ouro e prata fossem processo. Chamaremos, então, o modelo mais comum de
rapidamente identificadas. exploração da mão de obra nativa de servidão indígena.
41
Uma das principais formas de servidão indígena foi a de tributos. Na Espanha, visando controlar as atividades colo-
encomienda, a qual consistia na concessão temporária de niais, havia o Conselho Real e Supremo das Índias, órgão que
ameríndios aos chamados encomenderos, normalmente controlava a administração dos territórios americanos, e as
proprietários de terras que podiam explorar a mão de obra Casas de Contratação, por meio das quais todos os assuntos
em troca da obrigação de promover a catequese. relacionados a impostos e comércio eram controlados. Para
Na região do Vice-Reino do Peru, a exploração da impedir o contrabando, foi estabelecido um sistema de porto
mão de obra indígena foi feita por meio da mita. O sistema único na Espanha para receber as mercadorias coloniais, en-
de mita era parte da tradição incaica, mas foi apropriado quanto, na América, todas as relações comerciais eram feitas
pelos espanhóis a fim de legitimar o trabalho compulsório a partir de um porto em Vera Cruz, no México; um porto em
dos ameríndios com finalidades religiosas (construção de Porto Belo, no Panamá; e, por fim, um porto em Cartagena.
igrejas) e públicas, por um período de 7 anos passíveis As colônias americanas foram submetidas a uma estru-
de renovação em troca de um salário anual irrisório. Uma tura administrativa rígida, composta de quatro Vice-Reinos,
prática semelhante à mita foi reproduzida no México sob criados ao longo da colonização: Nova Espanha (México e
o nome de repartimiento. Durante as lutas por indepen- Califórnia), Nova Granada (Colômbia e Equador), Peru (Peru
dência na América, em 1825, Simon Bolívar aboliu a mita. e Bolívia) e Rio da Prata (Argentina, Uruguai e Paraguai),
locais de maior interesse inicial por parte da Espanha e por
Divisão administrativa quatro capitanias-gerais, que formavam áreas estratégicas:
da América espanhola Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
Enquanto a exploração de ouro e prata destacou as re-
giões do México, do Peru e da Bolívia, outras áreas coloniais
produziam gêneros alimentícios, como o Chile e a América
Central, ou criavam gado, como a Argentina.
Tanto os Vice-Reinos como as capitanias-gerais
subdividiam-se em Audiências, com jurisdição sobre assun-
tos judiciais, religiosos, militares, financeiros e comerciais.
OCEANO
ATLÂNTICO Existiam ainda os cabildos, ou ayuntamientos (câmaras mu-
nicipais), encarregados da administração de vilas e cidades.
A Igreja Católica exerceu um importante papel na Amé-
rica espanhola, pois auxiliava na submissão dos indígenas
0º aos interesses da metrópole. Como vimos, a Igreja Católica
foi parte integrante da “conquista espiritual”, mas durante
a colonização se fez presente ao coibir manifestações cul-
OCEANO turais e religiosas ameríndias ou de matrizes africanas por
PACÍFICO
meio dos Tribunais do Santo Ofício instalados nos Vice-Rei-
nos de Nova Espanha e do Peru.
A sociedade colonial espanhola era rigidamente hie-
rarquizada. O acesso aos principais cargos administrativos
na colônia estavam todos reservados aos chapetones
(espanhóis ou descendentes diretos de espanhóis que
representavam o interesse metropolitano), enquanto os
criollos (denominação atribuída aos colonos que repre-
sentavam os interesses coloniais) não tinham acesso
à administração mesmo sendo, normalmente, grandes
60º O
proprietários de terras e possuindo alto poder aquisitivo.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. REIS, Arthur Cézar F. CARVALHO,
Apenas no século XVIII, quando o domínio espanhol já co-
Carlos Delgado de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: meçava a ser contestado por essa elite colonial, as disputas
FENAME, . (Adapt.) internas permitiram a presença dos criollos nos cabildos.
A produção do açúcar estava dividida em três etapas: essencialmente por trabalhadores livres. Outra importante
agrícola, manufatureira e comercial. Na primeira parte, a atividade era a existência de lavouras de policultura para
produção agrícola, destacava-se uma especificidade do subsistência (arroz, feijão e mandioca).
43
Escravidão Assim, a opção pela exploração da mão de obra negra
de origem africana se deu pelos altos lucros gerados pelo
Mão de obra escravizada tráfico negreiro e pelos interesses metropolitanos adjacentes
negra de origem africana a ele. Não à toa, muitos colonos continuaram escravizando
No que diz respeito ao aumento dos lucros metropolita- indígenas, ainda que ilegalmente, até o século XVIII.
nos, devemos conhecer o peso do tráfico transatlântico de
escravizados como fonte de mão de obra para as colônias Atenção
lusitanas.
Inicialmente, havia sido empregada a exploração com-
pulsória da mão de obra indígena. No entanto, em 1570,
Portugal proibiu a escravização de indígenas (salvo em ca-
sos de “guerra justa”).
Por que Portugal optou pela escravização de negros
de origem africana em detrimento da exploração da mão de
obra indígena?
É necessário tomarmos alguns cuidados ao responder a
essa questão. Afirmar que o indígena não estava adaptado à
escravidão, que era “preguiçoso” ou que não detinha conhe-
cimentos agrícolas é afirmar que o negro havia nascido para a
escravidão, um raciocínio equivocado. Afirmar que os indíge-
nas fugiam com maior facilidade é outro engano, pois omite a
vastidão do território que compõe o Brasil e a pluralidade de
agrupamentos indígenas que havia aqui no século XVI. Essas
justificativas também escondem as tantas formas de resistência Brasil e África
dos negros escravizados. Durante os mais de três séculos de Os dois lados do Atlântico
escravidão, houve revoltas, ataques a senhores, fugas, forma-
A escravidão praticada na Idade Moderna represen-
ção de quilombos e, ainda, o suicídio e a prática do aborto.
tou a maior migração forçada da história. Estima-se que
Outra justificativa comum à nossa indagação está na bula 3646800 pessoas foram trazidas ao Brasil para serem es-
Sublimis Dei, divulgada pelo papa Paulo III em 1546. Nela, cravizadas, representando 38% do tráfico mundial.
os indígenas são caracterizados como gentios (pagãos), ou A história colonial do Brasil é indissociável da história
seja, eram seres humanos que não conheciam a palavra de da África. Por isso, para que possamos compreender a his-
Deus e, portanto, passíveis de conversão. Na prática, isso tória brasileira, é necessário que conheçamos, também, a
significaria o fim da escravização dos indígenas, pois seria do continente africano.
possível catequizá-los na fé católica. Porém, essa resposta
é insuficiente para compreender a razão da escravização Uma breve história da África
dos negros em detrimento da escravização dos indígenas. Para que possamos pensar uma história da África, é preci-
Primeiramente porque, ao recusarem ou oferecerem resis- so reconhecer a África e os africanos como algo extremamente
tência à conversão, os indígenas abandonariam a condição plural. Houve, e ainda há, no continente africano, uma vasta he-
de gentios e passariam a ser vistos pela Igreja Católica como terogeneidade étnica, cultural, religiosa, de idiomas, estruturas
infiéis, sendo, portanto, passíveis de escravização. sociais e políticas e, inclusive, de fenótipos. O território, por sua
Outro aspecto importante é atentar aos esforços sobre vez, também se apresenta de forma diversa. Rodeado pelo
a catequese de negros escravizados, que, inclusive, rece- Mediterrâneo ao norte, pelo Oceano Atlântico ao oeste e
biam nomes cristãos. Ora, se havia tentativa de cristianizar pelo Índico na costa oriental, o continente conta com extensas
os negros de origem africana, por que estes podiam ser áreas desérticas, estepes, savanas e florestas tropicais.
escravizados e os indígenas não? A homogeneização dos diferentes povos africanos foi
A explicação da exploração da mão de obra africana frequentemente utilizada como uma maneira de inferiorizar
parece encontrar-se em outro lugar. Segundo Fernando os que eram considerados diferentes e, assim, legitimar
Novaes, importante historiador brasileiro, é o tráfico tran- processos de dominação.
satlântico de escravizados que explica a escravização dos Portanto, devemos reconhecer que não há uma única
negros, e não o contrário. história da África. Há muitas histórias de muitas Áfricas. Traba-
Ao proibir a escravização indígena no território colo- lhar com a história africana só é possível se feita a partir tanto
nial, Portugal, que já possuía feitorias na costa ocidental da das relações internas quanto da sua interação com outros
África, garantia um mercado consumidor para os traficantes continentes. O que iremos propor aqui é conhecer alguns
lusitanos de escravizados, assim como permitia maior ar- dos principais aspectos do continente até o século XIV.
recadação de tributos sobre essas transações comerciais. É comum associarmos a história do continente africano
Além disso, permitia aos comerciantes que trocassem es- apenas à escravidão moderna ou ao imperialismo do sécu-
cravizados por produtos coloniais, evitando um afluxo de loXIX. No entanto, a África foi palco de fenômenos históricos
riquezas (moeda) da metrópole em direção à Colônia. amplamente conhecidos. Foi no território africano que o ser
45
Sociedade colonial nos (principalmente agrupamentos litorâneos de troncos
derivados do tupi), vivendo entre eles. A aproximação
séculos XVI e XVII cultural era, justamente, para expandir as possibilidades
A sociedade açucareira de conversão.
A sociedade que se desenvolveu ao redor da produ- Para tal, algumas outras táticas foram adotadas. Peças
ção açucareira estava alocada na região rural do litoral teatrais, muitas vezes representadas em idiomas nativos, mistu-
nordestino. ravam elementos locais com narrativas canônicas. A conversão
Diretamente condicionada pelo núcleo fundamental por imposição sincrética se fez bastante comum. Elementos da
colonial, era patriarcal, autoritária e violenta. A sociedade mitologia indígena eram associados a santos católicos.
era hierarquizada, pautada pela contraposição do senhor Os jesuítas organizaram-se nas colônias em missões,
de engenho e dos submetidos à escravidão. um espaço de conversão, produção e reserva de mão de
O senhor de engenho representava um caráter obra produtiva e militar. Nesses espaços eram ensinadas
aristocrático, cujos status e poder relacionavam-se, princi- aos indígenas lições de religião, alfabetização nos moldes
palmente, à posse de terras e de escravizados. portugueses e música. O objetivo dos jesuítas era moldar
Compondo o restante do quadro social, havia uma pe- os indígenas na fé cristã e em valores europeus como dis-
ciplina e trabalho.
quena parcela de trabalhadores livres (capatazes, feitores,
Os jesuítas colaboraram para o processo de coloniza-
técnicos de produção de açúcar, trabalhadores urbanos,
ção, uma vez que muitas das missões tornaram-se vilas e,
médicos, professores e membros do clero); todos, no en-
posteriormente, cidades. Em 1554, eles fundaram o Colé-
tanto, estavam submetidos ao poder dos senhores. Às
gio de São Paulo, que viria a ser a cidade de São Paulo.
mulheres, independentemente de status social, impunha-se
Para os colonos, os jesuítas foram essenciais na formação
uma condição de submissão. Eram subordinadas juridica-
educacional. Diferentemente da América espanhola, onde
mente aos homens e excluídas da política.
existiram universidades desde o século XVI, a América por-
Assim, a possibilidade de mobilidade social era consi-
tuguesa teve por alguns séculos, nos jesuítas, a principal
deravelmente restritiva.
rede educacional da Colônia.
Companhia de Jesus
Administração
Em 1540, em meio ao contexto das reformas religiosas
na Europa, o papa Paulo III reconheceu a congregação na América portuguesa
criada por Inácio de Loyola (1491-1556), a Companhia Capitanias hereditárias
de Jesus. Os jesuítas eram uma ordem religiosa católica Como vimos, povoar os territórios coloniais era uma
que representava uma espécie de reinvenção do espírito importante ferramenta de defesa, já que consolidava a legi-
cruzadista. Organizados em uma rígida hierarquia interna, timidade sobre determinado território. Quando Portugal deu
os jesuítas dedicavam-se à vida prática e espiritual início à montagem do sistema colonial, fazia-se necessário,
pautados na ideia de servidão a Deus e de muita oração, também, povoar e administrar a Colônia.
pois acreditavam que ela seria responsável por toda Mas e o Tratado de Tordesilhas? Ele não era suficiente
transformação possível. para garantir a legitimidade de Portugal sobre o território
Na Europa, os jesuítas foram bastante ativos no sistema do Brasil?
educacional e político, criaram escolas e agiram politica- O tratado foi um acordo pautado na tradição canôni-
mente como ministros, embaixadores etc. A Companhia ca medieval a qual entendia que o papa, representante
de Jesus representou uma ativa obra da Igreja Católica no de Deus na Terra, detém a jurisdição universal sobre as
que diz respeito à expansão da fé cristã. Diante das milhares terras do mundo. No entanto, com a passagem da Idade
de comunidades indígenas nos territórios americanos, os Média para a Idade Moderna, uma série de transformações
jesuítas exerceram um papel fundamental na conversão dos sociais, políticas, econômicas e de mentalidade acontece-
nativos. Como vimos, em 1537 – pouco antes do reconhe- ram. Além dessas, ocorreram importantes mudanças de
cimento do papa sobre a ordem jesuítica –, os indígenas cunho jurídico. A formação de leis seculares se opunha
foram considerados gentios, ou seja, passíveis de conversão. às tradições medievais, muitas vezes consuetudinárias.
Dessa forma, a catequese indígena representava a principal Dessa forma, reinos como a França recusavam-se a aceitar
tarefa dos jesuítas na Colônia. legitimidade sobre territórios que não estivessem efetiva-
O processo de catequese indígena deveria ser dife- mente ocupados.
rente do que fora praticado anteriormente em regiões da A expedição de Martim Afonso de Sousa patrulhou a cos-
África. Dentro das sociedades hierarquizadas, ao converter ta e expulsou, inclusive, franceses do território colonial. Mas
os líderes, o restante da população também acabaria gra- como impedir, a partir de então, novos invasores? Em 1534,
dualmente convertido. Porém, as comunidades indígenas Portugal implementou o sistema de capitanias hereditárias.
no Brasil não reconheciam hierarquias aos moldes pressu- A administração colonial por meio de capitanias não
postos pelos europeus, obrigando, assim, que a catequese era uma novidade para a Coroa portuguesa. Sem dispor
acontecesse de forma individual. dos recursos necessários, Portugal, desde as colônias
Nos primeiros contatos, os jesuítas aprenderam o atlânticas no século XV, já havia instalado esse sistema de
idioma e os aspectos culturais daquelas sociedades colonização delegada a particulares. Sem dispor de capital
Saiba mais
OCEANO
ATLÂNTICO
40º O
O território colonial foi dividido em 15 capitanias, que, por sua vez, foram cedidas a doze capitães donatários. Sendo
a condição de senhor de significativa importância à metrópole, as capitanias foram concedidas a nobres de baixa e média
estirpes, também conhecidos como fidalgos, burocratas e comerciantes de Portugal.
Porém, a necessidade de altos investimentos, somada às hostilidades presentes no território americano (animais,
conflitos com indígenas, constantes invasões estrangeiras e condições sociais e climáticas distintas da metrópole), gerou
uma série de complicações na adoção do modelo no Brasil. Dos doze capitães donatários, seis nunca chegaram a vir ao
Brasil, dois foram mortos por indígenas e outros foram acusados pelos colonos de abusarem do poder imputado a eles.
Diferentemente da experiência nas ilhas atlânticas, o sistema de capitanias hereditárias no Brasil – devido à distância para
com a metrópole – acabou concedendo autonomia em demasia aos donatários.
É comum afirmarmos que, das 15 capitanias, somente duas prosperaram: Pernambuco e São Vicente. Porém, o que
significa “prosperar”? Muitas vezes, associa-se a prosperidade das capitanias apenas à exploração do açúcar. No entanto,
é preciso nos lembrarmos, também, das obrigações que detinham os donatários. Pernambuco e São Vicente prosperaram
FRENTE 1
por causa do plantio de cana-de-açúcar e por terem fundado vilas, doado sesmarias, colaborado no processo de povoa-
mento e proteção, além de terem organizado juridicamente, os territórios. Prosperar, nesse contexto, representa atender
às expectativas da metrópole.
47
Câmaras Municipais processo de colonização. Caberia, a partir de agora, ao
Como vimos anteriormente, a fundação de vilas e ci- governador-geral a concessão de sesmarias.
dades era feita a partir de intenções defensivas. Todavia, Não é necessário que tenhamos conhecimento sobre
o processo de urbanização possuía, ainda, atributos de as especificidades de cada um dos governadores-gerais.
caráter burocrático. No entanto, a fim de melhor compreender a montagem do
Na mesma época da instalação do sistema de ca- sistema colonial, iremos conhecer os três primeiros gover-
pitanias hereditárias, foram estabelecidas as Câmaras nos-gerais no Brasil.
O primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza
Municipais (a primeira, em 1532) como representação do
(1549 -1553), fundou, em 1549, a cidade de Salvador, que
poder local nas vilas. As Câmaras Municipais eram órgãos
se tornou, a partir de então, a sede do Governo-geral e do
administrativos locais que visavam controlar e organizar as
primeiro bispado. Com ele, chegaram mudas de cana-de-
vilas e cidades que se desenvolviam na Colônia.
-açúcar, os primeiros escravizados e os primeiros jesuítas,
As câmaras ficavam nas sedes das principais vilas e
liderados por Manoel da Nóbrega.
eram compostas de três a quatro vereadores, além de um
Duarte da Costa (1553-1558) enfrentou conflitos com
procurador e um juiz (os juízes nomeados pela Coroa eram
franceses, que, em 1555, haviam invadido a região da
denominados juízes de fora). A candidatura e a eleição eram
Baía da Guanabara, formando, ali, uma colônia france-
restritas aos que fossem considerados “homens bons”. Na
sa, a “França Antártica”, governada por NicolasDurandde
prática, a participação política estava restrita aos homens
Villegagnon(1510-1571). A montagem da colônia francesa
brancos, maiores de 21 anos, proprietários de terras e que
visava, essencialmente, à exploração do pau-brasil. Tratava-se
não possuíssem ancestrais que tivessem praticado trabalhos
de uma região delicada, não somente pela presença dos fran-
manuais. Sendo assim, cristãos-novos, mulheres, ameríndios,
ceses em território de domínio português, mas também pelas
pardos e negros eram excluídos da política colonial.
constantes disputas entre populações indígenas nos arredo-
Cabia à câmara e a seus oficiais promover a adminis-
res. No coração da ocupação francesa, encontrava-se o Forte
tração financeira, a limpeza das ruas, o preparo de festas, a Coligny, situado na Ilha de Serijipe (hoje, Ilha de Villegagnon).
realização de obras públicas, julgar alguns crimes comuns A expulsão dos franceses, no entanto, só se concreti-
e, ainda, garantir a manutenção da cadeia. Os vereadores zou no Governo-geral de Mem de Sá (1558-1572). O fim da
também eram os responsáveis pela doação de datas (ter- França Antártica aconteceu mediante um conflito contra os
renos urbanos). franceses e os indígenas tupinambás, aliados dos franceses
na extração de pau-brasil, que formaram a Confederação
Governo-geral
dos Tamoios. Após o conflito, houve uma negociação de
Mediante o fracasso da maior parte das capitanias, a paz entre os portugueses e os indígenas, conseguida pelos
Coroa portuguesa, desejosa de conter os desmandos dos jesuítas em um acordo conhecido como Armistício de Iperoig.
capitães donatários e, assim, reaver o controle sobre a re- Com a morte de Mem de Sá, em 1573, a América por-
gião colonial, instalou o Governo-geral em 1548. Além do
tuguesa foi dividida. Criou-se, então, a Repartição do Norte,
insucesso da primeira tentativa administrativa, a descoberta
com centro administrativo em Salvador, e a Repartição do
da vila rica de Potosí, em 1545, na América espanhola, re-
Sul, com um governo no Rio de Janeiro. Como a divisão
forçou a necessidade da Coroa portuguesa em assegurar
não deu resultados significativos, em 1578, o governo foi
melhor controle sobre a Colônia. Com a descoberta de
novamente unificado, com a sede retornando a Salvador.
grandes jazidas de minérios na região onde hoje é o Peru,
Portugal acreditava ser questão de tempo até que grandes
quantidades de ouro e prata fossem descobertas, também, Formação da União Ibérica
em sua colônia. Sendo assim, fazia-se urgente garantir o Crise sucessória em Portugal
completo domínio sobre a região para evitar prejuízos, em Após a montagem do sistema, como vimos, Portugal
caso de descoberta de minérios no Brasil.
usufruiu da exploração colonial sem grandes percalços,
O Governo-geral consistia em um organismo burocrático
salvo uma ou outra exceção. Contudo, a partir de 1580 até
e centralizador com o intuito de melhor coordenar a admi-
1640, o reino passou por mudanças políticas que afetaram
nistração colonial e, assim, garantir que a Colônia servisse à
diretamente o Brasil. Durante esse período, Portugal este-
metrópole. Importante dizer que o Governo-geral não substi-
ve submetido ao Império Habsburgo, ou seja, ao Império
tuiu o sistema de capitanias hereditárias, mas visava esvaziar
o poder dos capitães donatários. Ao criar cargos, como os de Espanhol. Para que compreendamos como isso aconteceu,
governador-geral, ouvidor-mor (responsável pela justiça), pro- é necessário que conheçamos o fim da Dinastia de Avis.
vedor-mor (responsável pela fiscalização sobre a tributação), Em 1578, D. Sebastião de Avis, rei de Portugal, foi visto
capitão-mor da costa (responsável pela defesa de ataques pela última vez durante a Batalha de Alcácer Quibir, no
estrangeiros) e alcaide-mor (responsável pelo policiamento norte do Marrocos.
interno), os capitães donatários estavam, agora, subordina- D. Sebastião, filho de João Manuel e de Joana da
dos a superiores e, portanto, com menor autonomia. Áustria, perdeu os pais ainda muito cedo. Com uma cria-
O governador-geral, cargo nomeado pelo conselho de ção fortemente religiosa, nunca se casou, vivendo sob um
Estado português, era um servidor da monarquia lusitana. ideal cavaleiresco. Movido pelo “espírito de cruzada”, de
Eleito a cada três anos (podendo ser nomeado sucessiva- combate aos infiéis, organizou uma forte empreitada para
mente), garantia uma participação mais ativa da Coroa no conquistar a região do Marrocos. Nas vizinhanças do Rio
49
Como os conflitos espanhóis eram, também, atrelados os conflitos que envolveram a emancipação da República
aos portugueses, a aliança de Portugal com os comercian- das Províncias Unidas e, posteriormente, a Guerra dos Trinta
tes de Flandres na produção açucareira foi gradualmente Anos, a Espanha proibiu que Portugal, submetido à Coroa
se rompendo. A inserção de Portugal em meio a essa série espanhola, mantivesse suas relações comerciais a região
de conflitos favoreceu as sucessivas invasões estrangeiras dos Países Baixos.
sobre o território colonial do Brasil ao final do século XVI Assim, impedidos de realizar comércio com as colônias
e início do século XVII. portuguesas, os neerlandeses passaram a adotar uma políti-
ca agressiva de guerra no ultramar, visando se apropriar de
Brasil filipino riquezas (escravizados, ouro, açúcar e canela) e territórios
Domínio luso-espanhol coloniais ibéricos na Ásia, África e América.
Durante o período da União Ibérica, a colônia portu- Em 1602, na Holanda, foi criada a Companhia das Ín-
guesa recebeu a visitação do Tribunal do Santo Ofício, o dias Orientais (V.O.C.), uma companhia de comércio – parte
qual se fez presente ao longo de todo o período colonial estatal, parte privada – responsável por conquistar diversas
na América espanhola. feitorias luso-espanholas no Oriente. Vale ressaltar que as
Do ponto de vista administrativo, Portugal e seus terri- companhias de comércio tinham um importante aspecto
tórios coloniais passaram a ser regidos, desde 1603, pelas militar, uma vez que, em diversos casos, o processo de
Ordenações Filipinas, que constituíram um código jurídico, conquista não se dava de forma pacífica.
ou seja, um conjunto de leis que foram vigentes no território Assim, em 1621, os holandeses criaram a Companhia
do Brasil até a criação do Código Criminal, em 1830. das Índias Ocidentais (W.I.C.) com o objetivo de expandir a
Nesse período, ocorreu o início da interiorização da co- atuação holandesa em direção ao Novo Mundo. Estando
lonização, até mesmo em razão da perda de validade do proibido o comércio com a região colonial portuguesa, a
Tratado de Tordesilhas, visto que, com a união das Coroas Companhia da Índias Ocidentais assumiu um caráter es-
de Portugal e Espanha, não era mais necessária a existên- sencialmente militar, praticando sistematicamente ataques
cia de uma divisão entre o domínio colonial espanhol e o e saques na costa do nordeste brasileiro.
português. Em 1619, Belém tornou-se a base da penetração A primeira tentativa de ataque direto aconteceu entre
e exploração da região amazônica. Em 1621, a Colônia foi 1624 e 1625, em Salvador. Além de capital e sede adminis-
novamente dividida em duas partes: o Estado do Grão-Pará trativa da Colônia, Salvador constituía-se no porto por onde
e Maranhão e o Estado do Brasil, com governos indepen- o açúcar brasileiro escoava para a Europa. Conquistá-la equi-
dentes (o território colonial teria dois governos-gerais até as valia não apenas a neutralizar as possibilidades de defesa
reformas pombalinas, no século XVIII). Devido às dificuldades ibérica como também exercer o controle sobre a produção e
no estabelecimento de comunicações internas entre o terri- o comércio do açúcar. O ataque que havia conseguido domi-
tório colonial ao norte e o restante da colônia portuguesa, a nar Salvador em um pouco mais de 24 horas foi frustrado no
criação do Estado do Grão-Pará e Maranhão promovia uma ano seguinte, graças a uma eficaz resistência luso-espanhola.
conexão direta entre a metrópole e a região norte. Dessa A Companhia das Índias Ocidentais voltou a atacar o litoral
forma, buscava-se atenuar os ataques estrangeiros que se da Bahia outras duas vezes, ambas sem sucesso.
acentuaram durante o período da União Ibérica. Sem resultados efetivos na Bahia, em 1630, a Com-
Ao final do século XVI, corsários ingleses – como panhia das Índias Ocidentais invadiu Pernambuco em um
Edward Fenton, em 1583; Robert Withrington, em 1587; e processo que se prolongou ao longo de sete anos. Com o
Thomas Cavendish, em 1591 – atacaram a costa brasileira. desejo de apropriar-se da produção de açúcar, a Companhia
Em 1612, houve uma nova incursão francesa. Após terem das Índias tentava evitar a destruição dos engenhos. Entre
sido expulsos da Baía de Guanabara, em 1567, os france- os colonos, a reação à invasão se deu de forma bastante
ses atacaram a região do Maranhão. Liderados por Daniel heterogênea. Em um primeiro momento, recuaram em dire-
de la Touche, fundaram a cidade de São Luís, tentando ção ao interior, formando núcleos de resistência, enquanto
estabelecer outra colônia nas terras portuguesas, à qual os holandeses se fixaram em Olinda. Símbolo da resistência,
deram o nome de França Equinocial. A reação portuguesa Matias de Albuquerque, junto aos agrupamentos indígenas,
foi intensa, e, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, promoveu diversas guerras de emboscada contra os neerlan-
conseguiram expulsar os franceses em 1615. deses. Alguns senhores de engenho, mediante os ataques,
Porém, o destaque do período das invasões ficou com fugiram para outras regiões da Colônia ou voltaram à Europa;
a ocupação holandesa no nordeste, que perdurou de 1630 outros, posteriormente conhecidos como “colaboracionistas”,
a 1654.
apoiaram a invasão. Domingo Fernandes Calabar, após ter
lutado na resistência, aliou-se aos holandeses, transmitindo
Brasil holandês
informações sobre os núcleos de resistência e liderando
Invasão e ocupação do nordeste brasileiro investidas militares contra os colonos.
Como vimos, a República das Províncias Unidas era Com a concretização da conquista em 1637, a Compa-
formada por Flandres, Zelândia, Utrecht, Antuérpia, Bru- nhia das Índias Ocidentais visava à tomada de toda a empresa
xelas, Gent e Holanda. A Holanda – termo muitas vezes açucareira lusitana, ou seja, não apenas havia dominado o
empregado para fazer referência aos Países Baixos como nordeste brasileiro, do litoral do Maranhão até Sergipe, como
um todo – era a mais poderosa dessas províncias. Durante também promoveu a ocupação de feitorias africanas para
FRENTE 1
Frans Post. Engenho, 1661. Óleo sobre madeira. Coleção particular, Amsterdã. Post seguiu pintando temas brasileiros
mesmo após retornar à Holanda, em 1644.
51
Revisando
1. UPF 2019 No final do século XV, Espanha e Portugal d) havia uma só sociedade indígena vivendo em
foram os primeiros países europeus a promoverem a harmonia, igualitarismo e paz; desconhecia-se a vio-
expansão marítima europeia, chamada também de as lência da guerra, trazida para cá pelos europeus.
Grandes Navegações. As razões desse pioneirismo
estão relacionadas 4. Unesp 2021 O consumo dos alimentos nas propriedades
a) à enorme quantidade de capitais acumulados de monocultura de cana-de-açúcar estava […] baseado
nesses dois países através do renascimento co- no que se podia produzir nas brechas de um grande sis-
mercial no século XIV.
tema subordinado ao mercado externo, resultando em
b) ao processo de fortalecimento da burguesia co-
uma grande quantidade de farinha de mandioca, feijões
mercial que estava ocupando o poder tanto na
de diversos tipos, batata-doce, milho e cará comidos com
Espanha quanto em Portugal.
pouco rigor, além de uma cultura do doce, cristalizada
c) ao desenvolvimento industrial dos dois países,
na mistura das frutas com açúcar refinado e simbolizada,
que os forçou a buscar novos mercados consumi-
popularmente, pela rapadura.
dores e fornecedores de matéria-prima.
(Paula Pinto e Silva. “Sabores da colônia”. In: Luciano Figueiredo (org).
d) ao espírito aventureiro de portugueses e espanhóis História do Brasil para ocupados, 2013.)
desenvolvido durante a Guerra de Reconquista con-
tra os mouros. O texto caracteriza formas de alimentação no Brasil
e) à centralização monárquica e ao fato de a nobreza colonial e revela
desses dois países estar fortalecida, ao contrário a) o esforço metropolitano de diversificar a produ-
de outras nobrezas europeias, conseguindo, as- ção da colônia, com o intuito de ampliar as vendas
sim, financiar o projeto de expansão marítima. de alimentos para outros países europeus.
b) a diferença entre a sofisticação da alimentação
2. UEM 2014 Sobre a expansão marítima e a colonização da população colonial e o restrito conjunto de ali-
europeias nos séculos XV e XVI e seus desdobra- mentos disponíveis na metrópole.
mentos na integração das regiões geográficas e na c) a articulação entre um sistema de produção
economia mundial, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). voltado ao atendimento das necessidades e
Na época das navegações, as monarquias nacio-
interesses da metrópole e as estratégias de
nais adotavam práticas econômicas que buscavam
subsistência.
a acumulação de metais preciosos como medida
d) o interesse dos grandes proprietários de terras na
de riqueza.
As navegações portuguesas dos séculos XIV, XV colônia de produzir para o mercado interno, rejei-
e XVI tiveram como finalidade principal promover tando a submissão ao domínio metropolitano.
a emigração do excedente populacional daquele e) a separação entre as lavouras voltadas ao forne-
país para as colônias do além-mar. cimento de alimentos para os países vizinhos e as
Durante o período colonial, as colônias ibero- plantações destinadas ao consumo interno.
-americanas deveriam realizar comércio apenas
com suas metrópoles. 5. Famerp 2019 O sistema de plantation, predominante
A colonização da América contribuiu para o de- na colonização portuguesa do Brasil, baseou-se na
senvolvimento do comércio entre os continentes a) produção agrícola voltada à subsistência e ao co-
e para a Revolução Industrial. mércio local.
Como resultado da colonização da América, Por- b) exportação dos excedentes agrícolas não consu-
tugal e Espanha se transformaram em potências midos internamente.
econômicas e importantes polos da Revolução
c) aplicação de moderna tecnologia europeia à agri-
Industrial.
cultura.
Soma: d) rotação de culturas em pequenas propriedades
rurais.
3. Uece 2019 Antes da chegada dos portugueses às ter-
e) monocultura extensiva com emprego de trabalho
ras americanas,
compulsório.
a) havia dois grupos étnicos habitando a região hoje
chamada Brasil: os Tupis e os Tapuias.
b) falavam-se alguns poucos dialetos, variantes de uma 6. UFSC 2016 Sobre os povos africanos, é CORRETO
mesma língua geral, o Nheengatu, apesar de existir afirmar que:
um grande número de grupos indígenas. a partir do século XV, diversos povos africanos, ao
c) uma variedade de comunidades nativas, etnica- serem desenraizados e transplantados para dife-
mente diferentes, espalhava-se pelo território da rentes regiões, foram vítimas da maior migração
futura América portuguesa. forçada da história da humanidade.
implicou para os índios a modificação de hábitos, Coroa Espanhola, sobretudo na Índia, razão pela
crenças religiosas, sistema de trabalho e organi- qual se denominou a possessão como Ilha Espa-
zação habitacional. nhola e seus habitantes, índios.
53
10. UFU 2012 Considere a tela e o trecho que se seguem. A pintura captura os dois elementos centrais do mito
de Colombo: o uso brilhante da tecnologia de seu
tempo e, sobretudo, a genialidade de sua visão.
Os contextos mais amplos das atividades dos conquis-
tadores foram sobrepujados por uma visão personalista da
Conquista, visão que confere primazia de causa e expli-
cação a um punhado de homens excepcionais. O nosso
Colombo é um homem não do século XV, mas do XIX – com
tintas do século XX.
RESTALL, Matthew. Sete Mitos da Conquista Espanhola. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2006. p. 25-63. (Trecho adaptado).
Exercícios propostos
1. Uece 2020 Atente para as seguintes afirmações a A representação cartográca de Battista Agnese
respeito do Tratado de Tordesilhas, assinado em de
junho de :
I. Seu objetivo foi demarcar os direitos de explora-
ção dos países ibéricos, tendo como elemento
propulsor o desenvolvimento da expansão co-
mercial marítima.
II. Estabelecendo uma linha demarcatória de 370
léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, o acor-
do atribuía a Portugal e Espanha não apenas as
terras já descobertas, mas também as por se des-
cobrirem.
III. Como se tratava da criação de um sistema de
monopólio, impunha uma reserva de mercado
metropolitano que atingia todas as riquezas co-
loniais.
Battista Agnese, Atlas Portulano, 1545. Biblioteca Digital Mundial. Disponível
É correto o que se arma somente em em https://www.wdl.org/pt/.
a) III.
b) I e III.
c) II. a) revelava a permanência das técnicas e sentidos
d) I e II. simbólicos da cosmografia medieval, que orien-
taram os navegadores ibéricos na época da
2. Fuvest 2020 A representação cartográfica a seguir expansão ultramarina.
refere-se à viagem de circunavegação, iniciada em b) estava vinculada aos dogmas cristãos e procu-
Sanlúcar de Barrameda, na Andaluzia, em de se- rava conciliar o registro da viagem de Fernão de
tembro de , e comandada pelo português Fernão Magalhães com a perspectiva de Terra Plana ain-
de Magalhães, a serviço da monarquia da Espanha. da presente entre letrados cristãos.
A despeito da repercussão da viagem para o de- c) estava baseada nos relatos dos navegadores,
senvolvimento dos conhecimentos náuticos e para a no acúmulo de conhecimentos acerca das rotas
exploração do Oceano Pacífico, Battista Agnese foi marítimas e em estimativas de distâncias a par-
um dos poucos cartógrafos a registrar a empreitada tir de cálculos matemáticos e da planificação do
de Magalhães. globo terrestre.
a) a Igreja católica defendeu a prática do extrativismo com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como
durante o processo de conquista e colonização se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. Outro viu
do Brasil. umas contas de rosário, brancas, e acenava para a terra e
55
novamente para as contas e para o colar do Capitão, como Esse quadro foi alterado com a chegada dos eu-
se dissesse que dariam ouro por aquilo. Isto nós tomáva- ropeus, que passaram a incentivar os conflitos
mos nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele interétnicos para estabelecer o domínio colonial.
queria dizer que levaria as contas e o colar, isto nós não
queríamos entender, porque não havíamos de dar-lhe!”
8. FGV-RJ 2020 De maneira geral, a conquista progrediu
(Adaptado de Leonardo Arroyo, A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo:
Melhoramentos; Rio de Janeiro: INL, 1971, p. 72-74.) com mais rapidez e mostrou-se mais eficiente contra
os Estados indígenas organizados, uma vez que estes
Esse trecho da carta de Caminha nos permite concluir se renderam aos espanhóis como entidades unificadas.
que o contato entre as culturas indígena e europeia foi Quando caía uma capital urbana, todo o território impe-
a) favorecido pelo interesse que ambas as partes rial perdia muito do seu poder de resistência.
demonstravam em realizar transações comerciais: (Charles Gibson. “As sociedades indígenas sob domínio espanhol”. In: Leslie
os indígenas se integrariam ao sistema de colo- Bethell (org.). História da América Latina, vol. II, 1999.)
nização, abastecendo as feitorias, voltadas ao O texto alude a um aspecto da conquista espanhola
comércio do pau-brasil, e se miscigenando com
dos povos ameríndios, no século XVI, que
os colonizadores.
a) substituiu, em povos tradicionalmente domina-
b) guiado pelo interesse dos descobridores em
dos, a escravidão pelo trabalho assalariado.
explorar a nova terra, principalmente por meio
b) encontrou nas populações litorâneas da América
da extração de riquezas, interesse que se co-
grandes acúmulos de metais preciosos.
locava acima da compreensão da cultura dos
c) contou com o apoio dos líderes religiosos nativos
indígenas, que seria quase dizimada junto com
convertidos ao monoteísmo cristão.
essa população.
d) subjugou de forma pacífica antigas instituições
c) facilitado pela docilidade dos indígenas, que se
imperiais em plena decadência política.
associaram aos descobridores na exploração da
e) usufruiu de uma estrutura hierárquica de domina-
nova terra, viabilizando um sistema colonial cuja
ção política nativa previamente instalada.
base era a escravização dos povos nativos, o que
levaria à destruição da sua cultura.
d) marcado pela necessidade dos colonizadores 9. Fac. Albert Einstein 2019 Mil anos antes da “desco-
de obterem matéria-prima para suas indústrias e berta” do Brasil pelos europeus, um grande movimento
ampliarem o mercado consumidor para sua pro- de migração parece ter se iniciado no sul da floresta
dução industrial, o que levou à busca por colônias amazônica. Os povos que se moviam falavam línguas
e à integração cultural das populações nativas. aparentadas, de uma grande família de línguas que deno-
minamos tupi-guarani. Praticavam a coivara e eram bons
caçadores e pescadores.
7. Unicamp 2020 Na América Portuguesa do século XVI,
(Norberto Luiz Guarinello. Os primeiros habitantes do Brasil, 2009.
a política europeia para os indígenas pressupunha tam- Adaptado.)
bém a existência de uma política indígena frente aos
europeus, já que os Tamoios e os Tupiniquins tinham A partir do texto e de seus conhecimentos, pode-se
seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou armar que os referidos povos
aos portugueses. a) limitavam-se ao extrativismo e alimentavam-se
(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história principalmente de moluscos, daí serem também
indígena. São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.) chamados de povos dos sambaquis.
Com base no excerto e nos seus conhecimentos so- b) eram pacíficos e estabeleceram relações amisto-
bre os primeiros contatos entre europeus e indígenas sas com outros grupos nativos e, posteriormente,
no Brasil, assinale a alternativa correta. com os colonizadores portugueses.
a) A população ameríndia era heterogênea e os c) eram originários da Ilha de Marajó e dominavam a
conflitos entre diferentes grupos étnicos ajuda- cerâmica, o que permitia a conservação de manti-
ram a definir, de acordo com suas próprias lógicas mentos e a produção de urnas funerárias.
e interesses, a dinâmica dos seus contatos com d) foram dizimados por grupos indígenas proceden-
os europeus. tes do litoral pacífico do continente, daí sua cultura
b) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos alia- ter sido extinta antes da conquista portuguesa.
dos contribuiu para neutralizar as disputas entre e) praticavam a agricultura e tinham bom domínio da
franceses e portugueses pelo controle do Brasil, navegação, o que contribuiu para sua expansão
pelo papel mediador que os nativos exerciam. pelas terras posteriormente chamadas de Brasil.
c) Os indígenas, agentes de sua história, desde
cedo souberam explorar as rivalidades entre os 10. Enem 2018 O encontro entre o Velho e o Novo Mundo,
europeus e mantê-los afastados dos seus confli- que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um
tos interétnicos, anulando o impacto da presença tipo muito particular: é uma guerra – ou a Conquista –,
portuguesa. como se dizia então. E um mistério continua: o resultado
d) As etnias indígenas viviam em harmonia umas do combate. Por que a vitória fulgurante, se os habi-
com as outras e em equilíbrio com a natureza. tantes da América eram tão superiores em número aos
57
b) os portugueses não encontraram nenhuma re- 17. UFU 2012 A pintura e a escrita em latim eram prá-
sistência das populações nativas, as quais foram ticas das elites artísticas e intelectuais indígenas no
rapidamente civilizadas pela prática do escambo. processo de conquista e colonização da América.
c) sob a influência das ideias de Rousseau, os co- O estudo de tais práticas permite, assim, analisar
lonos portugueses respeitaram o modo de vida aspectos da participação dessas elites naquele pe-
das várias sociedades nativas e promoveram uma ríodo histórico.
ocupação pacífica do Brasil.
d) uma das principais facilidades encontradas pelos
portugueses na ocupação do território brasileiro foi a
unidade linguística e cultural das populações nativas.
e) a presença portuguesa no Brasil não provocou
alterações na diversidade e na demografia das
populações nativas.
Texto 1
16. UFRGS 2020 (Adapt.) A respeito da expansão eu-
Na metade do século XVI, um pintor nativo mexica-
ropeia, da conquista e da ocupação da América
no, batizado Juan Gerson, criou um extraordinário ciclo
Espanhola, considere as afirmações a seguir)
de pinturas para a igreja franciscana de Tecamachalco,
I. A encomienda era um sistema no qual indígenas
no atual estado de Puebla. O ciclo representa os eventos
deveriam fornecer mão de obra e pagar tributos a
bíblicos do Apocalipse, no formato oval, pintados em
colonos espanhóis)
papel amate, tradicionalmente usado pelos mexicas.
II. A conquista foi pacífica em relação aos Estados
PERRY, Richard. Mexico’s fortress monasteries. Espadana, 1993. Trecho
indígenas organizados, elemento que facilitou a disponível em: <http://www.colonial-mexico.com/PueblaTlaxcala/apocalypse.
rendição dessas populações) html, com acesso em 05/07/2012>. Acesso em: 3 jul, 2012. (adaptado)
59
22. Unesp 2020 Para responder à questão a seguir, leia o 23. ESPM 2019 A primeira vez que se mencionou o açúcar
trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei e a intenção de implantar uma produção desse gênero no
D. João IV em de abril de . Brasil foi em 1516, quando o rei D. Manuel ordenou que
No fim da carta de que 1V. M. me fez mercê me man- se distribuíssem machados, enxadas e demais ferramentas
da V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver às pessoas que fossem povoar o Brasil e que se procuras-
se um homem prático e capaz de ali dar princípio a um
neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.
engenho de açúcar. Os primeiros engenhos começaram a
Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje
funcionar em Pernambuco no ano de 1535, sob a direção
as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente
de Duarte Coelho. A partir daí os registros não parariam
o que me parece.
de crescer: quatro estabelecimentos em 1550; trinta em
Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que
1570, e 140 no fim do século XVI. A produção de cana
mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um.
alastrava-se não só numericamente como espacialmente,
Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o
chegando à Paraíba, ao Rio Grande do Norte, à Bahia e
provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe
até mesmo ao Pará. Mas foi em Pernambuco e na Bahia,
descontentavam: um porque nada tinha, outro porque
sobretudo na região do recôncavo baiano, que a econo-
nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que
mia açucareira de fato prosperou. Tiveram início, então,
se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada,
os anos dourados do Brasil da cana, a produção alcan-
Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é çando 350 mil arrobas no final do século XVI.
maior tentação, se a _____1_____, se a _____2_____. Tudo (Lilia M. Schwarcz. Brasil: uma Biografia)
quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale
10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar A partir do texto e considerando a economia açucarei-
Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, ra e a civilização do açúcar, é correto assinalar:
segundo se lhe vão logrando bem as indústrias. a) a cana-de-açúcar era um produto autóctone, ou
Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, seja, nativo do Brasil e gradativamente foi caindo
aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem no gosto dos portugueses e dos europeus, a par-
liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder tir do século XVI.
servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos b) a produção e comercialização do açúcar ocorre-
índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os ram sob a influência do livre-cambismo em que se
portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania baseou o empreendimento colonial português.
destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das c) a metrópole estabeleceu o monopólio real, porém
Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove a comercialização do açúcar passou para os porões
filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, dos navios holandeses, que acabaram por assumir
de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte parte substancial do tráfego entre Brasil e Europa.
de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os d) os portugueses mantiveram um rigoroso mono-
por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem pólio sobre o processo de produção e refinação
ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que do açúcar, só permitindo a participação de estran-
me os leve também.” geiros na comercialização do produto.
São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente e) para implantação da indústria canavieira no Bra-
das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se sil, o projeto colonizador luso precisava contar
algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos com mão de obra compulsória e abundante,
poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade dada a extensão do território e por isso sempre
deverá mandar acudir. privilegiou a utilização dos nativos, cuja captura
Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, proporcionava grandes lucros para a coroa.
se serve quem ali governa como se foram seus escravos,
e os traz quase todos ocupados em seus interesses, prin-
24. ESPM-RJ 2016 Quem vir na escuridade da noite aque-
cipalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a
las fornalhas tremendas perpetuamente ardentes, o ruído
manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião
das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma
deste serviço se cometem.
noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mes-
(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)
1V. M.: Vossa Majestade. mo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso;
quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e es-
Em um estudo publicado em , o historiador Gus- trondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda
tavo Acioli Lopes vale-se, no quadro da economia que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança
colonial, da expressão “primo pobre” para se referir de inferno.
ao produto derivado das lavouras mencionadas por (Padre Antonio Vieira. Citado por Lilia Schwarcz
e Heloisa Starling in Brasil uma Biografia)
Antônio Vieira em sua carta.
No contexto histórico em que foi escrita a carta, o “pri- A leitura do trecho deve ser relacionada com:
mo rico” seria a) o trabalho indígena na extração do pau-brasil.
a) o açúcar. d) o ouro. b) o trabalho indígena na lavoura da cana-de-açúcar.
b) o pau-brasil. e) o algodão. c) o trabalho de escravos negros africanos no enge-
c) o café. nho de cana-de-açúcar.
tem muito mais relação com o antigo Daomé, hoje Benin, da constituição de um ideário predominantemente
na Costa da Mina. Isso formava um todo, muito mais do clássico, que rompeu com as tradições medievais
que o Brasil ou a América portuguesa. [...] de governo.
61
O reino de Portugal, do ponto de vista econômico, A partir da descrição do reino do Congo, é correto
estava amplamente ligado ao comércio atlântico, armar que, nesse reino,
tendo como uma das principais fontes de renda as a) toda a organização administrativa estava voltada
receitas obtidas pelo tráco ultramarino. para a acumulação de riquezas nas mãos do so-
A Igreja Católica, marcada pela dependência em berano, que as redistribuía entre as aldeias mais
relação à Coroa por meio do padroado régio, desem- leais e com maior potencialidade econômica.
penhou um importante papel unicador do Império b) o político e o sobrenatural estavam intimamente re-
ao longo da expansão territorial portuguesa. lacionados, além das semelhanças entre uma corte
A sequência correta de preenchimento dos parênte- europeia e uma de um reino na África, porque am-
ses, de cima para baixo, é bas eram caracterizadas por hierarquias rígidas.
a) V – V – F – V. c) a ordem política derivava de uma economia vol-
b) V – F – V – F. tada para a produção baseada no uso da mão
c) F – V – F – V. de obra compulsória, por isso o soberano era o
d) F – V – V – F. maior beneficiado com a captura de homens para
e) F – F – V – V. serem escravizados.
d) a fragmentação do poder entre os chefes das al-
28. Uece 2019 A parte da África localizada ao sul do deias e os conselheiros do soberano permitiu a
equador foi habitada por povos cuja língua falada per- consolidação de uma prática política pouco usual
tencia a um tronco linguístico com dezenas de famílias na África, na qual as decisões eram tomadas pe-
e cerca de línguas, as quais atualmente são fa- los moradores do reino.
ladas por aproximadamente milhões de pessoas e) a prevalência da condição tribal favoreceu sua
dominação por outros povos africanos, mas
em territórios como o Congo, Angola e Moçambique.
especialmente pelos comerciantes europeus, in-
Por extensão, os povos que falam essas línguas são
teressados na exploração de metais amoedáveis.
chamados de
a) mbanza longos.
b) malineses. 30. FGV-SP 2016 “Em muitos reinos sudaneses, sobretudo
c) bantos. entre os reis e as elites, o islamismo foi bem recebido e
d) congolezes. conseguiu vários adeptos, tendo chegado à região da sa-
vana africana, provavelmente, antes do século XI, trazido
pela família árabe-berbere dos Kunta.
29. FGV-SP 2017 [Desde o início do século XIV], no reino (...) O islamismo possuía alguns preceitos atraentes e
do Congo (...) moravam povos agricultores que, quando aceitáveis pelas concepções religiosas africanas, (...) as-
convocados pelo mani Congo, partiam em sua defesa sociava as histórias sagradas às genealogias, acreditava na
contra inimigos de fora ou para controlar rebeliões revelação divina, na existência de um criador e no destino.
de aldeias que queriam se desligar do reino. Aldeias (...) O escritor árabe Ibn Batuta relatou, no século XIV,
(lubatas) e cidades (banzas) pagavam tributos ao mani que o rei do Mali, numa manhã, comemorou a data islâ-
Congo, geralmente com o que produziam: alimentos, mica do fim do Ramadã e, à tarde, presenciou um ritual
tecidos de ráfia vindos do nordeste, sal vindo da cos- da religião tradicional realizado por trovadores com más-
ta, cobre vindo do sudeste e zimbos (pequenos búzios caras de aves.”
afunilados colhidos na região de Luanda que serviam (Regiane Augusto de Mattos, História e
de moeda). (...) o mani Congo, cercado de seus conse- cultura afro-brasileira. 2011)
lheiros, controlava o comércio, o trânsito de pessoas,
Considerando o trecho e os conhecimentos sobre a
recebia os impostos, exercia a justiça, buscava garantir
história da África, é correto armar que
a harmonia da vida do reino e das pessoas que viviam
a) a penetração do islamismo nas regiões subsaaria-
nele. Os limites do reino eram traçados pelo conjun-
nas mostrou-se superficial porque atingiu poucos
to de aldeias que pagavam tributos ao poder central,
setores sociais, especialmente aqueles voltados
devendo fidelidade a ele e recebendo proteção, tanto
para os assuntos deste mundo como para os assuntos
aos negócios comerciais, além de sofrer forte
do além, pois o mani Congo também era responsável concorrência do cristianismo.
pelas boas relações com os espíritos e os ancestrais. b) a presença do islamismo no continente africano
(...) O mani Congo vivia em construções que se derivou da impossibilidade dos árabes em ocupar
destacavam das outras pelo tamanho, pelos muros que regiões na Península Ibérica, o que os levou à in-
a cercavam, pelo labirinto de passagens que levavam vasão de territórios subsaarianos, onde ocorreu
de um edifício a outro e pelos aposentos reais que fi- violenta imposição religiosa.
cavam no centro desse conjunto e eram decorados de c) o desprezo das sociedades africanas pela
tapetes e tecidos de ráfia. Ali o mani vivia com suas tradição árabe gerou transações comerciais mar-
mulheres, filhos, parentes, conselheiros, escravos, e só cadas pela desconfiança recíproca, desprezo
recebia os que tivessem nobreza suficiente para gozar mudado, posteriormente, com o abandono das
desse privilégio. religiões primitivas da África e com a hegemonia
Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano, 2006. do islamismo.
63
Os forais estabeleciam os direitos e os deveres Os primeiros trabalhadores europeus assalariados
dos donatários em relação à exploração da terra, livres chegaram ao Brasil somente no século XVIII,
que recebiam não como proprietários, mas como para trabalhar nas fazendas de café de São Paulo e
administradores. de criação de gado em Minas Gerais. Esse fato deu
As capitanias hereditárias que mais prosperaram origem à expressão “política do café com leite”.
foram a de Santana, localizada ao sul do território A administração pública das vilas estava a cargo
brasileiro, e a do Maranhão, situada na parte se- das câmaras municipais, também chamadas de
tentrional da colônia. Senado da Câmara, órgãos formados por verea-
O sistema de capitanias hereditárias foi adotado dores eleitos pelos chamados “homens bons”.
primeiramente na América Portuguesa e só de- No século XVIII, além da produção açucareira,
pois implantado por Portugal em suas colônias principalmente no Nordeste, e da mineração,
das ilhas do Atlântico. principalmente na região central do atual território
Soma: brasileiro, desenvolviam-se também a pecuária,
a produção de gêneros de subsistência e outras
35. UEPG 2016 As capitanias hereditárias foram instala- atividades econômicas.
das no Brasil em . Lotes que mediam entre e Soma:
quilômetros de terras e que iam do litoral brasi-
leiro até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, 37. UEPG 2017 A partir da chegada dos portugueses, em
as capitanias corresponderam às primeiras divisões , teve início o período de colonização do Brasil.
administrativas na colônia e marcaram o modelo de Ao longo do século XVI, ocorreu o processo de forma-
colonização lusitano ao longo do século XVI. A respei- ção de uma sociedade e de um modelo econômico
to desse tema, assinale o que for correto. bastante característicos e que acabou por lançar as
O donatário, ou seja, aquele que recebia a pos- bases do que viria ser a realidade socioeconômica
se da terra das mãos do rei de Portugal, tinha a brasileira após a independência, em . A respeito
obrigação de torná-la produtiva. Cabia ao dona- do primeiro século colonial, assinale o que for correto.
tário a doação de terras (sesmarias), a fundação A senzala era a principal construção dos enge-
de vilas e a organização da defesa territorial da nhos do século XVI. Ela abrigava o proprietário da
capitania. terra, sua família, seus agregados e empregados
O meridiano de Tordesilhas, linha imaginária que mais importantes. Era o centro administrativo e
cortava a América de norte a sul, tinha como fun- social do latifúndio.
ção delimitar os espaços continentais vinculados Um dos principais traços da sociedade colonial do
à colonização ibérica, inglesa e francesa sobre século XVI foi a segregação étnica. Ao contrário da
esse território. miscigenação que ocorreu a partir do século XIX,
Cartas de doação eram os documentos cartográ- nesse primeiro momento praticamente não houve
ficos que indicavam o tamanho e os limites das mistura racial entre brancos, negros e índios.
capitanias de acordo com a concessão real aos A alta lucratividade propiciada pela comercializa-
donatários. ção de escravos africanos trazidos para o Brasil
Qualquer súdito português que demonstrasse in- potencializou a atividade do tráfico negreiro já no
teresse em vir para a colônia poderia receber a século XVI.
concessão de uma capitania. Isso explica o fato A mobilidade social era praticamente nula. A pos-
de fidalgos, pequenos comerciantes e até mes- se do latifúndio tornava o seu proprietário detentor
mo trabalhadores despossuídos terem se tornado absoluto de poder, levando ao clientelismo e a hie-
donatários no Brasil do século XVI. rarquização acentuada da sociedade.
Soma: Do ponto de vista religioso, apesar do predomí-
nio católico, a sociedade colonial do século XVI
36. UEM 2019 Sobre o período de domínio português foi marcada pela forte presença de grupos liga-
nos territórios da América, os quais viriam a se consti- dos às religiões protestantes como o calvinismo
tuir no Brasil, assinale o que for correto. e o luteranismo.
A sociedade que se desenvolveu no litoral do Soma:
atual Nordeste brasileiro tinha características
aristocráticas; era dominada por um grupo de pro- 38. Uece 2017 Leia atentamente os excertos a seguir:
prietários rurais e patriarcais, centrado no poder
do chefe de família, o patriarca. “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de en-
genho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer,
Entre as várias rebeliões e revoltas que ocorreram
conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente.
naquele período, a Inconfidência Mineira (1789)
E do modo com que se há com eles, depende tê-los bons
foi a mais radical. Seu programa de governo pre- ou maus para o serviço”;
gava a instalação de uma monarquia brasileira e a André João Antonil. Cultura e Opulência do Brasil
imediata abolição da escravidão. por suas drogas e minas. Belo Horizonte. Itatiaia, 1982. p. 89.
familiar, onde os problemas econômico-sociais os interesses holandeses no Brasil, uma vez que
eram resolvidos pelos pais e pelos filhos com ida- participavam do comércio de produtos tropicais
de acima de 18 anos. nacionais, principalmente do pau-brasil.
65
c) sofria, na época, perseguições religiosas na Europa e retaliações dos católicos residentes em seu país, por isso,
seu desejo foi montar uma colônia protestante no Brasil.
d) ocupou o nordeste brasileiro para evitar a criação de bases e feitorias espanholas, visando quebrar o mono-
pólio da rota da prata advinda das demais colônias e também minar o prestígio internacional ibérico.
e) apoderou-se do nordeste brasileiro e retomou o controle da lucrativa operação de transporte, refino e distribui-
ção comercial do açúcar brasileiro, perdido a partir da União Ibérica.
44. UCS 2014 Durante a União Ibérica (-), iniciou-se a ocupação do território que hoje denominamos de Ama-
zônia. Considere as seguintes afirmativas sobre a ocupação desse território)
I. A ocupação portuguesa foi empreendida de duas maneiras: a primeira com a instalação de fortalezas militares na
beira dos rios para controlar a navegação (única via de comunicação) e os navios de outros países europeus; a
segunda, através de várias ordens de padres católicos que instalaram missões para a evangelização dos índios)
II. O Forte do Presépio, instalado em 1616, deu origem à cidade de Belém; do Forte de São José do Rio Negro,
fundado em 1669, nasceu Manaus)
III. Os índios, nas Missões, cultivavam a terra e entravam na floresta para colher as drogas do sertão, tais como: a
baunilha, o cacau, o guaraná e a castanha-do-pará. Porém, as Missões transformaram-se em empreendimentos
pouco lucrativos, uma vez que os índios não gostavam de trabalhar.
Das armativas acima, pode-se dizer que
a) apenas I está correta. d) apenas II e III estão corretas.
b) apenas II está correta. e) I, II e III estão corretas.
c) apenas I e II estão corretas.
45. UEM 2015 Em , Felipe II da Espanha assumiu o trono de Portugal. A partir de então, e até , os reis da Espa-
nha eram, também, reis de Portugal. Este período da história dos dois países é conhecido como o da União Ibérica.
A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
Com a União Ibérica, ocorreu uma fusão econômica e administrativa, pois tanto o reino de Portugal quanto suas
colônias passaram a ser administrados diretamente pela nobreza da Espanha.
O império espanhol, sob o reinado de Felipe II, congregava a Península Ibérica, os Países Baixos e outras posses-
sões na Europa. Suas possessões na América incluíam o México, ao norte, e, ao sul, os atuais territórios do Brasil,
do Chile e da Argentina, além de possessões na África e na Ásia.
Inimigos dos espanhóis durante a União Ibérica, os ingleses percorreram, com seus navios, a costa brasileira pilhan-
do navios carregados de açúcar.
A grande extensão territorial, a distância entre as possessões e os ataques de outros povos foram minando o
império espanhol. A porção portuguesa desse império sofreu perdas territoriais até 1640, quando ocorreu a res-
tauração dos Bragança ao trono português.
O Tratado de Methuen, de 1703, firmado entre Portugal, Inglaterra e Espanha, marcou o reconhecimento efetivo, por
parte da Espanha, da independência portuguesa e ao mesmo tempo deu início à influência inglesa sobre Portugal.
Soma:
66 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais
46. Uece 2018 Sobre a presença de europeus, durante os séculos XVI, XVII e XVIII, no território que hoje pertence ao
Brasil, é correto afirmar que
a) se restringiu aos portugueses que, desde o Tratado de Tordesilhas, eram os únicos com direito sobre esta terra
plenamente reconhecido pelas demais nações europeias.
b) diferentemente de outras regiões da América, nenhuma das cidades do Brasil sofreu ataques de piratas ou cor-
sários de origem europeia.
c) devido ao Tratado de Tordesilhas, apenas portugueses e espanhóis estiveram pelas terras brasileiras durante os
séculos de nossa colonização.
d) além dos portugueses, em diversas regiões do atual território brasileiro, nos primeiros séculos da colônia, houve
presenças de espanhóis, franceses e holandeses.
47. Uece 2018 O governo de Felipe I à frente do reino português (-) marcou o início da União Ibérica,
período em que os dois reinos ibéricos foram governados pelo mesmo soberano, após a guerra de sucessão
portuguesa. Este mesmo monarca, chamado Felipe II, na Espanha, originou a dinastia filipina.
Em relação ao Brasil, a chegada do rei espanhol ao trono português teve como consequência
a) a elevação do Brasil a vice-reino, tal qual os demais vice-reinos que a coroa espanhola possuía na América.
b) a ocupação do litoral brasileiro da região Sudeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo, por espanhóis.
c) a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido à Portugal e à Espanha, o que apressou a independência da
colônia.
d) a ocupação do litoral nordeste do Brasil pelos holandeses, que pretendiam retomar o comércio do açúcar.
48. Uece 2017 Atente ao seguinte enunciado: “Em seu governo, Maurício de Nassau incentivou a produção de açúcar,
que havia decaído durante a conquista, com a concessão de financiamentos; também estimulou a agricultura de
subsistência, sobretudo da mandioca, para que não faltassem alimentos aos mais pobres. Homem culto e amante
das artes, seu governo foi um período de tolerância religiosa entre católicos e protestantes. Seu retorno à Europa e
sua substituição por um ‘triunvirato’ – que alterou suas práticas administrativas – fez surgir reações e insurreições por
parte dos senhores de engenho”.
O enunciado se refere ao período histórico marcado
a) pela implantação do Governo-Geral, em 1548, como forma de resolver o fracasso administrativo das Capitanias
Hereditárias e garantir a posse e a pacificação da Colônia.
b) pelo domínio francês no Maranhão, no qual o governo do Conde Nassau trouxe grandes avanços à cultura cana-
vieira daquela região e o desenvolvimento da cidade de São Luís.
c) pelo domínio francês no Rio de Janeiro, que teve na figura de Maurício de Nassau seu grande nome, responsável
por desenvolver a economia e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
d) pelo domínio holandês no Nordeste do Brasil, que se estendeu desde a Bahia até o Maranhão e que teve na
administração de Nassau seu período de maior desenvolvimento.
49. UPF 2017 “As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito político-militar da Colônia brasi-
leira. Embora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples episódio regional. Ao contrário, fizeram parte
do quadro das relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do açúcar e das
fontes de suprimento de escravos”
(Boris Fausto, História do Brasil, 1996, p. 84)
e) as Batalhas de Guararapes (1648 e 1649) marcaram a tomada de Recife pelo exército luso-brasileiro, formado
majoritariamente por índios tapuias que, com sua técnica de guerra avançada, foram decisivos para a derrota
dos holandeses.
67
50. FGV-RJ Frans Post chegou ao Brasil em e integrou o grupo de artistas ligados à administração holandesa sob
o comando de Maurício de Nassau. Paisagens, cenas cotidianas e personagens foram os temas principais represen-
tados por Post durante os anos vividos no Brasil. Observe atentamente a imagem abaixo, de sua autoria, e depois
responda às questões propostas.
a) Identifique na pintura: a instalação representada; a força motriz utilizada; a mão de obra predominante e o produ-
to processado.
b) Depois de estabelecidos em Pernambuco, os holandeses conquistaram Angola. Qual era a articulação entre
essas duas regiões?
Texto complementar
Livros Podcast
CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. História Pirata # – Os povos indígenas e o Brasil colonial,
São Paulo: Companhia das Letras, . com José Inaldo Chaves.
O livro reúne mais de 100 artigos de pesquisadores sobre O programa debate questões diversas sobre a história e
a história dos povos indígenas do Brasil. a historiografia dos povos indígenas do Brasil.
FAUSTO, Carlos.Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Vídeo
Zahar, . Colonização e formação do Brasil l Fernando Novais. Café
O livro aborda, por meio de problemáticas diversas, a his- Filosófico CPFL. Disponível em: www.youtube.com/watch?
tória dos povos nativos do território que viria a ser o Brasil. v=DfeNoGm_d. Acesso em: jul. .
Aula com Fernando Novais, professor Emérito da Univer-
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Con-
sidade de São Paulo, sobre o Brasil Colônia e a formação
texto, .
do Brasil como nação.
A obra apresenta uma visão panorâmica da história do
continente africano e sua diversidade.
Exercícios complementares
1. Unicamp 2020 O escritor Fernão Mendes Pinto não foi o único a criticar a construção de um império que ia da Índia ao Amazo-
nas. Outros – entre os quais se destacam Gil Vicente e Camões – registraram que o reverso da medalha do papel de civilizadores
e missionários assumido pelos portugueses era a brutalidade, a covardia, a avareza, a crueldade, a pilhagem e o desprezo pelas
sensibilidades, costumes, crenças e propriedades dos locais. A prosa e a poesia do século XVI exprimiram o receio de que o preço
a pagar por tal aventureirismo poderia ser a degenerescência moral e o declínio das virtudes cívicas em Portugal.
(Adaptado de A. J. R. Russel-Wood, Reviewed work: The Travels of Fernão Mendes Pinto by Fernão Mendes Pinto, Revecca D. Catz. The International History
Review, p. 568-572, ago. 1990.)
a) Explique as críticas de Gil Vicente e Camões à construção do Império português da Época Moderna.
b) Cite e explique uma forma de resistência à presença dos portugueses no Ultramar.
2. Unicamp 2019 Sobre o diário do indígena Chimalpahin, o historiador Serge Gruzinski escreveu: Toda a obra do cronista
transborda de anotações que desenham um imaginário planetário, cujas referências nos parecem muitas vezes inesperadas.
Dois meses depois de ter evocado o assassinato do rei de França, em 15 de novembro de 1610, Chimalpahin dirige seu olhar
para o Japão e anota: “Dom Rodrigo de Vivero, vindo do Japão, perto da China, fez sua entrada na Cidade do México. Fez-se
amigo do imperador japonês e este lhe emprestou a fortuna que Rodrigo trouxe à Cidade do México; ele trouxe, além disso,
alguns japoneses com ele. Todos estavam vestidos como se vestiam lá, com uma espécie de colete e um cinto em torno da
cintura, onde levavam sua katana de aço, uma espécie de espada. Não se mostravam tímidos, não eram pessoas calmas ou
humildes, tinham, ao contrário, o aspecto de águias ferozes.”
(Adaptado de Serge Gruzinski, As quatro partes do mundo:história de uma mundialização. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Edusp, 2014, p. 36.)
FRENTE 1
69
3. Fuvest 2020 A imagem a seguir refere-se às montanhas: e cada um dita a lei a seus filhos e mulheres,
principais rotas de comércio da África do Norte e sem se preocupar uns com os outros”.
Ocidental, no século XV. (Homero. Odisseia, Século VIII a.C.)
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos ori-
ginários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens.
§ 1o - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas
para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2o - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
(...)
§ 4o - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis
Fonte: Extraído de Constituição da Rep. Fed. do Brasil, 1988. Tít VIII, Cap. VIII, Dos Indios.[http://www.planalto.gov.br] Acesso em: 17/05/2017
OCEANO
ATLÂNTICO
Equador
Trópico de C
apricórn
io
FRENTE 1
A partir dos textos e das imagens, caracterize a situação dos povos indígenas no início da colonização portuguesa
(século XVI) e na atualidade, tendo em vista a questão da terra e da identidade.
71
7. Fuvest 2018
Estimativa da população indígena da América na época do contato europeu
Stuart B. Schwartz & James Lockhart, A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, .
8. Unesp 2017 Os deuses disseram entre si depois de criar o homem: “O que os homens comerão, oh deuses? Vamos já todos bus-
car o alimento.” Enquanto isso, as formigas vermelhas estavam colhendo e carregando os grãos de milho que traziam de dentro do
Tonacatepetl (Montanha do Sustento). O deus Quetzalcoatl encontrou as formigas e lhes disse: “Digam-me, onde vocês colheram
os grãos de milho?”. Muitas vezes lhes perguntou, mas as formigas não quiseram responder. Algum tempo depois, as formigas dis-
seram a Quetzalcoatl: “Lá.” E apontaram o lugar. Quetzalcoatl se transformou em formiga negra e as acompanhou. Desse modo,
Quetzalcoatl acompanhou as formigas vermelhas até o depósito, arranjou o milho e em seguida o levou a Tamoanchan (moradia
dos deuses e onde o homem havia sido criado). Ali os deuses o mastigaram e o puseram na nossa boca para nos robustecer.
Apud Eduardo Natalino dos Santos. Cidades pré-hispânicas
do México e da América Central, 2004.
O texto asteca
a) promove a divulgação das qualidades nutricionais do milho para o fortalecimento dos guerreiros mesoamericanos.
b) oferece uma explicação mítica para a importância do milho na base da alimentação dos povos mesoamericanos.
c) demonstra sustentação histórica e claro desenvolvimento de pensamento lógico e racional.
d) procura justificar o fato de apenas os governantes dos povos mesoamericanos poderem exercer atividades agrícolas.
e) revela a influência das fábulas europeias na construção do imaginário dos povos mesoamericanos.
73
a) Indique características do sistema de feitorias em- 15. UFU 2016 No final da década de 1970 e início da década de
preendido por Portugal. 1980, vários trabalhos foram publicados abordando a temá-
b) Qual a produção agrícola predominante no Brasil tica do mercado interno. Trabalhos esses, de base empírica,
entre os séculos XVI e XVII? Quais as funções de- que se encarregaram de demonstrar a forte presença de re-
sempenhadas pelo feitor nessas empresas agrícolas? lações de troca e a sua significação para o desenvolvimento
interno da colônia. Trata-se agora de avaliar as especificida-
des do mercado interno brasileiro, as diversas modalidades
13. Unesp O comércio foi de fato o nervo da colonização
em cada região e a sua integração com a sociedade local.
do Antigo Regime, isto é, para incrementar as ativida-
CHAVES, Cláudia Maria das Graças. Mercadores das minas setecentistas.
des mercantis processava-se a ocupação, povoamento São Paulo: Annablume, 1999, p. 27 (Adaptado).
e valorização das novas áreas. E aqui ressalta de novo
o sentido da colonização da época Moderna; indo em A historiograa recente sobre a economia do Brasil
curso na Europa a expansão da economia de mercado, colonial tem enfatizado uma dinâmica econômica
com a mercantilização crescente dos vários setores pro- mais diversicada, que pode ser exemplicada
dutivos antes à margem da circulação de mercadorias – a a) pela crescente presença de um tráfico interno de
produção colonial era uma produção mercantil, ligada indígenas escravizados, com apoio da Igreja, e
às grandes linhas do tráfico internacional. responsável pela formação de grupos mercantis
(Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do no interior da colônia.
Antigo Sistema Colonial (1777-1808), 1981. Adaptado.) b) pelo fortalecimento, ao longo de todo o século
O mecanismo principal da colonização foi o comércio XVIII, da economia açucareira que, ao contrário
entre colônia e metrópole, fato que se manifesta da economia mineradora, era muito mais voltada
a) na ampliação do movimento de integração eco- ao mercado interno.
nômica europeia por meio do amplo acesso de c) pela presença de mecanismos de acumulação
endógena de capital e pela formação de grupos
outras potências aos mercados coloniais.
mercantis que constituíram riqueza para além das
b) na ausência de preocupações capitalistas por
barreiras impostas pelo sistema colonial.
parte dos colonos, que preferiam manter o mode-
d) pelas atividades bandeirantes de exploração do in-
lo feudal e a hegemonia dos senhores de terras.
terior que, financiadas essencialmente pela Igreja,
c) nas críticas das autoridades metropolitanas à per-
foram decisivas na ampliação do mercado domés-
sistência do escravismo, que impedia a ampliação
tico a partir do desenvolvimento de novas culturas.
do mercado consumidor na colônia.
d) no desinteresse metropolitano de ocupar as
novas terras conquistadas, limitando-se à explo- 16. Fuvest 2020 Observe a imagem e leia o texto.
ração imediatista das riquezas encontradas.
e) no condicionamento político, demográfico e eco-
nômico dos espaços coloniais, que deveriam
gerar lucros para as economias metropolitanas.
75
Analise as quatro armações seguintes, a respeito da MAPA 2
empresa e da conquista colonial espanhola no Peru e
da representação presente na imagem)
I. A conquista foi favorecida pelo conflito interno
entre os dois irmãos incas, Atahualpa e Huáscar,
aproveitado pelas forças espanholas lideradas
por Francisco Pizarro)
II. A produção agrícola das plantations escravistas
constituiu-se na base econômica do vice-reinado
do Peru, controlado pelos espanhóis)
III. Do lado esquerdo da pintura, há uma movimen-
tação conflituosa, na qual as mulheres incas são
contidas por guardas espanhóis, contrastando
com a expressão ordenada e solene do lado
direito, composto por religiosos e autoridades es-
panholas em torno do corpo do imperador inca)
IV. A pintura revela o resgate de elementos histó-
ricos – importante para a construção do ideário
nacionalista no século XIX, no processo pós-in-
dependência e de formação do Estado nacional
peruano –, mas retrata os personagens indíge-
nas com trajes e feições europeus.
Estão corretas apenas as armações
a) I, II e III. d) I e II. Mapa do Brasil, de João Teixeira Albernaz, 1666.
b) II, III e IV. e) III e IV. ADONIAS, I; FURRER, B. Mapa: imagens da formação territorial brasileira.
c) I, III e IV. Rio de Janeiro: Fundação Odebrecht, .
e à produção de mercadorias no espaço colonial Capricórnio e 30º5. Na volta, a rota principal seguia no
não surtiam efeitos práticos e coube aos senho- sentido dos alísios de sudeste, abaixo da linha do Equa-
res de engenho impor a ordem na Colônia. dor. Na medida em que se zarpava com facilidade de
77
Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro até Luanda ou a) Como se caracterizava a escravidão do século XV
a Costa da Mina, e vice-versa, a navegação luso-brasilei- em algumas regiões da África?
ra que se desenvolveu naquelas rotas foi transatlântica e b) Como se caracterizava a escravidão no Brasil
negreira. Vários tipos de trocas uniam as duas margens Colônia considerando as relações entre América
do oceano. Portuguesa e África?
(Adaptado de Luiz Felipe de Alencastro, O trato dos viventes: formação do
Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 61-63.)
28. Uerj 2018
Com base no excerto e em seus conhecimentos, res-
ponda às questões.
a) Explique a direção dos ventos alísios no Atlântico
Sul e a sua funcionalidade no transporte marítimo
da África para o Brasil.
b) Cite e explique um exemplo de relação esta-
belecida entre o Brasil e a África na época da
colonização portuguesa na América.
Portuguesa era a Câmara Municipal. liárquica nas terras coloniais, quanto o confisco
Baseando-se nas citações apresentadas, responda total e imediato das terras comunais cultivadas
com suas próprias palavras: por grupos indígenas ao longo do litoral brasileiro.
79
c) envolveu tanto a cessão vitalícia do usufruto de ter- a) Identifique uma das práticas punitivas descritas no
ras que continuavam a ser propriedades da Coroa, texto empregadas na sociedade colonial brasileira.
quanto a orientação principal do uso da terra para b) Explique as relações entre a exibição do poder
a monocultura exportadora. monárquico e as punições judiciais na sociedade
d) garantiu tanto a prevalência da agricultura de sub- do Antigo Regime europeu.
sistência, quanto a difusão, na região amazônica c) A participação do povo nas execuções conferia a
e nas áreas centrais da colônia, das práticas da elas um caráter democrático? Justifique.
pecuária e da agricultura de exportação.
e) assegurou tanto o predomínio do minifúndio no Nor- 37. Unicamp 2018 Ao estudar a condição feminina no Bra-
deste brasileiro, quanto uma regular distribuição de sil colonial não se pode ter a ingenuidade de crer numa
terras entre camponeses no Centro-Sul, com o ob-
solidariedade de gênero, acima de diferenças de raça,
jetivo de estimular a agricultura de exportação.
credo e segmento econômico.
(Adaptado de Mary del Priore, A mulher na história da colônia,
35. UFPE (Adapt.) Conquistar as terras da América foi um em Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidades no
marco na História dos povos europeus. Portugal fez Brasil colônia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993).
parte das aventuras marítimas e colonizadoras. Para
a) Considerando como era a mentalidade portuguesa
assegurar o domínio sobre as suas conquistas, ins-
no período mencionado, cite e explique uma fun-
tituiu, no Brasil, o sistema de capitanias hereditárias.
ção da mulher branca no processo de colonização.
Historicamente, com essa medida, Portugal:
b) Explique dois papéis sociais desempenhados pe-
conseguiu manter seu poder local e garantir um êxi-
las mulheres escravizadas de origem africana no
to inquestionável nas suas ações administrativas.
contexto do Brasil colonial.
obteve sucesso nos seus projetos econômicos, gra-
ças à organização de plantações de algodão e de
cana-de-açúcar em todas as capitanias do Nordeste. 38. UFU 2016 A realidade religiosa de hoje em dia na Amé-
proporcionou maior domínio sobre as terras colo- rica Latina demonstra à evidência o caráter superficial da
nizadas, embora tenha enfrentado diculdades na cristianização autoritária conduzida outrora pelo poder
implantação desse regime de governo. colonial. No Brasil, especialmente, cultos clandestinos sub-
teve condições de mostrar a riqueza dos investi- sistiram – e agora afloram novamente – entre os índios e,
mentos portugueses e a potência militar de seu sobretudo entre os negros trazidos da África. Os escritores
povo, uma das maiores do mundo moderno. e os viajantes dos séculos XVI-XVIII não puderam deixar de
armou a prevalência de princípios mercantilistas assinalá-los. Ao lê-los, percebe-se que o dia pertencia aos
da colonização portuguesa e garantiu o êxito eco- brancos e a noite, aos escravos. Posto o sol, os caminhos do
nômico de algumas capitanias. Brasil se fechavam aos brancos que se trancafiavam em suas
vastas moradas por temor dos escravos.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São Paulo:
36. Fuvest 2020 O suplício tem então uma função jurídi- Companhia das Letras, 1989, p. 266-267 (Adaptado).
co‐política. É um cerimonial para reconstituir a soberania
lesada por um instante [...]. A execução pública, por rá- A catequese, indissociável do projeto colonizador
pida e cotidiana que seja, se insere em toda a série dos português, jamais conseguiu subverter totalmente o
grandes rituais do poder eclipsado e restaurado (coroa- diversicado conjunto de crenças e costumes dos in-
ção, entrada do rei numa cidade conquistada, submissão dígenas e dos negros.
dos súditos revoltados). [...] A respeito de tal constatação, faça o que se pede.
O suplício não restabelecia a justiça; reativava o po- a) Apresente duas características do sincretismo religio-
der. No século XVII, e ainda no começo do XVIII, ele so que marcou a colonização portuguesa no Brasil.
não era, com todo o seu teatro de terror, o resíduo ainda não b) Caracterize a ambiguidade da posição da Igreja
extinto de uma outra época. Suas crueldades, sua ostenta- Católica em relação à escravidão de indígenas e
ção, a violência corporal, o jogo desmesurado de forcas, negros.
o cerimonial cuidadoso, enfim, todo o seu aparato se en-
grenava no funcionamento político da penalidade. [...] 39. UEL 2013 Leia o texto a seguir, escrito pelo Padre
Mas nessa cena de terror o papel do povo é ambíguo. Antonil em .
Ele é chamado como espectador: é convocado para assistir às
Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho,
exposições, às confissões públicas; os pelourinhos, as forcas
porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e
e os cadafalsos são erguidos nas praças públicas ou à beira
aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo
dos caminhos; os cadáveres dos supliciados muitas vezes
são colocados bem em evidência perto do local de seus cri- como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o
mes. As pessoas não só têm que saber, mas também ver com serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas
seus próprios olhos. Porque é necessário que tenham medo; peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas.
mas também porque devem ser testemunhas e garantias da E porque comumente são de nações diversas, e uns mais
punição, e porque até certo ponto devem tomar parte nela. boçais que outros e de forças muito diferentes, se há de fazer
Michel Foucault, Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1983. a repartição com reparo e escolha, e não às cegas.
O excerto indica que a sociedade colonial açucareira foi 43. Acafe 2016 União Ibérica (-) caracterizou-se
a) organizada em classes, cuja posição dependia de quando Filipe II invadiu Portugal com suas tropas e as-
bens móveis. sumiu a coroa portuguesa, unindo Portugal e Espanha.
b) apoiada no trabalho escravo, principalmente o No contexto da União Ibérica, todas as alternativas
dos lavradores de cana. estão corretas, exceto a:
c) baseada na “limpeza de sangue”, portanto se a) Em 1640 terminou o domínio espanhol, através
proibia a miscigenação. do movimento liderado pelo Duque de Bragança.
d) determinada pelos recursos financeiros, o que im- O duque foi coroado monarca de Portugal, dando
pedia a mobilidade. início à dinastia de Bragança.
e) hierarquizada por critérios diversos, tais como a b) Neste período, o Tratado de Tordesilhas não teve
etnia e riqueza. nenhum efeito entre os limites territoriais portu-
gueses e espanhóis na América. Isto favoreceu o
avanço português para o interior da colônia.
41. Unicamp A união de Espanha e Portugal, em 1580, trouxe
c) O principal motivo da União Ibérica foi a tentativa
vantagens para ambos os lados. Portugal era tratado pelos
da França de anexar a Espanha ao seu território.
monarcas espanhóis não como uma conquista, mas como
A união do exército espanhol com o exército por-
um outro reino. Os mercados, as frotas e a prata espanhóis
tuguês conseguiu afastar esta ameaça.
revelaram-se atraentes para a nobreza e para os merca-
d) Os holandeses invadiram o Nordeste neste perío-
dores portugueses. A Espanha beneficiou-se da aquisição
do e dominaram Pernambuco, pois os espanhóis
de um porto atlântico de grande importância, acesso ao
não estavam permitindo o contato comercial dos
comércio de especiarias da Índia, comércio com as colô-
batavos com os produtores de açúcar.
nias portuguesas na costa da África e contrabando com a
colônia do Brasil.
44. Unicamp Entre e , Portugal enfrentou uma
(Adaptado de Stuart B. Schwartz. Da América Portuguesa ao Brasil. delicada situação política: de um lado, passou a per-
Lisboa: Difel, 2003, p. 188-189.)
tencer à União Ibérica e, de outro, viu os holandeses
a) Segundo o texto, quais foram os benefícios da dominarem Pernambuco, através da Companhia das
FRENTE 1
União Ibérica para Portugal e para a Espanha? Índias Ocidentais, a partir de .
b) No contexto da União Ibérica, o que foi o sebas- a) O que foi a União Ibérica?
tianismo? b) Dê três motivos para a invasão holandesa no Brasil.
81
45. UEG Identique e analise dois elementos da imagem que
“Brigam Espanha e Holanda
expressem esse “olhar europeu” sobre o Brasil.
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas 47. Unicamp Uma análise das lutas suscitadas pela ocupa-
Que nele sabem voar ção holandesa no Brasil pode ajudar a desconstruir ideias
O mar é das gaivotas feitas. Uma tese tradicional diz respeito ao reforço da
E de quem sabe navegar identidade brasileira durante as lutas com os holande-
Brigam Espanha e Holanda ses: a luta pela expulsão dos holandeses seria obra muito
Pelos direitos do mar mais dos brasileiros e negros do que dos portugueses.
Brigam Espanha e Holanda Já a tese que critica essa associação entre a experiência
Porque não sabem que o mar da dominação holandesa e a gênese de um sentimento
É de quem o sabe amar” nativista insiste nas divisões – no âmbito da economia
DINIZ, Leila. Leila Diniz. São Paulo: Editora Brasiliense,1983
açucareira – entre senhores de engenho excluídos ou fa-
A nal da Copa do Mundo de reproduziu de modo vorecidos pela ocupação holandesa.
simbólico um conito que tem origens históricas: a dispu- (Adaptado de Diogo Ramada Curto, Cultura imperial e projetos coloniais
(séculos XV a XVIII). Campinas: Editora da Unicamp, 2009, p. 278.)
ta entre Espanha e Holanda pela hegemonia do comércio
marítimo mundial no século XVII. Um evento diretamente a) Identifique no texto duas interpretações diver-
relacionado a essa disputa pelo domínio marítimo foi gentes a respeito da luta contra a dominação
a) a criação da Companhia das Índias Ocidentais, holandesa no Brasil.
pela Holanda, com o objetivo de explorar as colô- b) Mencione dois fatores que levaram à invasão de
nias e possessões espanholas. Pernambuco pelos holandeses no século XVII.
b) a Guerra dos Trinta Anos, motivada pelos inte-
resses ingleses e holandeses em estabelecer 48. Uerj 2016
colônias no continente africano.
c) a tomada do Cabo da Boa Esperança em 1650
pelas tropas portuguesas, que criam na região a
Cidade do Cabo.
d) a Guerra dos Emboabas, motivada pelo controle
do comércio escravista nas regiões mineradoras
brasileiras.
Engenho de açúcar
Vista de Olinda
(Albert Eckhout. Índia Tarairiu (tapuia), 1641.) Pinturas de Frans Post, século XVII, enciclopedia.itaucultural.org.br
A presença holandesa no Brasil, entre e , interferiu nos rumos da colonização portuguesa nas terras ame-
ricanas. O governo de Nassau (-) tornou-se uma referência, estimulando a produção de registros, como as
pinturas de Frans Post.
Identifique o principal objetivo econômico da presença holandesa no Brasil, no século XVII. Em seguida, apresente
duas realizações do governo de Nassau que tenham contribuído para sua notoriedade histórica.
49. Fuvest 2014 Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e à paixão de Cristo, que o vosso em um
destes engenhos [...]. A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites
e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados
em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for
acompanhada de paciência, também terá merecimento e martírio[...]. De todos os mistérios da vida, morte e ressurreição de
Cristo, os que pertencem por condição aos pretos, e como por herança, são os mais dolorosos.
P. Antônio Vieira, “Sermão décimo quarto”. In: I. Inácio & T. Lucca (orgs.). Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1993, p.73
A partir da leitura do texto, escrito pelo padre jesuíta Antônio Vieira em , pode-se armar, corretamente, que, nas
terras portuguesas da América,
a) a Igreja Católica defendia os escravos dos excessos cometidos pelos seus senhores e os incitava a se revoltar.
b) as formas de escravidão nos engenhos eram mais brandas do que em outros setores econômicos, pois ali vigorava
uma ética religiosa inspirada na Bíblia.
c) a Igreja Católica apoiava, com a maioria de seus membros, a escravidão dos africanos, tratando, portanto, de
justificá-la com base na Bíblia.
d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às atitudes que deveriam tomar em relação à escravidão
negra, pois a própria Igreja se mantinha neutra na questão.
e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às formas de discriminação racial, sendo estas,
assim, pouco significativas.
50. Fuvest “Andava o conde de Nassau tão ocupado em fabricar a sua nova cidade, que para estimular os moradores a fazerem
casas, ele mesmo, com muita curiosidade, lhe andava fazendo as medidas, e endireitando as ruas para ficar a povoação
mais vistosa.”
(Frei Manuel Calado. O valoroso Lucideno e triunfo da liberdade, 1648.)
BNCC em foco
EM13CHS201
1. Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se têm na conta de cristãos) usaram de duas maneiras gerais e principais
para extirpar da face da terra aquelas míseras nações. Uma foi a guerra injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar
todos aqueles que podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em recobrar a liberdade ou subtrair-se aos tormentos que su-
portam, como fazem todos os senhores naturais e os homens valorosos e fortes; pois comumente na guerra não deixam viver
senão mulheres e crianças: e depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a que jamais tenham submetido
homens ou animais.
EM13CHS204
2. não obstante o haver-se casado de pouco, lhes assistem
sete índias concubinas, e daqui se pode inferir como pro-
cede no mais; tendo sido a sua vida, desde que teve uso
da razão – se é que a teve, porque, se assim foi, de sorte a
perdeu que entendo a não achará com facilidade –, até o
presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de
índias, estas para o exercício das suas torpezas, e aqueles
para os granjeios de seus interesses.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13CHS503
3 Entre o final do século XVII e o início do século XVIII, momento marcado pela crise na
economia açucareira, a colonização portuguesa desprende-se do litoral e expande-se
em direção ao interior, movimento que resulta na descoberta das primeiras grandes jazi-
das de ouro na região de Minas Gerais. Em razão dessa descoberta, Portugal expandirá
seus mecanismos de controle sobre a Colônia, a fim de garantir a maior margem possí-
vel de lucro sobre a exploração de minério. No entanto, a economia lusitana, em crise
desde a União Ibérica, verá boa parte do ouro extraído do território do Brasil terminar na
Inglaterra. O acirramento sobre a fiscalização, por sua vez, contribuirá para uma série de
conflitos entre metrópole e colônia, resultando inclusive em revoltas.
A Restauração Os colonos diziam lutar para ter direito de ver o novo
rei português e pela liberdade religiosa católica. Após a
O fim da União Ibérica mudança administrativa e a ostensiva cobrança dos divi-
Ao longo de todo o período da União Ibérica, entre dendos, viam os holandeses como estranhos aos hábitos,
1580 e 1640, houve resistência e oposições em Portugal. ao idioma e às leis.
Durante o reinado de Filipe IV de Espanha (Filipe III, em Durante o conflito, destacou-se o chamado “panteão
Portugal), os acordos firmados em Tomar foram amplamente restaurador”, representado por Henrique Dias, um ho-
desrespeitados: houve a nomeação de ministros castelha- mem negro que havia sido liberto e liderava uma tropa
nos em Portugal, o rei não reuniu Cortes portuguesas e formada por outros libertos e escravizados foragidos;
sequer estabeleceu um diálogo com as elites lusitanas. En- pelo colono João Fernandes; pelo indígena potiguar
tão, o português D. João, duque de Bragança, tornou-se conhecido por Felipe Camarão; e pelo filho de senhor
uma alternativa para pôr fim à União Ibérica e dar início, em de engenhos, um homem branco, André Vital. Durante
Portugal, à Dinastia de Bragança. muitos anos, foi construída e divulgada a narrativa de
Contudo, a retomada da autonomia portuguesa não que se formara, ali, o “Exército Brasileiro”, com a partici-
aconteceu de maneira pacífica. Com a coroação de D. João IV pação desses homens de origens sociais e étnico-raciais
de Bragança como rei de Portugal, os Habsburgos reagi- diversas. No entanto, é importante analisar essas cons-
ram. Assim, entre 1640 e 1680 houve uma intensa disputa truções narrativas que exaltam uma “mistura das raças”
militar entre Portugal e Espanha. Após sessenta anos de (brancos, negros, indígenas e miscigenados) no Brasil,
domínio Habsburgo e com o império colonial em grande uma vez que a discriminação já se fazia presente desde
parte ocupado pelas Companhias das Índias Ocidentais e aquele momento da história brasileira. O próprio termo
Orientais, Portugal recorreu à Inglaterra, que se tornou uma "brasileiro" deve ser usado com cautela para se referir
importante aliada. ao século XVII, para evitar anacronismos.
A aproximação diplomática anglo-lusitana se deu Simultaneamente a esses acontecimentos no Brasil co-
por meio de uma série de tratados de proteção militar lonial, na Inglaterra, onde ocorriam as Revoluções Inglesas,
e comerciais, dando início a um processo de depen- Oliver Cromwell decretou o Ato de Navegação de 1651,
dência econômica crescente de Portugal em relação restringindo a participação de estrangeiros no comércio
à Inglaterra. Em troca de apoio, os portugueses foram inglês. Tal medida enfraqueceu a Companhia das Índias e,
obrigados a aceitar a presença cada vez maior de pro- ao mesmo tempo, deu início a uma guerra entre a Inglaterra
dutos ingleses em seus territórios, tanto metropolitanos e Holanda.
quanto coloniais. Com o início da Guerra Anglo-Holandesa, a resistência
por parte da Companhia das Índias Ocidentais se fez cada
O Brasil e a Restauração vez mais difícil no Brasil. Em 1651, conforme previsto no
Com o fim da União Ibérica e o início dos conflitos en- tratado assinado dez anos antes, chegava ao fim a trégua
tre Portugal e Espanha, D. João IV optou por estabelecer entre Portugal e Holanda, e assim o movimento em Per-
uma trégua de dez anos com os holandeses no Brasil. A nambuco passou a contar com apoio português. Porém,
trégua, assinada em 1641, aceitaria a presença holande- somente em 1654 foi concretizada a expulsão dos holan-
sa no nordeste até 1651. Os holandeses, cientes de que, deses que ocupavam o nordeste do Brasil.
resolvida a retomada da autonomia política em Portugal, Para se retirar do território colonial, os holandeses exi-
seriam alvo de esforços lusitanos para recobrar o território giram de Portugal o pagamento de uma indenização no
colonial, transformaram drasticamente sua relação com os valor de 4 000 000 de ducados (dívida que a Coroa pagou
senhores de engenho. mediante mais empréstimos dos ingleses) e, ainda, a posse
Em 1644, Maurício de Nassau foi substituído por das Ilhas Moluscas (na Indonésia) e de Malabar (na Índia).
Hendrick Hamel Pieter Bas e Adriaan Bullestrate no governo Os portugueses, cientes da decadência de suas colônias
do nordeste brasileiro. Com isso, teve fim a política de crédi- orientais, aceitaram as exigências com a expectativa de
to financeiro, que deu lugar a uma ostensiva cobrança de reaver a até então importantíssima empresa açucareira do
dívidas dos empréstimos feitos aos senhores de engenho. nordeste colonial.
Nesse processo, engenhos foram confiscados como forma de
pagamento das dívidas com a Companhia das Índias. A aristo- A crise do açúcar
cracia pernambucana, que antes demonstrou estar satisfeita Com a expulsão dos holandeses, Portugal investiu na
com a presença dos holandeses, mediante a nova postura retomada da empresa açucareira no Brasil e, em 1642,
administrativa pôs fim às boas relações. Formou-se, entre os criou o Conselho Ultramarino, com o objetivo de ampliar
colonos e a Companhia de Comércio, um foco de tensão. o controle sobre a administração colonial.
A partir de 1645, eclodiu, em Pernambuco, uma série Na segunda metade do século XVII, houve o fortaleci-
de levantes contra o domínio holandês, contrariando as or- mento da atividade jesuítica, evidenciado, por exemplo, a
dens da Coroa portuguesa, que estava comprometida com atuação de Padre Antônio Vieira (1608-1697). Os jesuítas
a trégua que havia assinado em 1641 e com vigência até representaram um importante braço dos esforços de co-
1651. Era o início da chamada Insurreição Pernambucana lonização. Ao mesmo tempo que coibiam a escravização
ou Guerra da Liberdade Divina (1645-1654). dos indígenas, construíam discursos que legitimavam a
comerciante, capitão-mor e ouvidor. Porém, sem sequer jurar lealdade ao rei em nome do Maranhão. No entanto,
ter sido consultado, Amador Bueno recusou o título e o Portugal reagiu à revolta e enviou ao Maranhão um novo
movimento foi rapidamente dissipado. governador e um efetivo militar para conter os revoltosos.
87
Concluída a repressão, Manuel Beckman e Jorge Restauração do trono português repercutiram no terri-
Sampaio, identificados como os líderes do movimento, tório colonial.
foram condenados à forca; outros envolvidos foram con- Os comerciantes portugueses, cuja presença foi per-
denados à prisão perpétua. A Companhia de Comércio mitida durante a vigência da União Ibérica, passaram a
do Maranhão, cuja atuação provocou a revolta, foi extinta ser expulsos da região. O controle do comércio platino
em 1685. ficou ao encargo de duas importantes colônias da Espa-
nha: Buenos Aires, na margem direita do Rio da Prata, e
A expansão colonial Montevidéu, na margem esquerda. Estrategicamente, em
Em busca de novas riquezas 1680, próximo a Montevidéu, os portugueses fundaram
a Colônia do Sacramento, com o objetivo de disputar o
Portugal se endividou ao garantir a restauração da
comércio e a posse da região.
autonomia política e para expulsar os holandeses, que
A importância econômica da região foi ampliada a
haviam ocupado por mais de duas décadas uma impor-
partir do século XVIII, com a expansão da pecuária, que
tante fonte de renda na América portuguesa, o nordeste
tinha por objetivo abastecer a região mineradora no cen-
açucareiro. Ao recuperar o domínio sobre a região, a
tro do Brasil. Dessa forma, não mais se tratava apenas de
concorrência e a desvalorização do açúcar frustraram as
uma disputa por um polo de comércio como também por
expectativas portuguesas, que não conseguiriam pagar,
terras nas quais se multiplicavam as estâncias, grandes
como planejado, as dívidas contraídas. O agravamento da
fazendas produtoras de gado. As disputas entre espa-
crise econômica da Coroa, que havia perdido as colônias
nhóis e portugueses na região platina se estenderam por
orientais, fez com que fossem estimuladas buscas por
um longo período.
outras fontes de renda na América portuguesa.
Com isso, o processo de interiorização se intensifi-
As expedições bandeirantes
cou. Os elementos responsáveis por esse processo e
pela consequente ampliação territorial da Colônia foram A capitania de São Vicente, apesar de ter sido o
a pecuária, as drogas do sertão e as disputas fronteiriças primeiro núcleo efetivo da colonização portuguesa, es-
ao sul da capitania de São Vicente. truturada inicialmente para a produção açucareira, não
A pecuária representava uma atividade subsidiária se desenvolveu muito ao longo dos séculos XVI e XVII.
à produção açucareira. Com a expansão do cultivo da O litoral estreito, limitado pela Serra do Mar, e a maior
cana-de-açúcar ao longo do século XVI e início do XVII, distância em relação à metrópole dificultavam o trans-
muitos criadores deslocaram-se para o interior do sertão porte do plantio, produzido na zona do planalto paulista,
nordestino, principalmente ao longo do Rio São Francisco tornando as exportações mais complexas se comparadas
e de seus afluentes. O gado, criado de maneira exten- ao que ocorria nos principais empreendimentos coloniais
siva, percorria grandes distâncias durante a pastagem, açucareiros no nordeste da Colônia.
o que fez com que essa atividade se estendesse pela No século XVII, a região contava com escassez de
faixa do sertão e atingisse as regiões interioranas do moedas, produtos e africanos escravizados. A econo-
Ceará e do Maranhão. mia local baseava-se na agricultura de subsistência e
Durante a União Ibérica, foi criado o Estado do Mara- na produção da conserva de marmelo. A sociedade era
nhão e Grão-Pará, com administração distinta do Brasil. majoritariamente composta de indígenas.
A ocupação foi feita de maneira gradual, movida pela Nesse contexto, o bandeirantismo configura-se como
necessidade de proteger a Colônia dos constantes ata- fruto social de uma região marginalizada de recursos
ques estrangeiros. Ao longo do século XVII, a busca pelas materiais e vida econômica restrita. Os bandeirantes,
drogas do sertão assumiu o protagonismo econômico da diferentemente do que vemos hoje em estátuas e repro-
região. Esse termo é empregado para designar toda uma duções, pareciam-se mais com indígenas do que com
série de plantas nativas com propriedades medicinais, europeus. Sem a chegada de produtos da Europa e de-
alimentícias, cosméticas e afrodisíacas, como baunilha, vido à precariedade local, andavam, em geral, descalços,
salsaparrilha, canela, castanha, cravo, guaraná e, sobre- e não com botas de montaria. O chapéu de abas largas,
tudo, o cacau. Esses produtos eram obtidos por meio camisa e, quando muito, um gibão (espécie de colete de
do extrativismo em regiões remotas e de difícil acesso. couro) para proteção de flechas indígenas compunham
Da mesma forma que a pecuária foi responsável pela o vestuário dos bandeirantes.
ocupação do sertão nordestino, a busca pelas drogas Isolados do litoral pela Serra do Mar, os bandeirantes
do sertão foi um dos principais elementos a motivar a tinham como uma opção de busca de atividade econô-
ocupação da Amazônia. mica a penetração a oeste, facilitada pela existência
Por fim, a luta pela posse das terras ao sul de São do Rio Tietê, o qual avançava, enquanto via fluvial, em
Paulo esteve ligada a dois fatores fundamentais: às ban- direção às terras mais centrais do continente. Assim,
deiras que se dirigiam às missões jesuíticas no sul e ao buscavam outras formas de ganho, para tirar o máximo
interesse de Portugal e dos comerciantes portugueses proveito das brechas do sistema colonial, como captura,
na América em disputar com os espanhóis o controle do escravização e comércio de populações nativas. Desse
comércio no Rio da Prata. Com o fim da União Ibérica, modo, foram agentes da expansão territorial e da inte-
os conflitos entre Portugal e Espanha no processo de riorização da colonização.
Bandeira é o nome utilizado para designar as expe- escravizados foragidos, enfrentassem agrupamentos in-
dições realizadas pelos bandeirantes. Geralmente, eram dígenas hostis aos interesses coloniais ou destruíssem
comandadas por um chefe, que mantinha um forte rigor quilombos. Portanto, eram expedições contratadas.
hierárquico sobre seus subordinados. Entre 1690 e 1695, o bandeirante Domingos Jorge Ve-
Havia predominantemente três tipos de bandeiras: lho foi contratado para destruir o quilombo dos Palmares,
apresamento, sertanismo de contrato e prospecção. uma extensa confederação de comunidades quilombolas
As bandeiras de apresamento eram voltadas para a situada a 60 quilômetros da costa do atual estado do Ala-
captura e o comércio de indígenas escravizados. Tal ativida- goas, com economia própria e relações econômicas com
de se intensificou durante o período em que os holandeses vilas ao seu redor. Com receio de se tornar um incentivo
tomaram as feitorias portuguesas na África, o que resultou para fugas de escravizados, o poder colonial pretendeu dar
no encarecimento dos escravizados de origem africana e no um fim exemplar a Palmares, que resistiu por anos a vários
aumento da exploração da mão de obra indígena escravi- ataques até sua destruição, para a qual participação dos
zada, ainda que ilegalmente. Muitas vezes, as bandeiras de bandeirantes foi significativa.
apresamento atacaram missões jesuíticas, e, como vimos Por fim, as bandeiras de prospecção eram expedi-
anteriormente, a expansão da colonização em direção ao ções em busca de metais preciosos. Elas passaram a
FRENTE 1
sul da América esteve atrelada à escravidão indígena. ser mais frequentes sobretudo após o declínio do tráfico
Nas bandeiras de sertanismo de contrato, os senho- de indígenas escravizados e a recuperação portuguesa
res contratavam bandeirantes para que capturassem das feitorias africanas.
89
Bandeiras e entradas – séculos XVI e XVII
60° O
0° Equador
r nio
de Capricó
Trópico
produção colonial nos séculos XVI e XVII, a atividade mi- favorecia práticas de delações, uma vez que, para
neradora foi submetida, desde seu início, a um minucioso evitar a cobrança da derrama, era comum que colonos
controle e fiscalização pela metrópole. denunciassem contrabandistas.
91
Crescimento do mercado interno Durante o período da mineração, destacou-se o Bar-
A atividade mineradora foi acompanhada pela forma- roco, um movimento artístico europeu que surgiu entre o
ção de núcleos urbanos, que confirmavam a autoridade final do século XVI e início do século XVII, pautado pela
real por meio de medidas que garantissem a arreca- atmosfera da religiosidade pós-Reformas e caracterizado
dação de tributos e a organização do povoamento. por um exagero intencional marcado nos contrastes. No
Desenvolveram-se cidades como Vila do Carmo (Ma- Brasil, esse movimento se consolidou ao longo do século
riana), Arraial do Tejuco (Diamantina), São João del-Rei, XVIII e apresentou características próprias, bastante distin-
Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará tas dos referenciais europeus.
(Sabará) e Vila Rica (Ouro Preto) – cidades ainda exis- Na região de Minas Gerais, o Barroco se fez presente,
tentes e pertencentes ao atual estado de Minas Gerais. principalmente, na construção de igrejas, pinturas e escul-
A urbanização promoveu a ampliação do mercado inter- turas. Entre os principais artistas estão Aleijadinho, Mestre
no e, consequentemente, um maior volume de capitais Valentim e Manuel da Costa Ataíde. As igrejas foram fruto da
circulando na Colônia. competição das ordens terceiras, que visavam ao destaque
Outras regiões, por sua vez, desenvolveram-se a partir na região mineradora, visto que os clérigos foram proibidos
da demanda por produtos de abastecimento para a região pela Coroa de se fixarem na capitania, no início do século
mineradora. Ao sul das minas, em São Paulo e no Rio de XVIII. Conforme suas condições sociais e financeiras, as
Janeiro, houve uma intensificação no cultivo do tabaco. ordens terceiras construíram igrejas com adornos em ouro
Os tropeiros representavam caravanas de comerciantes e outras pedras preciosas. Nos frontões, esculturas feitas
que vendiam uma série de insumos à região mineradora, de pedra-sabão, com complexos detalhes, davam destaque
principalmente montaria. Tratou-se de um período de di- ao edifício.
versificação da pecuária caracterizado pela necessidade
Sociedade mineradora
A necessidade do abastecimento das regiões mi-
neradoras levou ao desenvolvimento do comércio e
ao surgimento de cidades, as quais se transformaram
em polos de maior diversificação social. As transforma-
ções não foram apenas espaciais e econômicas, mas
também sociais.
O desenvolvimento urbano favoreceu o surgimen-
to da camada média por meio dos trabalhos e serviços
realizados especificamente nas cidades. Outro aspecto
importante era que, mediante a livre exploração dos mi-
nérios, a possibilidade de ascensão social era maior nas
sociedades mineradoras do que na sociedade açucareira.
Ainda que, claramente, aqueles com mais recursos esti-
vessem mais propensos a encontrar minérios, não era
impossível que um pequeno lavrador também encontrasse
e ascendesse socialmente.
Desse modo, novas elites, ligadas à mineração e à vida
urbana, formam-se na Colônia. São os filhos dessas eli-
tes que, ao estudarem na Europa, trarão para cá as novas
ideias de liberdade, sendo diretamente responsáveis não
apenas pela ampliação da atividade cultural colonial, mas
Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, em fotografia
principalmente pela base intelectual da luta que começaria de 2018. Podemos observar os detalhados adornos, esculpidos em pedra-
a se travar contra o domínio metropolitano. sabão, presentes na parte superior da porta.
careira, os senhores de engenho iam endividando-se ao sim, a fim de aprimorar o controle das atividades e evitar
longo da safra e, na hora de vender as caixas de açúcar, futuras revoltas, Portugal decidiu separar São Paulo de
tinham de se submeter ao monopólio comercial de Recife. Minas, criando, em 1720, a capitania de Minas Gerais.
93
Redefinição dos limites e tratados território colonial. Em contrapartida, porém, os espanhóis,
Em 1750, foi assinado o Tratado de Madri a fim de interessados no controle e na administração do Rio da
substituir as antigas definições coloniais promovidas pelo Prata, exigiram que Portugal renunciasse à Colônia do
Tratado de Tordesilhas. Nas tratativas, teve destaque a Sacramento, à época ocupada pelos portugueses. Em tro-
atuação do diplomata Alexandre de Gusmão, que ne- ca, a Espanha ofereceu ainda o chamado Território das
gociou com a Espanha os territórios que deveriam ser Sete Missões (São Francisco de Borja,São Nicolau,São
legitimados como portugueses a partir do princípio romano Miguel Arcanjo,São Lourenço Mártir,São João Batista,
do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato deve São Luiz GonzagaeSanto Ângelo Custódio, hoje no Rio
possuir de direito). Grande do Sul), um local ocupado por jesuítas espanhóis
Gusmão apresentou um mapa da América do Sul – com missões indígenas.
cuidadosamente elaborado pelos melhores geógrafos Portugal aceitou o acordo, mas tal troca não foi aceita
de Portugal – mostrando as terras que os portugueses pelos jesuítas, que resistiam em entregar aos portugueses
haviam ocupado até então e defendia o argumento de os territórios que ocupavam. Assim, em 1753, teve início
que a posse deveria ser reconhecida a quem possuía uma série de conflitos entre indígenas Guarani e exércitos
e ocupava de fato as terras. A Espanha, concentrada na ibéricos, denominados Guerras Guaraníticas. A guerra se
extração de minérios na zona andina, permitiu que, com prolongou até 1756, quando os jesuítas foram derrotados
o Tratado de Madri, Portugal conseguisse triplicar seu pela intensa repressão ibérica.
Equador 0°
Meridiano de Tordesilhas
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
PACÍFICO
órnio
de Capric
Trópico
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. REIS, Arthur Cézar F. CARVALHO, Carlos Delgado de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FENAME, . (Adapt.)
1. Famema 2017 No Brasil Colonial, uma determinada 4. ESPM-SP 2016 Das minas e seus moradores bastava di-
atividade gerou maior articulação entre regiões dis- zer que é habitada de gente intratável. A terra parece que
tantes, ampliou a intervenção regulamentadora da evapora tumultos; a água exala motins; o ouro toca desa-
metrópole e deu origem a uma sociedade diferencia- foros; destilam liberdades os ares; vomitam insolências as
da, caracterizada pela vida urbana, pelo aumento da nuvens; influem desordens os astros; o clima é tumba da
mestiçagem e do número de alforrias e por uma notá- paz e berço da rebelião; a natureza anda inquieta consigo,
vel produção cultural. Trata-se e amotinada lá por dentro é como no inferno.
Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Brasil: uma Biografia.
a) da pecuária no sertão nordestino.
b) das plantations de tabaco e algodão no Nordeste. O texto é parte do discurso histórico e político sobre
c) da coleta de drogas do sertão na região amazônica. a sublevação que nas minas houve no ano de
d) das missões jesuíticas no Sul. e que o governador Pedro Miguel de Almeida e Por-
e) da extração de ouro nas Minas Gerais. tugal, o conde de Assumar, fez chegar às mãos das
autoridades régias em Lisboa.
2. UFMS 2019 Quando pensamos na diversidade de A respeito da sedição de Vila Rica, em , é correto
paisagens, associada à extensão territorial e às assinalar:
formas como foram povoadas as diversas regiões a) os sediciosos planejavam forçar a coroa a sus-
do Brasil, retomamos a ideia de que o País assume pender o estabelecimento das casas de fundição,
dimensões continentais. Além da vastidão do ter- onde se registrava o ouro em barras e se deduzia
ritório, é importante lembrar que o Brasil também o quinto por arroba, o imposto devido ao rei;
possui uma história riquíssima e que cada região b) os sediciosos planejavam forçar a coroa a abolir
foi marcada por uma atividade econômica ao a derrama, que determinava a cobrança de todos
longo do período de ocupação pós-. Assim, os impostos atrasados;
assinale a alternativa que associa corretamente: a c) os sediciosos rebelaram-se contra forasteiros que
região do país, a atividade econômica que histori- eram beneficiados pela coroa com privilégios na
camente foi praticada na região, o período em que exploração das jazidas auríferas;
obteve maior êxito e qual foi a matriz da mão de d) os projetos dos sediciosos eram o rompimento
obra utilizada. com Portugal, a adoção de um regime republica-
a) Região Nordeste; mineração; período imperial; no e a criação de uma universidade em Vila Rica;
e) a sublevação desafiou a ação do marquês de
trabalho assalariado.
Pombal que havia determinado o monopólio ré-
b) Região Sul; lavoura açucareira; período colonial;
gio sobre a extração de diamantes. 6
trabalho escravo.
c) Região Norte; produção de algodão; período im-
perial; trabalho indígena. 5. Unicamp 2019 Tanto que se viu a abundância do ouro
d) Região Centro-Oeste; mineração; período repu- que se tirava e a largueza com que se pagava tudo o que
lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mer-
blicano; trabalho assalariado.
cadores a mandar às Minas Gerais o melhor que chega nos
e) Região Sudeste; mineração; período colonial; tra-
navios do Reino e de outras partes. De todas as partes do
balho escravo.
Brasil, se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro
não somente grande, mas excessivo. Daqui se seguiu, man-
3. PUC-RS A nova política colonial posta em prática darem-se às Minas Gerais as boiadas de Paranaguá, e às do
na administração do Marquês de Pombal – Primeiro rio das Velhas, as boiadas dos campos da Bahia, e tudo o
Ministro do Rei D. José I (-) – no Brasil carac- mais que os moradores imaginaram poderia apetecer-se de
terizou-se qualquer gênero de cousas naturais e industriais, adventí-
a) pela formação de companhias privilegiadas com cias e próprias.
o monopólio do comércio colonial e pela centrali- (Adaptado de André Antonil, Cultura e Opulência do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia-Edusp, 1982, p. 169-171.)
zação da administração.
b) pelo investimento na expansão da lavoura de Sobre os efeitos da descoberta das grandes jazidas
café no Nordeste e de algodão no Sudeste visan- de metais e pedras preciosas no interior da América
do aumentar os rendimentos da Coroa. portuguesa na formação histórica do centro-sul do
c) pelo estímulo ao desenvolvimento de manu- Brasil, é correto armar que:
faturas de tecido nas áreas não propícias ao a) A demanda do mercado consumidor criado na
desenvolvimento da agricultura. zona mineradora permitiu a conexão entre di-
d) pela doação de capitanias privilegiadas no Sul e o ferentes partes da Colônia que até então eram
FRENTE 1
95
Sorocaba e suas feiras perderam a relevância d) à ocupação de vastos espaços do território da
econômica adquirida no século XVII. colônia por colonos espanhóis das regiões do
c) O desenvolvimento socioeconômico da região Potosi e do Rio da Prata, quando ocorreu a União
das minas e do centro-sul levou a Coroa a des- Ibérica (1580-1640), época em que reis hispâni-
locar a capital da Colônia de Salvador para Ouro cos governaram o reino de Portugal.
Preto em 1763.
d) Como o solo da região mineradora era infértil, 8. Acafe 2019 A descoberta de ouro no interior do atual
durante todo o século XVIII sua população impor- estado de Minas Gerais gerou um grande desloca-
tava os produtos alimentares de Portugal ou de mento populacional, transferindo parte da população
outras capitanias. colonial do litoral para o interior. Uma série de mu-
danças ocorreu na colônia, dentro do contexto da
6. Acafe 2018 A Revolta de Vila Rica no século XVIII mostrou mineração. Sobre o ciclo do ouro no período colonial
os abusos que as autoridades portuguesas cometiam brasileiro, todas as alternativas estão corretas, exceto
com os mineradores e a população de Minas Gerais. a alternativa:
No contexto dessa revolta é correto armar, exceto: a) A transferência da capital da colônia de Salvador
a) O movimento reivindicava a redução dos preços para o Rio de Janeiro também está inserida no
dos alimentos e o cancelamento da medida que contexto da mineração.
proibia a circulação de ouro em pó. b) A mineração favoreceu o surgimento de núcleos
b) Foi um dos nomes dados à Inconfidência Mineira, urbanos no interior da colônia.
que entre seus participantes teve Joaquim José c) Foi criado um comércio interno com o charque e
da Silva Xavier. outros produtos da pecuária (couro, sebo).
c) Os altos impostos e o rígido controle sobre a ex- d) A riqueza do ouro serviu para proporcionar o
ploração do ouro também contribuíram para o início da industrialização brasileira nas regiões
levante de Vila Rica. Sudeste e Sul.
d) Um dos líderes da revolta foi enforcado e teve seu
corpo esquartejado e exposto em praça pública. 9. Uece 2020 A partir do século XVIII, houve um cres-
cimento da estrutura urbana no Brasil Colônia, com o
7. Uece 2019 Segundo nos informa Darcy Ribeiro (, surgimento de um grande número de vilas e cidades,
p. ), em fins do século XVI, a colônia possuía cida- devido, principalmente,
des, a maior delas, Salvador, então sede do Governo a) ao crescimento da atividade açucareira em todo o
Geral, contava com aproximadamente mil habitan- Brasil, após a expulsão dos invasores holandeses.
tes; no final do século XVII, salvador tinha em torno b) ao desenvolvimento da mineração de ouro e
de mil habitantes e Recife tinha mil. Ao final pedras preciosas na região de Minas Gerais e à
do século XVIII, enquanto cidades centenárias como pecuária no Nordeste.
Salvador e Recife tinham por volta de mil e mil c) ao estabelecimento da industrialização promo-
habitantes, respectivamente, a jovem cidade de Vila vida pela vinda da família real portuguesa para
Rica, hoje Ouro Preto, elevada à categoria de Vila so- o Brasil.
mente em , já possuía cerca de mil habitantes. d) ao aparecimento da cafeicultura como atividade
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São econômica de exportação nas regiões Sudeste
Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 194.
e Nordeste.
O fenômeno demográco do rápido crescimento po-
pulacional de Vila rica (Ouro Preto) no século XVIII é 10. Famerp 2017 A descoberta de ouro, no Brasil do sé-
atribuído culo XVII, provocou, entre outros
a) ao processo de interiorização da colonização a) a formação de núcleos populacionais no interior
portuguesa no Brasil a partir da expansão da da colônia e o pagamento, por Portugal, de parte
atividade pecuarista, por meio das correntes do das dívidas com a Inglaterra.
sertão de dentro, oriunda da Bahia, e do sertão de b) o fim da economia agrícola monocultora e a clara
fora originária de Pernambuco. diferenciação em relação às áreas de coloniza-
b) à grande migração de colonos e de pessoas ção espanhola na América.
oriundas de Portugal para a região que hoje é Mi- c) o início do extrativismo na colônia e a exploração
nas Gerais, em função das descobertas de jazidas dos metais nobres brasileiros por multinacionais
de ouro e pedras preciosas, o que fez surgirem inglesas e norte-americanas.
vários centros urbanos na área. d) o desenvolvimento de ampla produção agrícola
c) ao estímulo ao desenvolvimento da colônia, pro- na região das Minas e a autossuficiência alimentar
movido por Sebastião José de Carvalho e Melo, das áreas mineradoras.
o marquês de Pombal, secretário de Estado do e) a implantação de vasta rede de transportes na re-
Reino, sob o reinado de D. José I, que incentivou gião das Minas e o rápido escoamento do ouro na
a indústria e a educação no Brasil. direção dos portos do Nordeste.
1. UFPel “(...) da amizade dos índios depende em parte estudado com os jesuítas, conhecia latim. Lutou ao lado
o sossego e a conservação da colônia do Brasil e que dos portugueses e participou da famosa batalha de Porto
se tendo isto em vista deve-se-lhe permitir conservar a Calvo ao lado dos terços de Henrique Dias, enfrentando
sua natural liberdade, mesmo aos que no tempo do rei tropas comandadas pelo próprio Maurício de Nassau.
de Espanha caíram ou por qualquer meio foram cons- Teve reconhecida sua lealdade pelo rei de Portugal que
trangidos à escravidão, como eu próprio fiz libertando lhe concedeu o hábito de Cavaleiro da Ordem de Cris-
alguns. Devem-se dar ordens, também, para que não to, o direito de usar o título de dom e brasão de armas,
sejam ultrajados pelos seus ‘capitães’, ou alugados a com soldo de capitão-mor dos índios.
dinheiro ou obrigados contra sua vontade a trabalhar Ronaldo Vainfas – direção. Dicionário do Brasil Colonial.
nos engenhos; ao contrário deve-se permitir a cada um
viver do modo que entender e trabalhar onde quiser, Felipe Camarão se distinguiu atuando ao lado dos
como os da nossa nação (...).” portugueses:
Fragmento do relatório de Maurício de Nassau aos a) contra os invasores franceses do Rio de Janeiro,
diretores da Companhia das Índias Ocidentais, em 1644. que tentavam criar a França Antártica;
O documento demonstra que, durante b) na luta contra o corsário Duguay-Trouin que sa-
a) a Insurreição Pernambucana, a Companhia das Ín- queou o Rio de Janeiro;
dias Ocidentais era contrária a qualquer trabalho c) no combate que desalojou os invasores france-
escravo na produção açucareira. ses do Maranhão;
b) a União Ibérica, os holandeses proibiram o tráfico d) na guerrilha contra os holandeses que invadiram
de escravos para o Brasil e promoveram a liber- a Bahia;
dade aos indígenas. e) no combate aos holandeses, que haviam atacado
c) o período Colonial, a escravização indígena foi o nordeste do Brasil, com destaque na Insurreição
inexistente, devido aos interesses estratégicos e Pernambucana.
comerciais dos europeus.
d) as ocupações francesas, no nordeste do Brasil, 4. UPF 2016 As invasões holandesas que ocorreram no
ocorreram transformações nas relações dos eu- século XVII foram o maior conflito militar da Colônia. Em-
ropeus com as populações nativas, no que se bora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a
refere ao trabalho cativo. um simples episódio regional. Ao contrário, fizeram par-
e) a ocupação holandesa, no nordeste brasileiro, foi te do quadro das relações internacionais entre os países
combatida a escravização indígena promovida europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do
pelos ibéricos. açúcar e das fontes de suprimento de escravos.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996, p. 84.
2. Uece 2020 Filipe Camarão, Henrique Dias, André Tendo em vista o quadro histórico descrito acima, con-
Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira são sidere o seguinte:
personagens que participaram da Insurreição Per- I. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais
nambucana, que foi teve como alvo principal a ocupação das zonas
a) um movimento de oposição ao absolutismo de de produção açucareira na América portuguesa.
D. Pedro I e resultou na formação de outro país, II. Domingos Fernandes Calabar, alagoano, tornou-
a Confederação do Equador, durante o primeiro -se colaborador das forças invasoras, até ser
reinado. preso e executado.
b) o conflito entre manifestantes a favor e contra as III. Durante o governo do príncipe Maurício de Nassau,
medidas de austeridade de D. Pedro II, em 1848, ocorreu a vinda de artistas, naturalistas e letrados
na primeira fase do segundo reinado. para Pernambuco, e o Recife conheceu vários me-
c) um movimento separatista pernambucano, ocor- lhoramentos urbanos.
rido no período regencial, entre 1831 e 1840, e IV. Os holandeses defendiam o trabalho livre e pos-
que somente foi pacificado com a ascensão de tulavam pelo fim da escravidão.
D. Pedro II ao trono. V. A reconquista ocorreu porque os brasileiros uni-
d) o conflito responsável pela expulsão dos holan- ram os brancos, os negros escravos e os índios
deses do Nordeste brasileiro, no século XVII, e em prol de Portugal num acordo que ficou conhe-
que garantiu a continuidade do sistema colonial cido como a “união das três raças”.
português na região. Está correto apenas o que se arma em:
a) I e II.
3. ESPM-SP 2019 Antonio Felipe Camarão, ou simples- b) II e III.
FRENTE 1
97
5. ESPM-SP 2013 Leia os versos de Gregório de Matos b) idealizadas por autoridades coloniais e pelos pri-
abaixo e responda: meiros moradores instalados na Vila de São Paulo,
O açúcar já se acabou? Baixou.
com o objetivo principal de combater os coloniza-
E o dinheiro se extinguiu? Subiu. dores espanhóis que vinham desrespeitando os
Logo já convalesceu? Morreu. limites do Tratado de Tordesilhas e tomando-lhes
À Bahia aconteceu as minas de ouro e prata.
o que a um doente acontece, c) planejadas pelos brancos colonizadores, em-
cai na cama, o mal lhe cresce, preendedores particulares ou encarregados da
baixou, subiu e morreu. Coroa, compostas de dezenas de índios e mes-
tiços contratados para desbravar o “sertão” e
A decadência econômica que afetava a Bahia e o Nor-
viabilizar rotas comerciais de minérios, especia-
deste brasileiro no nal do século XVII decorria:
rias e gado entre as isoladas vilas do interior.
a) da invasão francesa e da devastação da lavoura
d) articuladas e executadas pelos bandeirantes, a
canavieira;
mando da Coroa, da Igreja Católica ou por ini-
b) da região se encontrar então sob a ocupação ho-
ciativa própria, a fim de assegurar o controle
landesa;
c) da concorrência que o açúcar produzido pelos português das minas de ouro e o plantio em terras
holandeses, nas Antilhas, fazia ao açúcar produ- férteis, dizimando índios hostis e fundando vilas
zido no Brasil; jesuíticas para o branqueamento da população.
d) do deslanchar naquele tempo da cafeicultura; e) organizadas e financiadas, respectivamente, pela
e) do fato de a Espanha, que dominava a região na Coroa Portuguesa e por particulares, em busca de
época, ter seu interesse voltado para a extração metais preciosos, do apresamento de indígenas e
da prata em regiões como México e Peru.7 da efetivação da posse das terras por colonizado-
res portugueses.
6. Fuvest 2013 A economia das possessões coloniais
portuguesas na América foi marcada por mercado- 8. IFSC 2016
rias que, uma vez exportadas para outras regiões
do mundo, podiam alcançar alto valor e garantir, aos
envolvidos em seu comércio, grandes lucros. Além
do açúcar, explorado desde meados do século XVI,
e do ouro, extraído regularmente desde fins do XVII,
merecem destaque, como elementos de exportação
presentes nessa economia:
a) tabaco, algodão e derivados da pecuária.
b) ferro, sal e tecidos.
c) escravos indígenas, arroz e diamantes.
d) animais exóticos, cacau e embarcações.
e) drogas do sertão, frutos do mar e cordoaria.
Mas que venho a estranhar, se estão presentes c) Os jesuítas instalaram suas missões na região nordes-
Meus males, com que tudo degenera! te, visto que a Coroa Portuguesa proibia a presença
(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.) das aldeias na região ao sul do Rio de Janeiro.
99
d) A colonização portuguesa manteve-se localizada na o crescimento da produção aurífera nas últimas
região nordeste, permanecendo as terras abaixo do décadas do século XVIII fez com que o governo
Trópico de Capricórnio dominadas pela Espanha. português reduzisse o controle sobre a cobrança
e) Não houve nenhuma ocupação da região da de tributos, garantindo maior tranquilidade políti-
Amazônia, o que fez com que esta parte do Brasil ca na colônia do Brasil.
ficasse inexplorada até o final do século XI13 os artistas setecentistas da região das minas cos-
tumavam ser agrupados como representantes de
12. Uece 2018 Ocorridos entre os meados do século XVII um estilo denominado cubismo mineiro, típico das
até as primeiras décadas do século XVIII, os movimen- Minas Gerais.
tos nativistas apresentam-se como os primeiros sinais Soma:
de uma crise do sistema colonial.
Sobre esses movimentos, é correto armar que
14. FGV-SP 2013 Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal –
a) tinham como principal objetivo a separação polí-
conde de Assumar – se casou em 1715 com D. Maria José
tica entre colônia e metrópole, com a autonomia
de Lencastre. Daí a dois anos partiria para o Brasil como
administrativa e a formação de novas nações li- governador da capitania de São Paulo e Minas Gerais.
vres nas regiões onde ocorriam. Nas Minas, não teria sossego, dividido entre o cuidado
b) em Minas Gerais, com a Guerra dos Emboabas e a ante virtuais levantes escravos e efetivos levantes de po-
Revolta de Felipe dos Santos, no Maranhão, com a derosos; o mais sério destes o celebrizaria como algoz:
Revolta dos Beckman, e em Pernambuco, com a In- foi o conde de Assumar que, em 1720, mandou executar
surreição Pernambucana e a Guerra dos Mascates, Felipe dos Santos sem julgamento, sendo a seguir chama-
aparecem as divergências entre os interesses dos do a Lisboa e amargurado um longo ostracismo.
colonos e os da metrópole. SOUZA, Laura de Mello e. Norma e conflito:
c) ocorreram somente em locais que vivenciavam aspectos da história de Minas no século XVIII.
crises econômicas, como o Rio Grande do Sul A morte de Felipe dos Santos esteve vinculada a
(Farroupilha 1835-1845) e Pernambuco (Revolu- a) uma sublevação em Vila Rica, que envolveu vá-
ção Pernambucana de 1817). rios grupos sociais, descontentes com a decisão
d) somente a Confederação do Equador, ocorrida
de levar todo ouro extraído para ser quintado nas
no nordeste brasileiro, pode ser tomada como um
Casas de Fundição.
legítimo movimento nativista, uma vez que não pre-
b) um movimento popular que exigia a autonomia
tendia a separação política em relação a Portugal,
das Minas Gerais da capitania do Rio de Janeiro e
mas, somente, maior autonomia administrativ15
o imediato cancelamento das atividades da Com-
panhia de Comércio do Brasil.
13. UFSC 2015 c) uma revolta denominada Guerra do Sertão,
A peso de ouro comandada por potentados locais, que não acei-
tavam as imposições colonialistas portuguesas,
Mais do que um recurso natural. Mais do que um artigo como a proibição do comércio com a Bahia.
de exportação. O que se descobriu em Minas Gerais depois d) uma insurreição comandada pela elite colonial, inspi-
de dois séculos de colonização foi fortuna em estado puro.
rada no sebastianismo, que defendia a emancipação
CARRARA, Angelo Alves. Revista de História
da Biblioteca Nacional, nov. 2008. Dossiê Ouro. da região das Minas do restante da América portu-
guesa, com a criação de uma nova monarquia.
Sobre a mineração na América portuguesa, é CORRETO e) uma rebelião, que contrapôs os paulistas – des-
armar que: cobridores das minas e primeiros exploradores
a grande instabilidade social do início da mineração – e os chamados emboabas ou forasteiros – pes-
resultou em diversos conflitos armados, sendo o mais soas de outras regiões do Brasil, que vieram atrás
conhecido deles a chamada Guerra dos Emboabas.
das riquezas de Minas.
ao contrário da produção açucareira, a exploração
das minas de ouro priorizou o trabalho livre em
15. ESPM-SP 2014 À medida que o século chegava ao fim,
detrimento do uso de mão de obra escrava
agravava-se a tensão entre os comerciantes portugueses
em função dos frequentes temores de fugas e rou-
residentes em Recife e os produtores luso-brasileiros. Esse
bos por parte dos mineradores.
atrito assumiu a forma de uma contenda municipal entre
com o objetivo de assegurar o controle sobre a
Recife e Olinda, ou seja, entre o credor urbano e o devedor
exploração do ouro, Portugal assumiu a posse
rural. Olinda era a principal cidade de Pernambuco e
das áreas mineradoras e passou a concedê-las
sediava as principais instituições locais. Lá os senhores
em forma de lotes (datas). de engenho tinham suas casas. Por outro lado, o porto de
a liberdade religiosa, uma das características das Recife, a poucos quilômetros de distância era o principal
sociedades mineradoras, permitiu, ainda no sécu- local do embarque das exportações de açúcar da capitania.
lo XVIII, a instalação de muitas igrejas e templos LOPEZ, Adriana, MOTA, Carlos Guilherme.
de diferentes religiões europeias e africanas. História do Brasil: uma interpretação.
ciedade colonial. Inicialmente utilizados como em redes, cadeirinhas ou liteiras. Cabia aos escra-
escravos, os indígenas ascenderam à condição vos, carregar os seus senhores ou outros livres,
de trabalhadores livres e assalariados a partir da neste caso cobrando por tal serviço.
101
A culinária colonial foi toda baseada na tradição
Texto complementar
Resumindo
• Com a expulsão dos holandeses e a concorrência com a produção açucareira da região das Antilhas, houve a desvalorização
do açúcar no comércio europeu.
• A expansão territorial na Colônia foi promovida, ao longo do século XVII, como ferramenta de busca de novas alternativas
econômicas para a exploração metropolitana, das quais se destacam: as drogas do sertão, na região amazônica; a pecuária
no sertão nordestino; a fundação da Colônia do Sacramento, no Sul; e, principalmente, as bandeiras.
• O século XVIII foi marcado por uma intensa fiscalização metropolitana sobre a Colônia, o que acabou resultando em uma
série de revoltas denominadas nativistas.
• A mineração foi responsável pelo desenvolvimento da economia no Brasil e do mercado interno, além da integração entre
várias regiões da Colônia.
Exercícios complementares
1. UFJF Leia atentamente o trecho a seguir e, com a) De norte a sul das Américas, o processo de co-
base nele e em seus conhecimentos, responda ao lonização obedeceu a um determinado modelo,
que se pede. o mercantilista, de modo a impedir que, nas co-
“Se pensarmos na história do Brasil (...) veremos que lônias, existissem outras atividades econômicas
nenhum produto, ou atividade desaparece. Às vezes nem não comprometidas com o abastecimento do
mesmo decai, (...). Na verdade, o que aconteceu [no caso mercado externo.
do açúcar] deve ser explicado por fatores que dizem res- b) A abundância de ouro e prata nas regiões co-
peito às condições do mercado consumidor mundial, ao lonizadas pela Espanha levou a metrópole a
nível técnico da produção, à competitividade do produto...” introduzir, nessas colônias, muitas práticas típicas
LINHARES, M. Y. L. História da agricultura brasileira. do feudalismo, como a corveia e as banalidades.
a) Cite e analise dois fatores que levaram à chama- c) No Brasil, a colonização foi compartilhada pela
da “crise do açúcar”, em meados do século XVII. Coroa portuguesa e pela iniciativa privada, o que
b) É correto dizer que existiu um “ciclo do açúcar” no pode ser exemplificado, de um lado, pelo Go-
Brasil? Justifique sua resposta. verno Geral e Vice-Reinado, e, de outro, pelas
capitanias hereditárias, sesmarias, produção de
açúcar e exploração aurífera.
2. UFRJ “Por mais de um século o Brasil foi o principal
d) De todos os movimentos insurrecionais que o
exportador mundial de açúcar. De 1600 a 1650 o açúcar
respondia por 90% a 95% dos ganhos brasileiros com ex-
Brasil conheceu no período colonial, a Conjura-
portações. Mesmo no período em torno de 1700, quando ção Mineira (Inconfidência) foi o de maior apelo
o setor açucareiro declinou, ele continuava a representar popular e o que mais desgastou militarmente as
15% dos ganhos do Brasil com exportações.” forças portuguesas
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil.
São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 36.
4. Uece 2018 Atente ao seguinte enunciado: “Em seu
Explique um fator, externo à América portuguesa, res- governo, Maurício de Nassau incentivou a produção
ponsável pelo declínio relativo do setor açucareiro de açúcar, que havia decaído durante a conquista, com
brasileiro na segunda metade do século XVII. a concessão de nanciamentos; também estimulou a
agricultura de subsistência, sobretudo da mandioca,
3. UnB 2015 Cerca de um século antes de Maquiavel para que não faltassem alimentos aos mais pobres.
publicar sua mais célebre obra, um pequeno país, Por- Homem culto e amante das artes, seu governo foi um
tugal, dava início à saga das grandes navegações. Esse período de tolerância religiosa entre católicos e pro-
ciclo de viagens ultramarinas, ao qual outros países se testantes. Seu retorno à Europa e sua substituição por
incorporaram, ligou a Europa à África, à Ásia e ao Novo um ‘triunvirato’ – que alterou suas práticas administra-
Mundo, a América. O sistema colonial dele decorrente tivas – fez surgir reações e insurreições por parte dos
desempenhou importante papel para a nova congu- senhores de engenho”.
ração econômica da Idade Moderna, que, a partir da O enunciado se refere ao período histórico marcado
Europa, se disseminava pelo mundo. A crise desse sis- a) pela implantação do Governo-Geral, em 1548,
tema coincidiu com a crise do Antigo Regime europeu, como forma de resolver o fracasso administrativo
com o colapso das práticas econômicas mercantilistas das Capitanias Hereditárias e garantir a posse e a
FRENTE 1
103
à cultura canavieira daquela região e o desenvol- b) Defina duas características do mito do bandeirante
vimento da cidade de São Luís. construído entre o final do século XIX e primeira me-
c) pelo domínio francês no Rio de Janeiro, que teve na tade do século XX por grupos paulistas e explique
figura de Maurício de Nassau seu grande nome, res- duas razões que levaram a essa construção. Em se-
ponsável por desenvolver a economia e a cidade guida, aponte uma crítica feita a essa mitologia.
de São Sebastião do Rio de Janeiro.
d) pelo domínio holandês no Nordeste do Brasil, que 7. UFMG 2013 Analise este mapa:
se estendeu desde a Bahia até o Maranhão e
Bandeiras e Expedições
que teve na administração de Nassau seu perío-
do de maior desenvolvimento.
de Apresamento (1550-1720)
Imagens das estátuas de Antônio Raposo Tavares (esq.) e Fernão Dias Pais
(dir.), existentes no salão de entrada do museu Paulista, São Paulo.
6. UFPR 2019 Leia o excerto abaixo, retirado de artigo A partir da análise do mapa e considerando outros co-
sobre a construção da mitologia referente à figura e à nhecimentos sobre o assunto,
atuação dos bandeirantes no Brasil: a) EXPLIQUE um motivo para as Expedições de
Apresamento.
Delineou-se com toda a clareza [...] uma preocupação
b) CITE dois processos históricos decorrentes das
ao mesmo tempo historiográfica e ideológica, presente prin-
Expedições de Apresamento.
cipalmente na obra de historiadores paulistas da primeira
c) COMPARE o tratamento dado aos povos indíge-
metade do século XX, em estudar a formação da população
nas por parte das Expedições de Apresamento e
paulista a partir da biografia de seus antepassados ilustres,
das Missões jesuíticas.
encarnados na figura do bandeirante.
SOUZA, Ricardo Luiz de. A mitologia bandeirante: construção e sentidos.
História Social, Campinas, SP, n. 13, 2007, p. 161.
8. Famerp2021 (Adapt.)Leia o texto para responder à
questão
A partir dos conhecimentos sobre o período colonial Os protestos antirracismo iniciados nos Estados
da América Portuguesa (séculos XVI a XIX) e sobre Unidos após a morte de George Floyd por um policial
o período referido no excerto (a primeira metade do colocaram o mundo em polvorosa no final de maio. Além
século XX no Brasil): dos protestos em solo americano, cidadãos de diversas
a) Cite 2 principais atividades das bandeiras no perío- nações intensificaram a discussão acerca do racismo e
do colonial da América Portuguesa. resolveram pôr as mãos na massa — literalmente.
a) as incursões dos bandeirantes às missões je- c) A aceitação das práticas religiosas indígenas, a
suítas visavam apresar indígenas aldeados em inflexível imposição do idioma português e a pers-
grupos numerosos e habituados ao trabalho rural; pectiva salvacionista.
105
d) A condenação do uso de imagens nas celebrações Cite a principal atividade econômica que condicionou
litúrgicas, a tradução da Bíblia para o tupi e o distan- o surgimento dos caminhos da Estrada Real e identi-
ciamento das orientações do Concílio de Trento. que dois interesses da Coroa portuguesa em controlar
esses caminhos, no decorrer do século XVIII.
13. UFMG No início do século XVIII, em Pernambuco e
em Minas Gerais, dois conflitos – respectivamente, 15. Unicamp 2012 Durante o século XVIII, a capitania
a Guerra dos Mascates e a Guerra dos Emboabas – de São Paulo sofreu grandes transformações territoriais
opuseram grupos que já se consideravam naturais da e administrativas. Em 1709, nasceu a capitania de São
terra a portugueses e outros recém-chegados. Paulo e das Minas do ouro, abrangendo imenso territó-
EXPLICITE as razões que levaram esses grupos a se rio correspondente à quase totalidade das atuais regiões
enfrentar na Sul, Sudeste e Centro-Oeste, à exceção da então capi-
a) Guerra dos Mascates. tania do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Até 1748,
b) Guerra dos Emboabas. sucessivos desmembramentos formaram as regiões de
Minas, Santa Catarina, Rio Grande de São Pedro, Goiás
e Mato Grosso. O novo capitão-general, mais conheci-
14. Uerj 2012 do como Morgado de Mateus, foi diretamente instruído
pelo futuro Marquês de Pombal a ocupar-se da fronteira
oeste ameaçada pelos espanhóis e a fomentar a produ-
ção de gêneros de exportação.
Adaptado de Ana Paula Medicci, “São Paulo nos projetos de império”,
em Wilma Peres Costa e Cecília Helena de Oliveira, De um império
a outro: formação do Brasil, séculos XVIII e XIX.
São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2007, p. 243.
para a metrópole portuguesa. São 1.512 km que permitem Considerando os elementos apresentados, é correto
mergulhar na história brasileira. A circulação de pessoas, concluir que a mineração no período colonial
mercadorias e riquezas era obrigatoriamente feita por a) reproduzia o modelo de extração trazido pelos
aqueles caminhos, constituindo crime de lesa-majestade colonizadores portugueses.
a abertura de outros não autorizados pela administração
b) agregava procedimentos técnicos desenvolvidos
metropolitana.
pelos escravos africanos.
Adaptado de http://360graus.terra.com.br
c) dependia de grandes máquinas extratoras impor-
A expansão da colonização na América portugue- tadas da Europa.
sa, nos séculos XVII e XVIII, ocasionou o surgimento d) visava à exploração do ouro, abundante nas re-
de novas atividades econômicas, de núcleos de po- giões litorâneas.
voamento e de caminhos e estradas, como os que e) era prejudicada pela inexperiência dos escravos
compuseram a Estrada Real. nas minas.
Considere o contexto histórico da América portuguesa, no que se refere à sociedade e à economia colonial
do século XVIII, e diferencie esta forma de colonização daquela realizada no Nordeste açucareiro, dos séculos
XVI e XVII.
18. UFG Leia o fragmento a seguir: [...] pois que sendo menor o número das fábricas de mineirar que ficam ao sul de São Félix,
elas renderam ao quinto na Casa Real de Fundição, em 1777, 216 marcos de ouro, e as do norte, 38 marcos. Isso demonstra
que, apesar da maior extensão do terreno e o maior número de escravos ocupado no exercício de mineirar, há muito extravio
do ouro e a necessidade de empregar a maior vigilância para evitar esse roubo no norte.
Relatório do governador José de Vasconcelos. In: PALACÍN, Luís et al. “História de Goiás em documentos”.
Goiânia: Ed. da UFG, 2001. p. 97-98. [Adaptado].
O documento acima ressalta as diculdades da coleta do tributo régio do quinto. No que se refere à mineração na
capitania de Goiás colonial e ao controle da extração aurífera,
a) explique a razão da diferença de arrecadação do quinto entre as regiões mineradoras do norte e do sul;
b) analise a função desempenhada pelas duas Casas Reais de Fundição (Vila Boa e São Félix).
19. FGV-SP 2015 [...] se o interesse da Coroa estava centralizado na atividade minerária, ela não poderia negligenciar outras
atividades que garantissem sua manutenção e continuidade. É nesse contexto que a agricultura deve ser vista integrando
os mecanismos necessários ao processo de colonização desenvolvidos na própria Colônia, uma vez que, voltada para o
consumo interno, era um meio de garantir a reprodução da estrutura social, além de permitir a redução dos custos com
a manutenção da força de trabalho escrava.
Guimarães, C. M. e REIS, F. M. da M. “Agricultura e mineração no século XVIII”, in Resende, m.e.l. e VILLALTA, L.C. (orgs.) História
de Minas Gerais. As minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica Editora/Companhia do Tempo, 2007, p. 323.
20. UnB (Adapt.) Em termos de contribuição para o ordenamento territorial, sobressai, na Região de Influência da Estrada Real,
o processo de ocupação e de constituição de núcleos pioneiros de atividade econômica — como foram os polos de minera-
ção —, e a criação e a organização de aldeias, vilas e cidades, muitas das quais incorporavam arruamentos, infraestruturas,
serviços básicos e técnicas construtivas do mais elevado nível tecnológico, equivalente àquele prevalente no Portugal de
correspondente época.
G.D. Calaes; G.Ferreira (Eds). A estrada real e a transferência da corte portuguesa. Programa Rumys – Projeto Estrada Real. Rio de Janeiro:
CETEM/MCT/CNPq/CYTED, 2009, p. 36 (com adaptações).
107
BNCC em foco
EM13CHS104
1.
b)
a)
c)
b)
c)
d)
d)
e) e)
EM13CHS104
2.
EM13CHS2O
a)
b)
c)
d)
e)
FRENTE 2
1
Na pintura apresentada, você pode ver o filósofo francês Alexis de Tocqueville (1805-
-1859). Em seu livro A democracia na América, de 1835, ele reafirmou a importância
de estudar História: “Quando o passado não mais ilumina o futuro, a mente humana
caminha nas trevas”. Para ele, o estudo da história é fundamental para compreendermos
o mundo que nos cerca e, assim, caminharmos adiante. Para você, o que é História?
E qual é a importância dos estudos em História? Como eles podem auxiliar nos-
sa compreensão do mundo? Neste primeiro capítulo, discutiremos a importância do
conhecimento histórico e, em seguida, apresentaremos, em linhas gerais, o período
conhecido como “Pré-história”.
História: e nós com isso? Os tempos do historiador
O que é História? O historiador, portanto, privilegiaria o estudo do ser
humano através do tempo. Certamente, esse tempo não
Em 1939, começava a Segunda Guerra Mundial (1939-
é estável e linear, mas uma rede complexa que envolve,
-1945) e, em 1940, as tropas nazistas de Hitler, com seus
de um lado, o perecimento e a transformação de todas as
tanques e soldados, entravam na França. Enquanto isso, um
coisas e, de outro, nossas próprias percepções.
professor de História Medieval da renomada Universidade
Assim como Marc Bloch, outro historiador francês
Sorbonne, no mesmo país, deixou a direção da publica-
chamado Fernand Braudel (1902-1985) também foi
ção Revue des Annales para lutar contra as tropas alemãs.
preso pelos nazistas em um campo perto de Lübeck, na
Seu nome era Marc Bloch (1886-1944). Ele já havia lutado
Alemanha. Braudel sobreviveu e tornou-se um grande
na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e era um histo-
historiador das gerações seguintes. No campo de con-
riador consagrado, pois havia escrito o clássico Os reis
centração, aliás, redigiu o clássico O Mediterrâneo e o
taumaturgos sobre a crença de que monarcas medievais e
Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II. Inclusive, ele
modernos poderiam curar doenças com as mãos. Durante
esteve no Brasil entre 1935 e 1937 e auxiliou na fundação
a guerra, Bloch foi detido pela polícia secreta nazista, a
dos primeiros cursos de História do país, na Universidade
Gestapo. Em seguida, foi torturado e fuzilado.
de São Paulo (USP).
Braudel afirma que o tempo experenciado pelo historia-
Coleção particular
Saiba mais
FRENTE 2
111
A historiadora Élisabeth Badinter (1944-), por exemplo, No século XXI, ganham espaço ainda outros tipos de
estudou a história do amor materno; o historiador Luiz história, como a História Natural e os estudos da história
Mott (1946-), a história da homossexualidade; o historiador homem-animal. Com a digitalização da documentação, os
Philippe Ariès (1914-1984), a história da infância; histo- historiadores conseguem encontrar fontes com maior faci-
riadores como Robert Darnton (1939-) e Roger Chartier lidade e fazer outros tipos de levantamentos e estatísticas.
(1945-) analisaram a história da escrita e da leitura; Carlo Outro campo de estudos também em alta hoje é a chamada
Ginzburg (1939-), por meio do que chamamos de micro- História Pública, que não visa apenas tornar o conhecimen-
-história, buscou revelar grandes elementos do passado to em História acessível ao grande público, mas também,
estudando casos e pessoas específicas. Walter Benjamin como pontuou o historiador Bruno Leal, “fazer com que os
(1892-1940), por exemplo, propôs, no início do século XX, diversos segmentos da sociedade participem da construção
o estudo de uma “história dos vencidos”, que Georges deste conhecimento”.
Lefebvre (1874-1959) chamou de “história vista de baixo”,
Coleção particular
isto é, do ponto de vista daqueles que sofreram e foram
oprimidos de alguma maneira. Os campos da historiografia,
assim, ampliaram-se conforme o passar das décadas.
Saiba mais
escrita, o que teria ocorrido entre 5 ou 6 mil anos atrás. O ter- A seguir, veremos alguns exemplos de seres humanos
mo “Pré-história” foi cunhado pelo inglês Sir John Lubbock do passado.
(1834-1913), em 1865, na sua obra-prima Pre-historic O Homo habilis, surgido há cerca de 2,5 milhões
Times, para negar a cronologia, sustentada por alguns gru- de anos, viveu em savanas, era bípede e possuía uma
pos religiosos, segundo a qual a Terra teria sido criada em arcada dentária que sugere uma dieta de plantas e ani-
4004 a.C. Em contraste, ele mostrava que existiam evidên- mais. Seu uso de pedras afiadas compensava a pequena
cias de povos e civilizações muitos mais antigos. estatura e os dentes pequenos.
113
O Homo erectus surgiu na África centro-oriental, cerca
Hairymuseummatt/(CC BY 2.0)
de 1,5 milhão de anos atrás, e povoou a Europa e a Ásia.
Com um cérebro maior, um maxilar maciço e uma postura
mais ereta, os achados arqueológicos sugerem coopera-
ção e repartição de alimentos, o que deve ter garantido
a sobrevivência dos filhos por tempo prolongado. Até o
momento, ele foi o ser humano que mais durou na Terra,
sobrevivendo por mais de 1 milhão de anos. Atribui-se a
ele também a “descoberta” do fogo.
O fogo torna os alimentos mais digeríveis, liberando
mais tempo para a atividade humana e possibilitando ali-
mentar um cérebro que demanda cada vez mais energia.
Pelo fogo, o ser humano passa a ter outra relação com o Crânio de Homo sapiens (à esquerda) e Homo neanderthalensis (à direita).
ambiente: aquecido pelas fogueiras, ele suporta noites frias,
penetra regiões temperadas ou árticas, explora cavernas O atual ser humano, então, espalhou-se pelos quatro
e cria novos alimentos. cantos do planeta e subjugou o neandertal, que desapare-
ceu há 30 mil anos. Eles migraram da África para o Oriente
Reprodução/The National Library of Australia, Camberra, Australia
terstock.com
marfim, ossos, chifres e lâminas cuidadosamente
produzidas. Os seres humanos passaram a criar rou-
pas com as peles dos animais com o uso da agulha.
Aparecem também as primeiras pinturas, esculturas
e símbolos gravados.
L
Por volta de 40 mil anos atrás, a pintura passou a
desenvolver-se de maneira notável nas cavernas e foi
chamada de arte rupestre. As primeiras obras de arte da
humanidade eram, principalmente, pinturas de animais nas
paredes das grutas, feitas com sangue, e estatuetas escul-
pidas em gesso, osso, chifre, marfim, pedra ou argila.
Bridgeman Images/Fotoarena
115
O período Neolítico a primeira explosão demográfica da história, quando a po-
Entre 12 e 10 mil anos atrás, no Oriente Médio e norte pulação humana saltou de 100 mil para 3,2 milhões de
da África, encontramos os registros mais antigos da Revo- indivíduos na região do Oriente Médio e no norte da África.
lução Agrícola, ou a Primeira Revolução Neolítica, isto é, É importante saber que o advento da agricultura não signi-
a domesticação de plantas (agricultura) e animais (pecuá- ficou o fim da vida nômade; pelo contrário, diversas formas
ria). Tal revolução, ao que tudo indica, ocorreu de maneira de existência continuaram a conviver.
independente em várias regiões do planeta. A Revolução Sobre a arte neolítica, podemos dizer que as pinturas
Agrícola só é comparável, em importância, à Revolução tornaram-se menos naturalistas e imitativas, ganhando maior
Industrial, dado o impacto gigantesco em nossa história. complexidade, movimento e possibilidade de constituir uma
A criação de ovelhas, cabras e porcos forneceu ao ser narrativa. A cerâmica e as construções megalíticas para o
humano o leite e derivados, o esterco, o couro e a carne. A culto funerário eram a maior expressão da arte neolítica.
lã das ovelhas e o algodão impulsionaram o trabalho têxtil.
Adwo/Shutterstock.com
O boi foi utilizado para puxar arados, carroças e carregar
peso. O asno, a mula, o camelo e o cavalo foram os princi-
pais animais de transporte, enquanto o cachorro ajudava na
caça e no pastoreio dos rebanhos. Durante o Neolítico,
na Amazônia e nos Andes, a lhama e o porquinho-da-índia
foram também domesticados.
A agricultura, por sua vez, exigiu conhecimento sobre
cheias e colheitas, o que favoreceu o surgimento do calen-
dário e da Astronomia. Na China, o arroz foi domesticado
em 6000 a.C.; o café, na Etiópia; a cana-de-açúcar e a ba-
nana, em Nova Guiné; a berinjela e o gergelim, na Índia;
girassol, batata, milho, feijão e abóbora, na América. Desde
então, o milho, o trigo, a cevada, a oliva e a aveia foram
selecionados de tal maneira que perderam a capacidade
de se reproduzir sem interferência humana.
Em suma, mais de 90% das espécies com as quais nos
alimentamos hoje foram domesticadas na Pré-história – e,
desde lá, poucos animais ou plantas novas foram introdu-
zidos em nossa dieta.
Além disso, a necessidade de armazenar grãos contri-
buiu para o desenvolvimento da cerâmica. É dessa época
também o surgimento do machado de pedra polida, que O menir é um monólito colocado sobre uma sepultura ou perto dela. Foto de
para o arqueólogo antigo era o marco da época neolítica. Évora, Portugal. Foto de 2016.
A roda, atrelada ao boi, burro ou jumento, fazia-os transpor-
tar um carro ou vagão, facilitando o comércio.
Atenção
Revisando
1. Fatec 2015 A forma como as sociedades organizam 2. Enem PPL 2015 Os nossos ancestrais dedicavam-se à
as suas atividades produtivas se transforma ao lon- caça, à pesca e à coleta de frutas e vegetais, garantindo
go do tempo e vem marcando mudanças históricas sua subsistência, porque ainda não conheciam as prá-
importantes. ticas de agricultura e pecuária. Uma vez esgotados os
Na transição do período Paleolítico para o período alimentos, viam-se obrigados a transferir o acampamento
FRENTE 2
117
3. Fuvest 2012 Há cerca de 2000 anos, os sítios super- exemplo, utensílios domésticos, vestuário, foto-
ficiais e sem cerâmica dos caçadores antigos foram grafias, monumentos ou mesmo registros orais.
substituídos por conjuntos que evidenciam uma forte a escrita da história depende da análise de fontes
mudança na tecnologia e nos hábitos. Ao mesmo tempo
e da interpretação de quem a analisa, por isso ela
que aparecem a cerâmica chamada itararé (no Paraná)
deve ser entendida como uma versão.
ou taquara (no Rio Grande do Sul) e o consumo de ve-
getais cultivados, encontram-se novas estruturas de a forma de dividir a história em quatro grandes
habitações. épocas – antiga, média, moderna e contemporâ-
André Prous. O Brasil antes dos brasileiros. A pré-história do nosso país. nea –, apesar de ser um invento europeu, deve
Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 49. Adaptado. ser empregada para o entendimento do processo
O texto associa o desenvolvimento da agricultura com histórico dos diferentes povos do mundo.
o da cerâmica entre os habitantes do atual território os conceitos de tombamento e patrimônio ima-
do Brasil, há anos. Isso se deve ao fato de que terial foram instituídos como forma de preservar
a agricultura bens dos mais variados, materiais e imateriais,
a) favoreceu a ampliação das trocas comerciais com como fotografias, livros, imóveis, cidades, receitas
povos andinos, que dominavam as técnicas de culinárias, que sejam considerados importantes
produção de cerâmica e as transmitiram aos po- para a memória coletiva.
vos guarani. apesar da ampliação da noção de documentos
b) possibilitou que os povos que a praticavam se
históricos, os documentos oficiais ainda são
tornassem sedentários e pudessem armazenar
tomados pelos historiadores como as únicas le-
alimentos, criando a necessidade de fabricação
gítimas fontes para o conhecimento histórico.
de recipientes para guardá-los.
c) proliferou, sobretudo, entre os povos dos samba- os estudos históricos da atualidade procuram
quis, que conciliaram a produção de objetos de dar voz a diferentes sujeitos, como mulheres,
cerâmica com a utilização de conchas e ossos na trabalhadores rurais, crianças etc.; no entanto,
elaboração de armas e ferramentas. as pesquisas sobre o passado ainda têm maior
d) difundiu-se, originalmente, na ilha de Fernando concentração nas ações dos reis, generais, co-
de Noronha, região de caça e coleta restritas, o mandantes de revoltas e revoluções, pois são os
que forçava as populações locais a desenvolver atos dos grandes governantes e líderes que mo-
o cultivo de alimentos. dificam o rumo dos acontecimentos.
e) era praticada, prioritariamente, por grupos que Soma
viviam nas áreas litorâneas e que estavam, por-
tanto, mais sujeitos a influências culturais de 5. UEL 2018 Os indivíduos da espécie Homo sapiens
povos residentes fora da América. “Cro-Magnon” foram os primeiros a domesticar ani-
mais e a deixar expressivas obras de arte, como
4. UFSC 2016 pinturas em cavernas e figuras esculpidas de animais
O jovem Alexandre conquistou a Índia. e de mulheres grávidas. Nas paredes da Caverna
Sozinho? de Chauvet, por exemplo, estão as famosas pinturas do
César bateu os gauleses. Paleolítico Superior.
Não levava sequer um cozinheiro? De acordo com a hipótese mais aceita atualmente,
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou. nossos ancestrais surgiram na África e daí teriam irra-
Ninguém mais chorou? diado para outros continentes.
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele? Com base nessa hipótese, de origem única na África,
Cada página uma vitória. assinale a alternativa que indica corretamente como
Quem cozinhava o banquete? ocorreu essa irradiação, em ordem cronológica, a
A cada dez anos um grande homem. partir do continente africano, para as diversas partes
Quem pagava os gastos? do mundo.
BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê. a) Europa – Nordeste da Ásia – América do Norte –
In:____. Poemas. Tradução de Paulo Cesar Souza. Indonésia – Austrália.
São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 167.
b) Sudeste da Ásia – Europa – Nordeste da Ásia –
Em relação a fontes e escrita da história, é CORRETO América do Norte – América do Sul.
armar que: c) Sudeste da Ásia – Europa – América do Norte –
por muito tempo as pesquisas históricas pri- América do Sul – Austrália.
vilegiaram as fontes escritas, mas atualmente d) Europa – América do Norte – América do Sul –
entende-se que todo tipo de registro dos atos Austrália – Sudeste da Ásia.
e pensamentos da sociedade pode ser usado e) Europa – Nordeste da Ásia – América do Norte –
como fonte para a escrita da história, como, por América do Sul – Oceania.
119
Exercícios propostos
1. Enem PPL 2019 Os pesquisadores que trabalham com sociedades indígenas centram sua atenção em documentos do
tipo jurídico-administrativo (visitas, testamentos, processos) ou em relações e informes têm deixado em segundo plano
as crônicas. Quando as utilizam, dão maior importância àquelas que foram escritas primeiro e que têm caráter menos
teórico e intelectualizado, por acharem que estas podem oferecer informações menos deformadas. Contrariamos esse
posicionamento, pois as crônicas são importantes fontes etnográficas, independentemente de serem contemporâneas ao
momento da conquista ou de terem sido redigidas em período posterior. O fato de seus autores serem verdadeiros huma-
nistas ou pouco letrados não desvaloriza o conteúdo dessas crônicas.
PORTUGAL, A. R. O ayllu andino nas crônicas quinhentistas: um polígrafo na literatura brasileira do século XIX (1885-1897).
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.
As fontes valorizadas no texto são relevantes para a reconstrução da história das sociedades pré-colombianas porque
a) sintetizam os ensinamentos da catequese.
b) enfatizam os esforços de colonização.
c) tipificam os sítios arqueológicos.
d) relativizam os registros oficiais.
e) substituem as narrativas orais.
Ao tratarmos de evidências e procedimentos para análise de processos históricos, é CORRETO armar que
a) a análise histórica não necessita dessas evidências, já que elas eram apenas utilizadas como foco de visitação
turística. Pois, o material necessário para a reflexão histórica encontra-se registrado em documentos impressos e
arquivos públicos.
b) a destruição desses registros históricos não faz parte do modo como o Estado Islâmico propõe impor certa lei-
tura da história a partir dos seus interesses e domínio, esses atos foram realizados por erro de alvos durante os
ataques realizados.
c) a destruição dos sítios arqueológicos e históricos se deve apenas a um conflito no Oriente Médio em função das
práticas religiosas e à intolerância pela intervenção estrangeira.
d) práticas como as realizadas pelo Estado Islâmico, ao destruírem sítios arqueológicos e históricos, destacam como
o debate sobre memória e história faz parte das disputas de poder, inclusive, como tentativa de imposição de
certo nacionalismo como controle do presente e do passado para intenções futuras.
e) as fontes são materiais importantes na investigação histórica acadêmica. O historiador se utiliza desses indícios
para aprofundar pesquisas; com destaque para períodos, fatos e sujeitos. Porém, o uso de sítios arqueológicos e
históricos são desnecessários ao ensino de história, por isso podem ser facilmente descartados.
3. Enem PPL 2019 Lembro, a propósito, uma cerimônia religiosa a que assisti na noite de Santo Antônio de 1975 quan-
do presente a uma festa em honra do padroeiro. Ia a coisa assim bonita e simples, até que, recitadas as cinco dezenas
de ave-marias e os seus padre-nossos, chegou a hora do remate com o canto da salve-rainha. O capelão começou a
entoar nesse instante hino à Virgem, em latim “Salve Regina, mater misericordiae”, e, o que eu estranhei, foi seguido
de pronto sem qualquer hesitação pelos presentes. Depois veio o espantoso para mim: a reza, também entoada, de
toda a extensa ladainha de Nossa Senhora igualmente em latim. Eu olhava e não acabava de crer: aqueles caboclos
que eu via mourejando de serventes nas obras do bairro estavam agora ali acaipirando lindamente a poesia medieval
do responso.
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
4. Enem PPL 2019 Para dar conta do movimento histórico do processo de inserção dos povos indígenas em contextos urba-
nos, cuja memória reside na fala dos seus sujeitos, foi necessário construir um método de investigação, baseado na História
Oral, que desvelasse essas vivências ainda não estudadas pela historiografia, bem como as conflitivas relações de fronteira
daí decorrentes. A partir da história oral foi possível entender a dinâmica de deslocamento e inserção dos índios urbanos
no contexto da sociedade nacional, bem como perceber os entrelugares construídos por estes grupos étnicos na luta pela
sobrevivência e no enfrentamento da sua condição de invisibilidade.
MUSSI, P. L. V. Tronco velho ou ponta da rama? A mulher indígena terena nos entrelugares da fronteira urbana. Patrimônio e Memória, n. 1, 2008.
O uso desse método para compreender as condições dos povos indígenas nas áreas urbanas brasileiras justica-se por
a) focalizar a empregabilidade de indivíduos carentes de especialização técnica.
b) permitir o recenseamento de cidadãos ausentes das estatísticas oficiais.
c) neutralizar as ideologias de observadores imbuídos de viés acadêmico.
d) promover o retorno de grupos apartados de suas nações de origem.
e) registrar as trajetórias de sujeitos distantes das práticas de escrita.
5. Fepar 2019 O cristianismo trouxe uma concepção de devir histórico linear, uniforme, que, estendendo-se da
Criação até o Juízo Final, foi adaptada em forma secular pelo moderno pensamento histórico [...] A articulação
em Antiguidade-Idade Média-Idade Moderna foi enunciada pelo alemão Cristoph Cellarius (-); de iní-
cio, correspondia à interpretação e valorização pelos humanistas de uma história cultural europeia ocidental.
Ao final do século XIX [...] afirmou-se no mundo ocidental uma divisão baseada em grandes marcos ou eventos,
que se denomina “periodização clássica”.
Considere o texto, a linha do tempo e seus conhecimentos de História para avaliar as armativas.
A Idade Antiga, por ter maior duração, disponibiliza ao historiador maior número de fontes históricas escritas
do que a Idade Moderna, que compreende pouco mais de séculos.
Enquanto o ano marca, na periodização clássica, o tempo decorrido depois de Cristo (d.C.), a Civilização
Islâmica tem o início de seu calendário no ano , quando ocorreu a hégira, a retirada do profeta Maomé
de Meca para Medina.
O ano de , data da queda do Império Romano do Ocidente, marca um período de instabilidade (com
triunfo dos germânicos e conflitos entre eles) e de uma economia de base rural, com antigos escravos e
colonos transformados em servos de gleba, na estrutura feudal que foi sendo definida.
FRENTE 2
A tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos ocorreu em , no século XV. A data marca o fim da
Idade Média, quando estava em marcha a expansão das cidades e o capitalismo comercial, ao qual se vin-
cula o movimento das Grandes Navegações, cujo objetivo inicial era o comércio de especiarias diretamente
nas fontes.
No ano de teve início a Revolução Francesa. A data marca o início da Idade Contemporânea, com a
redação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consagrava o igualitarismo no plano
econômico e a defesa da república como forma de governo.
121
6. UEPG 2018 Existem diferenças claras entre o que compreendemos por tempo cronológico e por tempo histórico.
A respeito deste último, assinale o que for correto.
Historiadores se valem das formas de organizar e viver de uma sociedade para afirmar que um determinado
tempo histórico se diferencia de outro.
A passagem de um tempo histórico para outro pode ser marcada por permanências de hábitos, ideias e
comportamentos.
Há diferenças temporais entre os tempos históricos. Por exemplo: a Idade Média durou cerca de 1000 anos,
enquanto a Idade Moderna pouco mais de 300 anos.
Para os historiadores, a chamada Idade Contemporânea teve início em 1789, com a Revolução Francesa, e se
prolonga até os dias atuais.
Soma:
7. Fuvest 2017 Um elemento essencial para a evolução da dieta humana foi a transição para a agricultura como o modo
primordial de subsistência. A Revolução Neolítica estreitou dramaticamente o nicho alimentar ao diminuir a variedade de
mantimentos disponíveis; com a virada para a agricultura intensiva, houve um claro declínio na nutrição humana. Por sua
vez, a industrialização recente do sistema alimentar mundial resultou em uma outra transição nutricional, na qual as nações
em desenvolvimento estão experimentando, simultaneamente, subnutrição e obesidade.
George J. Armelagos, “Brain Evolution, the Determinates of Food Choice, and the Omnivore’s Dilemma”, Critical Reviews
in Food Science and Nutrition, 2014. Adaptado.
A respeito dos resultados das transformações nos sistemas alimentares descritas pelo autor, é correto armar:
a) A quantidade absoluta de mantimentos disponíveis para as sociedades humanas diminuiu após a Revolu-
ção Neolítica.
b) A invenção da agricultura, ao diversificar a cesta de mantimentos, melhorou o balanço nutricional das socieda-
des sedentárias.
c) Os ganhos de produtividade agrícola obtidos com as revoluções Neolítica e Industrial trouxeram simplificação
das dietas alimentares.
d) As populações das nações em desenvolvimento estão sofrendo com a obesidade por consumirem alimentos de
melhor qualidade nutricional.
e) A dieta humana pouco variou ao longo do tempo, mantendo-se inalterada da Revolução Neolítica à Revolu-
ção Industrial.
8. UPE 2018
Sítio: Pedra Fish Sítio: Pedra Furada Sítio: Furna do Lajeiro Liso Sítio: Pedra da Lua
Venturosa - PE Venturosa- PE Caetés - PE Brejo da Madre de Deus – PE
Acerca dessas formações rochosas misteriosas, devidamente arrumadas na natureza por nossos antepassados, é
correto armar que
a) são consideradas monumentos pela sua formação. Acredita-se que podem ter surgido durante o período Neolítico
(Idade da Pedra) e a finalidade de sua existência não é totalmente conhecida.
b) muitas eram contempladas e cultuadas pelos religiosos fundadores da Igreja Católica, que acreditavam em seus
poderes esotéricos e na presença de relíquias sagradas entre as pedras utilizadas em sua construção.
c) são construções feitas por seres detentores de altos conhecimentos, pois a maioria das pedras chega a
pesar toneladas. Os templos seriam destinados aos alquimistas e magos, donos do conhecimento científico
no período Homérico.
d) algumas são construções de indivíduos solitários, conhecidos como menires (em celta significa “pedras compridas”) e
tinham o objetivo comprovado de abrigar as tribos nômades em suas incursões em busca de alimento e moradia.
10. Enem
FRENTE 2
123
Texto complementar
Resumindo
y O historiador francês Marc Bloch definiu o conhecimento histórico como o estudo dos seres humanos através do tempo.
Nesse sentido, a História se configura como uma ciência que, a partir de uma metodologia específica e do uso profissional de
fontes primárias, constrói um discurso sobre as sociedades humanas e suas transformações. Desse modo, são fundamentais
as análises das diversas temporalidades (longa, curta e média) que atravessam a nossa experiência.
y Cabe ao historiador, da mesma forma, periodizar o passado, a fim de torná-lo mais inteligível. Isso foi feito, por exemplo, na cons-
trução da ideia de Pré-história, pensada no século XIX como uma maneira de periodizar o mundo anterior à escrita. Sabemos
hoje, contudo, que o termo “Pré-história” é impreciso, por sugerir que o período anterior à escrita carece de estrutura histórica.
y Usualmente, dividimos a Pré-história em dois grandes períodos, o Paleolítico, caracterizado pela caça e pela coleta, e o Neo-
lítico, definido pelo advento da agricultura e da pecuária. Em decorrência da Revolução Neolítica, há também o surgimento
das primeiras cidades, na região do Oriente Médio e no norte da África, onde terão espaço as sociedades mesopotâmica e
egípcia, tema do próximo capítulo.
Sites Livros
https://anpuh.org.br/. Acesso em: jun. . BLOCH, Marc.Apologia da História, ou, O ofício de histo-
Página da Associação Nacional de História (ANPUH), a riador. Jorge Zahar, .
maior organização de historiadores do Brasil, com infor- Uma das principais obras sobre o estudo da história e a
mações e materiais diversos. pesquisa em História.
https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/ GOSDEN, Chris. Pré-História.Porto Alegre: L&PM, .
4/. Acesso em: jul. . Análise da Pré-história por meio de fatos e algumas
BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais: a longa deduções.
duração.Revista de História, v. , n. , p. -4, .
LÉVÊQUE, Pierre; CARDOSO, Artur Lopes; RIBEIRO, Antó-
O artigo apresenta uma reflexão sobre a História e a So-
nio Pinto.As primeiras civilizações: da Idade da Pedra aos
ciologia, suas diferenças e convergências.
povos semitas. Lisboa: Edições , .
Diversos textos de especialistas sobre as primeiras
civilizações.
Exercícios complementares
1. Udesc 2018 A História, segundo o historiador Marc Assinale a alternativa correta, de cima para baixo.
Bloch, pode ser definida como a ciência do homem no a) V–V–V–V
tempo. Quando estudada em instituições escolares,
b) V–F–F–F
ela é, comumente, dividida em: Idade Antiga, Idade
c) F–V–V–V
Medieval, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Sobre este modelo de organização do tempo histó- d) V–V–F–F
rico em períodos ou idades, analise as proposições. e) F–V–V–F
I. O modelo acima foi instituído na Grécia durante
o século IV a.C. por Aristóteles que, na época, 3. UFU 2018 Objeto de estudo da nova historiografia, a:
assumia as funções de tutor de Alexandre da
(...) história da vida cotidiana e privada é a história
Macedônia.
de pequenos prazeres, dos detalhes quase invisíveis, dos
II. A adoção deste modelo demonstra o forte vín-
culo existente entre os programas escolares dramas do banal, do insignificante, das coisas deixadas
de história e a tradição europeia, na medida “de lado”.
em que as idades são organizadas a partir de DEL PRIORI, Mary. História do cotidiano e da vida privada.
In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.).
processos ocorridos majoritariamente no Con- Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia.
tinente Europeu. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
III. O modelo citado foi desenvolvido e institucionali-
zado em 1837, pelo Instituto Histórico Geográfico Esse fragmento de texto aborda a inovação do co-
Brasileiro, e refere-se, exclusivamente, aos pro- nhecimento histórico a partir da segunda metade do
cessos ocorridos a partir do Descobrimento do século XX, conhecida como Nova História. Desde en-
Brasil, em 1500. tão, novos sujeitos tornaram-se objetos da pesquisa
Assinale a alternativa correta. histórica, observando-se o seu protagonismo em dife-
a) Somente a afirmativa I é verdadeira. rentes esferas sociais.
b) Somente a afirmativa III é verdadeira. Com base nessa informação, é INCORRETO armar que
c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. compuseram o novo grupo de indivíduos estudados
d) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
a) as mulheres atenienses na Grécia clássica.
e) Somente a afirmativa II é verdadeira.
b) os imperadores e os generais da Roma antiga.
c) as comunidades manicomiais e as étnicas.
2. Udesc 2018 O conhecimento histórico acadêmico ou
científico é construído, prioritariamente, por meio de d) os afrodescendentes no continente americano.
práticas de investigação e análise. Para a construção
do conhecimento histórico, as fontes ou vestígios são, 4. UEL 2018 Leia o texto a seguir.
FRENTE 2
125
Esta é uma fala do androide Roy que queria eliminar Decard, no lme Blade Runner, o Caçador de Androides
(), dirigido por Ridley Scott. No entanto, no combate, Roy o salvou da morte. Essa reexão apresenta a noção
de uma existência construída por múltiplas experiências as quais, que por serem as memórias de Roy, se perderiam
para sempre.
Com base nos conhecimentos hoje predominantes sobre os fundamentos da história, atribua V (verdadeiro) ou F
(falso) às armativas a seguir.
A História privilegia, nos seus estudos, as experiências coletivas dos grandes grupos humanos, excluindo a vida
do indivíduo comum.
A historiograa desconsidera a memória oral para registrar as formas culturais de compreensão do mundo.
Nos museus e cemitérios, descansam os personagens históricos cujas ideias não mais afetarão os vivos.
Memória e história são noções diferentes, mas se complementam e interagem quando depoimentos orais são
registrados em documentos.
Um fato histórico gera uma diversidade de documentos, e as interpretações sobre ele ressignicam o seu teor.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
a) V, F, F, V, F
b) V, F, V, F, V
c) V, V, F, V, F
d) F, F, F, V, V
e) F, V, V, F, V
5. Uece 2017 História, como área do conhecimento, possui, hoje, especificidades que a definem, dentre as quais en-
contra-se a característica de
a) ater-se apenas a documentos escritos, não aceitando como fonte outros tipos de informação tais como informa-
ções originadas na oralidade ou produzidas pela mídia.
b) não se ater apenas aos fatos realizados por governantes e poderosos, tomando os eventos cotidianos e as prá-
ticas sociais como importantes temas históricos.
c) entender o tempo histórico e o tempo cronológico como iguais, uma vez que ambos são caracterizados por ter
medidas constantes e exatas de tempo.
d) reconhecer apenas grandes eventos documentados oficialmente como um fato histórico.
6. Udesc 2018 Em 1972, a equipe do arqueólogo Richard Leakey encontrou, nas imediações do Lago Turkana, o crânio e os
ossos de um Homo rudolfensis de 1,9 milhões de anos. Esta espécie teria coabitado o território africano ao mesmo tempo em
que três outras; o Homo habilis, o Homo erectus e o Paranthropus boisei. Em 1974, pesquisadores descobriram, na Etiópia,
um fóssil de 3,2 milhões de anos, ao qual apelidaram de Lucy. Em 2017, foram publicadas pesquisas a respeito de fósseis de
Homo sapiens encontrados no Marrocos, os quais contariam com cerca de 300 mil anos.
Disponível em www.bbc.com, acessado em 15 de março de 2018.
Estas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento de pesquisas, a respeito da evolução de espécies, pois
elas poderiam ser referentes aos antepassados diretos da espécie humana. A este respeito, é correto armar:
a) A descoberta de 2017 refuta a teoria de que a origem da vida humana seria na África, deslocando-a para a pe-
nínsula arábica.
b) Os seres humanos que habitam a África, a América e a Europa não fazem parte da mesma espécie.
c) É consensual, para a comunidade científica, a afirmação de que a espécie humana é originária do Continente
Africano.
d) Não existem consensos a respeito de qual continente teria se originado a espécie humana.
e) O Homo sapiens é, evidentemente, anterior ao Homo rudolfensis.
7. Uece 2018 É admirável a variedade de habitats ocupados pelos primeiros humanos que possivelmente iniciaram o
povoamento da América em seu ponto mais meridional na Terra do Fogo, no extremo sul do continente. A chegada
na América comprova a engenhosidade, adaptabilidade e capacidade migratória excepcional e insuperável do
a) Homo habilis.
b) Homo neanderthalensis.
c) Homo de denisova.
d) Homo sapiens.
Com base na gura e nos conhecimentos sobre arte paleolítica, assinale a alternativa correta.
a) A pintura feita com guache é uma característica desse período, que consiste na mistura de alguns tipos de
terra; tais pinturas serviam para catalogar o que haviam caçado, garantindo a diversidade de espécies nas
caças seguintes.
b) As pinturas e os desenhos foram feitos com pigmentos minerais e vegetais, fixados com gordura animal; tais
produções são relacionadas a aspectos mágicos, presentes no cotidiano das organizações pré-históricas.
c) As pinturas funcionavam como oferenda aos deuses e, pelas dimensões, é possível perceber o nível de reverên-
cia; os artistas desse período empenhavam-se na produção de uma arte religiosa com fins decorativos.
d) As pinturas e os desenhos encontrados nas grutas eram feitos como afrescos e representam figuras híbridas,
metade humana e metade animal; os mitos gregos têm suas origens nessas imagens da pré-história.
e) Nos registros encontrados nas cavernas, as figuras de destaque remetem à flora; para os povos paleolíticos
esses desenhos caracterizaram o momento em que deixaram de ser nômades e, para a história, foi o início das
catalogações de todas as espécies.
9. UPE 2017 Na bacia do Rio São Francisco, nas paleolagoas conhecidas hoje como tanques, foram achados ossos de animais
extintos da fauna pleistocênica, que conviveram com o homem em diversas áreas da região, como Salgueiro e Alagoinha,
em Pernambuco. Pesquisas mais recentes assinalaram, também, a presença de megafauna, como o mastodonte e a pregui-
ça-gigante, como é o caso da Lagoa Uri de Cima em Salgueiro.
MARTIN, Gabriela; PESSIS, Anne-Marie. Breve Panorama da Pré-História do Vale do São Francisco no Nordeste do Brasil. Revista FUMDHAMentos,
Volume 1 – Número 10 – Ano 2013, p. 14, adaptado.
O trecho acima propõe uma leitura da História do Brasil, que se caracteriza pela
a) presença essencial dos europeus no continente americano.
b) inexistência de exemplares da megafauna em território brasileiro.
c) carência de estudos paleoantropológicos e sítios arqueológicos no Nordeste.
d) antiguidade da presença humana no país, anterior à chegada dos portugueses.
e) existência de répteis de porte avantajado, popularmente conhecidos como dinossauros.
10. Uece Considera-se a Pré-História o período de maior duração na História. Corresponde ao surgimento do ser humano
no planeta Terra e se estende até a criação da escrita, aproximadamente a.C. A longa duração dessa fase fez
com que se convencionasse dividi-la em períodos distintos: o Paleolítico, o Mesolítico, o Neolítico e a Idade dos
Metais. Sobre o Período Neolítico, é correto afirmar-se que é
FRENTE 2
a) conhecido como Idade da Pedra Polida e marcado pelo desenvolvimento da agricultura e pela domesticação de
animais.
b) conhecido como Idade da Pedra Lascada e caracterizado pela larga produção de artefatos em madeira, osso ou
pedra lascada.
c) caracterizado pelo avanço de uma indústria lítica e pelo gradual desaparecimento de artefatos feitos com ossos.
d) considerado a fase de transição da Pré-História para a História, pois nesse período desenvolveu-se a técnica
da fundição.
127
BNCC em foco
EM13CHS103 EM13CHS101
a)
b)
c)
d)
e)
a) d)
b) e)
c)
2
Talvez você já tenha ouvido falar sobre as pirâmides do Egito, os jardins suspensos da
Babilônia, a Cleópatra ou Nabucodonosor II. A presença desses lugares e personagens
em filmes, textos bíblicos e sites de internet pode instigar nossa curiosidade sobre os
povos da Antiguidade.
No entanto, não podemos reduzir a história desses povos a meras curiosidades, dei-
xando de lado a existência de incontáveis mulheres e homens. Não podemos também
desconsiderar o trabalho científico de diversos pesquisadores a respeito desses povos.
Considerando esses estudos, neste capítulo apresentaremos um panorama da vida des-
sas pessoas durante a Antiguidade.
Onde viviam esses povos? Usualmente, atribui-se aos gregos e romanos o título
de “criadores da civilização ocidental”. Tal ideia advém,
Foi na região que hoje chamamos de Oriente Médio e
norte da África que surgiram algumas das primeiras cidades sobretudo, do século XIX, e relaciona-se a uma tentativa
de que temos notícia e onde viveram os egípcios, os de diminuir as contribuições de outros povos, ao mesmo
persas, os hebreus, os fenícios e as diversas populações tempo que cria um imaginário de um passado ocidental
chamadas, genericamente, de “mesopotâmicas”. Todos clássico. Em contrapartida, a historiografia atual, com
esses povos deixaram legados como a escrita, o alfabeto, o apoio de modernas formas de pesquisa empírica e
a Aritmética, a Geometria, unidades de pesos e medidas, a de uma metodologia rigorosa, tem reforçado que as
Astronomia, o calendário lunar e solar, princípios de medici- origens de nossa “civilização” são muito mais diversas
na, códigos religiosos e formas de organização do Estado. e plurais.
Saiba mais
Esses povos ocuparam uma área de aproxima- Atualmente, a região abriga os estados da Palestina, Israel,
damente 500 mil km², chamada de Crescente Fértil, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, além de regiões da Síria, do
marcada pela existência de vários rios, que tornam as Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e do sudoeste do Irã.
terras próximas a eles propícias para a agricultura. Cor- Essas sociedades estavam localizadas, portanto, em
responde a vales férteis, cercados por regiões inóspitas regiões desérticas e dependiam dos rios para a realização
de desertos e estepes, ao redor dos quais surgiram, das mais diversas atividades. A fim de melhor aproveitar
na Antiguidade, grandes centros urbanos como a Me- esses recursos hídricos, construíram grandes canais, diques
sopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates; o Egito, às e outros instrumentos engenhosos que realizavam o con-
margens do rio Nilo; a Síria, próxima ao rio Orontes; e trole e a circulação forçada da água, facilitando o seu fluxo
Israel e Jordânia, junto ao rio Jordão. Nessa região se para cidades e plantações. Por suas relações com os rios e
passaram a Revolução Agrícola e a Revolução Urbana, pela habilidade e dependência do manejo da água, esses
estudadas no capítulo anterior. povos também são chamados de sociedades hidráulicas
A expressão “Crescente Fértil” foi criada pelo arqueó- ou de regadio.
logo estadunidense James Henry Breasted (1865-1935), e
Tor Eigeland/Alamy/Fotoarena
se refere ao traçado da região semelhante à lua crescente,
como podemos ver no mapa a seguir.
Crescente Fértil
Mar Negro
Mar
Anatólia
Cáspio
Síria Rio
E Assíria
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Rio
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Mar Mediterrâneo
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Alto Egito Pérsicors
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Trópico de Câncer
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Ver
N
o
Ri Deserto
me
da Núbia
lho
Fonte: Crescente Fértil. Britannica Escola. Disponível em: https://escola. Shaduff, um antigo instrumento para obtenção de água.
britannica.com.br/artigo/CrescenteFértil/422. Acesso em: jul. 22. Egito, foto atual.
A frase proferida no século V a.C. pelo historiador grego Heródoto, “O Egito é uma dádiva do Nilo”, ilustra a importância
do rio para aquele povo. O rio Nilo, um dos mais extensos do mundo, tem seu período de cheias entre julho e setembro,
inundando suas margens com águas barrentas ou lodosas. Quando, em fins de outubro, as águas voltam ao normal, uma
camada de nutrientes (húmus) torna a terra extremamente fértil, permitindo uma boa colheita. Por isso, o próprio nome Egito
significa “terra preta” ou “terra fértil”. As obras de drenagem e irrigação tiveram, nesse sentido, um papel muito importante ao
longo da história dos povos egípcios, pois permitiam levar as águas do rio para outros lugares. O Nilo também servia como
comunicação entre as diversas partes do território, como pode ser observado no mapa.
Mar Cáspio
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o
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Mar Mediterrâneo tes io
Tig
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Golfo
Pérsico
Ri
o
Nilo
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Trópico de Câncer
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erm
elh
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OCEANO
45º L
ÍNDICO
Fonte: DUBY, Georges. Atlas Histórico Mundial. Barcelona: Larousse Editorial, 2, p. 2. (Adapt.)
No caso da Mesopotâmia, não havia um império, reino ou país, mas uma região geográfica que, embora cercada por
desertos, possui uma planície cortada pelos rios Tigre e Eufrates, que nascem na atual Turquia e correm para o sul, até
desaguarem no Golfo Pérsico e em seus diversos afluentes e córregos. Tais rios garantem uma planície de terras férteis,
onde é possível praticar a agricultura irrigada, com o cultivo de grãos, tamareiras e outras plantas. A presença da água e
da fertilidade nessa região do Oriente Médio favoreceu sua ocupação, mas também ocasionou diversos conflitos entre as
populações nos desertos das proximidades.
Composta de diversas cidades independentes (cidades-templo, inicialmente, e cidades-reino, posteriormente), a Me-
FRENTE 2
sopotâmia nunca chegou a ser um Estado unificado, como foi o Egito. No entanto, ao longo de sua história, alguns povos
promoveram vastos movimentos de conquista, formando grandes reinos e quase unificando a região em alguns momentos
da história. O primeiro desses povos foram os sumérios, seguidos por acadianos, babilônicos, assírios e neobabilônicos.
Da mesma forma, apesar de serem independentes, as cidades mesopotâmicas possuíam uma cultura em comum, a cultura
sumério-acadiana (depois herdada pelos babilônicos e persas), e mostravam bastante independência na esfera econô-
mica, o que nos permite falar em uma “sociedade mesopotâmica”. A história da Mesopotâmia, nesse sentido, inclui uma
plêiade de povos, como mostra o mapa da página a seguir.
131
Região da Mesopotâmia
Mar
Cáspio
Rio E
Rio Tigre
ufr
at
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Mar
Mediterrâneo
Golfo
Pérsico
Fonte: Mesopotâmia. Britannica Escola. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/Mesopotâmia/4. Acesso em: jul. 22.
A partir de 5000 a.C, a maior parte da região entre rios A palavra “faraó” significa “grande casa”. No Egito, o
foi ocupada e, por volta de 3750 a.C., iniciou-se a urbani- faraó exercia funções políticas e religiosas, sendo chefe
zação na Mesopotâmia. Como vimos, os primeiros povos militar, juiz supremo, comandante único do Estado e coorde-
da Mesopotâmia foram os sumérios, que desenvolveram a nador da economia, além de ser considerado um deus vivo,
escrita mais antiga conhecida, feita com a impressão de um intermediário entre os humanos e todo o panteão egípcio.
estilete na argila ainda mole e, por isso, chamada cuneifor- Por tudo isso, era considerado o principal defensor do maat,
me. Ela era utilizada para registrar textos religiosos, mitos, expressão que significa “ordem”. Do faraó dependiam a or-
poemas, cartas, inscrições dos reis e contratos. dem na terra e a ordem cósmica, ética, religiosa e filosófica.
Jon Bodsworth (CC BY 2.0)/Wikimedia Commons
Organização política
A ocupação da região do Nilo ocorreu ainda durante o
Neolítico, com os grupos saarianos do grupo linguístico hamita.
As populações que lá se estabeleceram agruparam-se em
comunidades chamadas spats (mais conhecidas pelo termo
grego nomos). Supõe-se que o chefe de uma confederação
tribal, o “Escorpião”, tenha reunido sob seu poder um território
que se estende de Hierakômpis até Tura. Seu sucessor, Men As esculturas de faraós são
a representação de sua
(Menés do grego) ou Narmer, teria sido responsável por unifi- idealização, atestando seu
car o Egito, tornando-se o primeiro faraó. Assim, a unificação caráter divino. Não é por acaso
do Egito deu-se entre 3100 a.C. ou 3000 a.C. e 90 a.C. que escultor, em egípcio,
significa “aquele que mantém
vivo”. Na imagem, estátua do
Museu Britânico, Londres
Saiba mais
133
No primeiro milênio antes de Cristo os governantes e sumo sacerdotes locais eram chamados de en (em outros perío-
dos, também chamados de ensi e en era autoridade máxima, detentor do poder político, militar e religioso, tendo
a responsabilidade de abrir canais, diques, barreiras e rotas de comércio. Abaixo dele havia um conselho de anciãos, que
julgavam as decisões a serem tomadas.
Ao longo da história, alguns povos tentaram unificar a região da Mesopotâmia. Os acadianos, por exemplo, dominaram a
parte sul, liderados pelo rei Sargão I, e permaneceram no controle da região entre 2340 a.C. e 2154 a.C. Em 2154 a.C., a inva-
são dos povos gútios, expulsos pelo ensi da cidade de Uruk, deu fim a essa hegemonia. Foi quando ocorreu a fusão definitiva
dos povos sumérios e acadianos.
Posteriormente, a região da Assíria, a partir da cidade de Assur, também estabeleceu um domínio, interrompido pela
invasão dos hititas. A partir de 1900 a.C., a longa disputa terminou com a hegemonia da cidade da Babilônia, liderada
pelo seu rei Hammurabi.
Durante o Império Babilônico, o rei passou a contar com um conjunto mais complexo de funcionários e conselhos. Havia
uma assembleia de homens livres (purhum), um conselho de anciãos (shibutum), os representantes do rei (shakanakum) e
os coletores de impostos (makisu). Após um novo período de dominação assíria e babilônica, a região acabou subjugada
pelas invasões de Ciro, o Grande, da Pérsia, em 539 a.C. e, em seguida, de Alexandre, o Grande, em 331 a.C. Com as
conquistas do rei macedônico, toda a região passou por um processo de helenização, o que significou uma profunda
mudança cultural, como se verá no próximo capítulo.
Saiba mais
Tanto no caso egípcio quanto no caso mesopotâmico, a Pérsia ocupou um papel fundamental na unificação desses
territórios. A região conhecida como Planalto Iraniano ou Planalto Persa era formada predominantemente por montanhas
e desertos, com a Mesopotâmia a oeste, a Índia a leste, o mar Cáspio ao norte e o oceano Índico ao sul. Mesmo as áreas
com cultivos agrícolas apresentavam baixa fertilidade, obrigando a realização de complexas obras de irrigação. A partir
de 000 a.C., povos arianos ou indo-europeus povoaram a região, organizando-se em pequenos Estados monárquicos
rivais, destacando-se, entre eles, o Reino dos Medos, ao norte, e o Reino dos Persas, ao sul.
Inicialmente com capital em Ecbátana, o Reino dos Medos teve seu apogeu até o século IV a.C., destacando-se os
soberanos Dejoces, o primeiro rei dos medos, Fraortes, seu sucessor, e Ciáxeres, filho de Fraortes. Este último, aliando-se
à Babilônia de Nabopolassar, destruiu Nínive e anexou o Império Assírio. Os medos estenderam seu domínio sobre os
persas até o reinado de Ciro I, o Grande (559 a.C.-529 a.C.).
O Império Aquemênida em
sua maior extensão (500 a.C.)
Centros de poder imperial
Capitais satrápias
Mar de
Aral Rota Real
Mar Negro
Mar
Cáspio
Daskyleion Lago Marakanda
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Sardes Tushpa Lago
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Mar Areia Arachosia
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Babilônia Susa Phrada
Pasárgada
30º N
Mênfis Persépolis
Ri
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N
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Mar
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Arábico
elh
o
45º L
Fonte: DUBY, Georges. Atlas Histórico Mundial. Barcelona: Larousse Editorial, 2, p. . (Adapt.)
Dario I e seu sucessor, Xerxes I, entraram em guerra com os gregos, nos conflitos que ficaram conhecidos como
Guerras Médicas, com vitória dos gregos. A Dinastia Aquemênida, no entanto, terminou em 331 a.C., quando Dario III foi
derrotado por Alexandre, o Grande.
Economia e sociedade
Uma característica comum às economias dessas sociedades foi a dependência dos rios e dos sistemas de irrigação.
Existiu nessas regiões uma dupla dinâmica econômica:
• As sociedades aldeãs, caracterizadas pela propriedade comunitária da terra e por uma economia de subsistência.
• Os complexos palacianos e templários, que supervisionavam o trabalho forçado e cobravam impostos.
A estrutura palaciana, portanto, controlava as aldeias, que passaram a conviver com uma estrutura militar e política que,
nas entressafras, exigia prestação de trabalho forçado (a corveia real ou servidão coletiva, geralmente para a construção
de obras) e cobranças de tributos (geralmente na forma de alimentos).
Também existia a grande economia familiar: funcionários, sacerdotes ou comerciantes que investiam em terras e
compravam pessoas escravizadas. A escravidão que existia nessas regiões, diferente da que existiu no Brasil, não era a
base econômica dessas sociedades.
Granger/Shutterstock
FRENTE 2
Camponeses trabalhando
na colheita de trigo,
c. 1213 a.C.-1203 a.C.
Tumba de Sennedjem,
em Luxor.
135
G. NIMATALLAH/DEA/Granger/Imageplus
Atenção
Granger/Shutterstock
tiveram um destaque importante. A Fenícia compreendia
uma extensão de aproximadamente 00 km, que hoje
corresponde ao Líbano e a uma parte da Síria e da Pa-
lestina. O nome Fenícia deriva do grego Phoiníke, que
significa “país da púrpura”, e se deve ao fato de que o
algodão e o linho comercializados por esses povos eram
tingidos com a famosa púrpura de Tiro, extraída de um
molusco da região.
Fazendo uso de sua vasta floresta de cedros, madeira
utilizada na construção de barcos, e de seus bons portos
naturais, os fenícios tornaram-se comerciantes de azeite,
perfume, madeira, joias e metais. Esses povos também se
destacaram pelos trabalhos realizados em marfim, na forma
de pentes, estojos e estatuetas, e pela técnica de fabrica-
ção do vidro.
Originários de cidades como Ugarit, Biblo (futura
Jubayl), Sídon (Saída), Tiro (Sur) e Bérito (Beirute), os fení-
cios fundaram muitas cidades e postos comerciais no Mar Navio fenício em relevo do século I.
Mediterrâneo. Os fenícios escalaram em Chipre, a faixa
costeira da Anatólia, o sul da Palestina, o delta do Rio Nilo A Fenícia era composta de cidades-Estados
e mantiveram relações econômicas com Creta. No norte da independentes, controladas por uma oligarquia de co-
África, eles se estabeleceram em Útica no século XII a.C. e merciantes e proprietários agrícolas. Algumas cidades,
fundaram outros núcleos no século IX a.C., entre os quais como Cartago, adotaram o modelo grego de organi-
Cartago. Na península Ibérica, Gades (Cádiz), fundada no zação, tornando-se, inclusive, democráticas. Um dos
século XII a.C., foi o porto principal dos fenícios, além da legados deixados pelos fenícios é a difusão do alfabeto
ilha de Malta. fonético de letras.
42°
N
h
nwic
Gree
o de
idian
Mer
FRENTE 2
Fenícia
Cidades fenícias
Colônias fenícias
Outras cidades
Rotas comerciais
fenícias
0°
Fonte: Britannica Kids. Disponível em: https://kids.britannica.com/kids/assembly/view/. Acesso em: o set. 22.
13
A religião A religião buscava estabeceler um paralelo entre a
ordem cósmica e as hierarquias sociais, reforçando a supre-
Antes do século XIX, para a maior parte dos seres hu-
macia dos faraós ou a cobrança de impostos e a servidão
manos, é muito difícil separar a esfera religiosa da vida das
coletiva. Eles acreditavam que o universo parecia funcionar
esferas política, econômica e social. A própria ideia de uma
como uma rede, na qual cada ponto importava para o todo:
vida separada em “esferas”, de acordo com o sociólogo
a coexistência harmônica de tudo era o chamado maat,
Max Weber, é parte da modernidade. Por isso, a divisão
personificado por uma deusa com a cabeça emplumada.
entre política, economia e religião, feita neste capítulo, é
Muitos deuses, portanto, personificam conceitos. Os rituais,
apenas didática e não existia para as pessoas que viveram
realizados pelo faraó ou pelos sacerdotes, preservariam
na Antiguidade.
o mundo do caos, chamado por eles de isfet. O caos era
No mundo antigo também não existia a separação en-
entendido como uma ameaça constante.
tre profano e sagrado. A palavra, a escrita, as imagens, os
gestos e símbolos em geral eram dotados de sacralidade. Atenção
Quebrar uma estatueta de um hipopótamo substituía o
sacrifício de um hipopótamo real. O desenho de pães na
tumba alimentava o morto. Uma estátua não representava
um deus, mas era uma das formas do sagrado, que é oni-
presente. Um templo não era apenas um “lugar”, mas um
microcosmo que conteria os elementos de todo o universo.
Como não havia essa separação entre o laico e o religioso,
os templos religiosos também exerciam funções econô-
micas e políticas. No caso do Egito e da Mesopotâmia, os
mitos comportavam uma grande riqueza e complexidade.
Existiam, por exemplo, muitas histórias distintas sobre a
criação do universo.
Muito do que conhecemos hoje sobre a religião egípcia
vem do estudo de relevos pintados em tumbas e templos,
narrativas literárias e textos funerários, como os Textos das
Pirâmides, os Textos dos Sarcófagos e o Livro dos Mor-
tos. A religião egípcia é muito pautada pela observação
da natureza, de forma que os deuses combinavam formas
humanas e animais (antropozoomorfia).
Rama (CC BY 2.0)/Museu do Louvre, Paris
Saiba mais
FRENTE 2
Dur-Untas, ou Choga Zambil, construído no século XIII a.C., localizado no território do atual Irã. Não se sabe exatamente a função dos zigurates da Antiga
Mesopotâmia, como os da imagem. Acredita-se que eles funcionavam como uma escada que uniria o céu e a Terra. Foto atual.
139
Para os mesopotâmicos, o universo era governado por leis divinas, as mês, entre as quais estavam a monarquia, a
verdade e a música. Segundo os sumérios, no princípio de tudo havia um grande Mar Primordial (a deusa Nammu), onde
se misturavam todas as coisas, numa situação caótica, que deu origem ao céu e à Terra. A criação seria, portanto, uma
superação do caos no princípio de tudo, um processo de separação e ordenamento das coisas. Da união entre o céu e
a Terra nasceram vários deuses. Um deles, Enlil, fez da Terra seu reino, enquanto o deus An ficou com o céu. Havia ainda
um Mundo Inferior, destinado à deusa Ereshikgal. Os próprios seres humanos teriam sido criados porque os deuses não
tinham quem trabalhasse por eles e os servissem.
Saiba mais
Na Pérsia, havia a crença do zoroastrismo, que deriva da atuação do profeta Zaratustra (nascido em cerca de
650 a.C.). Zaratustra teria se encontrado com Ahura Mazda (ou Ormuz-Mazda), o Ser Supremo, e, a partir desse encon-
tro, teria transmitido a mensagem divina à comunidade. Ahura Mazda teria dois filhos gêmeos: o bem, representado por
Spenta Mainyu, e o mal, representado por Angra Mainyu. A partir de então todos, tanto os seres humanos como os espíri-
tos, tinham o livre-arbítrio para escolher entre o bem (asha) e o mal (drug), de modo que o mundo viveria em meio a uma
eterna disputa de forças contrárias.
O culto a Ahura-Mazda, chamado masdeísmo, era liderado por sacerdotes denominados magos, aos quais cabia pre-
servar o fogo sagrado aceso nos altos das montanhas. Zaratustra estabeleceu a obrigação de cinco orações individuais
diárias e a celebração de festas comunais. Do zoroastrismo derivaram várias religiões, como o mitraísmo e o maniqueísmo,
além de possuir fortes influências sobre o orfismo e o pitagorismo.
Radiokafka/Shutterstock.com
Na região ocupada atualmente por Palestina e Israel, situada na costa oriental do mar Mediterrâneo, se desenvolveram,
no primeiro milênio a.C., os hebreus. Na região, irrigada e fertilizada pelas águas do rio Jordão, desenvolvia-se a agricultura.
Localizada entre a Mesopotâmia e o Egito, era passagem obrigatória entre a África e a Ásia.
A história dos hebreus é contada no livro Tanach, dos judeus, ou no chamado Antigo Testamento, dos cristãos. Devido
à falta de fontes documentais, há controvérsias sobre datas e sobre a existência de determinados personagens de algumas
dessas narrativas. Em vez de pensar os textos cristãos e judaicos como verdadeiros ou falsos, os historiadores os conside-
ram fontes históricas, buscando entender, a partir deles, elementos sobre a sociedade, a vida e a mentalidade dos povos
antigos. Muitos textos assírios ou babilônicos, por exemplo, apresentam ligações ou semelhanças com os textos bíblicos.
Os textos religiosos contêm narrativas como a história de Abraão, originário de Ur, na Mesopotâmia, que teria lançado as
bases do monoteísmo. Segundo esses textos, Iavé (uma das denominações de Deus) não seria apenas o Senhor de Israel,
mas o Deus único, universal, Princípio Uno que criou o mundo, e que já havia se revelado a outros justos antes de Abraão.
Iavé teria escolhido os hebreus como seu povo, por meio do qual seria redimida toda a humanidade, e prometido
a eles “uma terra que mana leite e mel”. Os hebreus teriam, então, se deslocado para a região da Palestina por volta de
000 a.C., em busca da chamada Terra Prometida. Por isso, a palavra hebreu significa “povo do outro lado do rio”, devido
à sua origem migrante. Quando os hebreus chegaram à Palestina, ela era habitada por diversas outras populações, como
cananeus e filisteus no litoral, nômades semitas no sul, edomitas, moabitas e arameus no leste e no norte. Estes últimos
tornaram sua língua, o aramaico, idioma oficial dessa região.
Saiba mais
141
Revisando
1. Fatec 201 No século V a.C., Heródoto, historiador 4. UFRGS Leia os itens abaixo, que contém possíveis
grego, afirmou que “O Egito é uma dádiva do Nilo”. condições para o surgimento do Estado nas socieda-
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a des da Antiguidade.
principal razão de se atribuir ao rio Nilo uma importân- I. Gradativa diferenciação da sociedade em classes
cia tão grande para o desenvolvimento do Egito Antigo. sociais, impulsionada por uma divisão social do
a) Nos períodos de cheias, as águas desse rio fertili- trabalho mais intensa, capaz de produzir exce-
zavam as margens, o que possibilitou a agricultura. dentes de alimentos.
b) Os faraós construíram barragens para obter eletricida- II. Passagem da economia comunal para uma econo-
de, aumentando a produção de itens de exportação. mia escravista, estimulada por guerras entre povos
c) A navegação pelo grande rio permitiu que os vizinhos, propiciando aumento da produção de ex-
egípcios conquistassem o sul da Europa, forman- cedentes e de trocas, com uma divisão do trabalho
do um grande império. entre agricultura, pecuária e artesanato.
d) Das margens do rio se retirava o barro com que III. Constituição da propriedade da terra e do regi-
eram fabricados os tijolos utilizados na constru- me de servidão coletiva nas sociedades orientais
ção das grandes pirâmides. para que as grandes construções públicas fossem
e) Atravessando a África de norte a sul, o Nilo possi- realizadas sob orientação dos grupos dirigentes.
bilitou a integração cultural e econômica da área
Quais dentre eles apresentam efetivas condições
entre o Saara e o deserto da Namíbia.
para tal surgimento?
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
2. UPF 2015 As civilizações antigas localizadas no Orien- b) Apenas I e II. e) I, II e III.
te Médio basicamente se dividem em três: egípcia, c) Apenas I e III.
mesopotâmica e hebraica. Sobre essas civilizações
e suas características comuns, é correto afirmar que:
5. UFRN As sociedades que, na Antiguidade, habitavam
a) suas relações sociais eram baseadas no princípio da
os vales dos rios Nilo, Tigre e Eufrates tinham em co-
igualdade de todos os cidadãos perante os deuses.
mum o fato de:
b) se desenvolveram na região do crescente fértil,
a) terem desenvolvido um intenso comércio ma-
nas proximidades de rios.
rítimo, que favoreceu a constituição de grandes
c) nelas existia uma teocracia absoluta baseada no
civilizações hidráulicas.
comércio marítimo.
b) serem povos orientais que formaram diversas
d) suas religiões primavam por uma vida após a mor-
cidades-estado, as quais organizavam e controla-
te, com castigos ou recompensas eternas.
vam a produção de cereais.
e) contavam com códigos de leis brandos e despro-
c) haverem possibilitado a formação do Estado a par-
vidos de ética religiosa.
tir da produção de excedentes, da necessidade de
controle hidráulico e da diferenciação social.
3. UFRGS 201 Considere as afirmações abaixo, sobre d) possuírem, baseados na prestação de serviço
a história das sociedades antigas. dos camponeses, imensos exércitos que viabili-
I. O Egito faraônico caracterizava-se pela estrutura zaram a formação de grandes impérios milenares.
política horizontalizada, pela pouca estratificação
social e pela economia centrada na piscicultura
. Uece 2013 A sociedade egípcia estruturava-se em
devido às cheias do rio Nilo.
um sistema hierárquico. A pirâmide, imagem típica da
II. Os fenícios mantiveram uma estrutura social militari-
arquitetura do Egito, representa simbolicamente a or-
zada e terrestre, que permitiu a conquista de outros
ganização social, com os escravos na base, seguidos,
povos na região do Oriente Médio, culminando
em ordem crescente, pelos mercadores e artesãos,
com o fim de rotas comerciais marítimas com a Ásia.
militares, burocratas, sacerdotes, culminando com o
III. A expansão do Império Persa, durante o governo
faraó no topo.
de Dario I, foi marcada pela unificação dos siste-
Assinale a opção que corresponde a uma função (ou
mas tributário e monetário, pela implementação
a funções) dos escribas nessa sociedade.
de um código jurídico e por uma rede de estradas
a) Além de dirigir a vida religiosa, guardar o conhe-
e de comunicação.
cimento científico.
Quais estão corretas? b) Aconselhar o faraó, por isso recebiam também o
a) Apenas I. nome de vizir.
b) Apenas II. c) Organizar e gerir os ofícios públicos, núcleo fun-
c) Apenas III. damental da burocracia.
d) Apenas II e III. d) Coletar o papiro e decorar as tumbas reais ou
e) I, II e III. privadas.
Exercícios propostos
1. UFSC 201 O aparecimento da escrita foi tão importante que, durante muito tempo, foi considerado o marco inicial da
História. Foi a terceira forma de comunicação elaborada pelo ser humano e provocou grande revolução nos seus costumes.
Diferentemente da fala e das pinturas rupestres, a escrita permitiu ao ser humano a comunicação de longo alcance geográfi-
co, a fixação de leis, de regras e penalidades, que viabilizaram a formação de estruturas sociais e políticas estáveis.
VAINFAS, Ronaldo. História I (Ensino Médio). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016,p. 30.
8 os povos ágrafos, como muitas sociedades ameríndias e africanas, devem ser considerados menos desenvolvi-
dos do ponto de vista da comunicação por não possuírem escrita.
6 durante o período medieval, o livre acesso à leitura, através das diversas bibliotecas espalhadas pelos mosteiros
cristãos na Europa, garantiu a consolidação do respeito a dogmas e doutrinas da Igreja.
sancionada como língua oficial dos surdos no Brasil no início do século XXI, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
ao contrário dos idiomas essencialmente orais e auditivos, tem como característica ser visual e gestual.
Soma:
143
2. Uepa 2014 Os escribas do Egito antigo ocupavam uma posição subalterna na hierarquia administrativa gover-
namental frente à aristocracia burocrática. Sua posição social era inferior em relação aos conselheiros do Faraó,
aos chefes da administração, à nobreza territorial, à elite militar e aos sacerdotes. Mas as características de seu
ofício os afastavam de trabalhos forçados e das arbitrariedades das elites, que subjugavam e exploravam cam-
poneses livres e escravos de origem estrangeira. Tal condição privilegiada se explicava:
a) pelas possibilidades de ascensão social dos escribas que, em função do sucesso de suas carreiras, pode-
riam ocupar posições no alto escalão da administração pública.
b) por serem provenientes do meio social dos felás, camponeses livres, que investiam na formação educacio-
nal de seus filhos mais inclinados ao serviço público.
c) pelo domínio dos escribas dos segredos da escrita demótica e dos hieróglifos, do cálculo e, por conseguin-
te, da organização das atividades da administração pública.
d) pelo domínio exclusivo dos escribas do idioma escrito, da matemática, da agrimensura e dos processos
administrativos em geral.
e) pela dependência direta de faraós e altos funcionários reais relativa aos conhecimentos dos escribas, que
formavam uma corporação intelectual dotada de poder político.
Apud Ciro Flammarion Santana Cardoso. O Egito antigo. São Paulo: Brasiliense, 2.
As imagens revelam
a) o caráter familiar do cultivo agrícola no Oriente Próximo, dada a escassez de mão de obra e a proibição, no
antigo Egito, do trabalho compulsório.
b) a inexistência de qualquer conhecimento tecnológico que permitisse o aprimoramento da produção de ali-
mentos, o que provocava longas temporadas de fome.
c) o prevalecimento da agricultura como única atividade econômica, dada a impossibilidade de caça ou pesca
nas regiões ocupadas pelo antigo Egito.
d) a dificuldade de acesso à água em todo o Egito, o que limitava as atividades de plantio e inviabilizava a
criação de gado de maior porte.
e) a importância das atividades agrícolas no antigo Egito, que ocupavam os trabalhadores durante aproxima-
damente metade do ano.
4. Famerp 201 Com esta civilização surge [...] uma vida econômica dominada pelo comércio marítimo. Tal traço lhe
atribui uma originalidade precisa entre as civilizações orientais, às quais ela se liga por tantos laços. Isto era inevitável,
numa ilha onde a natureza impunha ao homem condições de vida muito diversas das reinantes nos vales do Nilo e do
Eufrates.
(André Aymard e Jeannine Auboyer. “O homem no Oriente próximo”. In: O Oriente e a Grécia Antiga, vol. 2, 1962.)
O excerto destaca a originalidade da civilização cretense, entre 2 e 4 a.C., em relação às sociedades do
Mediterrâneo Oriental e do Oriente Médio, caracterizadas
a) pela alta produção de gêneros alimentícios com um mínimo de esforço individual.
b) pela inexistência de contatos comerciais com economias dos povos vizinhos.
c) pela divisão socialmente igualitária dos bens produzidos em grande escala.
d) pelo conhecimento dos segredos da escrita pela casta de produtores agrícolas.
e) pela presença do trabalho coletivo em regiões favoráveis à economia agrícola.
. UFG Observe a imagem: 9. UFRGS Na África, durante a Antiguidade, entre . a.C.
e 2 a.C., desenvolveu-se o primeiro Império unifi-
cado historicamente conhecido, cuja longevidade e
continuidade ainda despertam a atenção de arqueólo-
gos e historiadores. Esse Império
a) legou à humanidade códigos e compilações de leis.
b) desenvolveu a escrita alfabética, dominada por
amplos setores da sociedade.
Osíris. Disponível em:
<www.akenatonjh.com.br>.
c) retinha parcela insignificante do excedente eco-
Acesso em: 2 set. 2. nômico disponível.
A pintura egípcia pode ser caracterizada como uma d) sustentou a crença de que o caráter divino dos
arte que reis se transmitia exclusivamente pela via paterna.
a) definiu os valores passageiros e transitórios como e) dependia das cheias do rio Nilo para a prática da
forma de representação privilegiada. agricultura.
b) concebeu as imagens como modelo de conduta,
utilizando-as em rituais profanos. 10. UPF 201 Na chamada Antiguidade Oriental, as so-
c) adornou os palácios como forma de representa- ciedades, notadamente a egípcia e a mesopotâmica,
ção pública do poder político. desenvolveram-se em regiões semiáridas, onde obras
d) valorizou a originalidade na criação artística como hidráulicas grandiosas eram necessárias para o cultivo
possibilidade de experimentação de novos estilos. agrícola. Então, nessas sociedades:
e) elegeu os valores eternos, presentes nos monu- a) Desenvolveu-se o modo de produção escravista
mentos funerários, como objeto de representação. intimamente ligado ao caráter bélico e expansio-
nista dessas sociedades.
. Unesp 2015 A maior parte das regiões vizinhas [da an- b) A forma de trabalho predominante era a servidão
tiga Mesopotâmia] caracteriza-se pela aridez e pela falta coletiva, e o indivíduo explorava a terra como
de água, o que desestimulou o povoamento e fez com que membro da comunidade e servia ao Estado, pro-
fosse ocupada por populações organizadas em pequenos prietário dessa terra.
grupos que circulavam pelo deserto. Já a Mesopotâmia c) O principal instrumento de poder das camadas po-
apresenta uma grande diferença: embora marcada pela
FRENTE 2
A vida palacial
[...] A invenção da escrita no início do terceiro milênio veio reforçar, ainda mais, o poder da burocracia urbana. [...]
Neste novo tipo de sociedade fazia-se mister criar novos polos decisórios aceitos por todos, já que o poder dos chefes de família,
vigente na antiga comunidade rural, era insuficiente para gerir o governo de uma cidade-estado. Surgiu, então, um novo centro de go-
verno da cidade ligado inicialmente ao templo e mais tarde ao palácio [...]. Nas primeiras organizações urbanas da Baixa Mesopotâmia
o templo do deus principal da cidade era o centro político e econômico da cidade-estado; mais tarde [...] apareceu o palácio como
residência do governante da cidade e separado do complexo templário. Em pouco tempo, o palácio tornou-se o centro da vida social,
política e econômica da cidade-estado [...].
BOUZON, E. O templo, o palácio e o pequeno produtor na Baixa Mesopotâmia pré-sargônica. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 4, n. , , p. -.
Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/phoinix/article/download//2. Acesso em: ago. 22.
Resumindo
• Dependência desses povos em relação aos grandes rios e, por conseguinte, à realização de grandes obras de irrigação,
como diques, canais e aquedutos.
• Presença de sociedades estratificadas, seja por meio de um reino unificado, como houve no Egito, seja por meio de cidades
dispersas com hegemonias temporárias, como na Mesopotâmia. No caso da Pérsia, houve a formação de um grande império,
que entrou em confronto com os gregos.
• Sobreposição de uma economia aldeã por uma economia, inicialmente, comandada por templos e, posteriormente, coman-
dada por palácios.
• Submissão das comunidades aldeãs à cobrança de impostos e ao trabalho forçado.
• Destaque dos fenícios no comércio durante a Antiguidade.
• Pluralidade religiosa no mundo antigo, como se observa no monoteísmo hebraico ou no zoroastrismo persa, e seus legados
para religiões na contemporaneidade.
Livros Sites
JOÃO, Maria Theresa Davi. Tópicos de História Antiga Egito Digital para Universidades. Disponível em: https://
Oriental. Curitiba: InterSaberes, . www.ucl.ac.uk/museums-static/digitalegypt/Welcome.html.
O livro apresenta uma análise didática das primeiras Acesso em: jul. .
sociedades. O site conta com vários materiais sobre o Egito Antigo,
reunidos em épocas.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a Antigui-
dade. . ed. Brasília: Editora UnB, 99. Egito – Museu Britânico. Disponível em: https://www.british
Reunião de ensaios diversos sobre a Antiguidade Clás- museum.org/collection/egypt. Acesso em: jul. .
sica e Oriental. Na página, em inglês, é possível acessar os itens da co-
leção do Egito Antigo pertencente ao Museu Britânico.
REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. . ed. São Paulo: Saraiva,
.
O livro aborda a história da Mesopotâmia de maneira
completa, a partir de documentos diversos.
1. Fuvest No antigo Egito e na Mesopotâmia, assim trabalharem em obras públicas, que engrandece-
como nos demais lugares onde foi inventada, a escrita ram o próprio Egito.
esteve vinculada ao poder estatal. Este, por sua vez, e) significava um peso para a população egípcia, que
dependeu de um certo tipo de economia para surgir condenava o luxo faraônico e a religião basea-
e se desenvolver. da em crenças e superstições.
Considerando as armações acima, explique as rela-
ções entre: 4. UFT 2014 A construção das pirâmides do Egito antigo
a) escrita e Estado; b) Estado e economia. ainda está envolta em mistérios e curiosidades, sendo
fonte de estudos na História, na Engenharia, na Mate-
2. Fuvest 201 Considere este mapa, que representa mática e na Arte.
uma região com histórico de migrações e disputas O processo de construção das pirâmides caracteriza-
territoriais e que já abrigou, desde antes da Era Cristã, -se pela:
várias civilizações. a) despreocupação em edificar um templo duradouro.
b) arquitetura dissociada de funções de ordem
funerária.
c) grandiosidade em suas dimensões e em uma es-
trutura sólida.
d) aplicação de diversos materiais como a madeira
e o estanho.
e) utilização de tijolos de argila na edificação de
suas paredes internas.
possibilidade de migrar para o sul e encontrar tra- posição social tanto da vítima como do infrator. Em
balho nos canteiros faraônicos. geral, no entanto, a justiça era aplicada pelo principio
c) significava a solução para os problemas econô- do “olho por olho, dente por dente”, ou seja, o castigo
micos, uma vez que os faraós sacrificavam aos era equivalente à ofensa ou ao dano causado. No tex-
deuses suas riquezas, construindo templos. to acima, estamos comentando o código de
d) representava a possibilidade de o faraó orde- a) Hamurábi. c) Assur.
nar a sociedade, obrigando os desocupados a b) MarduK. d) Nergal.
14
. UFRR 2015 O Iraque, país localizado no Oriente Mé- b) Como a organização política de fenícios e gregos
dio, atualmente, convivendo com instabilidade política os diferenciava da civilização egípcia?
e social, bem como, ameaças de grupos terroristas, já
foi palco de uma importante civilização da antiguida- 9. UFRN As civilizações da Mesopotâmia e a do Egi-
de denominada Mesopotâmia. Sobre esta importante to desenvolveram-se em regiões semiáridas, onde
civilização pode se afirmar que: se construíram grandes obras hidráulicas. Em razão
a) foi a primeira civilização da História, era formada disso, a estrutura sociopolítica assumiu a forma de Es-
de povos nômades que mudavam-se constante- tado, que passou a
mente em busca de alimentos; a) organizar a produção comunitária das aldeias,
b) é considerada o berço da civilização, pois foi o pri- controlar diques e canais de irrigação e apropriar-
meiro povo que utilizou instrumentos importantes -se dos excedentes produtivos.
que, posteriormente, deram origem à medicina; b) desenvolver as atividades econômicas com base
nas comunidades coletivistas e na propriedade
c) foi a primeira civilização que cultivou o milho e a
comum da terra e dos canais de drenagem.
cevada dando início assim a agricultura, e o siste-
c) estimular a formação de grandes latifúndios, utili-
ma era plantation;
zar a escravidão individual e administrar as obras
d) foi pioneira na utilização da escrita, da matemática
de drenagem e de irrigação.
e da astronomia;
d) definir, como diretriz para a vida econômica, o de-
e) foi a primeira civilização a praticar o cultivo dos ali- senvolvimento do artesanato e do comércio, o que
mentos dando início ao que mais tarde chamou-se implicava a construção de portos bem equipados.
agricultura, o primeiro e principal produto era o café.
10. Uece As relações entre o Estado e a religião, exis-
. Unicamp À Ilíada, epopeia guerreira, sucede a Odisseia, tentes entre os povos da Antiguidade, caracterizaram
pacífica coletânea de lendas e aventuras marítimas. Esse diferentes formas de organização político-social. So-
contraste corresponde a uma mudança, quando os povos bre essas relações, é correto afirmar que
da região renunciam às lutas em territórios muito estreitos a) o politeísmo implantado pelas monarquias he-
e se voltam para os países longínquos. Os poemas homé- braicas restringia a concepção do rei como ser
ricos são contemporâneos da grande expansão marítima humano, tornando-o ungido de Deus.
dos fenícios e a Odisseia está cheia de violências e rapi- b) a teocracia egípcia, concepção divina de poder,
nas de todo tipo praticadas pelos fenícios, apresentados personificada no faraó como próprio Deus, limi-
como mercadores descarados e bandidos sem escrúpu- tou-se ao período do Novo Império.
los; mas devemos levar em conta, nessas narrativas, as c) a monarquia teocrática, no Egito antigo, ocorria
rivalidades comerciais. através da personificação de Deus e do Estado
(Adaptado de J. Gabriel-Leroux, As primeiras civilizações do Mediterrâneo.
na figura do faraó.
São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 67-68.)
d) o Código de Hamurábi era um manual de orien-
a) Segundo o texto, quais seriam as razões históri- tação espiritual, que autorizava os fiéis a fazer
cas da diferença entre a Ilíada e a Odisseia? justiça com as próprias mãos.
BNCC em foco
EM13CHS103 EM13CHS401
1. 2.
EM13CHS104
3.
a)
b)
a)
c) b)
d) c)
d)
3
Todos nós conhecemos algo que remeta ao mundo greco-romano. Alguns seriados
e grandes sucessos de Hollywood, por exemplo, apresentam diversos elementos da
Antiguidade Clássica. Porém, esse passado costuma ser apresentado de forma des-
contextualizada e acrítica, como se a história se resumisse a um baú de curiosidades.
Diversos conceitos, como o de democracia, república e império, foram criados no
mundo clássico. Contudo, é preciso cuidado para não fazer análises anacrônicas, pois
esses conceitos tinham significados distintos para esses povos. É importante compre-
ender, a um só tempo, o que nos une a essas populações e o que nos separa delas,
pois é nessa compreensão de alteridade que está o cerne da ciência histórica.
Grécia Antiga gregos usavam para descrever sua identidade, para além
de qualquer conteúdo territorial e político, é Hélade.
O que foi a Grécia Antiga? Dessa maneira, ao estudar a Grécia Antiga, conhecemos
Vivemos em um mundo dividido em Estados-Nação, povos que viveram não apenas no atual país Grécia, mas
onde cada um tem suas leis, impostos e força policial uni- também em diversas regiões da atual Turquia, Itália e de
ficados e um sistema político estruturado. Como essa é a países do norte da África.
nossa realidade, tendemos a projetá-la aos seres humanos O espaço fundamental do mundo grego e, depois, do
do passado. Contudo, é preciso considerar que os Esta- mundo romano não foi desenhado por fronteiras territoriais,
dos Nacionais são uma criação do século XIX, e que os mas pelo mar Mediterrâneo. Separado do oceano Atlânti-
indivíduos que viveram em outras épocas experimentaram co pelo estreito de Gibraltar e do mar Negro pelo estreito
realidades políticas diferentes da nossa. de Bósforo, o Mediterrâneo foi um grande protagonista da
Quando se fala em Grécia, alguns pensam no Esta- História Antiga. Nele, uma grande teia de relações foi cons-
do-Nação atual, localizado na Europa e banhado pelo truída entre as penínsulas Itálica, Balcânica e a Anatólia
mar Mediterrâneo. A Grécia Antiga, entretanto, abrangia (atual Turquia). Grandes portos e ilhas vendiam produtos
todos os povos que falavam o mesmo idioma (ainda que como azeite, vinho ou lã. A colonização e a escravidão tam-
com dialetos diferentes), cultuavam os mesmos deuses e bém fomentavam essa integração. Portanto, a conectividade
possuíam os mesmos costumes. O termo que os próprios do mar foi uma das características das sociedades clássicas.
Fonte: Atlas Histórico In: ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.
O mundo antigo ficou conhecido como o mundo das y Período homérico (- a.C.): após a desagre-
cidades. Porém, a riqueza e o sustento dos habitantes gação das sociedades micênicas com as invasões dos
vinham de rendas rurais. Fosse em Esparta, Atenas ou dórios, as populações fogem para os campos ou para
Roma, a renda dos moradores das cidades provinha a costa da Ásia e a vida gira em torno da aristocracia.
principalmente dos grãos, do azeite e do vinho, de y Período arcaico (-5 a.C.): formação das pólis
forma que as manufaturas (têxteis, cerâmica, mobília e gregas, com sua lei escrita e a palavra publicizada.
utensílios de vidro) permaneciam rudimentares e em As cidades estabelecem colônias, o comércio se de-
pouca quantidade. senvolve e a noção de cidadania se consolida em
Costuma-se dividir a história da Grécia Antiga em oposição à escravidão.
cinco períodos: y Período clássico (5-6 a.C.): momento de apogeu
y Período pré-homérico (- a.C.): marcado da pólis grega, quando, sob liderança ateniense, os
pelas civilizações cretense e micênica, é o momento persas são derrotados. Eclode também uma guerra
em que o mundo grego é dominado por palácios, entre confederações de cidades lideradas por Espar-
que cumpriam funções administrativas, políticas e ta e Atenas. Trata-se, por fim, da época dos sofistas,
econômicas. de Sócrates e de Platão.
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O período pré-homérico (2000-1100 a.C.)
O período pré-homérico antecede a formação da cul-
tura e dos povos gregos. A Arqueologia revela que no
período Neolítico, a península Balcânica era habitada por
povos chamados de pelasgos ou pelágios. Entre e
6 a.C., eles constituíam uma monarquia, praticavam
uma economia agrícola, produziam cerâmica e desenvol-
viam uma metalurgia do bronze.
Arqueólogos também descobriram que por volta de
a.C., ao sul da península, havia imponentes palácios
na ilha de Creta, além de objetos de bronze, depósitos de
alimentos e registros financeiros. A sociedade cretense ou
minoica possuía reis, guerreiros e sacerdotes-escribas, que
controlavam a escrita, os tributos, os gastos e os pagamen-
tos de funcionários.
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151
Entre 5 e 5 a.C., a civilização micênica conhe- em torno da aristocracia. Muito do que se conhece desse
ceu seu ápice, conquistando o comércio do Mediterrâneo período é devido aos poemas atribuídos a Homero: Ilíada,
oriental. Nas guerras, utilizava predominantemente armas que descreve a Guerra de Troia, e Odisseia, que descreve
de bronze e carros com cavalos. De acordo com alguns as aventuras de Odisseu (ou Ulisses, para os romanos) após
historiadores, a expansão militar micênica, em busca de a Guerra de Troia, durante seu retorno à ilha de Ítaca, de
novas terras, encontrou oposição da cidade de Troia VII onde era rei. Essas histórias eram cantadas por poetas que
(ou Ílion). Foi então que teria ocorrido a lendária guerra perambulavam pela Grécia relatando as glórias de heróis
entre gregos (ou “aqueus”) e troianos, descrita em Ilíada, como Aquiles e Odisseu. As palavras dos poetas eram vis-
de Homero. tas como fruto da inspiração divina e permitiam às pessoas
Os palácios da civilização creto-micênica conheceram o acesso ao mundo dos deuses.
seu fim entre e a.C., quando guerreiros tradicio- As sociedades homéricas, profundamente rurais, ti-
nalmente chamados de dórios invadiram a região. Em vastas nham como unidade básica as oikós ou grandes famílias
regiões da Anatólia, do antigo Egito e da Mesopotâmia, ocor- (em latim, denominadas genos). Cada oikós era uma uni-
reram invasões que levaram essas sociedades ao colapso. dade econômica e humana, que praticava o pastoreio e
a tecelagem e produzia cereais, óleo, vinho e legumes.
Cada família cultuava seus antepassados, fazendo da reli-
C Messier/(CC BY 4.0)/ Museu Arqueológico de Heraclião, Grécia
Atenção
FRENTE 2
153
O período arcaico (700-500 a.C.) A soma das maneiras de vida, das formas de convivência
e da organização da pólis era chamada de política. Viver
O nascimento da pólis
na pólis era, para muitos gregos, um sinal de superioridade.
Entre os séculos VIII e VI a.C., a partir da união das Para pensadores como Platão e Aristóteles, a pólis era um
antigas famílias e da derrubada dos antigos reis, a pólis forte exemplo da capacidade humana de superar a própria
ganhou espaço no mundo mediterrânico, fato que mar- natureza. Enquanto os animais precisariam solucionar os con-
ca a passagem do período homérico para o arcaico. As flitos por meio da força, a pólis, por ser um espaço dotado
pólis eram comunidades independentes, com instituições de leis iguais para todos os seus cidadãos (isonomia), podia
militares próprias e relativa autonomia política; por isso, garantir a justiça (diké) e resolver seus problemas por meio
frequentemente também eram cidades-Estado. Possuíam do diálogo (logos). A política seria um meio de realização
limites territoriais demarcados, que compreendiam áreas das potencialidades humanas, superando as vicissitudes da
de cidade e de campo, onde vivia a maioria da população, condição natural. A virtude cívica (dikaiosyne), nesse sentido,
e alguns povoados urbanos secundários. consistia em não apenas obedecer às leis justas, mas também
A população de uma cidade era submetida aos mes- em entender corretamente como ser um cidadão virtuoso.
mos costumes e unida pelo culto às mesmas divindades
protetoras. Toda pólis contava com um templo, localizado Atenção
na parte alta da cidade, dedicado aos deuses e não mais
às divindades de uma família aristocrática ou de uma etnia.
Muitos historiadores, aliás, acreditam que a pólis surgiu
em torno do culto às divindades, tendo a religião como
fator aglutinador.
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Ruínas do Partenon, templo dedicado à deusa grega Atena, construído no século V a.C. na Acrópole de Atenas, na Grécia. Foto atual.
A pólis de Esparta
Esparta localizava-se na região da Lacônia, na península
do Peloponeso, em um vale com terras férteis e propícias
à agricultura e a boas pastagens. Esparta nunca se tornou
um centro urbano, mas permaneceu separada em vilarejos
e sem uma muralha unificadora. Os espartanos optaram por
fechar-se às influências estrangeiras, ao mesmo tempo em
que adotaram para si costumes rígidos e uma disciplina
Detalhe de ânfora com a representação de soldados hoplitas, c. 560 a.C.
atroz para manter intacta a ordem estabelecida.
O cidadão (polités) possuía direitos políticos em sua Segundo a tradição, Esparta foi fundada no século IX
própria cidade, ou seja, tinha posse da sua terra, estava pro- a.C. pelos dórios, e as populações conquistadas tornaram-
tegido pelas leis e participava da política. O estrangeiro grego -se uma espécie de servos da cidade, os hilotas. Cada
e livre, isto é, aquele advindo de outras cidades da Grécia, espartano adulto tinha um lote de terra próprio, cultivado
era chamado de meteco e, privado de direitos políticos, era por famílias de hilotas, as quais davam parte dos frutos da
obrigado a pagar taxas especiais ao Estado. Geralmente, terra aos espartanos. Embora não tivessem direitos polí-
FRENTE 2
exercia atividades artesanais e comerciais, que os cidadãos ticos, os hilotas não eram escravos, pois formavam uma
desprezavam. Em muitos casos, os estrangeiros não gre- comunidade à parte, tinham suas próprias famílias e não
gos eram vistos como aquilo que os romanos chamariam de podiam ser comprados ou vendidos. Os espartanos tinham
bárbaros (palavra em latim que significa “estrangeiro”), por o status de cidadãos e eram proibidos de exercer qualquer
não terem a mesma língua e cultura que os gregos. Dessa atividade econômica, sendo, por lei, obrigados a ocupar-
forma, o conceito de bárbaro foi criado na Grécia Antiga para -se apenas da política e da guerra. Os periecos, por sua
designar aqueles que viviam fora das pólis. vez, viviam em áreas independentes e afastadas, possuíam
155
pequenos lotes de terra e dedicavam-se ao comércio e ao empobrecido exigia a redistribuição de terras, o fim da
artesanato. escravidão por dívida e maior participação nas decisões
O poder político na pólis era reservado aos homens políticas. Os comerciantes exigiam participar da adminis-
espartanos. A Gerúsia era composta de dois reis e um tração da pólis, enquanto enriqueciam com o comércio
conselho de 8 anciãos com mais de 6 anos, com do vinho e das oliveiras, intensificado pela colonização.
participação militar encerrada e pertencentes a famílias Simultaneamente, a formação dos hoplitas reforçou o sen-
tradicionais de Esparta. Os reis eram escolhidos entre as timento comunitário e, mais importante, armou a população.
duas famílias mais importantes e tinham função militar. Diante da tensão social, as elites atenienses escolheram
Os membros da Gerúsia eram chamados de gerontes legisladores que elaboraram propostas a fim de atenuar a
e, além deles, havia cinco éforos, guardiões das leis situação. Entre os principais legisladores está Drácon, que
de Esparta e responsáveis por cuidar da educação de organizou e tornou público um registro escrito das leis, até
novos guerreiros, coordenar a mobilização das tropas e então transmitidas oralmente e conhecidas apenas pelos
julgar a atuação dos reis. Os gerontes e os éforos eram eupátridas. No entanto, a aristocracia continuava a fazer as
eleitos pela Ápela, uma assembleia de homens adultos leis e a dominar a vida pública.
espartanos com poderes eletivos e cuja administração Diante de novos conflitos, os atenienses elegeram
cabia apenas aos reis e anciãos. Eleita, a Gerúsia redigia como arconte Sólon, que pôs fim à escravidão por dívida,
e apresentava as leis, que eram votadas na Ápela. Caso bloqueou o crescimento de latifúndios e permitiu o retorno
esta não aceitasse um projeto proposto pelos gerontes, dos cidadãos atenienses vendidos como escravos. Sólon
poderia ser dissolvida. Os antigos descreviam Esparta vinculou a possibilidade de participação política às fortunas,
como um governo misto e equilibrado, por conter ele- dividindo a sociedade de forma censitária, permitindo ao
mentos monárquicos (diarquia), democráticos (Ápela e cidadão rico se tornar arconte de Atenas, independente-
eforato) e oligárquicos (Gerúsia).
mente de sua ligação com a terra ou de sua família. Também
O regime político de Esparta era uma oligarquia e
instaurou a Bulé, um novo conselho controlado por eupá-
o poder estava concentrado em um pequeno grupo de
tridas, que propunha leis, e o Helieu, um tribunal popular
espartanos. Toda essa estrutura – inclusive o rigoroso sis-
de justiça.
tema de educação dos mais jovens – era garantida por um
As reformas propostas por Sólon não agradaram a aris-
código de leis, sagrado e imutável, escrito pelo lendário
tocracia, que perdeu privilégios e não conseguiu conter as
Licurgo. É habitual a historiografia ressaltar o papel da
camadas populares, que queriam maior poder de decisão.
mulher espartana, a qual tinha uma participação ativa nos
Aproveitando-se dessa situação, no século VI a.C. as tira-
assuntos da cidade, visto que os homens passavam boa
nias (forma de governo em que um indivíduo conquista o
parte da vida jovem e adulta dedicando-se aos afazeres
poder de forma ilegítima) ampliaram a participação política
militares.
em todo o mundo grego.
A pólis de Atenas Entre 56 e 5 a.C., a população ateniense apoiou
Psístrato, um tirano que ascendeu ao poder e limitou os
Na região da Ática, no sudeste da península Balcânica,
situa-se Atenas, outra importante pólis grega. Com solo poderes da aristocracia, confiscando terras e distribuindo-
pouco fértil, Atenas se tornou dependente da importação -as aos camponeses, concedeu empréstimos e promoveu
de alguns alimentos, como o trigo. As colinas, por sua vez, obras públicas. Por meio de suas reformas e com a co-
favoreciam a plantação de oliveiras e videiras, e ao sul ha- lonização grega, Atenas se tornou uma sociedade de
via o importante porto de Pireu. Com um forte comércio e pequenos proprietários.
uma poderosa frota naval, Atenas estabeleceu um grande No século IV a.C., três quartos dos cidadãos atenienses
intercâmbio cultural com a Ásia Menor, de onde vieram eram proprietários de terras, enquanto os demais podiam
inovações técnicas e descobertas no campo da aritmética, vender sua força de trabalho, integrar a frota naval ou par-
da astronomia e das artes. ticipar das colônias atenienses. As tiranias bloquearam o
Durante muito tempo, Atenas manteve uma monarquia, monopólio da propriedade agrária e tornaram modesta a
até que seu último rei foi derrubado pela aristocracia pro- base da comunidade helênica.
prietária de terras, que estabeleceu um regime oligárquico. Em 58 a.C., Clístenes assumiu o poder em Atenas
O rei foi substituído por nove magistrados, os arcontes, e acabou com as guerras civis, tirando de vez o poder da
eleitos anualmente pela assembleia de eupátridas e en- aristocracia. Foi implementada uma reforma de leis que
carregados do exército, da religião, da legislação, entre extinguiu o sistema censitário de Sólon e organizou o povo
outros assuntos. O conselho de eupátridas, o areópago, em dez classes, reunindo habitantes do território ateniense
assessorava os arcontes, aplicava a justiça e executava a para destruir os antigos vínculos familiares provenientes do
administração. mundo homérico e refundar a pólis de Atenas. Essa reforma
Os conflitos sociais em Atenas cresciam e ameaça- política foi fundamental para a instituição da democracia,
vam a estabilidade do regime oligárquico. O povo (demos) que significa “poder do povo”.
Saiba mais
FRENTE 2
157
O período clássico (500–336 a.C.)
Durante o período clássico, a civilização grega atingiu seu apogeu: a estrutura da pólis e a democracia atingiram
seu máximo desenvolvimento, ao mesmo tempo que floresciam as artes, a filosofia e o teatro. Esse apogeu teve iní-
cio, sobretudo, com a vitória nas Guerras Médicas, ocorridas entre 49 a.C. e 49 a.C., produto do choque entre as
cidades gregas e a política expansionista dos persas. A Pérsia (atual Irã) iniciou sua expansão sobretudo no reinado
de Ciro I, conquistando o Egito, a Índia, a Ásia Menor e algumas colônias gregas na Europa. Nesse ínterim, Dario I,
seu sucessor, criou uma complexa estrutura administrativa. Quando Aristágoras, o tirano da pólis de Mileto, pediu
ajuda militar à Erétria e Atenas, Dario teve seu pretexto para declarar guerra à Grécia. Os persas arrasaram Mileto
e, em seguida, avançaram sobre a Grécia. Após a morte de Dario, o sucessor Xerxes I continuou os conflitos, mas
acabou derrotado pelos gregos.
Durante os conflitos, foi criada a Liga ou Confederação de Delos, uma aliança militar contra os persas, em que as
cidades membros pagavam tributos para um fundo comum, a fim de sustentar as tropas e navios. A renda arrecadada
era depositada na ilha de Delos. Em 454 a.C., o tesouro foi transferido para Atenas. Após vencer os persas, Atenas,
líder da Liga de Delos, tornou-se uma das cidades mais importantes e ricas da Grécia Antiga. As outras cidades da Liga,
antes aliadas, passaram a ser tratadas como súditas: estavam condicionadas ao pagamento de tributos e não podiam
ter frota naval ou se desvincular da Liga de Delos. As cidades que se revoltaram, como Naxos e Tasos, foram destruídas.
Desenvolveu-se, assim, um imperialismo ateniense.
Durante o governo de Péricles, a democracia foi aprimorada. Cargos políticos ligados à redação de leis e sua
aplicação tornaram-se legalmente acessíveis a cidadãos independentemente da renda e foi criada uma pequena re-
muneração para aqueles que ocupassem cargos públicos. Além disso, seu governo ficou marcado pela construção do
Partenon, templo em homenagem à deusa Atena.
Além da Liga de Delos, outra aliança militar se formou na Grécia Antiga, a Liga do Peloponeso. Diversas pólis,
sobretudo as da região da Beócia (com exceção de Corinto, tradicional aliada de Atenas), estavam sob a liderança de
Esparta. De um lado, Atenas, uma democracia comercial e grande potência marítima, e, de outro, Esparta, uma aristo-
cracia agrícola e potência militar terrestre. Essa oposição de forças deu origem à Guerra do Peloponeso (4-44 a.C.)
quando alguns grupos da cidade de Córcira, colônia de Corinto, aliaram-se a Atenas. Contudo, durante a guerra, di-
versas cidades da Liga de Delos se rebelaram, e os persas, tendo em vista um maior controle sobre o mar, apoiaram
abertamente Esparta. Em 45 a.C., o general espartano Lisandro, com ajuda das frotas persas, capturou toda a marinha
ateniense e cortou seu abastecimento de grãos. Enquanto isso, o rei espartano Pausânias cercava Atenas por terra.
Após seis meses bloqueada por mar e por terra, Atenas se rendeu. Sua muralha foi destruída, seu império dissolvido
e a guerra teve fim.
Entre as consequências da Guerra do Peloponeso estão o declínio das pólis gregas, a fuga de camponeses de suas
terras para lutar ou se proteger e o empobrecimento da população, que fez com que aumentassem os conflitos sociais.
Golpes e contragolpes afligiam as pólis, de modo que novos tiranos surgiram e a ideia de democracia perdeu força. A
vitória de Esparta não trouxe a prometida liberdade às cidades do império ateniense, que foram divididas entre persas
e espartanos; houve o retorno das oligarquias e a permanência de tributos a pagar. Os espartanos tentaram ainda uma
fracassada ofensiva contra os persas, que entregou a eles o controle sobre a costa da Ásia Menor. As cidades domina-
das uniram-se contra Esparta, e, em a.C, os espartanos foram derrotados pelos tebanos, na Batalha de Leuctras.
Diante desse cenário, as pólis gregas enfraquecidas acabaram submetidas a Alexandre, o Grande (56- a.C.).
Saiba mais
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Fonte: HILGEMANN,
Werner; KINDER,
Herman. Atlas histórico.
50º L
Paris: Perrin, 1992. p. 58.
Alexandre construiu um grande império e apropriou- representações gregas. O comércio entre as cidades
-se da complexa estrutura política persa. Sem herdeiros, o prosperou, e as especiarias orientais como limão, aça-
império foi disputado entre seus generais, depois de sua frão, romã e pistache passaram a ser levadas para a
morte. Por fim, houve a divisão dos reinos helenísticos: na Europa. Os tecidos persas ganharam na Europa a fama
Macedônia, sob comando da dinastia Antigônida; no Egito, que têm até hoje.
sob comando dos Ptolomeus; e, na Mesopotâmia e na Síria, Nas artes, ao contrário da serenidade e racionalidade
comandados por generais macedônicos. das obras gregas clássicas, a arte helenística apresenta
Os reinos helenísticos eram governados sob a forma elementos de tensão e conflito. Na obra Laocoonte e
das monarquias pré-homéricas e egípcias: poder concen- seus filhos, do século II a.C., é representada uma cena
trado nos palácios, corte vasta e forte burocracia. O rei da Eneida, de Virgílio, onde o sacerdote Laocoonte
tornou-se figura de adoração e as assembleias democráti- advertiu a população troiana para não aceitar o cavalo
cas desapareceram. Esses Estados logo se fragmentaram de madeira entregue pelos gregos. Como castigo, os
e foram paulatinamente anexados, nos séculos II e I a.C., deuses, enviaram serpentes do mar que envolveram o
pelos romanos, constituindo uma nova hegemonia no mun- sacerdote e seus dois filhos.
do mediterrânico.
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Nesse período, houve a intensificação dos contatos
entre as culturas grega, egípcia, persa, hebraica, meso-
potâmica, afegã e hindu, e, com isso, surgiu a chamada
cultura helenística. A escrita passou a ser valorizada
em detrimento da tradição oral, de maneira que uma
obra literária só passava a ser considerada válida quando
transformada em livro. Atuaram, nesse sentido, os escri-
bas alexandrinos, e assim foram construídas as grandes
bibliotecas helenísticas, cujo maior exemplo é a Biblio-
teca de Alexandria.
Nas ciências, destaca-se o matemático Euclides, que
desenvolveu as formas e teoremas da matemática; na
FRENTE 2
159
Saiba mais Roma Antiga
Da origem à monarquia (753-509 a.C.)
No momento de sua fundação, Roma era uma cidade
independente, com estruturas semelhantes a uma pólis
grega. No entanto, as mudanças internas e as guerras com
as quais se envolveu levaram Roma a se tornar um império,
e um dos mais duradouros da história. O Império Romano
se estendeu da Grã-Bretanha ao rio Eufrates e do mar do
Norte ao Egito, e era fortemente ancorado na escravidão.
Interligado por uma rede de estradas, o Império Romano
possuía refinadas técnicas de administração, cobranças de
impostos e fixação de tropas.
Roma incorporou muito da cultura das regiões que
conquistou, especialmente da Grécia. Não foi apenas
ouro e tecido que os romanos saquearam, mas também
a cultura grega, seus princípios religiosos e sua política.
Ideias e palavras como república, senado, plebiscito,
comício, proletário e sufrágio vêm do período romano.
Contudo, assim como a democracia dos gregos, a Re-
pública e o Senado romanos tinham significados muito
distintos dos nossos.
Há diferenças fundamentais entre o mundo grego e o
romano. Na evolução histórica de Roma, houve o fortaleci-
mento dos patrícios, um grupo de proprietários de terra, que
derrubaram a monarquia e instauraram instituições capazes
de garantir o seu domínio. Ao contrário da Grécia, na qual
a democracia tirou o poder da aristocracia, em Roma, no
Império ou na República, o poder permaneceu essencial-
mente aristocrático. A aristocracia romana, contudo, não
foi a mesma do início ao fim; extremamente maleável, ela
passou por grandes transformações e soube unir-se a uma
nobreza plebeia.
A península Itálica possui uma cadeia montanhosa que
protege a região dos ventos frios do norte e contribui para
a ocorrência de chuvas. O solo na região é fértil, favore-
cendo a agricultura e a criação de gado. O rio Tibre nasce
nas montanhas da Itália central e cruza uma planície antes
de chegar ao mar. Às margens do rio Tibre, foi fundada a
cidade de Roma. Antes da fundação da cidade, a região
foi ocupada por diversos povos como italiotas (latinos,
sabinos, samnitas e úmbrios), gregos, messápios, lucanos,
campanos e etruscos.
Os etruscos exploravam o ferro e o cobre e viviam em
cidades planejadas, que influenciaram os romanos
em seu plano urbanístico e seus túneis subterrâneos.
Possuíam um amplo comércio, e seu artesanato, em
cerâmica e bronze, era encontrado em várias partes da
Europa. No século VI a.C., o Império Etrusco abarcava
ao norte a planície do Pó e ao sul a região da atual
Nápoles. Roma, fundada por latinos e sabinos, estava
localizada no Lácio, entre colônias gregas do sul da
Itália (Magna Grécia) e a Etrúria. Vestígios arqueológi-
cos indicam que a cidade foi fundada quando pastores
e agricultores, que ocupavam as colinas do Palatino,
Esquilino e do Quirinal, uniram-se para se proteger de
ataques etruscos.
Tarquínio, o Soberbo, foi deposto por uma revolta, e a Roma, os votos realizavam-se coletivamente – nesse caso,
realeza foi abolida. Nesse período, sabe-se que em várias por meio das assembleias.
cidades os patrícios derrubaram reis, visando aumentar seu Em caso de grave ameaça à República, como guerras
poder. A aristocracia romana temia que, como na Grécia, ou revoluções, o Senado podia suspender todas as leis e
uma tirania ligada à plebe democratizasse o acesso à terra. indicar um chefe único para governar Roma por seis meses:
Assim, os reis deixaram de existir, e Roma passou a ser o ditador. Com o poder de todas as magistraturas, ele teria
uma República. a função de pacificar a cidade.
161
Os conflitos entre plebeus dando início às Guerras Púnicas (4-4 a.C.). Com a
e patrícios (494-287 a.C.) eventual vitória de Roma, Cartago foi destruída e houve o con-
Após a proclamação da República, os patrícios assu- trole romano dos territórios ao longo de todo o Mediterrâneo.
miram para si todos os cargos políticos. Durante mais de As Guerras Púnicas representaram um marco da grande
dois séculos, a plebe, liderada pelos plebeus enriquecidos, expansão territorial romana. No fim do século II a.C., toda
articulou uma luta contra essa estrutura política, conseguin- a civilização mediterrânica estava sob o domínio romano.
do importantes reformas. A expansão garantiu riqueza por meio dos saques, gló-
Em 494 a.C., os plebeus, descontentes com a legisla- ria militar para a aristocracia e aquisição dos terrenos das
ção sobre dívidas e com a falta de proteção aos cidadãos, áreas conquistadas. Os comerciantes italianos obtinham
se retiraram para o monte Aventino, deixando os patrícios novas possibilidades de comércio, e os tributos cobrados
dos povos dominados garantiam tanta riqueza que houve
sem trabalhadores e soldados. Os patrícios cederam e foi
a isenção de impostos.
criado o cargo de tribuno da plebe, eleito pelos plebeus,
Para administrar diferentes regiões, os romanos empre-
nas assembleias da plebe, e que tinha poder de veto sobre
garam várias estratégias. Uma delas foi o municipium, que
as ações do Senado.
consistia em considerar as regiões como províncias roma-
Em 450 a.C., a plebe – novamente insatisfeita com o
nas e dar-lhes a cidadania. Tinham autonomia interna e o
aumento dos impostos – ameaçou voltar ao monte Aventino
direito de participar das assembleias, mas, em contrapartida,
e exigiu que as leis, que eram orais e conhecidas somente
deveriam fornecer soldados para a expansão romana. Con-
pelos governantes, fossem escritas. Nasceu, assim, a Lei
tudo, nem todas as regiões conquistadas gozaram dessa
das Doze Tábuas, que deu origem ao direito romano.
cidadania, e, às vezes, eram obrigadas a conceder soldados
Em 445 a.C., a Lei Canuleia aboliu a proibição ao casa-
e a pagar pesados tributos sem obter cidadania. Além disso,
mento entre patrícios e plebeus; em 367 a.C., a Lei Licínia
outra estratégia foi integrar as áreas conquistadas por meio
Sextia estabeleceu que um dos cônsules fosse sempre ple-
de um eficiente sistema de estradas.
beu, e, em 326 a.C., com a Lei de Poetélia, a escravidão
O mar Mediterrâneo, agora, era chamado de Mare
por dívida foi abolida. Em 287 a.C., os plebeus se retiraram
Nostrum (nosso mar) pelos romanos. Nele, circulavam
novamente para o monte Aventino, conseguindo aprova-
mercadorias e soldados, intensificando o comércio e a
ção da Lei Hortênsia, na qual as decisões da assembleia
popular da plebe, os plebiscitos, poderiam ter validade em
toda Roma. Embora a plebe tenha ampliado sua participa- Bacia Mediterrânea: Mare Nostrum
ção na sociedade romana, não alcançou plena igualdade
política em relação aos patrícios. Importante destacar que
as assembleias que elegiam os magistrados continuaram
a ser controladas pelos patrícios.
A expansão romana
As lutas sociais conquistaram uma nova dimensão no
cenário de expansão territorial de Roma. Entre os séculos
V e III a.C., houve uma série de campanhas militares na
península Itálica contra aqueles que ameaçavam a existên-
cia da cidade. Roma estabeleceu alianças com as cidades
dominadas, e a expansão, a partir daí, se deu entre uma
liga de cidades por ela liderada. Cada guerra significava o
aumento de recursos, por meio do saque e da pilhagem, de
escravos, de cidades aliadas e do exército que se tornava
cada vez maior.
No século III a.C., os romanos já dominavam toda
a península Itálica e o apogeu dessas conquistas se
deu em confronto com Cartago, sua antiga aliada. Fun-
dada pelos fenícios em 841 a.C., Cartago, situada no
norte da África, era uma pólis democrática, potência
comercial, com base na exploração e venda de miné-
rios, e não tolerava o surgimento de um concorrente Fonte: VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História geral e do Brasil.
São Paulo: Scipione, . p. .
no Mediterrâneo ocidental. Os acontecimentos que de-
sencadearam a guerra se deram em Messina, região integração no mundo antigo.
da Sicília. Mercenários de Siracusa, aliados cartagine-
ses, invadiram Messina, que era de influência romana. As consequências da expansão romana
Os romanos tiveram, então, seu pretexto para invadir toda A expansão transformou Roma profundamente
a Sicília. Cartago, no entanto, não aceitou tal ocupação, e acabaria por minar a própria República. As guerras
pela guerra, a família morta ou empobrecida, e, assim, nascido plebeu, derrotou Jugurta. Pelo seu prestígio, foi
também seguiam para a cidade. eleito ditador e cônsul, dominando a política romana en-
Muitos camponeses endividados eram expulsos tre 107 e 86 a.C. Criou o exército permanente, pagando
pelos grandes proprietários. Pequenos proprietários os soldados e permitindo, pela primeira vez, que os mais
arruinavam-se devido à concorrência com os produ- pobres se alistassem como voluntários, ambicionando os
tos das províncias e dos latifúndios. Então, os grandes ganhos dos saques e das promoções de carreira.
163
A República Romana era incapaz de administrar um o imperador passou a ser encarado como um deus vivo,
império cada vez maior e mais complexo. Com isso, os herdeiro do sangue divino de seu pai, Júlio César. Assim,
ambiciosos generais se fortaleceram e ganharam um pres- Otávio passou a se chamar Imperador Augusto César
tígio cada vez maior dentro da população. Foi então que (Imperator Caesar Augustus).
um novo confronto assolou Roma: o cônsul patrício Lúcio O Senado e as magistraturas se mantiveram, contudo,
Cornélio Sila tinha ganho o comando da guerra contra Otávio Augusto e seus sucessores tomaram para si os po-
Mitríades, o rei do Ponto. No entanto, Caio Mário, ambi- deres dos senadores e magistrados. Otávio tinha imunidade
cionando comandar essa guerra, induziu as assembleias no cargo e direito de convocar assembleias, e o Senado, de
a suspenderem os direitos políticos de Sila. Furioso, o impor leis, de escolher os magistrados, de vetar medidas
cônsul mobilizou as tropas sob seu comando e invadiu de senadores e magistrados etc. Ele controlava o tesouro
Roma, executando seus adversários a assumindo plenos imperial, era o comandante do exército e o único que po-
poderes, como ditador de Roma. O general fugiu para deria ser aclamado após as vitórias nas batalhas.
a África. No poder, Sila reforçou o Senado, aumentando Além disso, Augusto vangloriava-se por transformar
o número de membros, e revogou o poder dos tribu- Roma de uma “cidade de tijolos” para uma “cidade de már-
nos da plebe. As conquistas da plebe estavam perdidas more” e capital de um império. Ele garantiu o fornecimento
e Roma tornava-se mais aristocrática. Sila morreu em de água ao construir aquedutos, cais e esgotos. Também
79 a.C., na Sicília. ergueu o Fórum de Augusto, o Altar da Paz e um mausoléu
Diversos chefes políticos passaram a disputar o poder. para a família imperial. Ele criou o cargo de prefeito da
Em 60 a.C., Pompeu, Crasso e Júlio César concluíram um cidade e confiou aos vigiles (bombeiros) o policiamento
acordo conhecido como primeiro triunvirato. Com apoio noturno e a luta contra os incêndios tão comuns em Roma.
do exército, o triunvirato controlou Roma, prometendo Junto a seu amigo, Mecenas, Augusto protegeu e sus-
restabelecer a ordem na cidade e acabar com complôs,
tentou inúmeros homens das letras, como Tito Lívio, Horácio
escândalos e revoltas. Após a morte de Crasso, Júlio César
e Virgílio. Posteriormente, chamou-se de “mecenato” a pro-
e Pompeu entraram em confronto armado pela disputa de
teção que um homem rico dá a um artista.
poder, que resultou na vitória de César. Em 44 a.C., Júlio
César tornou-se ditador vitalício, concentrando todo o po-
Saiba mais
FRENTE 2
165
O período do Alto Império, desde as reformas de Augusto até o fim do século II, é conhecido como Pax Romana (Paz
Romana), devido às poucas guerras externas (Augusto fixou as fronteiras), à paz interna (fim das guerras entre generais,
pão e circo e os vigiles), aos poucos conflitos com suas províncias (ordem e obediência promovidas por Augusto, maior
integração ao Império) e a toda prosperidade do Império.
Mar do
Norte
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OCEANO
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ATLÂNTICO
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Rio Cáspio
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Fonte: DUBY, Georges. Atlas histórico mundial. Paris: Larousse, 2003. p. 27.
Saiba mais
167
Após as reformas, em 5
império que já não tinha mais centro nem periferia.
Com a abdicação de Diocleciano, o sistema de tetrarquia não sobrevi
pois os imperadores guerrearam entre si. Em um desses conflitos, o tetrarca
Constantino derrotou seus rivais e ocupou, sozinho, o trono. Constantino, o
primeiro imperador cristão, renunciou de todos os cultos romanos. Nessa
época, os imperadores interferiam intensamente nos assuntos da Igreja,
e o cristianismo tornou-se a principal instituição romana. A partir de Cons-
rt
tantino, todos os imperadores foram cristãos (com exceção de Juliano, o
g
Apóstata). Com a proclamação do Édito de Milão, em , todas as reli-
giões – entre elas o cristianismo – passaram a ser toleradas, podendo ser
livremente praticadas. Ademais, o Édito passou a proibir que os municípios
pagãos obrigassem os cristãos a realizar sacrifícios, instituiu o repouso obri-
gatório aos domingos e aboliu as penas contra o celibato
Constantino ganhou grande popularidade.
Diante das diferentes interpretações da doutrina católica, Constantino presidiu Moeda com o perfil de Diocleciano.
o Concílio de Niceia, em 5, para determinar as diretrizes básicas do cristianismo, dan-
do unidade à religião. Estabeleceram-se elementos da ortodoxia cristã, como o dogma da Santíssima Trindade, aceita
após um grande debate entre o bispo Atanásio e Ário, fundador de uma seita arianista. Todas as divergências dessa
doutrina oficial foram consideradas interpretações equivocadas da doutrina cristã, heresias.
A partir das reformas de Constantino, bispos passaram a receber terras e outros eclesiásticos obtiveram cargos na
administração pública e gozaram de grandes privilégios no Império. A partir do papa Leão I, em 445, ficou estabelecido
que o bispo de Roma, chamado papa, era a autoridade máxima de toda cristandade, legítimo sucessor de São Pedro,
primeiro chefe da Igreja.
O Império tornou-se um Estado burocrático e hierárquico, aumentando o número de cargos, prefeitos, governadores
e senadores. Os imperadores passaram a instalar-se em Milão e Ravena, em vez de Roma. Em 4, Constantino criou uma
nova capital para o Império, a cidade de Constantinopla (hoje em Istambul, na Turquia), no Oriente, área mais rica do Império.
chrisdorney/Shutterstock.com
Saiba mais
Rio R
en
o
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de; REIS, Arthur Cézar Ferreira; CARVALHO, Carlos Delgado de. Atlas histórico escolar.
7. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: FENAME.
Já no Império Romano do Ocidente, a crise econômica, os ataques bárbaros e as disputas políticas terminaram em 46,
quando o rei Odoacro depôs o último imperador do Império do Ocidente.
Em seguida, Odoacro entregou as insígnias imperiais ao imperador do Oriente, jurando fidelidade a ele. As-
sim, os diversos territórios ocidentais passaram a ser governados por povos bárbaros (francos, visigodos, suevos,
vândalos, ostrogodos, burgúndios etc.), mas todos os reis bárbaros deveriam jurar submissão ao imperador do
Oriente. Em 493, os ostrogodos, liderados por Teodorico, venceram Odoacro, se apoderaram da península Itálica
e se mesclaram aos romanos. Ao longo dos séculos, eles tornaram-se mais autônomos em relação ao imperador
do Oriente.
No século VII, os reinos bárbaros já não eram mais submissos ao imperador do Oriente. Como veremos, a
coroação de Carlos Magno, no Natal de 800, como imperador de Roma, marca essa posição: ele afirmará que o
FRENTE 2
169
Revisando
1. Udesc 2018 Observe a linha do tempo abaixo: 3. Uece 2017 Atente ao seguinte excerto:
a.C. () (2) () () () d.C.
“Vivi a guerra inteira, tendo uma idade que me per-
mitia formar meu próprio juízo, e segui-a atentamente,
A respeito da chamada Antiguidade Clássica, assina- de modo a obter informações precisas. Atingiu-me tam-
le a alternativa que apresenta a correta ordem dos bém uma condenação ao exílio que me manteve longe
eventos, segundo a linha do tempo apresentada. de minha terra por vinte anos após o meu período de
a) Fundação de Roma pelos etruscos; Configuração comando em Anfípolis e, diante de minha familiaridade
do modelo de democracia ateniense; Instau- com as atividades de ambos os lados, especialmente
ração do Império Romano; Queda do Império aquelas do Peloponeso, em consequência do meu ba-
Romano; Instauração da República Romana. nimento, graças ao meu ócio, pude acompanhar melhor
o curso dos acontecimentos. Relatarei, então, as diver-
b) Acontecimentos narrados por Homero em Ilíada e
gências surgidas após os dez anos, e o rompimento da
Odisseia; Desenvolvimento das noções de democra-
trégua e as hostilidades supervenientes”.
cia e cidadania grega; Crise da República Romana; (TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso, V, 26).
Instauração do Império Romano; Oficialização do
cristianismo como religião do Império Romano. Sobre a Guerra do Peloponeso, registrada por Tucídi-
c) Expansão do Império Romano; Queda do Império des, é correto armar que
Romano; Estruturação do Sistema Feudal; Crise a) se trata de conflito armado entre gregos e
do século XIV; Renascimento. troianos.
d) Queda do Império Romano; Oficialização do cris- b) foi uma guerra entre Atenas e Esparta.
tianismo; Proclamação da República Romana; c) não ocorreu propriamente: trata-se de uma ficção
Proclamação da República Grega; Expansão dos do mundo antigo.
etruscos para Atenas. d) foi o conflito que ficou conhecido como Guerras
e) República Ateniense; Ascensão do Império Médicas.
Espartano; Oficialização do cristianismo; Pro-
4. UEG 2015 Como resultado das campanhas militares de
clamação da República Romana; Expansão do
Alexandre (Magno), surgiu a cultura helenística. Houve in-
Império Romano.
fluência da cultura oriental sobre a grega, porém não se deve
superestimar a importância dessa influência. Na realidade,
2. UFG 2013 Leia o fragmento a seguir.
os caracteres da cultura grega sempre foram dominantes.
Tinha o desejo de saber por que o Nilo começa a ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO, Júlio.
encher no solstício de Verão. De acordo com a primeira Horizontes da História. São Paulo: IBEP, 2005. p. 41.
explicação, são os ventos estivais que, desviando com Essa hegemonia da cultura helênica vericou-se,
seu sopro as águas do Nilo, impede-as de ir para o mar,
sobretudo no Ocidente, sendo justicada pelo fato
ocasionando a cheia. A segunda versão é ainda mais
absurda, embora encerre qualquer coisa de maravilhoso.
de que
Dizem que o oceano envolve toda a terra, e que o Nilo a) os persas logo revelariam pretensões imperia-
está sujeito a inundações porque vem do oceano. A ter- listas, sendo liderados por Xerxes numa grande
ceira explicação é mais falsa. Com efeito, pretender que o campanha militar contra os gregos.
Nilo provém de fontes de neve equivale a não dizer nada. b) os habitantes de Alexandria, a capital do Im-
Como poderia ser formado por fontes de neve se vem de pério de Alexandre, se recusavam a admitir a
um clima muito quente para um país igualmente tórrido? presença de estrangeiros em suas fronteiras.
HERÓDOTO. História. Rio de Janeiro: Jackson Inc., c) os gregos mantinham forte resistência à liderança
1964. p. 119-120. (Adaptado).
de Alexandre Magno, por ele não ser grego de
No fragmento apresentado, escrito por volta de 0 origem, já que nascera na Macedônia.
a.C., Heródoto expõe diferentes visões para explicar d) os orientais, mesmo tendo se integrado ao
os motivos das cheias do rio Nilo, no Egito. A forma de império de Alexandre, continuaram sendo consi-
exposição de Heródoto expressa uma característica da derados bárbaros pelos gregos.
pólis grega, associada
a) ao apego a modelos explicativos baseados no 5. Uece 2019 Com a morte de Alexandre, o Grande,
empirismo. iniciou-se a fase conhecida como Helenismo. Con-
b) à crença na interferência de elementos míticos siderando os valores e ideais desse período, atente
sobre os eventos naturais. para os seguintes itens:
c) à especulação filosófica como forma de transfor- I. favorecimento da unificação entre a cultura supe-
mar a realidade. rior e a cultura popular;
d) à relativização da verdade como meio para alcan- II. reforço dos elos entre o indivíduo e a comunida-
çar o conhecimento. de, repudiando o individualismo;
e) ao exercício do diálogo constituído por distintas III. destaque para os ideais filosóficos do epicurismo
opiniões sobre os acontecimentos. e do estoicismo.
Esparta foi uma das mais importantes cidades-Es- se suas riquezas advindas de espólios de guerra
tado da Grécia na Antiguidade Clássica. e de tributos.
Avessas ao contato com outros povos, as ci- A formação do Primeiro e do Segundo Triunvira-
dades-Estado gregas se caracterizaram pelo to teve como objetivo solucionar o problema da
isolamento e pela forte estrutura militar, fato que questão agrária por meio de reformas que aten-
as distanciou, por exemplo, dos romanos. diam as reivindicações da plebe.
Soma: Soma:
171
Exercícios propostos
1. Unesp 2020 A Odisseia choca-se com a questão do 3. Unesp 2017 Apesar de sua dispersão geográfica e
passado. Para perscrutar o futuro e o passado, recorre-se de sua fragmentação política, os gregos tinham uma
geralmente ao adivinho. Inspirado pela musa, o adivi- profunda consciência de pertencer a uma só e mes-
nho vê o antes e o além: circula entre os deuses e entre ma cultura. Esse fenômeno é tão mais extraordinário,
os homens, não todos os homens, mas os heróis, pre- considerando-se a ausência de qualquer autoridade
ferencialmente mortos gloriosamente em combate. Ao central política ou religiosa e o livre espírito de inven-
celebrar aqueles que passaram, ele forja o passado, mas ção de uma determinada comunidade para resolver os
um passado sem duração, acabado. diversos problemas políticos ou culturais que se colo-
cavam para ela.
(François Hartog. Regimes de historicidade:
FINLEY, Moses I. Os primeiros tempos
presentismo e experiências do tempo, 2015. Adaptado.) da Grécia, 1998. (Adapt).
O texto arma que a obra de Homero O excerto refere-se ao seguinte aspecto essencial da
a) questiona as ações heroicas dos povos fundado- história grega da Antiguidade:
res da Grécia Antiga, pois se baseia na concepção a) a predominância da reflexão política sobre o de-
filosófica de physis. senvolvimento das belas-artes.
b) valoriza os mitos em que os gregos acreditavam b) a fragilidade militar de populações isoladas em
e que estão no fundamento das concepções mo- pequenas unidades políticas.
dernas de tempo e história. c) a vinculação do nascimento da filosofia com a
c) é fundadora da ideia de história, pois concebe constituição de governos tirânicos.
o passado como um tempo que prossegue no d) a existência de cidades-estados conjugada a pa-
presente e ensina os homens a aprenderem com drões civilizatórios de unificação.
seus erros. e) a igualdade social sustentada pela exploração
d) identifica uma forma do pensamento mítico e econômica de colônias estrangeiras
uma visão de passado estranha à ideia de diá-
logo entre temporalidades, que caracteriza a 4. Unicamp 2018 Os gregos sentiram paixão pelo huma-
história. no, por suas capacidades, por sua energia construtiva.
e) desenvolve uma abordagem crítica do passado e Por isso, inventaram a polis: a comunidade cidadã em
uma reflexão de caráter racionalista, semelhantes cujo espaço artificial, antropocêntrico, não governa a ne-
à da filosofia pré-socrática. cessidade da natureza, nem a vontade dos deuses, mas a
liberdade dos homens, isto é, sua capacidade de racioci-
2. Uefs 2018 Leia o trecho de Odisseia, poema grego nar, de discutir, de escolher e de destituir dirigentes, de
criar problemas e propor soluções. O nome pelo qual
composto no final do século VIII a.C.
hoje conhecemos essa invenção grega, a mais revolu-
Tenho uma serva velha, muito compreensiva, cionária, politicamente falando, que já se produziu na
que amamentou e criou o meu pobre marido, história humana, é democracia.
recebendo-o nos braços no dia em que a mãe o deu à luz.
(Adaptado de Fernando Savater, Política para meu filho.
[...] São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 77.)
Anda lá, ó sensata Euricleia, levanta-te agora:
lava os pés de quem tem a idade do teu amo. Assinale a alternativa correta, considerando o texto
Homero. Odisseia, 2011.
acima e seus conhecimentos sobre a Grécia Antiga.
O trecho apresenta as palavras da rainha Penélope a) Para os gregos, a cidade era o espaço do exer-
no momento da chegada de Ulisses ao palácio da ilha cício da liberdade dos homens e da tirania dos
de Ítaca. deuses.
b) Os gregos inventaram a democracia, que tinha
Considerando o conteúdo do trecho e a organização então o mesmo funcionamento do sistema políti-
social na Grécia Antiga, pode-se sustentar a co vigente atualmente no Brasil.
a) predominância do poder político feminino nas ci- c) Para os gregos, a liberdade dos homens era exer-
dades monárquicas. cida na polis e estava relacionada à capacidade
b) existência de relações escravistas no interior das de invenção da política.
famílias nobres. d) A democracia foi uma invenção grega que criou
c) natureza pacífica das relações entre gregos e problemas em função do excesso de liberdade
bárbaros. dos homens.
d) tendência à libertação dos escravos depois da
Guerra de Troia. 5. Enem PPL 2019 Quando se trata de competência nas
e) resistência passiva dos trabalhadores estrangei- construções e nas artes, os atenienses acreditam que
ros nos palácios dos reis. poucos sejam capazes de dar conselhos. Quando, ao
173
depois disto, todos se retiram. Assim têm lugar esses mérito, tampouco a pobreza constitui um empecilho:
funerais; e, durante toda a guerra, quando era o caso, se um homem está apto a servir ao Estado, não será
aplicava-se o costume”. tolhido pela simplicidade da sua condição.
Citado em LORAUX, N. A invenção de Atenas. THUCYDIDE. OEuvres complètes.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p. 39. Paris: Gallimard, 1998. p. 811-812.
Assinale a alternativa correta a respeito da história da Com relação à democracia ateniense no século V a.C.,
antiguidade grega, a partir do texto apresentado. considere as armações abaixo.
a) Os ritos funerais na Grécia antiga eram cerimô-
I. A isonomia – igualdade de direitos para todos os
nias religiosas, destinadas apenas a conduzir ao
cidadãos perante a lei – era uma característica da
paraíso os heróis mortos.
democracia ateniense.
b) Os metecos, participantes das práticas funerais,
II. Todos os cidadãos, na Assembleia, tinham o direi-
formavam parte do demos ateniense e possuíam
to ao voto, mas somente os cidadãos de origem
os mesmos direitos políticos que os cidadãos da
nobre tinham o direito a discursar.
pólis.
III. Atenas vetava a participação política das mulhe-
c) Todos os soldados atenienses mortos nos con-
res, estrangeiros e escravos, uma vez que esses
frontos com Esparta, em razão do grande mérito
não eram considerados cidadãos.
de seus feitos, eram sepultados no próprio lugar
da batalha. Quais estão corretas?
d) A cena descrita, ocorrida na democracia ate- a) Apenas I.
niense, indica o valor dado aos cidadãos mais b) Apenas II.
eloquentes da cidade. c) Apenas I e III.
e) A realização de um discurso fúnebre por alguém d) Apenas II e III.
escolhido na massa de cidadãos de Atenas revela e) I, II e III.
o caráter secundário e improvisado da cerimônia.
13. Famema 2020 Leia o excerto sobre a preparação
11. UEG 2018 Leia o texto a seguir. dos rapazes na Grécia Antiga para exercer seu papel
de cidadão e pai de família.
Para justificar a ambição grega de hegemonia univer-
sal, Aristóteles (384 - 322 a. C.) formulou a hipótese de Dois tipos de iniciação persistiam nas épocas clás-
que certas raças são, por natureza, livres desde o berço, sica e helenística em Atenas. A primeira, de origem mais
enquanto outras são escravas. arcaica, era a apresentação do adolescente à 1fratria
COMAS, Juan. Os mitos raciais. Raça e Ciência. paterna, inicialmente em um sacrifício oferecido pelo
São Paulo: Perspectiva, 1960. v. I. p. 13.
pai aos deuses Zeus e Atena. A segunda, provavelmen-
Essa losoa racial foi incorporada às campanhas mi- te estabelecida na época clássica, era o serviço militar,
litares de um grande general e líder político que foi chamado efebia. Ambas tinham igual importância para
aluno de Aristóteles. Seu nome era os gregos do período, e era indispensável que o jovem
a) Leônidas, rei espartano que liderou a resistência passasse pelas duas.
Maria Beatriz Florenzano. Nascer, viver e morrer
contra os persas com apenas soldados. na Grécia Antiga, 1996. Adaptado.
b) Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, que di-
1
fundiu a cultura grega na África e na Ásia. fratria: grupo de pessoas que acreditavam ter o mesmo ancestral.
c) Nero, imperador romano admirador dos gregos, De acordo com o excerto, tornar-se cidadão em Ate-
famoso por ter colocado fogo em Roma. nas dependia
d) Péricles, governante responsável pelo apogeu da a) da formação intelectual e do pertencimento às
cidade de Atenas no período clássico. tropas da cidade.
e) Licurgo, legislador conhecido por estabelecer as b) da aceitação pelo grupo familiar e da preparação
duras leis da cidade de Esparta. para a guerra.
c) do casamento dentro da linhagem e do auxílio mi-
12. UFRGS 2020 Leia o texto abaixo que apresenta um litar ao Estado.
trecho do Discurso Fúnebre de Péricles, citado pelo d) de pagamentos feitos aos sacerdotes e do com-
historiador Tucídides (0-3 a.C.). bate aos inimigos.
A nossa constituição não imita as leis dos estados e) do reconhecimento pelas autoridades civis e da
vizinhos. Em vez disso, somos mais um modelo para capacidade bélica.
os outros do que imitadores. O governo favorece a
maioria em vez de poucos – por isso é chamado de 14. Unicamp 2015 Apenas a procriação de filhos le-
democracia. Se consultarmos a lei, veremos que ela gítimos, embora essencial, não justifica a escolha
garante justiça igual para todos em suas diferenças da esposa. As ambições políticas e as necessidades
particulares; quanto à condição social, o avanço na econômicas que as subentendem exercem um papel
vida pública depende da reputação de capacidade. As igualmente poderoso. Comodemonstraram inúmeros
questões de classe não têm permissão de interferir no estudos, os dirigentes atenienses casam-se entre si, e
a) a rejeição à escravidão em Atenas e a defesa A referida lei foi um marco na luta por direitos na Roma
do trabalho livre como base de toda sociedade Antiga, pois possibilitou que os plebeus
democrática.
b) a defesa da democracia, por Atenas, diante das a) modificassem a estrutura agrária assentada no
latifúndio.
ameaças aristocráticas de Roma.
b) exercessem a prática da escravidão sobre seus
c) a rejeição à tirania como forma de governo e a
devedores.
celebração da república ateniense.
c) conquistassem a possibilidade de casamento
d) a defesa do território ateniense, frente à investida com os patrícios.
militar das tropas cartaginesas. d) ampliassem a participação política nos cargos po-
e) a defesa do poder de Atenas e a sua disposição líticos públicos.
de manter-se à frente de uma confederação de e) reivindicassem as mudanças sociais com base no
cidades. conhecimento das leis.
16. Enem 2017 18. Uepa 2014 Além dos fervores e das delícias do calendá-
Texto I rio religioso, havia outros prazeres que nada tinham de
sagrado e só eram encontrados na cidade; faziam parte
Sólon é o primeiro nome grego que nos vem à men- das vantagens da vida urbana. Tais prazeres consistiam nos
te quando terra e dívida são mencionadas juntas. Logo banhos públicos e nos espetáculos (teatros, corridas de
depois de 600 a.C., ele foi designado “legislador” em
FRENTE 2
175
autoridades. Além das complicadas instalações de ba- oficial do Império Romano, implicou na divulga-
nhos frios e quentes, os pobres encontravam passeios e ção dos princípios dessa nova doutrina para os
campos de esporte. [...] Nessa vida de praia artificial, o povos bárbaros.
maior prazer era de estar na multidão, gritar, encontrar e) A crescente produção de cereais, durante o Im-
pessoas, escutar as conversas, saber de casos curiosos pério Romano, especialmente, o trigo, levou à
que seriam objetos de anedota e exibir-se.
expansão de suas fronteiras, uma vez que era ne-
(ARIÈS, Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada: do Império
Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.p.193-194, In: cessário ser escoado e vendido para as demais
BRAICK, Patrícia Ramos e MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao províncias romanas.
terceiro milênio. vol.1. São Paulo: Editora Moderna, 2010).
A partir da leitura do texto, é correto armar que o 20. UFPR 2014 Sobre a religião da Roma Antiga, conside-
Estado romano propiciava: re as afirmativas abaixo:
a) espaços públicos luxuosos destinados aos ba-
. Os Jogos Olímpicos eram a principal cerimônia
nhos frios e quentes, que tinham a finalidade de
pública de adoração aos deuses, com a consa-
promover o lazer e estimular a comunicação e
gração de atletas de diversas partes do domínio
socialização entre as diversas camadas sociais
romano, representando as mais diferentes divin-
de Roma.
dades dos territórios conquistados.
b) locais insalubres para as camadas populares se
. Roma Antiga era politeísta, com deuses
divertirem, nos quais encontravam os banhos
antropomórficos incorporados de povos conquis-
públicos e espetáculos gratuitos como a luta de
tados, especialmente dos gregos. A expansão do
gladiadores, dentro da política do pão e circo.
c) espaços privados de lazer para as camadas mais domínio romano promoveu a coexistência dessa
abastadas da sociedade romana, onde eram religião com religiões locais que não conflitassem
cultivadas rodas de conversação e espetáculos com os rituais romanos.
teatrais. . Havia dois tipos de cultos: os promovidos pelo
d) divertimentos populares a todos os segmentos Estado romano, que dedicava rituais, festivais e
sociais, os quais eram realizados em espaços templos aos grandes deuses, e o culto doméstico,
públicos e privados, sendo nestes últimos instala- voltado para antepassados e espíritos domésti-
das as famosas termas onde ocorriam os banhos cos (denominados Lares).
quentes e frios. 4. O fim da Pax Romana ocorreu com a expansão
e) oportunidades para os segmentos sociais mais do cristianismo, que substituiu o culto domés-
abastados se comunicarem com sujeitos vindos tico romano pelo monoteísmo, promovendo
de outros lugares, especialmente da Grécia, obje- contestação do poder do Imperador entre os
tivando a interação de costumes e valores. cidadãos romanos.
Assinale a alternativa correta.
19. Mackenzie 2014 O Mar Mediterrâneo foi a maior de a) Somente as afirmativas , e são verdadeiras.
todas as vias de circulação romanas e dele resultou b) Somente as afirmativas , e 4 são verdadeiras.
a formação do Império Romano (27 a.C. a 7 d.C.). A c) Somente as afirmativas e 4 são verdadeiras.
respeito dessa importante conquista para a civilização d) Somente as afirmativas e são verdadeiras.
romana, assinale a alternativa correta. e) Somente as afirmativas e 4 são verdadeiras.
a) A eliminação da hegemonia cartaginesa sobre
a região além de permitir que Roma passasse a 21. Unicamp 2014 O termo “bárbaro” teve diferentes sig-
dominar o comércio mediterrâneo, possibilitou nificados ao longo da história. Sobre os usos desse
aumentar o dinamismo próprio da estrutura escra-
conceito, podemos afirmar que:
vista, que necessitava de mão de obra decorrentes
das conquistas. a) Bárbaro foi uma denominação comum a muitas
b) Após a derrota romana nas Guerras Púnicas, civilizações para qualificar os povos que não
quando fenícios e cartagineses ocuparam o compartilhavam dos valores destas mesmas
estreito de Gibraltar, a única saída para dar conti- civilizações.
nuidade ao processo de expansão foi a conquista b) Entre os gregos do período clássico o termo foi
do Mar Mediterrâneo. utilizado para qualificar povos que não falavam
c) A explosão demográfica e os conflitos internos grego e depois disso deixou de ser empregado
com a plebe urbana exigiram medidas expan- no mundo mediterrâneo antigo.
sionistas por parte do governo, para que se c) Bárbaros eram os povos que os germanos clas-
estabelecessem colônias romanas fora da Pe- sificavam como inadequados para a conquista,
nínsula Itálica a fim de minimizar as tensões como os vândalos, por exemplo.
sociais. d) Gregos e romanos classificavam de bárbaros povos
d) A necessidade de expansão do cristianismo, que viviam da caça e da coleta, como os persas, em
que, a partir do século IV, tornou-se a religião oposição aos povos urbanos civilizados.
23. Famerp 2019 Leia o texto para responder à questão: 25. UFPR 2020 Para assegurar a ordem entre os conquista-
dos, os romanos tinham que manter postos avançados
Enquanto nas cidades o poder ficou nas mãos dos e acampamentos militares espalhados pelo território
bispos, nos campos, concentrou-se na dos grandes pro- imperial. Era preciso alimentar e armar os soldados
prietários. O governo romano perdeu força: já não era onde estivessem.
capaz de cobrar os impostos de maneira eficiente, nem FUNARI, Pedro P. A. Grécia e Roma.
mesmo de pagar os exércitos. Em 476, o último imperador São Paulo: Editora Contexto, 2001, p. 91.
romano foi deposto. Era o fim do Império Romano e do
Sobre o exército romano, no período imperial, é cor-
mundo antigo e o início de uma nova era, a Idade Média.
reto armar:
(Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado.)
a) Foi decisivo nas conquistas territoriais durante o
A queda do Império Romano do Ocidente foi provoca- período republicano, perdendo seu prestígio du-
da, entre outros fatores, rante o período imperial.
a) pela fragilização do poder central, que gradua- b) Permaneceu distante das atividades de manuten-
imente perdeu o controle das províncias que ção das fronteiras dos territórios.
compunham o Império. c) Deixou de exercer sua influência no governo após
b) pelo declínio econômico das colônias asiáticas, as reformas de Augusto.
que deixaram de fornecer matérias-primas à capi- d) Desempenhou diferentes papéis administrativos
tal do Império. e econômicos na manutenção do poder imperial.
c) pela hegemonia econômico-financeira da Igreja, e) Era limitado em tamanho, o que refletiu num papel
que passou a combater militarmente os impera- político secundário.
FRENTE 2
dores pagãos.
d) pelo desenvolvimento militar dos impérios mace- 26. Unioeste 2018 Estar no mundo, hoje, é conviver com
dônio e persa, que se tornaram rivais de Roma e a a mobilidade e a migração, e todas suas implicações.
derrotaram. Do ponto de vista existencial, esta é uma experiência
e) pelas invasões dos bárbaros, que saquearam o desconcertante, em que as referências espaciais e socio-
Império Romano e, assim, facilitaram sua conquis- culturais são reconstituídas, num processo que envolve
ta pelos hunos. e atinge o próprio cerne da autoidentidade: a segurança
177
existencial. (...) Esse percurso leva a um pensar ontológi- castigados em primeiro lugar pela divina vingança e, de-
co acerca das estratégias e consequências do fenômeno pois, também pela nossa própria iniciativa.
migratório, o que faz refletir sobre o papel da identida- Édito de Tessalônica, ano 380 d.C. In: PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G.
de territorial, do envolvimento com o lugar e das redes História da Idade Média: textos e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000.
sociais no movimento de sair do lugar de origem e esta- Nos textos, a postura do Império Romano diante do
belecer-se no local de destino. cristianismo é retratada em dois momentos distintos.
MARANDOLA JR., Eduardo; GALLO, Priscila M. Dal. Ser Migrante:
implicações territoriais e existenciais da migração. R. Bras. Est. Pop. Rio de
Em que pesem as diferentes épocas, é destacada a
Janeiro, v. 27, n. 2, jul./dez. 2010, p. 407. permanência da seguinte prática:
a) Ausência de liberdade religiosa.
Acerca dos movimentos populacionais e seus impac-
b) Sacralização dos locais de culto.
tos ao longo da história é INCORRETO armar:
c) Reconhecimento do direito divino.
a) Os anos entre 85 e 9 caracterizam-se
d) Formação de tribunais eclesiásticos.
como o período de maior entrada de imigrantes
e) Subordinação do poder governamental.
no Brasil, devido principalmente ao aumento da
cafeicultura e consequentemente à maior neces-
sidade de mão de obra. 28. Unicamp 2020 Os imperadores romanos que reina-
b) A chamada Expansão Marítima, sob liderança ram no século II administraram um vasto império. Eles
se tornaram mais abertamente monárquicos e dinásticos,
de portugueses e espanhóis, ocorre a partir do
particularmente fora de Roma, onde não precisavam se
século XV. Conhecida ainda como As Grandes
preocupar com os humores do Senado. Emergiu uma
Navegações, ficou marcada entre outros aspec-
corte itinerante que competia por influência. Comu-
tos pela submissão de outros seres humanos ao
nidades provinciais enviavam um embaixador atrás do
trabalho escravo e pela difusão do cristianismo.
outro para acompanhar o imperador onde quer que ele
c) Um importante movimento populacional ocorre pudesse estar. Poderiam encontrar Adriano às margens do
no século III d.C.: o Império Romano sofreu a in- Nilo ou supervisionando a construção da grande muralha
vasão de um único povo denominado, por ele, de que cruzava o norte da Britânia; ajudando a projetar seu
“povo bárbaro”. templo de Vênus diante do Coliseu; fazendo um discur-
d) A imigração tem sido um dos principais problemas so para soldados na África. O império era governado de
humanitários dos últimos anos. Os imigrantes nem onde o imperador estivesse.
sempre são acolhidos, ao contrário, se deparam (Adaptado de Greg Woolf, Roma. São Paulo: Cultrix, 2017, p. 204.)
com perseguição policial, políticas xenofóbicas e
A partir da leitura do texto, assinale a alternativa
fronteiras fechadas.
correta.
e) Foi em meados do século VIII a.C. que os gregos ex-
pandiram seu mundo, e enviaram colonizadores para a) O Senado, composto por notáveis, fazia oposição
várias regiões do Mediterrâneo e do Mar Negro. Tal à centralização do poder do Imperador e garantia
processo continuou por mais de três séculos. a centralidade do governo em Roma e a democra-
tização das decisões governamentais.
b) O Império romano foi marcado pelas disputas de
27. Enem 2017
poder entre o Imperador e o Senado. Os conflitos
Texto I entre eles acabaram por resultar na diminuição do
Esta foi a regra que eu segui diante dos que me foram poder do Senado no que diz respeito à adminis-
denunciados como cristãos: perguntei a eles mesmos se tração pública.
eram cristãos; aos que respondiam afirmativamente, repeti c) O Senado, composto por notáveis, apoiava a
uma segunda e uma terceira vez a pergunta, ameaçando-os centralização do poder nas mãos do Imperador.
com o suplício. Os que persistiram, mandei executá-los, A nova estrutura política do Império permitia a mo-
pois eu não duvidava que, seja qual for a culpa, a teimosia bilidade da administração pública representada
e a obstinação inflexível deveriam ser punidas. Outros, ci- pelo Imperador.
dadãos romanos portadores da mesma loucura, pus no rol d) O Império, governado por militares, opunha-se às
dos que devem ser enviados a Roma. Correspondência de comunidades provinciais. Isso levou ao desapare-
Plínio, governador de Bitínia, província romana situada na cimento do Senado como instituição responsável
Ásia Menor, ao imperador Trajano. Cerca do ano 111 d.C. pela administração pública.
Disponível em: www.veritatis.com.br. Acesso em: 17 jun. 2015 (adaptado).
30. Famerp 2017 Durante o século IV, a velocidade da expansão do cristianismo aumentou muito, especialmente nas cidades
[romanas]. As antigas crenças continuaram existindo, mas o número de fiéis diminuiu muito. Os cristãos passaram a chamar
os adeptos das outras religiões de pagãos e, em algumas ocasiões, se dedicaram a destruir seus templos e as estátuas dos
deuses antigos.
Isso não significa que as religiões tenham vivido em conflito. O cristianismo tomou diversas ideias e características do
paganismo para si. Os livros escritos no início do Império e na época da República eram considerados obras-primas da lite-
ratura, e mesmo os que falavam de outros deuses eram lidos e apreciados pelos cristãos.
Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado.
Texto complementar
O Édipo Rei
A história tem seu início em Tebas, onde o perturbado rei Laio, por não conseguir ter filhos com sua esposa Jocasta, consulta o Oráculo de Delfos e
obtém a seguinte resposta: “Se tiveres um filho, ele te matará e se deitará com a mãe”. Apesar de tentar evitar, quando estava bêbado Laio fez um
filho em sua esposa: nascia Édipo. Para evitar que o destino se cumpra, o rei mandou um de seus pastores expor a criança numa montanha para ser
devorada por animais selvagens ou por aves. Porém, a criança sorriu ao pastor e este, incapaz de matá-la, entrega-a ao rei Pólibo, o qual não conse-
guia ter filhos. O rei Pólibo criou Édipo como um filho, o qual se destacou graças ao porte, coragem e inteligência. Porém, quando Édipo foi consultar
o Oráculo, já adulto, recebeu a mensagem: “Matarás seu pai e deitarás com sua mãe”. Acreditando que o rei Pólibo era seu pai, Édipo fugiu de sua
cidade para Tebas numa carroça, com um cocheiro e dois homens. Porém, no caminho, o príncipe Édipo cruzou com a carroça de um rei de Tebas.
O cocheiro desse rei pede para Édipo dar passagem, batendo com um cajado no seu ombro. Então Édipo mata o rei e seu cocheiro. Obviamente, o
rei era Laio, pai de Édipo. Chegando em Tebas, Édipo vê que um monstro aflige a cidade, com cabeça e seios de mulher, corpo e patas de Leoa: a
esfinge. Todos os anos, a esfinge exige que um jovem tebano tente resolver seus enigmas, caso contrário, o mata: “decifra-me ou devoro-te”. Vendo
a chegada de Édipo, Creonte, irmão de Jocasta, promete a mão de sua rainha, caso Édipo livre a cidade do monstro. Então a esfinge propôs a Édipo:
“Quem, entre os que vivem na terra, na água, nos ares, têm uma só voz, um só modo de falar, uma só natureza, mas tem dois, três e quatro pés?”. E
Édipo responde: “É o homem, quando criança engatinha, na idade madura caminha e quando velho apoia-se numa bengala”. Derrotada, a esfinge
joga-se de um penhasco e morre. Desse modo Édipo, salvador de Tebas, se casa com a rainha Jocasta e vira rei de Tebas. Porém, tempos após a
FRENTE 2
chegada do novo rei, uma peste recai sobre Tebas e de repente, as mulheres dão luz a monstros, as fontes secam e muitos morrem de uma estranha
doença. Ao consultar o oráculo de Delfos, para resolver os problemas de sua cidade, o rei Édipo recebe a resposta: “O mal não vai cessar enquanto
o assassino de Laio não estiver morto”. Édipo inicia uma furiosa busca pelo assassino, acabando por conversar com o pastor que havia entregado-o a
Políbio. Édipo, depois de descobrir que casara com sua mãe e matara seu pai, perfura os próprios olhos. Jocasta se enforca. Os filhos de Édipo com
Jocasta, os quais disputaram intensamente o trono, maltratam o pai, trancando-o em quartos escuros e dando carne de animais sacrificados para ele
comer. O protagonista então fugiu para Atenas, onde morreu. Era impossível fugir do próprio destino.
Texto elaborado para fins didáticos.
179
Resumindo
Grécia Antiga
Roma Antiga
Exercícios complementares
1. UFPR 2018 Leia o excerto a seguir: a) Indique duas condições para que um ateniense
fosse considerado cidadão na Grécia clássica no
A Grécia se reconhece numa certa forma de vida
apogeu da democracia.
social, num tipo de reflexão que define a seus próprios
olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo b) Os estrangeiros, também chamados de metecos,
bárbaro. No lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem não tinham direitos integrais, mas tinham alguns
controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida deveres e direitos. Identifique um dever e um di-
política grega pretende ser o objeto de um debate públi- reito dos metecos.
co em plena luz do sol, na ágora, da parte de cidadãos
definidos como iguais e de quem o Estado é a questão 3. Fuvest 2017 A construção da modernidade econômica no
comum [...]. Ocidente teve como elementos determinantes a aquisição
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. de características mentais e sociais totalmente estranhas ao
Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.) mundo greco-romano: uma árdua e longa reapropriação civil
Tendo como base as armações expostas por do trabalho e a invenção de uma relação nunca antes expe-
Vernant, identique os traços principais da pólis gre- rimentada entre trabalho dependente e liberdade pessoal,
ga, o sistema político que ela substituiu e os principais seja nas cidades que renasciam, seja nos campos depois do
feudalismo. E também uma reconquista da dimensão física
problemas que ela apresenta.
da natureza – matéria e movimento, em um novo quadro de
experiências e conceitos – como condição para uma aliança
2. Unicamp 2015 O filósofo Aristóteles (3-322 a.C.)
entre inteligência e produtividade, entre conhecimento cien-
definiu a cidadania em Atenas da seguinte forma:
tífico, saberes artesanais e inovações tecnológicas.
A cidadania não resulta do fato de alguém ter o do-
FRENTE 2
181
4. Unesp 2019 Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
– São uma formosura os governantes que tu modelas-
De outras falenas
te, como se fosses um estatuário, ó Sócrates! [...]
Mas no fim da noite, aos pedaços
– Ora pois! Concordais que não são inteiramen-
Quase sempre voltam pros braços
te utopias o que estivemos a dizer sobre a cidade e a
De suas pequenas
constituição; que, embora difíceis, eram de algum modo
Helenas
possíveis, mas não de outra maneira que não seja a que
dissemos, quando os governantes, um ou vários, forem
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
filósofos verdadeiros, que desprezem as honrarias atuais,
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
por as considerarem impróprias de um homem livre e
Elas não têm gosto ou vontade
destituídas de valor, mas, por outro lado, que atribuem Nem defeito nem qualidade
a máxima importância à retidão e às honrarias que dela Têm medo apenas
derivam, e consideram o mais alto e o mais necessário Não têm sonhos, só têm presságios
dos bens a justiça, à qual servirão e farão prosperar, orga- O seu homem, mares, naufrágios
nizando assim a sua cidade? Lindas sirenas
Platão. A República, 1987.
Morenas [...]
O texto, concluído na primeira metade do século IV a.C., (Chico Buarque, letra e música, 1989.)
183
12. Unicamp À Ilíada, epopeia guerreira, sucede a Odisseia, alternativa(s) correta(s) sobre os sistemas de governo
pacífica coletânea de lendas e aventuras marítimas. Esse na Grécia Antiga.
contraste corresponde a uma mudança, quando os povos da “Entre os Estados, em geral, se dá o nome de realeza ao
região renunciam às lutas em territórios muito estreitos e se que tem por finalidade o interesse coletivo; e o governo de
voltam para os países longínquos. Os poemas homéricos são um pequeno número de homens, ou de muitos, contando
contemporâneos da grande expansão marítima dos fenícios que não o seja de um apenas, denomina-se aristocracia –
e a Odisseia está cheia de violências e rapinas de todo tipo ou porque a autoridade está nas mãos de várias pessoas
praticadas pelos fenícios, apresentados como mercadores de bem, ou porque essas pessoas dela se utilizam para o
descarados e bandidos sem escrúpulos; mas devemos levar maior bem do Estado. Por fim, quando a multidão governa
em conta, nessas narrativas, as rivalidades comerciais. no sentido do interesse coletivo, denomina-se esse governo
(Adaptado de J. Gabriel-Leroux, As primeiras civilizações do Mediterrâneo. de República, que é um nome comum a todos os governos.”
São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 67-68.) ARISTÓTELES, Política: Texto Integral. São Paulo: Martin Claret, 2001, p. 90.
a) Segundo o texto, quais seriam as razões históri- Ao longo da sua existência, a cidade-Estado de
cas da diferença entre a Ilíada e a Odisseia? Atenas experimentou formas de governo como a
b) Como a organização política de fenícios e gregos monarquia e a democracia.
os diferenciava da civilização egípcia? A principal característica do período Homérico
(XII-VIII a.C.) era o predomínio de uma anarquia
13. UFPR 2013 Considere a afirmação do historiador Pe- “homérica” em que cada cidade-Estado procura-
dro Paulo Funari: va subjugar a outra.
Ainda que os gregos tivessem produzido
“A guerra do Peloponeso não deixou de ser, até os
grandes filósofos, os textos destes não foram as-
nossos dias, uma narrativa histórica maior. Pode pa-
recer espantoso ver como recorrente um uso político
similados pelos governantes da época, pois só
contemporâneo de um conflito tão distante no tempo foram valorizados durante o Renascimento Italia-
e concernente a uma realidade histórica tão específica no do século XV.
quanto a das cidades gregas. Com efeito, os primeiros Assim como em nossos dias, a democracia pra-
a lerem, relerem e a se inspirarem em Tucídides foram ticada na Grécia Antiga garantia a liberdade
as elites britânicas. Desde os primórdios da Inglaterra política a todos os homens que habitavam os
moderna, nascida dos conflitos com o continente, os territórios gregos.
ingleses abandonaram todas as pretensões de potência Nas cidades-Estado onde a nobreza guerreira
terrestre europeia, em proveito da conquista dos mares.” monopolizava as instituições, consolidou-se o re-
FUNARI, Pedro Paulo. Usos da Guerra do Peloponeso. gime aristocrático em que uma minoria deliberava
Revista Brasileira de História Militar. Ano II, n. 4, abril de 2011.
pelo povo.
Com qual cidade-Estado os ingleses se identicaram Soma:
nos relatos de Tucídides sobre a Guerra do Pelopo-
neso? Justique sua resposta, explicando o que foi a
16. UFPR 2020 Alexandre, o Grande, teve uma vida
Guerra do Peloponeso, no que se refere aos principais
breve, mas intensa. Os historiadores da Antiguida-
envolvidos, a suas motivações e às consequências
de destacaram suas habilidades políticas e militares,
para o mundo grego.
e sua imagem se espalhou por meio de retratos e
bustos que foram produzidos em diferentes momen-
14. Fuvest 2013 Não esqueçamos que o processo de for- tos, seja no período helenístico, seja posteriormente
mação de um povo e de uma civilização gregos não se durante o Império Romano. Tornou-se, portanto, sím-
desenrolou segundo um plano premeditado, nem de bolo de poder em diferentes momentos históricos.
maneira realmente consciente. Tentativa, erro e imitação Discorra sobre dois legados de Alexandre na Anti-
foram os principais meios, de tal modo que uma certa
guidade – um legado político e um legado cultural.
margem de diversidade social e cultural, amiúde muito
marcada, caracterizou os inícios da Grécia. De fato, nem
o ritmo nem a própria direção da mudança deixaram de 17. UFPR 2019 Leia abaixo um excerto das Leis das Doze
se alterar ao longo da história grega. Tábuas, sistematizadas em 0 a.C.:
Moses I. Finley. O mundo de Ulisses. 3 ed. Lisboa: Presença, 1998, p.16.
TÁBUA NONA – Do direito público
a) Indique um elemento “imitado” de outros povos e 1. Que não se estabeleçam privilégios em lei (Ou que não
sociedades que teria estado presente nos “inícios se façam leis contra indivíduos) [...]
da Grécia”. 3. Se um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado
b) Ofereça pelo menos dois exemplos do que o au- receber dinheiro para julgar a favor de uma das partes
tor chama de “diversidade social e cultural”, que em prejuízo de outrem, que seja morto; [...]
“caracterizou os inícios da Grécia”. (Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm.
Acesso em: 7 set. 2018.)
15. UEM 2013 Tomando como base o texto a seguir e A partir dos conhecimentos sobre o período republi-
o contexto histórico a que ele se refere, assinale a(s) cano da Roma Antiga (0 a.C.-27 a.C.):
gente no período monárquico (5 a.C.-59 a.C.). A superação da tradição jurídica oral no mundo anti-
b) As Leis das Doze Tábuas deram origem a qual go, descrita no texto, esteve relacionada à
conjunto de leis e normas jurídicas? a) adoção do sufrágio universal masculino.
b) extensão da cidadania aos homens livres.
18. Uepa 2014 “As Catilinárias” são um célebre discurso c) afirmação de instituições democráticas.
de Marco Túlio Cícero, filósofo e cônsul romano do sé- d) implantação de direitos sociais.
culo I a.C., contra Lucius Catilina. O discurso denuncia e) tripartição dos poderes políticos.
a trama do jovem patrício e de seus seguidores para
obter riquezas com a derrubada do governo republi- 21. Fuvest 2013 A escravidão na Roma antiga
cano. O discurso é representativo da obra ciceroniana a) permaneceu praticamente inalterada ao longo
que, em geral, apresenta a política como tema central, dos séculos, mas foi abolida com a introdução do
mesmo em textos cujo propósito seja tratar de ques- cristianismo.
tões jurídicas e filosóficas. Essa inclinação na obra de b) previa a possibilidade de alforria do escravo ape-
Cícero se explica pelo (a): nas no caso da morte de seu proprietário.
a) ligação entre pensamento filosófico e vida políti- c) era restrita ao meio rural e associada ao trabalho
ca na Roma republicana, cuja ordem democrática braçal, não ocorrendo em áreas urbanas, nem
ensejava uma prerrogativa utilitária para o exercí- atingindo funções intelectuais ou administrativas.
cio filosófico. d) pressupunha que os escravos eram humanos e,
b) fato de Cícero ocupar cargos políticos no Império Ro- por isso, era proibida toda forma de castigo físico.
mano, o que demarca a peculiaridade da sua obra. e) variou ao longo do tempo, mas era determinada
c) força do pensamento jurídico na vida pública ro- por três critérios: nascimento, guerra e direito civil.
mana, o que limitava as possibilidades temáticas
de especulação filosófica. 22. Unicamp 2013 Por que as pessoas se casavam na
d) fragilidade reflexiva da filosofia romana se compa- Roma Antiga? Para esposar um dote, um dos meios
rada às obras gregas dos séculos anteriores. honrosos de enriquecer, e para ter, em justas bodas,
e) espaço ocupado pela oratória nas obras fi- rebentos que, sendo legítimos, perpetuassem o corpo
losóficas romanas, empregada como valioso cívico, o núcleo dos cidadãos. Os políticos não fala-
instrumento para a ação política. vam exatamente em natalismo, futura mão de obra,
mas em sustento do núcleo de cidadãos que fazia a
cidade perdurar exercendo a “função de cidadão” ou
19. Unesp 2012 A escravatura [na Roma antiga] foi prati-
devendo exercê-la.
cada desde os tempos mais remotos dos reis, mas seu
(Adaptado de P. Ariès e G. Duby, História da Vida Privada. São Paulo:
desenvolvimento em grande escala foi consequência das Companhia das Letras, 1990. v. 1, p. 47.)
guerras de conquista […].
Patrick Le Roux. Império Romano, 2010. a) Por que o casamento tinha uma conotação políti-
ca entre os cidadãos, na Roma Antiga?
Sobre a escravidão na Roma antiga, é correto armar que b) Indique dois grupos excluídos da cidadania du-
a) assemelhava-se à escravidão ocorrida no Brasil rante a República romana (59- a.C.).
colonial, pois era determinada pela procedência
e pela raça. 23. UEPB 2013 A expansão territorial na Antiga Roma
b) aumentou significativamente durante a expansão trouxe profundas modificações na sociedade esta-
romana pelo Mar Mediterrâneo. belecida na Península Itálica. Entre elas, podemos
c) atingiu o auge com a ocupação romana da Ger- destacar:
mânia e de territórios na Europa Central. a) O número de escravos aumentou significativa-
d) diminuiu bastante após a implantação do Império mente e estes foram largamente utilizados na
e foi abolida pelos imperadores cristãos. agricultura, na produção de alimentos e nas ativi-
e) diferenciava-se da escravidão ocorrida no Brasil dades urbanas.
colonial, pois os escravos romanos nunca podiam b) Fortalecimento da política agrícola com a expan-
se tornar livres. são dos minifúndios.
FRENTE 2
185
24. UFRGS Durante a República Romana, a escravidão aumentou consideravelmente sua importância na sociedade e
na economia, contribuindo para a crescente dependência da República Romana em relação à mão de obra escrava.
A dependência da mão de obra escrava na República Romana devia-se
a) à expansão das grandes propriedades e ao aniquilamento da pequena propriedade rural.
b) às guerras de conquista empreendidas por Roma, as quais contribuíram decisivamente para predomínio dessa
relação de trabalho.
c) à inexistência de mão de obra livre e ao desinteresse da população pelos trabalhos manuais.
d) aos conflitos entre patrícios e plebeus na luta pela terra.
e) à necessidade de ampliação da oferta de mão de obra para o desenvolvimento do artesanato.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, considere as armativas a seguir.
I. Na revolta dos escravos, as frentes estavam bem definidas, pois tratava-se principalmente de uma luta dos escra-
vos rurais contra os seus senhores e contra o Estado romano, que protegia estes últimos. Este período iniciou-se
com a primeira revolta de escravos na Sicília e terminou com a revolta de Espártaco.
II. As revoltas dos habitantes das províncias e dos itálicos podem ser consideradas movimentos de camadas sociais
homogêneas. Os seus objetivos eram a luta pela libertação dos membros de uma camada social oprimida e não
a libertação de comunidades, Estados ou povos outrora independentes da opressão do Estado romano.
III. Um dos conflitos mais significativos tinha lugar entre os cidadãos romanos, divididos em grupos, com objetivos
opostos. O objetivo primeiro de uma das facções, a dos políticos reformistas, era resolver os problemas sociais
do proletariado de Roma; a ela se opunha a resistência da oligarquia, igualmente numerosa.
IV. Nas últimas décadas da República, o objetivo primordial dos conflitos passou a ser a conquista do poder de Estado.
A questão era saber se esse poder seria exercido por uma oligarquia ou por um único governante. A consequência
última destes conflitos não foi a mudança da estrutura da sociedade romana, mas a alteração da forma de Estado
por ela apoiada.
A alternativa que contém todas as armativas corretas é:
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, III e IV.
26. PUC-RS (Adapt.) Responda à questão com base nas afirmativas abaixo, sobre o início da República Romana.
I. As principais classes sociais eram compostas pelos patrícios (grandes proprietários rurais descendentes das
primeiras famílias que habitaram Roma), plebeus (geralmente pequenos agricultores, artesãos e comerciantes),
clientes e escravos.
II. As instituições políticas da República eram o Consulado, o Senado, os Comícios e as Magistraturas, sendo seus
membros escolhidos por eleição.
III. Por meio de uma série de guerras, Roma expandiu sua dominação sobre o Mar Mediterrâneo, pois a Península
Itálica já havia sido conquistada pelos romanos sob a Monarquia.
IV. Os conflitos entre patrícios e plebeus geraram, gradativamente, conquistas políticas e sociais para estes últimos,
como a elaboração de uma legislação escrita ( Tábuas) e a instituição de um Tribuno da Plebe.
Pela análise das armativas, conclui-se que somente estão corretas
a) I e II
b) I, II e IV
c) I e III
d) II, III e IV
e) III e IV
27. Unesp 2014 A comparação que o texto estabelece entre Roma e Esparta é pertinente, uma vez que foi comum às
duas cidades
a) valorizar a formação e a disciplina da soldadesca e constituir amplo aparato militar.
b) instalar e manter importantes áreas coloniais no Norte da África e no Oriente Próximo.
c) estabelecer amplo domínio militar e comercial sobre o Mar Mediterrâneo e o Leste europeu.
d) erradicar a influência política e militar de Atenas e combater os exércitos cartagineses e persas.
e) viver sob regimes democráticos, após terem atravessado períodos de oligarquia e de tirania.
28. Unesp 2014 O texto caracteriza uma das principais estratégias romanas de domínio sobre outros povos e outras
cidades:
a) o estabelecimento de protetorados e de aquartelamentos militares.
b) a escravização e a exploração dos recursos naturais.
c) a libertação de todos os escravos e a democratização política.
d) o recrutamento e a composição de alianças bélicas.
e) a tributação abusiva e o confisco de propriedades rurais.
30. PUC-RS (Adapt.) Responda à questão com base nas afirmativas sobre as invasões dos povos ditos bárbaros ao
Império Romano, a partir do século V.
I. As massas rurais romanizadas da Europa Ocidental em geral não opuseram resistência ativa às invasões germâ-
nicas do século V, estabelecendo-se, em muitos casos, relações de cumplicidade em troca de certas garantias
oferecidas pelos invasores.
II. A Europa Ocidental, após o século V, sofreu novas invasões, a partir do século VII, dos normandos, eslavos,
magiares e muçulmanos, o que levou à recuperação do comércio, devido ao caráter mercantil da economia dos
novos grupos invasores.
III. O Império Romano do Oriente não foi assediado pelos bárbaros no século V e o governo central, em Constanti-
nopla, promoveu, até o século VI, uma política de auxílio militar visando à libertação da parte ocidental do império.
FRENTE 2
187
BNCC em foco
EM13CHS103 e EM13CHS206
1. A característica mais notável da Grécia antiga, a razão profunda de todas as suas grandezas e de todas as suas fra-
quezas, é ter sido repartida numa infinidade de cidades que formavam um número correspondente de Estados. As condições
geográficas da Grécia contribuíram fortemente para dar-lhe sua feição histórica. Recortada pelo embate entre a montanha e
o mar, há uma fragmentação física e política das diferentes sociedades.
a)
b)
EM13CHS101 e EM13CHS206
2.
... antes da Guerra de Tróia, [os habitantes da] Hélade nada [realizaram] em comum. Este nome mesmo não era empre-
gado para designá-la no seu conjunto. [...] O que fica bem comprovado [nos livros de] Homero: ele que viveu numa época
bem posterior à Guerra de Tróia, não utilizou a designação [de helenos] para o conjunto [dos gregos].
[...] Não utilizou, também, a expressão “bárbaros” porque, na minha opinião, os gregos não se encontravam ainda reunidos
[...] sob um único nome que [lhes] permitisse [diferenciar-se de outros povos]. De qualquer forma, aqueles que receberam
[mais tarde] o nome de Helenos [...] nada fizeram conjuntamente antes da Guerra de Tróia. [...] Essa expedição mesma os
reuniu apenas num momento, naquele em que a navegação marítima encontrava-se mais desenvolvida.
a)
b)
EM13CHS103
3. Com relação ao ornamento, Roma não correspondia, absolutamente, à majestade do Império e, além disso,
estava exposta às inundações, como também aos incêndios. Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela que pode se en-
vaidecer, principalmente por ter deixado uma cidade de mármore no lugar onde encontrara uma de tijolos.
a)
b)
4
Este manuscrito árabe do século XIII é uma representação de Sócrates discutindo com
seus discípulos. Trata-se, portanto, de uma fonte medieval que remete a um tema da
filosofia grega clássica sob a ótica árabe. Certamente, a imagem nos remete a uma visão
do período medieval distinta daquela que o reduz a cavaleiros e castelos e à Igreja Ca-
tólica. Por muito tempo, os historiadores, ao estudarem a Idade Média, concentraram-se
apenas no ocidente do continente europeu. Hoje, porém, busca-se outras perspectivas
sobre a época e sobre o tema. Neste capítulo, concentraremo-nos em dois povos –
islâmicos e bizantinos – que compartilharam o espaço mediterrânico na Idade Média e
a partir dos quais desenvolveram-se duas religiões fundamentais para a história, o islã
e o cristianismo ortodoxo.
Origem do termo "Idade Média"
191
Principais grupos da Arábia pré-islâmica
BANU SALIH
BANU KALB
BAHRAA
BANU TAMIM
UDHRAH AL-KHATT
`ABS (AL-QATIF)
BALI
‘ABD UL-QAYS
GHATAFAN NUMAYR
JUNAYNAH
YATHRIB BANU ASAD BANU HANIFAH
(MADINAH) AL-YAMAMAH
BANU SULAYN BANU DHABBAH HIZWA
Fonte: MALLAM, Sally. The Pre-Islamic World. The Human Journey. Disponível em: https://humanjourney.us/ideas-that-shaped-our-modern-world-section/
mohammad-and-the-beginnings-of-islam-mecca-backdrop/#. Acesso em: 20 jul. 202.
Os povos da península Arábica pré-islâmica encontra- em uma forma de religião na qual se cultua uma única di-
vam-se divididos em numerosos agrupamentos nômades vindade, considerada suprema, mas sem negar a existência
(os beduínos), comandados por um chefe (shaik). A difícil de outros deuses.
sobrevivência levou-os ao cultivo de uma escassa agricul- Conforme dito, o santuário comum a todos os povos
tura de tâmaras e trigo, praticada nos oásis, à criação de da região fica na cidade de Meca (na atual Arábia Saudita).
rebanhos, às incursões e ao comércio de caravanas. A pi- Ali está depositada em uma das laterais da Caaba a Pedra
lhagem era uma atividade honrosa. O camelo, símbolo de Negra, pedaço de rocha considerado sagrado pelas tribos
riqueza e prosperidade no mundo árabe, era o principal arábicas desde o período pré-islâmico. Hoje, os muçulma-
meio de transporte, além de servir como moeda de troca, nos afirmam que a pedra foi trazida pelo anjo Gabriel. Na
pagamento de dote das mulheres antes do casamento, época anterior a Muhammad, as mais diversas pessoas se
entre outras funções. dirigiam a Meca não só em busca da adoração da Pedra
As famílias do deserto ligavam-se por um intenso es- Negra e de seus deuses, mas também para fazer comércio.
pírito de solidariedade. Concursos de poesia, nos quais se As transações comerciais eram controladas pela tribo dos
cantavam as façanhas da tribo, entre outras histórias, davam coraixitas, que obtinham grandes vantagens comerciais.
como recompensa a gravação das composições em ouro
193
Em 63, Muhammad fez sua última peregrinação e recebeu as últimas revelações. Após a sua morte, a comunidade
islâmica deu início a uma crise sucessória, que culminou na divisão interna do islã.
O Império Islâmico
Muhammad havia uni cado os povos árabes em torno do islamismo. Seus sucessores, sob o ideal da jihad, conquistam a Síria,
a Mesopotâmia, a Palestina, a Pérsia, parte da Índia, o norte da África e a península Ibérica (Portugal e Espanha). Essa conquista
não foi apenas militar, mas se deu também por meio da conversão (em muitos casos, inclusive, dispensando o confronto militar).
A travessia para a península Ibérica foi feita por Tar (ou Tarik), que enfrentou os visigodos de Roderico. Por isso, tal
estreito hoje é conhecido como Pedra de Tar – em árabe, Gib al Tar ou, em sua forma na língua portuguesa, Gibraltar.Após
chegar ao continente europeu pela península Ibérica, o Império Islâmico tentou conquistar os francos, mas foram detidos
por seu rei, Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 73, e por Pepino, o Breve, em 75. No continente asiático, os árabes
não avançaram para além da Índia, pois desconheciam as florestas tropicais. Em direção ao centro e ao sul da África, por sua
vez, foram barrados pelo grande deserto do Saara. Ainda assim, os islâmicos formaram um vasto império que abrangeu um
território da Índia à península Ibérica.
Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 20. p. 9.
respeito das obras de Aristóteles. O método grego do co- Outro alicerce da religião islâmica, assim como a cristã
mentário consiste em reconstituir a intenção do autor, isto e a judaica, é a revelação. Ela se refere ao momento em
é, fazê-lo dizer o que teria de ser dito caso quisesse se pro- que Deus irrompe no mundo e se revela mediante mensa-
nunciar com clareza sobre o assunto. É por intermédio de geiros especiais. Outras religiões, como o budismo ou o
Averróis que o mundo cristão latino conheceu Aristóteles com hinduísmo, não pregam essa “descida” do sobrenatural. Ao
profundidade – o que mostra o diálogo entre o cristianismo e contrário, pensam formas de o próprio ser humano atingir
o islamismo medieval nas áreas do conhecimento humano. níveis de consciência superiores .
195
São cinco as obrigações básicas de todo muçulmano:
• Shahada – recitar o credo “Alá é o único Deus e Muhammad, seu profeta” ao acordar e antes de dormir.
• Salat – orar cinco vezes por dia, voltado em direção à cidade de Meca. Todos os muçulmanos do mundo e todas as
mesquitas são assim integrados, com milhares de corações voltados para o seu centro.
• Zakat – ajudar os necessitados (com dinheiro, comida ou abrigo) para, assim, purificar o dinheiro ganho. O zakat é
uma espécie de justiça interior obrigatória, que torna efetiva a solidariedade dos seres humanos da fé, isto é, ven-
cendo em si mesmos o egoísmo e a avareza (a jihad maior) e mostrando que a riqueza, como tudo, pertence a Deus.
• Ramadã – jejuar no Ramadã, celebrado no nono mês do calendário islâmico (quando o arcanjo Gabriel teria feito as
revelações a Muhammad), privando-se, no mês todo, desde o nascer até o pôr do sol, de comida, água, prazer sexual
e pensamentos ruins.
• Hajj – se tiver saúde e condições financeiras, fazer a peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida para orar diante
da Caaba, onde Muhammad destruiu os antigos ídolos.
Nurlan Mammadzada/Shutterstock
Multidão tenta tocar a porta da Caaba durante peregrinação a Meca. Foto de 2018.
O Império Bizantino
O termo “Império Bizantino” refere-se à região do antigo Império Romano do Oriente. Tal região sofreu muitas transfor-
mações ao longo da história, mas, em seu apogeu, chegou a englobar a península Balcânica, regiões da península Itálica,
o norte da África e a Ásia Menor. No decorrer dos séculos, contudo, a região controlada pelo Império Bizantino reduziu-se
à Ásia Menor e à península Balcânica.
Império Bizantino – século VI
0º
Mar Extensão do Império
Mar do Bizantino após as
Norte Báltico conquistas de Justiniano
OCEANO Reino dos suevos
ATLÂNTICO Reino dos visigodos
Reino dos francos
40º
N
Mar Negro
Mar Mediterrâneo
Fonte: VICENTI-
NO, Cláudio. Atlas
histórico geral e do
Brasil. São Paulo:
Scipione, 20. p. .
A religião no Império Bizantino quem escolhia o chefe da Igreja Cristã bizantina, chamado
A religião bizantina determinava o cotidiano dos indiví- de patriarca ecumênico. Abaixo do patriarca, havia 6 bis-
duos até a hora da morte, fundamentava o poder imperial, pos que, frequentemente, permaneciam em Constantinopla,
justificava a política exterior e dava significação aos temas visitando suas dioceses esporadicamente. Quem ficava
culturais. Enquanto nas monarquias germânicas do Ociden- próximo à população eram os clérigos, abaixo dos bispos
te (que estudaremos no próximo capítulo), a Igreja Católica na hierarquia religiosa.
afirmava-se como um poderio acima dos reis, no Império Uma das mais populares figuras do Império Bizantino
Bizantino tanto o poder religioso como o estatal se con- era a do monge. Isolado no deserto, em grutas e em altas
vergiam na figura do imperador, no fenômeno que ficou colunas construídas para esse fim, o monge vivia em gru-
conhecido como cesaropapismo, ou seja, o controle e a união pos disciplinados, trabalhando e orando. Modelo de pureza
do poder temporal sobre o poder espiritual. Na qualidade de e religiosidade, ele fazia votos de castidade, pobreza e
monarca e pontífice, o imperador bizantino era representado obediência, renunciando a tudo que fosse material, repre-
com auréolas, reservadas às personagens divinas. sentando o oposto da riqueza do alto clero bizantino.
As festas bizantinas eram consideradas religiosas. Fal-
Basílica de São Vital, Ravena
197
francos e dos lombardos, como imperador dos romanos. Mas as conquistas de Justiniano duraram pouco tempo.
Isso significava que o Império Bizantino havia perdido o No século VII, como se viu, o norte da África foi conquis-
título de Império Romano do Oriente. Essa mudança não tado pelos muçulmanos. A península Ibérica, por sua vez,
foi aceita pelos imperadores bizantinos, que alegavam ser foi retomada pelos visigodos e, em seguida, conquistada
os verdadeiros herdeiros de Roma. pelos muçulmanos, enquanto, em 568, os lombardos ocu-
As Igrejas de Roma e de Constantinopla, ainda que fos- param a península Itálica. Essas guerras custaram muitas
sem instituições cristãs, já mantinham há muito tempo certas vidas humanas e dinheiro, contribuindo para aumentar o
diferenças, como vimos no início do tópico, a respeito da cen- ressentimento contra os bizantinos. Insatisfeita com os altos
tralização do poder religioso na figura do imperador bizantino. impostos decorrentes desses conflitos, em 53 a população
Faltava apenas formalizar a separação, ocorrida em 154, no se rebelou contra o imperador e deflagrou a revolta Nika,
episódio que ficou conhecido como Cisma do Oriente. Com mas foi duramente reprimida.
o Cisma, foi criada a Igreja Ortodoxa, encabeçada pelo pa- Após reprimir a revolta popular, Justiniano ordenou
triarca de Constantinopla e sob a tutela do imperador, como a reconstrução de Constantinopla, na qual se destaca a
já mencionado, e manteve-se a Igreja Católica Romana, sob construção da Basílica de Santa Sofia, hoje localizada
o julgo do papa de Roma. Passa-se, portanto, a existir ofi- em frente à Mesquita Azul, no bairro de Sultan Ahmet.
cialmente duas igrejas cristãs. Os ortodoxos acreditavam ser Depois da tomada de Constantinopla pelos Turcos, em
mais próximos aos rituais da Igreja Cristã original (daí o nome), 1453, Santa Sofia foi transformada em mesquita. Em 135,
aceitando apenas os quatro primeiros Concílios da Igreja. foi convertida em museu, até que, em , tornou-se
Em 14, o saque dos católicos à Constantinopla ajudou a mesquita novamente.
marcar a separação definitiva das duas Igrejas.
Fonte: The Byzantine Empire in the mid-9th centure CE. World History Encyclopedia. Disponível em: https://www.worldhistory.org/
image/0/the-byzantine-empire-in-the-mid-9th-century-ce/. Acesso em: 20 jul. 202.
199
Ao longo de sua história, compuseram o Império Bi- Império Bizantino, mantendo-se o grego como língua oficial.
zantino uma infinidade de povos, como eslavos, búlgaros, A Geometria, por sua vez, prosseguiu apenas em termos de
persas, georgianos, armênios, russos, normandos, italianos, cartografia. As esculturas bizantinas são lembradas pelos
anglo-saxões, entre outros. Para ser bizantino não era pre- animais de bronze que rodeavam o trono para impressionar
ciso pertencer a um determinado grupo étnico, mas apenas os visitantes. A arte bizantina combinava o luxo, o misticis-
falar grego e adotar a religião cristã ortodoxa. Judeus, por mo e a exuberância orientais com o equilíbrio, a fluidez e a
sua vez, foram perseguidos e massacrados no império. sobriedade dos gregos.
A população de Constantinopla se organizava em co-
Revisando
1. Uece 2019 O acontecimento marcante a partir do qual e) a proibição de que os muçulmanos saíssem da
os muçulmanos passaram a contar o ano I do seu ca- Península Arábica, pois eles sofriam persegui-
lendário foi ções em outros territórios.
a) o falecimento de Maomé em Medina no ano 63.
b) a saída de Maomé da cidade de Meca no ano 6. 3. Mackenzie 2013 A Idade Média não existe. Esse episódio
c) o nascimento do profeta Maomé na tribo Coraixita de quase mil anos (...) é uma fabricação, uma construção,
em 57.
um mito, quer dizer, um conjunto de representações e de
d) a revelação divina recebida por Maomé em 58.
imagens em perpétuo movimento, amplamente difundi-
das na sociedade, de geração em geração (...).
2. Unesp 2018 A migração de Maomé e seus segui- Christian Amalvi. “Idade Média”. In: Jacques Le Goff e
dores, em 22, de Meca para Medina permitiu a Jean-Claude Schmitt. Dicionário Temático do
consolidação da religião muçulmana que incluía, entre Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2006, p.537.
4. Enem 2018 Então disse: “Este é o local onde construirei. 7. Fuvest A Idade Média europeia é inseparável da civiliza-
Tudo pode chegar aqui pelo Eufrates, o Tigre e uma rede ção islâmica já que consiste precisamente na convivência,
de canais. Só um lugar como este sustentará o exército e ao mesmo tempo positiva e negativa, do cristianismo e do
a população geral”. Assim ele traçou e destinou as ver- islamismo, sobre uma área comum impregnada pela cul-
bas para a sua construção, e deitou o primeiro tijolo com tura greco-romana.
sua própria mão, dizendo: “Em nome de Deus, e em lou- José Ortega y Gasset (1883-1955).
vor a Ele. Construí, e que Deus vos abençoe”. O texto acima permite armar que, na Europa ociden-
AL-TABARI, M. Uma história dos povos árabes. São Paulo:
Cia. das Letras. 1995 (adaptado).
tal medieval,
a) formou-se uma civilização complementar à islâ-
A decisão do califa Al-Mansur (-) de construir mica, pois ambas tiveram um mesmo ponto de
Bagdá nesse local orientou-se pela partida.
a) disponibilidade de rotas e terras férteis como b) originou-se uma civilização menos complexa que
base da dominação política. a islâmica devido à predominância da cultura
b) proximidade de áreas populosas como afirmação germânica.
da superioridade bélica. c) desenvolveu-se uma civilização que se benefi-
c) submissão à hierarquia e à lei islâmica como con- ciou tanto da herança greco-romana quanto da
trole do poder real. islâmica.
d) fuga da península arábica como afastamento dos d) cristalizou-se uma civilização marcada pela flexibi-
conflitos sucessórios. lidade religiosa e tolerância cultural.
e) ocupação de região fronteiriça como contenção e) criou-se uma civilização sem dinamismo, em vir-
do avanço mongol. tude de sua dependência de Bizâncio e do Islão.
5. UPE 2015 O Islã ascendeu quando Roma caiu. Porque, 8. Fuvest Se o Ocidente procurava, através de suas invasões
nos primeiros anos do século VII da Era Comum, o cami- sucessivas, conter o impulso do Islã, o resultado foi exata-
nho se abriu muito para que o Islã conquistasse o mundo; mente o inverso.
como em um piscar de olhos, os árabes realizaram a maior Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos árabes.
revolução de poder, religião, cultura e riqueza da história – São Paulo: Brasiliense, p.241, 2007.
e tudo isso fez da Europa a Europa. Um exemplo do “resultado inverso” das Cruzadas foi a
(LEWIS, David Levering. O Islã e a formação da Europa – De 570 a 1215.
a) difusão do islamismo no interior dos Reinos Fran-
Barueri: Amarilys, 2010, p. 1. Adaptado.)
cos e a rápida derrocada do Império fundado por
Sobre essa realidade, assinale a alternativa CORRETA. Carlos Magno.
a) A ascensão do Islã se deu em torno do profeta b) maior organização militar dos muçulmanos e seu
Maomé, defensor do politeísmo coraixita. avanço, nos séculos XV e XVI, sobre o Império
b) O Islã conquistou a Espanha após a vitória na to- Romano do Oriente.
mada de Toledo, em 185. c) imediata reação terrorista islâmica, que colocou
c) Os muçulmanos do medievo basearam sua eco- em risco o Império britânico na Ásia.
nomia na produção agrícola. d) resistência ininterrupta que os cruzados enfrenta-
d) A Espanha muçulmana sobreviveu até o século XVIII. ram nos territórios que passaram a controlar no
e) O avanço do Islã na Europa foi barrado por Carlos Irã e Iraque.
Martel, que comandou o exército cristão na vitória e) forte influência árabe que o Ocidente sofreu des-
da Batalha de Poitiers. de então, expressa na gastronomia, na joalheria e
no vestuário.
6. Uece 2015 No ano de 200, os líderes religiosos, o Papa
Católico Bento XVI e o Patriarca Ecumênico Ortodoxo 9. UFRGS Assinale a alternativa que apresenta um dos
FRENTE 2
201
c) Elementos clássicos, como a retórica e a língua clássica e oriental. Além disso, fizeram com que valores
grega, foram superados em função da interação culturais da Antiguidade Clássica chegassem ao mun-
cultural cosmopolita. do moderno. Isso foi possível porque os árabes:
d) A arquitetura passou a primar pela simplicidade, a) conseguiram profetizar os destinos da humanida-
a fim de se adequar à doutrina religiosa ortodoxa. de por meio dos signos do zodíaco.
e) A estrutura jurídica do Império Bizantino não so- b) difundiram, por intermédio da literatura, a obra mais
freu a influência do direito romano. conhecida dos chineses, que é Mil e uma Noites,
reunião de histórias registradas entre os Séculos
10. UPF 2014 O islamismo é a religião que mais cresce
VIII e IX, e lidas ainda hoje no mundo ocidental.
no mundo contemporâneo. Suas origens remontam ao
c) levaram para a Europa, por meio da ocupação da
século VII d.C. e sua expansão foi baseada na Jihad,
guerra santa contra outros povos, especialmente os Península Ibérica, antigas técnicas romanas de
cristãos. Entre os séculos VII e VIII, foi constituído o cultivo, habilidades de arte na representação hu-
Império Árabe-Muçulmano – que dominou a Penínsu- mana e a perspectiva linear na pintura.
la Arábica –, os territórios dos atuais Irã e Iraque, todo d) traduziram e difundiram muitos textos, concretizan-
o norte da África e a Península Ibérica (atuais Portugal do importantes realizações, a partir do pensamento
e Espanha). Nesse processo de expansão, os árabes grego.
assimilaram muitos legados culturais de outros povos e) inventaram o papel, a pólvora, a bússola, o astro-
com os quais conviveram, como as tradições da cultura lábio, os algarismos árabes e a álgebra.
Exercícios propostos
1. UCS 2015 A arabização foi um fenômeno ligado à III. A península ibérica foi profundamente marcada
expansão muçulmana nos séculos VII e VIII. Sobre pela presença muçulmana, que se estendeu en-
esse processo, é correto afirmar que tre os séculos VIII e XV, produzindo reflexos na
a) os árabes impunham sua religião aos povos cultura lusitana e hispânica.
dominados. Cristãos e judeus eram violentamente Quais estão corretas?
perseguidos e, algumas vezes vendidos como a) Apenas I. d) Apenas II e III.
escravos e, até mesmo, mortos. b) Apenas II. e) I, II e III.
b) o idioma foi um dos fatores que prejudicou c) Apenas I e III.
a afirmação árabe, em especial na Península
Ibérica, onde se falavam línguas de origem 3. Unesp 2016 Examine a iluminura extraída do ma-
latina. Assim, não puderam impor sua religião, nuscrito Al-Maqamat, de Abu Muhammed al-Kasim
nem mesmo sua cultura. al-Hariri, 2.
c) a convivência com os judeus foi pacífica desde
o início do islamismo, não existindo maiores
incompatibilidades com o judaísmo. Em função
disso, a região da Palestina foi preservada das
conquistas islâmicas.
d) os árabes consentiam, nos primeiros anos
da expansão, que os povos conquistados
seguissem suas próprias religiões. No entanto,
impunham o pagamento do imposto aos infiéis.
e) os árabes eram monogâmicos e não aceitavam o
casamento com pessoas que não praticassem a
mesma religião que a sua. Dessa forma, foi difícil
solidificar a etnia e a cultura árabe nas regiões
conquistadas.
203
O Saltério de Chludov, hoje na Rússia, é um dos mais e) ela foi conquistada em 1453 pelos venezianos,
importantes documentos provenientes do Império na última das Cruzadas. Esse episódio assinala o
Bizantino. Essa iluminura, em especial, retrata um fim definitivo do Império Romano do Oriente.
importante movimento sociopolítico ocorrido nesse
Estado, denominado de: 9. UFPB Bizâncio, também chamada de Constantinopla,
a) Cesaropapismo, a aliança entre o imperador e o e, depois, de Istambul, capital da atual Turquia, era
patriarca. o centro de poder do Império Romano do Oriente,
b) Iconoclasmo, o movimento pela destruição dos constituindo-se numa experiência histórica relevante
ícones religiosos. e distinta, sob muitos aspectos, em relação às socie-
c) Bizantinismo, a discussão interminável sobre te- dades medievais do Ocidente europeu. A civilização
bizantina NÃO tem como característica:
mas exotéricos.
a) Cristianismo ortodoxo, diferenciado do apostólico
d) Cisma, a excomunhão mútua entre as igrejas Ca-
romano.
tólica Romana e Ortodoxa Oriental.
b) Poder político fragmentado e feudal.
e) Iluminismo, a política em prol da ilustração dos c) Desenvolvimento do comércio e da vida urbana.
manuscritos. d) Poder político centralizado e teocrático.
e) Diversidade cultural de base grega, romana e
8. Unisc A respeito da cidade de Constantinopla, capital asiática.
do Império Bizantino, é correto afirmar que
a) atualmente ela é conhecida como Alexandria e se 10. Unesp O culto de imagens de pessoas divinas, márti-
localiza no Egito. Apesar de um passado turbu- res e santos foi motivo de seguidas controvérsias na
lento, seu centro histórico encanta e impressiona história do cristianismo. Nos séculos VIII e IX, o Im-
muitos turistas devido à riquíssima variedade cul- pério bizantino foi sacudido por violento movimento
tural que dá mostras dos diferentes povos e de destruição de imagens, denominado “querela dos
culturas que por lá passaram. iconoclastas”. A questão iconoclasta
b) o embrião da famosa cidade surgiu quando o im- a) derivou da oposição do cristianismo primitivo ao
perador romano Constantino I decidiu construir, culto que as religiões pagãs greco-romanas de-
sobre a antiga cidade grega de Bizâncio, uma nova votavam às representações plásticas de seus
deuses.
capital para o Império Romano, mais próxima às ro-
b) foi pouco importante para a história do cristianis-
tas comerciais que ligavam o Mar Mediterrâneo e o
mo na Europa ocidental, considerando a crença
Mar Negro à Europa e à Ásia.
dos fiéis nos poderes das estátuas.
c) ela é, ainda hoje, considerada a mais genuína re- c) produziu um movimento de renovação do cristia-
presentante do estilo gótico. É principalmente na nismo empreendido pelas ordens mendicantes
arquitetura religiosa que esse estilo pode ser en- dominicanas e franciscanas.
contrado, haja vista que a cidade tem mais do que d) deixou as igrejas católicas renascentistas e barro-
um templo para cada um dos 365 dias do ano. cas desprovidas de decoração e de ostentação
d) sua decadência está ligada à chegada dos portu- de riquezas.
gueses às Índias. A partir de então, os mercadores e) inviabilizou a conversão para o cristianismo das
cristãos não mais para lá se dirigiram para buscar multidões supersticiosas e incultas da Idade Mé-
especiarias e artigos de luxo. dia europeia.
Texto complementar
A Idade Média imaginada: usos do sobre o período, realizando, inclusive, a leitura séria e rigorosa dos
imaginários construídos sobre o medievo ao longo do tempo. [...]
passado medieval no tempo presente A ideia dos usos da Idade Média tem sido bastante tematizada
O passado medieval tem servido, de modo sistemático e pela pesquisa acadêmica. Algumas publicações e eventos pensa-
preocupante, como referência para diversos projetos políticos e ram, ao longo das primeiras décadas do século XXI, como o cinema
sociais no presente. Observamos referências problemáticas ao criou imagens, representações e tornou pública uma certa Idade
medievo em discursos de autoridades públicas ou em grupos de Média. O campo do Ensino tem sido, principalmente desde o final
redes sociais, que fazem referências ao período para justificar posi- da década passada, constantemente pensado como um espaço de
ções conservadoras, preconceituosas e discriminatórias, atingindo aprendizagem, de problematização e também de divulgação
minorias, religiosidades e outras formas de existência e de vida que do medievo.
não fazem parte da sua visão do que seria a Civilização Ocidental. [...]
[...] A despeito dos avanços da historiografia e no ensino da
A historiografia sobre a Idade Média, nascida no século XIX, história medieval nas escolas, um uso pouco elaborado e de-
tem se renovado constantemente e produzido novas interpretações masiado perigoso do medievo invade o nosso tempo, desde a
Resumindo
• A criação do conceito de Idade Média durante o Re- pouco mais de um século, um conjunto de populações
nascimento, bem como o menosprezo que iluministas dispersas na península arábica formam um poderoso im-
sustentaram a respeito do período e a idealização trazida pério conhecido por suas realizações culturais, científicas
pela tradição romântica. Nem céu nem trevas, é preciso e artísticas.
compreender a Idade Média em seus próprios termos. • Abordamos brevemente as estruturas políticas (cesaro-
• Analisamos o mundo árabe antes da ascensão do islã, papismo), religiosas (ascensão do cristianismo ortodoxo),
quando não havia unidade política ou religiosa. É nesse econômicas (papel fundamental do comércio) e culturais
contexto que, com a ascensão de Maomé, no espaço de (predominância do helenismo) do mundo bizantino.
Série Livros
Ascensão: Império Otomano DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Con-
A minissérie conta a história do sultão Mehmed II e da texto, 2008.
queda de Constantinopla. O livro apresenta as origens do mundo muçulmano, discu-
te questões contemporâneas e propõe ações para evitar
Site
uma “guerra entre civilizações”.
CHEREM, Youssef. Jihad: Duas interpretações contempo-
râneas de um conceito polissêmico. Biblioteca digital de
SILVA, Marcelo Cândido. História Medieval. São Paulo:
periódicos, UFPR. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cam
Contexto, 2019.
pos/article/view/1705/1323. Acesso em: 1 ago. 2021.
O livro discute as principais características da Idade Mé-
O artigo e Youssef Cherem, antropólogo e professor
dia, com ênfase nos contrastes: a fome, a peste e as
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apre-
guerras em alternância com períodos de paz e prosperi-
senta uma breve discussão sobre os diferentes usos
dade; o papado e a convivência com os particularismos
do termo “jihad”.
senhoriais e as monarquias.
Exercícios complementares
FRENTE 2
1. Unicamp 2016 A palavra árabe iman provém de uma raiz que significa ‘ter certeza’ e designa fé, no sentido da certeza.
A fé, por conseguinte, não contradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo contrário, o desejo de saber é uma
obrigação religiosa, e os tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia são chamados pelos islâmicos de jahiliya, ignorância.
(Adaptado de Burkhard Scherer (org.), As Grandes religiões: temas centrais comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77.)
a) Cite uma característica política e uma característica religiosa da península arábica pré-islâmica.
b) Como conviveram fé e conhecimento científico no mundo islâmico na Alta Idade Média?
205
2. UFPR 2017 Explique o surgimento da expressão “Ida- 4. UFG 2014 Analise a imagem a seguir.
de Média” e por que a expressão “Idade das Trevas”
é considerada inadequada para se nomear o período
entre a queda do Império Romano do Ocidente em
, no século V, e a conquista de Constantinopla pe-
los turcos em , no século XV.
207
BNCC em foco
EM13CHS104
1. O grande patriarca da Bíblia Hebraica é também
o antepassado espiritual do Novo Testamento e o grande
arquiteto sagrado do Alcorão. Abraão é o ancestral co-
mum do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. É a
chave do conflito árabe-israelense. É a peça central da
batalha entre o Ocidente e os extremistas islâmicos. É o
pai – e, em muitos casos, o suposto pai biológico – de
doze milhões de judeus, dois bilhões de cristãos e um
bilhão de muçulmanos em todo o mundo. É o primeiro
monoteísta da história.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13CHS106
3.
EM13CHS103 e EM13CHS201
2. No início do século VII, surgiu às margens
dos grandes impérios, o Bizantino e o Sassânida, um mo-
vimento religioso que dominou a metade ocidental do
mundo. Em Meca, cidade da Arábia Saudita, Maomé co-
meçou a vontade de Deus, expressa no que ele e seus
seguidores aceitavam como mensagens divinas a ele re-
veladas e mais tarde incorporadas num livro – o Corão.
Em nome da nova religião – o Islã, exércitos recrutados
entre os habitantes da Arábia conquistaram os países vizi-
nhos e fundaram um novo Império, o Califado [...].
a)
b)
c)
d)
e)
f)
210 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Os reinos germânicos
A partir do século III, os chamados povos germânicos adentraram o Império Romano. Primeiramente, assumiram o
título de federados, isto é, ganharam terras e autonomia dentro do império, com a condição de que ajudassem o impe-
rador militarmente. Com o tempo, formou-se uma aristocracia germânica, e, com a deposição de Rômulo Augusto em
476 d.C., esses territórios bárbaros se tornaram gradualmente autônomos, embora ainda prestassem juramento de fideli-
dade ao imperador bizantino. Após as guerras contra Justiniano e com o crescente embate entre as Igrejas do Ocidente
e do Oriente, a ligação entre esses territórios e o Império Bizantino perdeu gradualmente a força.
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Mar Mediterrâneo
Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; FILHO, Ruy de O. Andrade. Atlas - História Geral. São Paulo: Editora Scipione, 1993, p. 1. (Adapt.)
No século V, nas regiões das atuais França, Bélgica, Holanda e Alemanha, estavam os povos francos. Nas atuais Itália,
Áustria e Iugoslávia, estavam os ostrogodos (os lombardos, posteriormente, instalaram-se no norte da Itália). Os burgúndios
instalaram-se no leste da Gália. Na Espanha, residiram visigodos e suevos. No norte da África, estavam os vândalos. E, na
Inglaterra, os anglo-saxões.
Os reinos bárbaros – 476
0°
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Fonte: SALLES, Silvana. Bárbaros e romanos eram mais parecidos do que imaginamos. Jornal da USP, 8 mai. 2018. Disponível em:
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/barbaros-e-romanos-eram-mais-parecidos-do-que-imaginamos/. Acesso em: 3 set. 2021.
211
Em um primeiro momento, as comunidades bárbaras e
A Europa – 526
0°
OCEANO
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Fonte: Europe, 2, (Col). Medieval Sourcebook. Fordham University. Disponível em:
https://sourcebooks.fordham.edu/maps/2eur.jpg. Acesso em: 18 set. 2021.
212 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
O Reino Franco Em 75, com o apoio do papado (a quem prometeu auxílio
Em , os francos assinaram um tratado com o im- na luta contra os lombardos), da nobreza e do exército, Pepino
perador romano Maximiano, tornando-se federados do foi eleito rei dos francos em uma assembleia e coroado em
império, quando ocupavam a região da Gália. Em troca, Soissons. Tal eleição deriva de uma tradição bárbara, segundo
deveriam integrar o exército imperial. Com o tempo, as eli- a qual os francos tinham o direito de escolher um novo líder
tes francas passaram a ocupar os mais altos escalões do se sentissem que o antigo não podia liderá-los numa batalha.
Império Romano – tornando-se generais e cônsules –, e a O rei merovíngio Childerico III foi deposto e con nado em um
adotar costumes romanos. monastério. O papa Estêvão III, sucessor de Zacarias, viajou
Após a queda do Império Romano do Ocidente, em até Paris e, em 754, ungiu Pepino III e sua esposa Bertralda,
476, os francos mantiveram alianças com os bizantinos. Em concedendo a ele o título adicional de patricius romanorum
4, no entanto, Clóvis I assumiu a liderança dos francos e (patrício dos romanos). Com apoio do papa, tinha início, então,
ganhou o título de rex (rei). Ele converteu-se ao cristianismo a dinastia carolíngia (em referência a Carlos Martel).
e aliou-se à Igreja Católica, unificou todas as tribos francas Como rei, Pepino III participou da guerra contra os lom-
e iniciou, assim, a dinastia merovíngia. Autoproclamava-se bardos, ajudando, assim, a expandir o patrimônio da Igreja
sucessor direto do imperador romano e expandiu o Reino Católica na região. Após sua morte, em 76, seus filhos,
Franco, ampliando as fronteiras até os Pirineus. Carlos Magno e Carlomano, dividiram o reino entre si inicial-
No século VII, os reis merovíngios passaram a ser mente. Contudo, Carlomano retirou-se para um mosteiro e
conhecidos como “os reis indolentes”, devido ao fato de morreu em seguida, deixando sua parte para o irmão.
legarem aos major domus (mordomos ou prefeitos do pa- Durante seu reinado, Carlos Magno tentou reconstruir
lácio, inicialmente nomeados pelo rei) diversos poderes. o Império Romano, afastando e dominando outros povos,
Inicialmente, cabia ao major domus a regência durante a distribuindo terras para a nobreza e convertendo os pagãos
menoridade do soberano, incluindo a chefia da guarda ao cristianismo. Após diversas batalhas, o Império Franco
palaciana, a direção da administração, a presidência das compreendia quase toda a Europa ocidental, abarcando o
assembleias e a jurisdição sobre os demais funcionários. que hoje são França, a parte ocidental da Alemanha, Países
Com o tempo, era o major domus que administrava os tri- Baixos, Hungria, Bélgica, Suíça, norte da Itália e parte da
butos, o comércio e as leis. Em 67, Pepino de Heristal Espanha. O papa Leão II, no dia 5 de dezembro de ,
transformou esse cargo em vitalício e hereditário, isto é, na Basílica de São Pedro, em Roma, nomeou Carlos Magno
independente da escolha do rei. como “Imperador do Sacro Império Romano-Germânico”.
Em meados do século VIII, o major domus Carlos Martel,
Atenção
ou Carlos Martelo, ganhou destaque nas batalhas contra os
islâmicos, mais notadamente durante a Batalha de Poitiers,
ou Batalha de Tours, em 7, quando derrotou o exército
do califado de Córdoba, liderado por Abd-ar-Rahman. Com a
morte de Martel, tornou-se major domus seu filho, conhecido
como Pepino, o Breve, ou Pepino III. Uma das lendas sobre
ele conta que, com um só golpe de espada, Pepino cortou
a cabeça de um leão e de um touro ao mesmo tempo. Por
isso, teria assumido o título de “o Breve”.
Arnaud 25/Galeria de Esculturas de Homens Ilustres Chateau de Versailles
FRENTE 2
Jean-Baptiste-
-Joseph De Bay.
Estátua de Carlos
Martel, 1835-39.
Mármore. Palácio
de Versalhes,
França.
213
A ascensão do Império Franco
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Fonte: SHEPHRED, William. Historical Atlas. University of Texas Library. Disponível em: https://maps.lib.utexas.
edu/maps/historical/shepherd/frankish_power_81_81.jpg. Acesso em: 3 set. 2021 (Adapt.).
214 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
A divisão do Império Carolíngio – 843
Mar do
Território de Carlos, o Calvo Norte
Território de Lotário
Território de Luís, o Germânico
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No período, ocorreu também uma onda de invasões e como os privilégios da nobreza ou os impostos tradicionais.
ataques de povos normandos, os quais passaram a atacar a Somente a partir do século XIX, alguns historiadores pas-
Europa, pilhando mosteiros, latifúndios, vilas e cidades. Junto sam a utilizar o termo para referir-se às relações políticas
a eles, eslavos, búlgaros, tchecos, morávios, eslovacos e presentes no período medieval europeu, como o pacto
húngaros (magiares) pilharam o continente e estabeleceram entre vassalo e suserano. Outros historiadores, contudo,
novos reinos nos territórios do antigo Império Romano e Ca- utilizaram o termo para referir-se a um “modo de produção”,
rolíngio. Na península Ibérica, no norte da África e no Oriente cuja principal marca foi a servidão. É importante destacar
Próximo, tinha-se o domínio quase total dos muçulmanos. que “feudalismo” e “Idade Média” não são sinônimos.
A fim de se proteger dos ataques, a Europa cobriu-se de A partir de análises do historiador Hilário Franco Júnior, cha-
castelos e fortificações privadas. Essa nova onda de invasões mamos de feudalismo um conjunto de características sociais,
e conflitos no Ocidente é considerada um marco para a con- políticas e econômicas presentes na França, Bélgica, Suíça,
solidação do sistema de dominação senhorial, ou feudalismo. Itália e Alemanha ocidental, após o esfacelamento do Império
Carolíngio, e, a partir do século XI, na Inglaterra e em algumas
N.M.Bear/Shutterstock.com
O apogeu do feudalismo
(séculos IX-XI)
FRENTE 2
215
A economia feudal realizava o recrutamento militar e as funções administra-
tivas. No Sacro Império Romano-Germânico, havia cerca
Museu Condé, Chantilly, França
216 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
A sociedade feudal alto clero eram também senhores feudais, provenientes da
A sociedade feudal era rigidamente hierarquizada, divi- nobreza, já que não existia, na época, qualquer forma de
dida em ordens ou estamentos. Um estamento tinha distintas seminário ou preparação para entrar na Igreja, de modo que
regras de comportamento, que expressavam para a sociedade era comum haver bispos e cardeais muito jovens. Geralmen-
seu status. Por isso, ao contrário de hoje (uma sociedade de te, o alto clero era escolhido entre os segundos filhos dos
classes, definida pela posição de cada um em relação ao mer- nobres mais ricos, já que estes não herdavam as terras dos
cado), um mercador medieval poderia ser mais rico do que um pais devido ao direito de primogenitura.
nobre, mas, por não ter ascendência nobre, era socialmente Clérigos e nobres impunham que os camponeses –
inferior. A mobilidade social em uma sociedade de ordens maioria absoluta da população – deveriam trabalhar, uma vez
é bastante restrita, embora não seja inexistente, ocorrendo, que seu esforço, fadiga e sofrimento eram uma penitência,
sobretudo, por meio de casamentos, guerras e butins. que aliviariam seus pecados no além. Mais da metade de
O clero e a nobreza impunham uma ideia de que a tudo que o camponês produzia era, por meio dos impostos,
sociedade, feita à imagem de Deus, deveria basear-se na apropriado pelo clero e pela nobreza. Assim, enquanto os
ordem celestial, sendo, ao mesmo tempo, una e trina. No camponeses produziam, seu excedente era apropriado pela
século XI, o bispo francês Adalbéron de Laon afirmou: nobreza. Existiam também os chamados vilões, que recebiam
um lote de terra de um senhor em troca de obrigações e limi-
A casa de Deus, que parece uma, é, portanto, tripla: uns tações leves, podendo abandonar a terra quando quisessem.
rezam, outros combatem e outros trabalham. Todos os três Os alódios, terras camponesas sobre as quais não pe-
formam um conjunto e não se separam: a obra de uns permite savam taxas ou serviços, ficaram, ao longo do tempo, cada
o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu
vez menores. Os servos da gleba variavam entre 5% e 5%
apoio aos outros.
da população, sendo o resto escravizados, principalmen-
O clero e a nobreza pregavam, então, que cada ordem te na península Itálica, ou trabalhadores livres. A partir do
teria uma função específica na sociedade, que correspon- século XI, as corveias foram substituídas por taxas anuais
dia a sua função dentro do universo, dada por Deus. Essa ou pagamentos em dinheiro, o que indicava uma transfor-
visão tinha como finalidade legitimar as diversas formas de mação econômica nesse período.
hierarquia e dominação que permeavam o mundo medieval. Durante a Idade Média, os excluídos e marginalizados
A nobreza medieval dedicava-se, sobretudo, à guerra, tinham sua condição justificada pela ideia de pecado. Eram
e vivia das riquezas da terra e da servidão. Justificava sua excluídos os hereges, assim chamados os cristãos que ne-
posição social afirmando que protegeria as igrejas e os mais gavam alguns dogmas da Igreja, as pessoas com doenças
fracos e que combateria os pagãos (normandos, húngaros degenerativas ou com deficiências, aqueles que sofriam de
e eslavos) e os infiéis (muçulmanos). hanseníase, chamados pejorativamente de leprosos, os es-
O clero justificava sua posição afirmando que rezava trangeiros e os judeus. Pelo Concílio de Macôn, em 5-5,
para trazer os favores divinos, conduzindo os seres humanos definiu-se que nenhum cristão poderia servir a proprietários
ao Paraíso. Só por meio dos membros do clero, portanto, judeus. Pelo Concílio de Toledo, em 6, os judeus, chamados
os seres humanos poderiam se ligar a Deus. As esmolas, os de “Anticristo”, foram proibidos de exercer funções públicas.
impostos e as doações que recebiam faziam do clero um A partir do IV Concílio de Latrão da Igreja Católica, em 5,
possuidor de extensos domínios fundiários, detendo por- eles foram obrigados a usar chifres nos chapéus, ou mesmo
tanto, grande poder econômico e político. Os membros do uma rodela, que depois se converteu na estrela de Davi.
Biblioteca Britânica, Londres
FRENTE 2
Gravura inglesa de 1310 que representa a prática da corveia, uma das obrigações feudais.
217
A política feudal A guerra no mundo medieval
No mundo medieval, a soberania era piramidal e par-
218 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
A Igreja Católica medieval um poder limitado sobre seu próprio território, que era dividido
e o “feudalismo alemão” nos ducados da Baviera, Turíngia, Suábia, Francônia e Saxônia.
Em 6, no entanto, buscando superar essa situação, Oto I, o
A Igreja Católica Romana impôs seus valores em todas
Grande, duque da Saxônia, empreendeu uma série de conquis-
as esferas da sociedade medieval, tornando-se a grande
tas e estabeleceu a autoridade real por toda a Germânia. Por
herdeira do Império Romano e a única instituição do Oci-
ajudar a defender o papa João XII, em 6, este o coroou impe-
dente que nunca desapareceu desde a desagregação do
rador dos romanos, sucessor de Constantino e Carlos Magno.
Império. Diante do fragmentado mundo feudal, ela era um
Oto I e seus sucessores passaram a interferir nos assuntos
fator de unidade na Europa ocidental.
papais, ganhando, inclusive, o poder de nomear os bispos.
Saiba mais O poder temporal, dos reis e imperadores, e o poder espiritual,
dos papas, entraram constantemente em choque. Nesse senti-
do, as chamadas Reformas Gregorianas são consideradas um
marco na história da Igreja: as 7 sentenças do papa (Dictatus
Papae) buscavam afirmar que ele não podia ser julgado por
ninguém e que a Igreja romana não cometia erros. Gregório
afirmava, então, que o poder da Igreja, espiritual, estava acima
do poder temporal, ou seja, dos reis. Assim, o papa proibiu a
nomeação de bispos (a “investidura”) por parte dos imperado-
res. Além disso, Gregório buscou moralizar a Igreja Católica,
enfatizando, por exemplo, a importância do celibato.
Nesse período, Henrique IV, imperador do Sacro Império,
A partir do final do Império Romano, o número de mem- desafiou o papa Gregório nomeando o bispo de Milão. Tal
bros do clero aumentou, e este adquiriu privilégios especiais, ação resultou na excomunhão do imperador pelo papa. O
como a isenção de impostos, o uso de tribunais próprios e imperador, então, juntou um exército e marchou em direção
grande poderio político-econômico. Ao mesmo tempo, os a Roma, mas o papa fugiu para a Sicília, onde morreu. Foi
bispos iam adquirindo postos de comando nas cidades. Espe- a chamada Querela (Questão) das Investiduras. Iniciou-se
cialmente a partir de 445, com Leão Magno, ficou estabelecido uma verdadeira guerra civil na Germânia, enquanto a nobreza
que o bispo de Roma, chamado papa, era a autoridade má- local aproveitou a oportunidade para, com a benção papal,
xima de toda a cristandade. O clero era aquele responsável levantar-se contra o imperador. Foi durante essa luta que a
pelos batismos, matrimônios e pela definição do que era pe- aristocracia reduziu o campesinato à servidão, extorquiu dele
cado. O celibato, recomendado desde a época do Império tributos feudais e intensificou as obrigações militares entre os
Romano, tornou-se obrigatório a partir do século XII, facilitando próprios membros da classe nobre. Com isso, o feudalismo
o monopólio de terras por parte da Igreja, que não eram trans- consolidou-se no Sacro Império no século XII. No final, foi feito
mitidas ou divididas entre herdeiros. um acordo entre o papa e os reis, a chamada Concordata
O clero se dividia entre clero secular – aqueles que de Worms (), na qual se criava a dupla investidura: a
estão em contato com os fiéis, padres e bispos – e clero espiritual, feita pelo papa, e a temporal, feita pelo imperador.
regular, que se diferenciava do resto da sociedade e obe- Não obstante, os conflitos entre o papa e os reis continua-
decia a regras específicas de conduta. ram nos séculos seguintes. Para neutralizar o poder imperial,
O clero regular se formou primeiramente com os monges. estabeleceu-se, a partir do século XIII, que o imperador era
Os primeiros monges surgiram no século IV, tendo como ideal eleito por um conjunto de nobres e coroado pelo papa, que
o desapego ao que consideravam mundano: abandonavam lhe concedia sua autoridade. O Sacro Império continuou com
as cidades e se dirigiam para regiões onde ficariam comple- uma monarquia eletiva por muitos séculos.
tamente isolados do mundo, solitários, sem se envolverem Mustang Joe (CC0 1.0)/Flickr
com situações materiais, em uma vida marcada por privações,
pobreza extrema, abstinência sexual, desprezo pelos bens
materiais, jejuns e orações constantes. Com o tempo, esses
monges passaram a viver em comunidades, controladas por
regras. A primeira experiência de um clero regular foi criada
pelo monge italiano Bento de Núrsia – São Bento ou São
Benedito, em latim –, sendo imposta ao conjunto de monges
no século IX, que deu origem à ordem dos monges benedi-
tinos, cujo lema era “oração e trabalho” (laborare est orare).
FRENTE 2
219
A expansão do mundo No ano , já havia 55 cidades no Ocidente cris-
tão com mais de mil habitantes. Com o aumento da
feudal (séculos XI-XIII) produção de mercadorias e, com isso, da mentalidade do
Entre os séculos XI e XIII, a Europa passou por um cres- mundo do trabalho, tem-se, nesse período, uma mudança
cimento da população e das cidades (e, consequentemente, fundamental: o crescente uso dos relógios, símbolo da ne-
do comércio) e pela expansão territorial (que significava, cessidade de mensuração precisa do tempo. Muitas dessas
também, expansão do cristianismo). Esse período de cres- cidades, chamadas de burgos, eram fortificadas, e seus
cimento econômico profundo dará lugar, nos séculos XIV habitantes eram os burgueses. O crescimento das cidades
e XV, a momentos de crise econômica e recessão. Esse e do comércio se deve a:
momento também pode ser enquadrado na designação • motivos agrícolas: o aumento da produção agrícola
mais tradicional de “Baixa Idade Média”. gerou excedentes que possibilitaram o crescimento
do comércio e das cidades.
Explosão demográfica • motivos demográficos: o aumento populacional nos
e crescimento econômico campos levou os camponeses às cidades em busca
No ano de , quando Carlos Magno foi coroado impe- de trabalho ou de terras em outros lugares.
rador, estima-se que a Europa ocidental possuía milhões • demanda na construção: o crescimento populacional
de pessoas. No ano de , a população passou para mais exigiu a construção de novas catedrais, igrejas, paró-
de 5 milhões. Esse crescimento intenso se deu devido a: quias, castelos, muralhas, torres, palácios, hospitais e
• motivos epidemiológicos: entre os séculos X e XIII, casas.
com o recuo da peste e da malária, as grandes epide- • demanda têxtil: o crescimento demográfico exigiu
também um crescimento do setor têxtil. Muitos iam às
mias tiveram um peso menor.
cidades produzir tecidos. As duas principais ativida-
• motivos técnico-culturais: a guerra da época feudal,
des nas cidades medievais, portanto, eram os setores
apesar de constante, era pouco destruidora, pois nor-
têxtil e de construção.
malmente envolvia poucas dezenas de guerreiros e,
• questões culturais: muitos camponeses fugiam para
principalmente, o objetivo das batalhas em geral não era
a cidade buscando não apenas trabalho, mas também
matar o adversário, mas sequestrá-lo. Com as novas téc-
escapar da tirania do senhor feudal. A cidade, assim,
nicas de metalurgia, a armadura tornou-se muito forte no
exercia uma pressão constante sobre os nobres. Dizia-
século XII. As poderosas armas conhecidas como “bes-
-se que, se um servo morasse um ano e um dia em uma
tas”, por sua vez, foram proibidas pela Igreja Católica.
cidade sem ser reclamado pelo senhor, tornava-se livre;
• motivos técnico-econômicos ou “Revolução Agrí-
daí o provérbio medieval “o ar da cidade dá liberdade”.
cola medieval”: nesse período, há um aumento de
produtividade, decorrente do uso de técnicas e inven- Saiba mais
ções como a charrua (o arado de ferro), o moinho de
água, a coleira firme, a ferradura, o adubo calcário e,
especialmente, o uso do sistema de rodízio de terras
trienal, pelo qual ocorria uma alternância de cultivos
(cereais, leguminosas) sobre uma mesma área. Por
isso, a produtividade aumentou 5% entre os séculos
IX e XIII, tornando a dieta camponesa mais rica em
proteínas e ferro e diminuindo a mortalidade.
220 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Algumas cidades desenvolveram-se dentro das terras luxuosos produtos orientais, passaram a exigir tributos dos
senhoriais. Posteriormente, elas obtiveram sua autonomia, camponeses em moeda. Formaram-se, nesse momento,
mantendo-se, no entanto, dependentes da matéria-prima, dos duas grandes áreas de comércio marítimo:
reforços populacionais e do mercado consumidor campesino. • O Mediterrâneo, dominado pelos italianos: no sul
O direito para se autogovernar era dado pela Carta de Franquia, europeu, as cidades italianas controlavam o comércio
adquirida pelos burgos por meio da compra. As cidades cha- realizado no mar Mediterrâneo. Tais cidades tinham
madas de comunas adquiriram sua liberdade através da luta. amplas malhas urbanas e realizavam um intenso co-
Nessas cidades, comerciantes e artesãos passaram a mércio com o Oriente, como é o caso de Florença,
se organizar em associações, que predominarão até o sé- Veneza, as mais ricas cidades no período, Gênova,
culo XIX, denominadas corporações de ofício ou guildas. Palermo, Bolonha, Milão e Pádua.
As corporações determinavam os preços e a qualidade dos • O mar do Norte, dominado pelos alemães: graças,
produtos vendidos, o tempo da jornada de trabalho, os dias sobretudo, à Hansa Teutônica, ou Liga Hanseática.
de descanso e feriados, o número de funcionários, os pro- Constituída no século XII, essa liga era uma asso-
cedimentos de fabricação e os salários em cada unidade ciação de mais de 5 cidades de várias áreas
de produção. Existiam as corporações dos padeiros, dos do Sacro Império, com a finalidade de manter os
sapateiros, dos marceneiros, dos comerciantes de tapeçaria, privilégios comerciais de seus mercadores e o mo-
ourivesaria etc. Para exercer um ofício, o artesão era obriga- nopólio da navegação na região. As cidades de mais
do a se filiar à corporação. Caso não obedecesse às regras relevância eram Lübeck, Bruges, Bergen e Novgorod.
da corporação, ele podia ser expulso da associação. A con- Importavam-se tecidos de Flandres, lã da Inglaterra,
corrência era evitada, e formavam-se, assim, verdadeiros especiarias do Oriente, vinho e sal dos países do sul
monopólios comerciais, objetivo central dessas corporações. da Europa.
A unidade básica da produção medieval era a oficina. Tão importantes quanto essas rotas marítimas de comér-
Nela, os trabalhadores dividiam-se em mestres, jornaleiros cio foram as rotas terrestres, dentre as quais a principal era a
e aprendizes. O mestre era o dono da oficina, da matéria- que ligava o norte da Itália a Flandres e que era conhecida
-prima e das ferramentas de produção. Os companheiros ou pelo nome de Rota de Champagne. Aproveitando as rotas
jornaleiros eram indivíduos que já haviam aprendido o ofí- de comércio terrestre, a população local passou a realizar
cio, entretanto não possuíam capital suficiente para montar as “feiras”, núcleos comerciais temporários que se formavam
suas próprias oficinas e terminavam por trabalhar para um em épocas e locais determinados e que eram frequentados
mestre, por jornada, em troca de salário. Já os aprendizes por comerciantes e compradores de todas as partes.
eram iniciantes que ainda não tinham domínio das habili- O aumento do comércio com o Oriente causou uma
dades da produção. Não recebiam qualquer remuneração relativa monetarização da economia feudal, o que levou ao
por suas atividades, apenas moradia e alimentação por surgimento dos cambistas e banqueiros, principalmente em
parte do mestre. Após terminado o aprendizado do ofício, Veneza e Gênova. Os banqueiros ganhavam esse nome por
o aprendiz poderia se tornar um mestre de oficina, desde atuar inicialmente em cima de bancos. Sua função era realizar
que para isso passasse num teste, no qual mestres deviam as trocas monetárias, uma vez que não havia uniformidade
observá-lo fabricando uma peça para posterior inspeção de de pesos e medidas, fornecer empréstimos aos comerciantes
qualidade. Essa peça era chamada de obra-prima. e transferir valores de clientes de uma cidade para outra.
Nesse contexto, aliás, a moeda volta a ser cunhada A usura, ou o empréstimo de dinheiro a juros, praticada pelos
na metade do século XIII, com os januarius e o florim em banqueiros, era inicialmente condenada pela Igreja por estar
Gênova e Florença. Muitos senhores, desejosos de comprar sendo vendido o tempo, algo que só pertenceria a Deus.
Ben Molyneux/Shutterstock.com
FRENTE 2
Casa de comércio do século XIV, restaurada, na cidade de Southampton, Inglaterra. Foto de 2020.
221
A manufatura medieval, no entanto, nunca foi capaz de até então viviam na Normandia, norte da França, domina-
absorver toda essa população que afluía para as cidades. ram os anglo-saxões e, em 66, fundaram o Reino da
Havia pedintes pelas praças, mercados e ruas. Os trabalha- Inglaterra, liderados por Guilherme, o Conquistador, que
dores, que recebiam pagamentos baixíssimos, viviam em distribuiu cinco mil feudos aos seus vassalos, com a condi-
condições precárias. Assim, a partir do século XI, prolifera- ção de que eles lhe jurassem fidelidade. Daí o feudalismo
ram movimentos messiânicos entre essa população pobre. inglês ser chamado pelo historiador Perry Anderson de
Nesses movimentos, um leigo ou monge aparecia como “feudalismo centralizado”. Na Escandinávia, a conversão
um santo salvador e, por meio de inspirações e revelações, ao cristianismo se efetuou no século XII, transformando
decretava uma missão para seus seguidores. as comunidades semitribais tradicionais em sistemas de
Ao mesmo tempo, surgiram nas cidades as Ordens Men- Estado monárquico. No século XIII, o feudalismo se expan-
dicantes, que optavam pela pobreza, renegando as riquezas diu sobretudo após a derrota do exército dinamarquês de
do clero nobre, e atuavam diretamente no mundo, pregando
Valdemar II – o mais poderoso governante escandinavo
na linguagem das pessoas comuns. Exemplos dessas Or-
da Idade Média.
dens são as dos dominicanos e a dos franciscanos. Eles são
As Cruzadas são um fenômeno que ocorre nesse mo-
considerados frades, ou irmãos, e não sacerdotes.
mento. Nas regiões da atual Palestina e de Israel, ocorreram
Nesse período, as igrejas eram detentoras do conheci-
as Cruzadas do Oriente (6-7), enquanto na penín-
mento, que era transmitido em latim. A partir das reformas
sula Ibérica houve a chamada Reconquista Cristã, onde
do papa Gregório VII, em 7, ficou estabelecido que cada
abadia e catedral tivesse uma escola, daí o nome “escolás- se formaram os reinos ibéricos. Diferentemente de outras
tica”. Nessas escolas, eram ensinadas as sete artes liberais, expansões, as Cruzadas do Oriente não buscavam terras
pensadas pelo filósofo Boécio (47-55). Na primeira parte, o férteis, até mesmo porque as terras da região Palestina não
trivium, estavam as disciplinas que buscam menos a aquisição tinham essa característica. Os motivos das Cruzadas foram:
de conhecimento que seu modo de expressão: o emprego • reunificação da cristandade: o objetivo inicial do
correto das palavras, a Gramática; a expressão apropriada papa era fornecer reforços para os bizantinos contra
do pensamento, a Dialética; e, por fim, o embelezamento do os turcos, para que, assim, a Igreja Oriental reconhe-
discurso, a Retórica. A segunda etapa do estudo era o qua- cesse a supremacia de Roma. Vale lembrar que as
drivium, as disciplinas que seguem o modelo matemático: Cruzadas tiveram início quatro décadas após o Cis-
Aritmética, Geometria, Física, Música e, mais tarde, Medicina. ma do Oriente.
No século XII, foram criados os primeiros cursos de • solução para os nobres sem-terra: a crescente par-
Medicina no Ocidente, assim como os primeiros hospitais tilha do patrimônio dos senhores feudais entre seus
(chamados “casas de Deus”). filhos e seus vassalos tornava suas terras cada vez
Nos séculos XI, XII e XIII, surgiram, a partir das escolas, mais escassas. Para não fragmentar ainda mais seus
as primeiras universidades. Essa instituição seria um lugar feudos, os senhores adotaram o direito de primogeni-
universal, onde estariam estudantes e professores de todo tura, segundo o qual apenas o filho mais velho herdaria
o mundo cristão, falando e escrevendo em latim, a língua ofi- terras. Muitos filhos mais novos, com isso, tornaram-se
cial da cristandade. As primeiras universidades foram as de cavaleiros despossuídos e saíram em busca de sobre-
Salerno, Bolonha, Paris, Oxford, Pádua, Nápoles, Toulouse, vivência, sequestrando nobres, assaltando estradas
Salamanca, Cambridge e Praga, criadas entre os séculos ou buscando casamentos. As expedições forneceriam
XI e XIV. Financiadas por autoridades locais, elas serviam
uma ocupação a esses nobres despossuídos.
como centros de formação para uma aristocracia ligada à
• busca por comércio: inicialmente, os mercadores
administração civil ou eclesiástica, onde podia optar por
viram as Cruzadas como um risco. As expedições
cursar Direito Canônico ou Romano, Medicina ou Teologia.
encontraram novos entrepostos comerciais para as
Influenciadas por pensadores islâmicos como Avicena e
camadas mercantis em ascensão, em especial as ita-
Averróis, essas instituições passaram a recuperar os traba-
lianas, que financiaram a Quarta Cruzada e a Cruzada
lhos de Aristóteles e, inclusive, conciliá-los com a doutrina
cristã. O dominicano São Tomás de Aquino (4-74), de São Luís, em troca de diversos favores. As cidades,
da Universidade de Paris, teve destaque nesse período. já em desenvolvimento comercial, apoiaram algumas
Cruzadas como forma de expansão.
A expansão territorial • interesse nos saques: muitos dos que partiam esta-
Como resultado de todas essas transformações no vam interessados nos saques das batalhas, em fugir
mundo feudal, ocorreu a expansão territorial da Europa, das dívidas que possuíam na Europa ou mesmo
com os objetivos de exportar os excedentes da produção, fugir de seus senhores.
conseguir novas terras, ampliar a área de comércio e, prin- • purificação religiosa: as Cruzadas também foram um
cipalmente, converter novas almas para o cristianismo. movimento de purificação religiosa, meio pelo qual,
Assim, nas regiões eslavas e nos reinos do Báltico, acreditavam os guerreiros, teriam a vida eterna ga-
além da Polônia e da Hungria, ampliaram-se a comunidade rantida. A Cruzada era vista como a passagem para o
cristã e o cultivo de terras. A partir do século XI, o feudalis- sagrado, e muitos acreditavam, inclusive, que Jerusalém
mo foi exportado também para a Inglaterra. Os povos que era o próprio paraíso terrestre.
222 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
unificou e a Igreja Ortodoxa existe até os dias de hoje.
Biblioteca de Arsenal, Paris
O islamismo continuou a avançar, o que culminaria, em
45, na tomada de Constantinopla. De certa forma, as
Cruzadas ajudaram a fortalecer as comunidades islâmicas,
cuja união foi reforçada por lideranças que emergiram nos
conflitos, caso de Saladino. Durante as Cruzadas, também
houve muitos momentos de paz e trocas entre muçulmanos
e cristãos, inclusive nas áreas da Medicina, da Arquitetura
e da navegação.
Coleção particular
Iluminura do século XV representando cruzados em Constantinopla no
século XIII.
Atenção
Os historiadores costumavam explicar as Cruzadas –
principalmente aquelas dirigidas à Terra Santa – através
de três fatores principais. Em primeiro lugar, o cresci-
mento populacional europeu no período que antecedeu
esse movimento: a existência de um excedente da po-
pulação forneceria a essas expedições o contingente
necessário. O segundo fator, ligado ao primeiro, seria a
necessidade de obtenção de novos domínios por parte dos Iluminura otomana que mostra a tomada de Belgrado, em 1456.
filhos mais novos da aristocracia senhorial, excluí-
dos das sucessões das linhagens que privilegiavam os pri- O problema demográfico não foi resolvido e chegaria
mogênitos. O terceiro fator seria o interesse dos mercadores ao seu ápice no século XIV. Os nobres despossuídos não
italianos em conquistar novos mercados para seus produtos. conseguiram terras, mas passaram a integrar as ordens
militares, como os templários e os hospitalários. Todavia, a
própria Igreja Católica proibiu a continuidade da Ordem dos
Templários, que foram mortos. Embora, em alguns momentos,
Até o século XI, Jerusalém, cidade sagrada para judeus, as Cruzadas tenham reforçado novas rotas comerciais, as
cristãos e muçulmanos, era livre, aberta para peregrinações expedições não levaram a um aumento significativo de rotas.
e pertencia ao Império Bizantino. No entanto, no século XI,
os turcos seldjúcidas, muçulmanos provenientes da Ásia Saiba mais
Central, conquistaram toda a região da Síria e da Pales-
tina. Diante disso, o imperador bizantino pediu ajuda ao
Ocidente, solicitando o envio de mercenários, que, pagos
As Cruzadas não conseguiram saciar a sede que os
e liderados pelos bizantinos, combateriam os turcos na
ocidentais tinham por terras [...] Nenhum historiador sério
Anatólia. O papa Urbano II viu nesse episódio um meio de
continua a crer que as cruzadas sejam responsáveis pelo
pôr em ação um projeto para expandir sua influência sobre despertar e o desenvolvimento da cristandade medieval
as regiões do Império Ortodoxo, procurando conquistar [...] Para mim, o único fruto trazido pelos cristãos das
Jerusalém dos muçulmanos. Assim, no dia 5 de novem- Cruzadas foi o damasco.
bro de 5, o papa, no Concílio de Clermont, convocou
cristãos para lutar contra os “inimigos de Cristo”, chamados
por ele de infiéis.
Foram realizadas várias Cruzadas “não oficiais”, como a Uma das maiores consequências das Cruzadas foi o
Cruzada dos Mendigos, dos Pastores e dos Pobres. Entre aumento da perseguição e da intolerância religiosa na Eu-
6 e 7, ocorreram oito Cruzadas à chamada Terra ropa. Foi nesse contexto, afinal, que a Inquisição iniciou
Santa, convocadas pelos papas e organizadas por reis e suas práticas. Tal como um tribunal secular visa defender
senhores da nobreza. Embora as primeiras Cruzadas tenham a lei, extinguindo o crime, o tribunal da Inquisição visava a
FRENTE 2
conquistado Jerusalém, a reação dos muçulmanos foi avas- defender a fé e a moral da Igreja Católica, perseguindo
aquilo que ela condenava, como as chamadas bruxarias,
saladora; caíram as últimas fortalezas dos reinos cruzados,
as blasfêmias, a sodomia, a bigamia etc. As penas apli-
até que, em , São João de Acre, o último ponto de
cadas tinham uma gradação do jejum, multas, pequenas
resistência cristã, foi também conquistado pelos muçulmanos. penitências, chibatadas, desterro, confisco de bens, as ga-
As Cruzadas para Jerusalém, portanto, do pon- lés, a prisão e, em casos mais raros, os acusados que se
to de vista de seus objetivos iniciais, fracassaram. recusavam a confessar eram entregues à autoridade civil,
Não conquistaram a Terra Santa, o cristianismo não se a qual podia aplicar a pena máxima da morte na fogueira.
223
A crise do feudalismo da França em 5, a partir das quais o termo torna-se si-
nônimo de qualquer revolta camponesa no país, e a Revolta
(séculos XIV-XV) Inglesa de . Nas cidades, eclodiram revoltas como o
Após um longo período de expansão entre os séculos movimento dos Ciompi, de Florença, em 7; as flamen-
XI e XIII, as sociedades medievais conheceram seu limite: gas, em 7; e as rebeliões dos jornaleiros de Flandres,
o crescimento populacional tornou-se excessivamente ele- de a .
vado para as condições europeias. O feudalismo, então, No contexto da fome e da peste, ocorreu a Guerra dos
entrou em uma crise profunda entre os séculos XIV e XV. Cem Anos (7-45), uma série de conflitos opondo
No final do século XIII, em muitas regiões, houve es- França e Inglaterra. A sucessão do trono da França era
cassez de terras devido ao aumento populacional, levando disputada pelo francês Filipe de Valois, primo distante de
à ocupação de novas áreas e causando desmatamento. Filipe IV, e por Eduardo III, rei da Inglaterra, neto de Filipe
Para se ter uma ideia, estima-se que em as florestas IV, filho de Isabel. Pela Lei Sálica francesa, no entanto, o
francesas cobriam um milhão de hectares a menos do que trono não poderia ser ocupado por um herdeiro de linha-
hoje. Ao que tudo indica, essa devastação foi responsá- gem materna, o que impedia a coroação de Eduardo IIII,
vel também pelas chuvas constantes entre 5 e 7, dando início à guerra pela soberania. Além disso, havia a
período no qual, em muitos locais da Europa, as colheitas disputa pelo rico centro comercial de Flandres (atual Bélgica
foram ruins e insuficientes. Em algumas regiões, cerca de e Holanda), exportador de tecidos de lã.
7% dos rebanhos morreram por desnutrição. Ao mesmo O conflito, que resultou na vitória francesa em 45, teve
tempo, não havia tecnologia disponível para realizar mais diversas peculiaridades. O rei Carlos VII (4-46) criou
escavações na atividade de mineração, o que causou es- um exército remunerado e regular de mil homens, em
cassez de metais para as moedas e consequente aumento vez da tradicional convocação dos vassalos. Esse exército
do preço das mercadorias. era sustentado pelo primeiro imposto nacional de impor-
Nesse período também ocorreram grandes epidemias, tância a ser cobrado pela monarquia, a talha real de 4,
potencializadas pelos contatos crescentes com outros po- depois chamada “talha dos soldados”, na década de 44.
vos, por aglomerações nas cidades e pela ausência de Na guerra, foi utilizada a pólvora na Batalha de Castillon,
sistemas de esgoto e saneamento. Na Inglaterra, a cada em 45, que deu uma vantagem sobre os ingleses. Deve-se
mil habitantes, morriam doentes. Na cidade belga de destacar, também, o papel de Joana D’Arc, uma jovem
Ypres, % da população morreu em apenas 6 meses no camponesa que participou de diversos combates que fa-
ano de 6. Com a chamada peste negra, ou peste bu- voreceram os franceses. Após a Guerra dos Cem Anos, a
bônica, milhões de pessoas sucumbiram, o que afetou a monarquia francesa será dirigida pelos Valois, que vão deter
produção e disseminou ainda mais a fome. a Coroa até as guerras de religião, no final do século XVI.
No caso inglês, a guerra foi travada, principalmente,
Biblioteca Real da Bélgica, Bruxelas
224 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Nesse período, as heresias ganharam força, o que cul- que essa mudança é relativa. No campo das mentalidades,
minaria, dois séculos mais tarde, na Reforma Protestante. por exemplo, as pessoas continuam tão (ou mais) religiosas
O Renascimento Cultural tem início, as monarquias tomam quanto na Idade Média, já que a ideia de secularização
as primeiras atitudes que levarão à unificação do poder, com ocorrerá somente no século XIX. A nobreza, grupo domi-
a formação de exércitos unificados e impostos nacionais, e, nante na Idade Média, passará por transformações, mas
para superar a falta de metais preciosos, os portugueses continuará a ser o grupo dominante. As corporações de
dão início à expansão marítimo-comercial. A tomada de ofício, de origem medieval, vão se tornar ainda mais pode-
Constantinopla pelos turco-otomanos, em 45, represen- rosas. Além disso, é preciso notar que, embora os reis se
tará um grande impulso neste último acontecimento. fortaleçam ao longo da Idade Moderna, as particularidades
Todos esses eventos marcam a passagem da Idade locais e a heterogeneidade linguística medievais continua-
Média para a Idade Moderna. No entanto, é preciso lembrar rão a existir até o século XIX.
Saiba mais
FRENTE 2
225
A Idade Moderna (1453-1789)
O que significa “Época Moderna”? Em primeiro lugar, cabe destacar que nem todos os países fazem a divisão
entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea, separados pela Revolução Francesa. Na Inglaterra e nos Estados
Unidos, por exemplo, fala-se em Modern History desde o século XV até os dias atuais (para ocorrer alguma forma
de separação, chamam-se os primeiros séculos de Early Modern History, o que costuma ser traduzido para a língua
portuguesa como “primeira modernidade”, em contraposição à “segunda modernidade”, iniciada no século XIX).
No final do Império Romano, pensadores como Gelasius, Cassiodoro e Orose denominavam de modernus aquilo
que era novo em oposição ao antigo – no caso, o cristianismo, em oposição ao paganismo. Na Idade Média, São Tomás
de Aquino chamava de moderni o uso de Aristóteles, em oposição a formas anteriores de fazer filosofia. No século XIV,
Petrarca um dos primeiros nomes do Renascimento, fez uma distinção entre os “tempos medievais” que o precederam e
os “tempos modernos” que estariam começando. Quando Petrarca e outros nomes associados ao Renascimento Cultural
determinaram que havia uma Antiguidade clássica (áurea, o que, para eles, significava o mundo greco-romano), uma idade
intermediária (medieval) e uma época moderna (que começaria com eles próprios), estavam lançando as bases de uma
periodização utilizada até os dias de hoje. Os renascentistas pensaram em uma era de luz e glória de Roma que eles,
modernos, estariam recuperando.
Isso não significa que o período que chamamos de Idade Moderna não tenha conhecido profundas transformações.
A segunda metade dos séculos XV e XVI terá um grande crescimento econômico; o século XVII será, por outro lado, para
a maior parte da Europa, um século de estagnação ou de crescimento reduzido; por fim, o século XVIII será, de forma
geral, novamente um século de prosperidade. É importante considerar que, na prática, os períodos de crescimento são
entrecortados por períodos mais curtos de crise ou estagnação, e vice-versa.
Seria a época moderna capitalista? Isso dependerá do que se entende por capitalismo. Para alguns pensadores, o
capitalismo indica maior presença de pessoas investindo capital no sentido de uma produção voltada para o mercado,
o que significaria que o capitalismo teria começado a se fortalecer na Baixa Idade Média. Para outros, o capitalismo re-
presenta um grupo que, mais poderoso que o próprio mercado, o comanda e pode deslocar-se territorialmente conforme
a necessidade, o que significaria que o capitalismo também começaria a se fortalecer no final da Idade Média e estaria
representado por um grupo muito restrito de banqueiros, comerciantes e industriais em Gênova no século XVI, Amsterdã
no século XVIII, Inglaterra no século XIX e Estados Unidos no século XIX. Para outros, ainda, só há capitalismo quando a
maior parte da população, destituída dos meios de produção, precisar vender sua força de trabalho para um grupo que
os detém, o que significaria que só há capitalismo de fato após a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX.
Na época moderna, há também o fortalecimento das Coroas, com maior autonomia financeira, por meio da cobrança
de impostos, e militar, por meio dos exércitos permanentes; é o que chamamos de absolutismo. O termo “absolutismo”,
contudo, é impreciso, já que as autonomias locais da nobreza, os particularismos e as línguas regionais continuaram bas-
tante fortes. Cabe notar ainda que a época moderna será marcada por uma profunda cisão religiosa com as Reformas
Protestantes, no século XVI, seguidas por guerras civis em vários lugares da Europa. Por fim, a passagem da Idade Moderna
para a segunda modernidade ou Idade Contemporânea será marcada pelas Revoluções Inglesas (XVII), pelo Iluminismo
(XVIII) e por uma série de revoluções.
Nessa época, as produções eram coletivas, e cada mestre pintava ou esculpia com a ajuda de muitos ajudantes.
A maioria dos artistas era dependente do patronato ou mecenato de nobres, de clérigos ou da própria Igreja Católica, ou
mesmo de alguns burgueses mais abastados como a guilda Arte da Lã, que encomendou obras para Michelangelo, como
a escultura Davi.
226 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Renascimento: a filologia, estudo das origens e formações
k.com
das línguas, com a busca pelo entendimento dos clássicos
em seus próprios termos; a arqueologia, para a compre-
ensão correta do mundo greco-romano; e a crítica textual,
buscando o contexto original da produção de palavras e
PrakichTreetasa
textos antigos.
Com o desenvolvimento da filologia, um estudo a
respeito da Doação de Constantino tornou célebre o hu-
manista italiano Lorenzo Valla, no século XV, considerado
um expoente do humanismo jurídico. A doação, suposta-
mente feita pelo imperador romano Constantino, concedia
à Igreja Católica grande parte das terras da Itália. Porém,
Valla encontrou no documento palavras inexistentes no
Império Romano, que só apareceram no século IX e X, pro-
vando, assim, a falsidade do tratado utilizado pelos papas.
A descoberta de Lorenzo causou grande impacto na época.
Obras como a escultura helenística Lacoonte e seus filhos
foram encontradas pela arqueologia renascentista.
O advento do humanismo não significou o fim da esco-
lástica, que continuou a existir durante a época moderna e
conheceu inovações, como em Salamanca no século XVI.
Todos os humanistas eram religiosos, embora alguns, no sé-
culo XVI, vão aderir ao protestantismo ou, como Montaigne,
adotarão uma postura cética.
Saiba mais
humanistas resgatam os estudos dos clássicos (imitatio), a Petro Cimabue (4-) e Giotto di Bondone (67-
inspiração nos atos, crenças e realizações dos indivíduos do 7), produziram suas obras apesar de pouquíssimas
passado para, assim, surgir um novo comportamento para o fontes ou resquícios de pinturas da Antiguidade em
europeu, calcado na determinação da vontade, no desejo suas obras. Em busca de um naturalismo radical, Giot-
de conquistas e no anseio do novo. Dessa forma, acredi- to esboçava, em suas pinturas, profundidade espacial
tavam resgatar o mundo clássico e romper com o período (perspectiva), técnica depois estudada por outros, como
medieval. Sendo assim, três ciências se desenvolvem no Brunelleschi (77-446).
227
Mas como, na quase ausência de pinturas greco-romanas, conciliar o naturalismo e a perspectiva com o regresso aos
clássicos? Leon Battista Alberti, no Tratado sobre a pintura (1435), diz que o pintor deve inspirar-se na retórica clássica
e buscar convenienza, isto é, harmonia entre as partes e as cores. Nesse sentido, CristoforoLandino(1424-1498) dizia
que Cimabue redescobriu o que os gregos chamavam de simetria. Seguindo Vitrúvio, um arquiteto romano (I a.C.) que
buscava proporções matemáticas no corpo humano, Alberti, Da Vinci e Dürer tentaram encontrar essas proporções na
pintura. Filippo Brunelleschi (1337-1446) inspirou-se nas proporções humanas de Vitrúvio para pensar a arquitetura. Assim,
proporção, naturalismo e harmonia marcavam o regresso aos clássicos nas belas artes.
O humanista Marsílio Ficino (1433-1499) realizou discussões sobre música baseadas em passagens de Platão ou
Harmonika, de Ptolomeu. Rabelais (1494-1533) e Pierre de la Ramée, o Petrus Ramus (1515-1572), sugeriram, para
a Medicina, a leitura de Galeno e Hipócrates, ao passo que Johannes Werner (1468-1522) ressaltou a importância
dos clássicos para a Matemática. Nas impressões, as letras itálicas e romanas se impuseram sobre as letras góticas.
A invenção da imprensa, em 1430, por Johannes Gutenberg, tem um papel fundamental na difusão das obras clássicas
e renascentistas. O uso dos tipos móveis metálicos possibilitou a impressão mais rápida e o relativo barateamento
do custo do livro.
228 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Entre os séculos XII e início do XIV, as cidades italianas participarem do governo, como uma forma de recupera-
foram consumidas por conflitos que resultaram na ascensão ção do ideal romano de república. No que chamamos de
de tiranos. Muitos mercenários, homens de origem plebeia republicanismo ou humanismo cívico, uma república seria
contratados para a guerra, tomaram o poder. Devido ao caracterizada pelo respeito à lei, pelo engajamento dos
comércio e às disputas políticas, havia na península Itá- cidadãos e pela manutenção da liberdade, valores resumi-
lica maior espaço de mobilidade e ascensão. As guerras dos na palavra “virtude”. Essa palavra seria a capacidade
e o comércio enfraqueceram as noções de legitimidade de moldar o destino e adequar o mundo aos desejos,
e dinastia, da mesma forma que valorizaram o cálculo, a conferindo honra, glória e fama. Movimentos como esse
deliberação e o talento. Assim, os novos governantes, oriun- nos permitem falar em um antropocentrismo do Renasci-
dos do povo, valorizariam o talento e tratariam os assuntos mento, uma valorização do homem, de suas capacidades
com maior objetividade. A arte da guerra, a estatística e a e da vida ativa, ou engajada nos assuntos de sua cidade.
diplomacia também seriam assuntos importantes nessas ci- Esse antropocentrismo, entretanto, não significa a des-
dades. Nesse contexto, muitos passam a escrever “espelho valorização de Deus, pois os homens continuavam tão
de príncipes”, livros de conselhos para governantes, dos cristãos quanto na Idade Média. Os autores republicanos
quais O Príncipe, de Maquiavel, será o principal exemplo. voltam a ter destaque durante a luta contra a monarquia
Esse foi também o contexto de Dante Alighieri, Francesco inglesa do século XVII e na independência dos Estados
Petrarca (4-74), Giovanni Boccaccio (-75), Unidos, no século XVIII.
Giotto e Cimabue. No final do século XV e no século XVI, as repúblicas
Apesar de ter surgido no período de prosperidade entram em decadência, e a maioria das cidades passa a
econômica, o Renascimento tomou impulso no final do sé- ser governada por déspotas. Nesse período, ganham força
culo XIV e no século XV, durante a crise econômica, o que aqueles que valorizam o neoplatonismo e a vida contemplati-
levou as cidades italianas a uma lenta decadência. Cada va, como Pico della Mirandola (46-44), Marsílio Ficino e
vez mais, as cidades se dedicam às atividades bancárias e Nicolau de Cusa (4-464). A obra de Pico, Discurso sobre
de especulação, com destaque para Gênova, que passará a dignidade do homem, é considerada por muitos o grande
a auxiliar financeiramente a Espanha durante a expansão
manifesto do Renascimento. Para ele, a dignidade humana
marítima por meio de crédito e acordos (a prata trazida
consiste em sua razão e sua liberdade, e o homem não é
do Peru era controlada, em Sevilha, por comerciantes de
um animal nem celeste, pois não sabe de tudo, nem terres-
Gênova, por exemplo). Com a crise, também, muitos recur-
tre, pois não é determinado pela natureza. Segundo ele, o
sos antes investidos no comércio passam a ser reinvestidos
ser humano teria o poder quase divino de transformar a si
no patrocínio das Artes e das Letras.
próprio, a chamada liberdade, podendo tanto degenerar-se
e ser mais cruel que o mais cruel dos animais quanto rege-
Museu do Louvre, Paris
Quentin Matsys, Ocambista e sua esposa, 1514, óleo sobre madeira. Museu
do Louvre, Paris, França.
e o espírito, a carne e a alma, representando detalhes da
anatomia humana. Já Rafael estaria mais próximo de uma
Em Florença, no contexto de luta contra os exércitos de síntese entre seus dois contemporâneos, com algo mais
Milão, os florentinos passam a defender que todo cidadão suave, mais simples, sem sacrificar nenhum recurso técni-
deve armar-se e engajar-se na luta pela própria liberdade, a co e nenhum efeito emocional. Sua obra era preferida por
qual era entendida como ausência de interferência exterior grandes príncipes e senhores e tornou-se modelo da arte
e possibilidade de os cidadãos – homens e proprietários – oficial até o início do século XX.
229
Museus do Vaticano, Roma
Rafael Sanzio, Escola de Atenas, 1509-1510. Afresco. Palácio Apostólico, Vaticano. A obra, encomendada pelo papa Júlio II, apresenta pensadores
clássicos, como Platão e Aristóteles (ao centro), como referências no Renascimento.
No final do século XVI, a França, a Espanha e o Sacro Outro nome de destaque inglês foi Thomas Morus
Império Romano-Germânico disputam o domínio sobre a pe- (47-55), que estudou Direito na Universidade de Oxford,
nínsula Itálica. A expansão marítima portuguesa e espanhola onde recebeu formação humanista. Atuante na política, en-
desloca o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico, trou no Parlamento em 54, desempenhando inúmeras
e as cidades italianas passam por uma nova crise. Em 57, missões diplomáticas, até que, em 5, assumiu o cargo
inicia-se a Reforma Protestante. Em 55, pelo Tratado de de primeiro chanceler do rei Henrique VIII. É autor de Utopia,
Cateau-Cambrésis, boa parte da península passa para as obra na qual apresenta uma comunidade tolerante, erguida
mãos da dinastia Habsburgo da Espanha, em aliança e com sob bases racionais, em que a guerra é vista como inglória,
o apoio do papado. Ao mesmo tempo, a Inquisição, que o ouro não tem valor, todos são iguais perante a lei e os
havia sido desativada, ressurge em Roma. Galileu Galilei cargos são eletivos. Tal descrição era uma forma de criticar
(564-64) será preso, e Giordano Bruno (54-6) será a corrupção de sua própria época.
queimado. Em Veneza, as elites começaram a mudar seus Na França, o movimento renascentista teve sua base
investimentos do comércio para os campos. Na passagem em Paris, onde monarcas como Francisco I (55-547)
do século XVI para o século XVII, o Barroco tomou o lugar atuaram feito mecenas, patrocinando pintores, arquitetos
do Renascimento na história da arte italiana. e literatos. Pierre Lescot (55-57) e Philibert Delorme
No século XVI, ocorreu a expansão do humanismo e (54-57) construíram palácios tais quais Fontainebleau,
das artes italianas para outros lugares da Europa. Os Países Chambord, Blois e o Louvre, que definiram o renascentismo
Baixos conheceram, antes do Renascimento, um desen- arquitetônico francês. François Rabelais (44-55) criou
volvimento cultural esplêndido, ligado a nomes como Jan personagens como Gargântua e Pantagruel, renovando a
van Eyck (-44), considerado a grande expressão prosa e criticando a Igreja. Na Filosofia, destacou-se Michel
da arte flamenga pré-renascentista, além de Erasmo de Eyquem de Montaigne (5-5).
Roterdã, o príncipe dos humanistas. O teatro inglês teve um A manifestação mais marcante do Renascimento no
florescimento notável, sobretudo no período de Elizabeth I Sacro Império Romano-Germânico foi a rápida difusão dos
(5-6), quando Londres viu a ascensão de camadas estudos humanistas nos meios burgueses e universitários em
ligadas ao artesanato e aos negócios. A figura mais proe- fins do século XV. O filólogo Johann Reuchlin (455-5) foi
minente da época foi William Shakespeare (564--66), o responsável por atacar a cultura escolástica na Alemanha,
ator profissional e próspero empresário teatral. sendo seguido por Ulrich von Hutten (4-5) e Crotus
230 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Rubianus (4-545), os quais liquidaram de vez a hege- Universo infinito, sem centro e povoado por uma quantidade
monia da cultura tradicional. Um dos mais notáveis pintores imensa de mundos semelhantes ao nosso.
alemães foi Albrecht Dürer (47-5), de Nuremberg, res- Galileu Galilei, conhecido por defender o sistema helio-
ponsável por reunir a solidez do gótico alemão, o cromatismo cêntrico de Copérnico, contribuiu fundamentalmente para
e luminosidade flamenga e o sentido da geometria, harmonia consolidar a união entre as Ciências da Natureza e a Ma-
e profundidade da pintura italiana. temática, em oposição àqueles que utilizavam a obra de
Na Espanha, as obras de Inácio de Loyola (4-556) Aristóteles como paradigma interpretativo. Galileu Galilei e
Santa Teresa d’Ávila e São João da Cruz eram revestidas Francis Bacon (56-66), ambos cristãos, defendiam, ao
de grande densidade poética, somando-se à parte mais sig- contrário dos herméticos e escolásticos, a separação entre o
nificativa do Renascimento espanhol, marcada por Herrera mundo natural, que seria regido por leis mecânicas expres-
(54-57), Miguel de Cervantes (547-66), Garcilaso sas pela matemática, e o mundo divino. Com Isaac Newton
de La Vega (5-56) e Lope de Vega (56-65). (64-77), a ideia de que todo o Universo é regido pelas
Pintores como Luis de Morales, o Divino (5-56), repre- mesmas leis matematicamente identificáveis ganha força, ain-
sentaram o clima religioso da Espanha renascentista. Dom da que, para ele, essas leis fossem estabelecidas por Deus.
Quixote, de Miguel de Cervantes, apresenta uma crítica Assim, enquanto a magia é baseada em princípios
genial às nostalgias medievais e, evidentemente, à Espanha ocultos eternos e universais, a ciência é ancorada na ideia
de sua época. de gerações distintas, contribuindo para a descoberta das
Em Portugal, destacam-se Sá de Miranda (4-55), verdades. Embora o estudo dos pensadores do passado
que trouxe o dolce stil nuovo (“doce estilo novo”) dos poe- seja importante para a ciência, eles não são uma autoridade
tas, literatos e dramaturgos do Renascimento italiano; Luís inquestionável, como acontecia na magia eterna. Por isso,
de Camões (c.- 54-5), autor de Os Lusíadas, o maior Francis Bacon escreveu, em 65, Da proficiência e o avan-
épico da língua portuguesa; Juan de Encina (46-5), ço do conhecimento divino e humano. Enquanto a magia
que inaugura o teatro ibérico e tem como grande marca os defenderia a ideia de eleitos ou iluminados, que passam as
Autos, peças em verso, de fundo religioso ou cômico, mar- verdades eternas para todos, a ciência partiria da noção de
cadas por fortes elementos populares. Destacam-se, ainda, que as inteligências podem alcançar o conhecimento por
temas cavaleirescos, religiosos e populares, como é o caso meio do método científico. Daí a importância do método
de Gil Vicente (c. 465-56). indutivo (isto é, ancorado na observação dos casos particu-
lares e na formulação de hipóteses para a descoberta de
Do Renascimento à Revolução Científica princípios gerais), defendido por Bacon.
No Renascimento, a magia, a filosofia e a ciência mistu- No século XVII, emergirá a ideia que o funcionamento
ravam-se e auxiliavam-se, em uma sociedade atravessada do mundo é autônomo, como um relógio, e dispensa inter-
por inquietações religiosas e por exigências práticas de ferência divina. Da mesma forma, o corpo humano seria um
todo gênero. Na segunda metade do século XVI e, princi- mecanismo, uma máquina, como diziam Thomas Hobbes
palmente, no século XVII, ocorreu a Revolução Científica, (5-67) e René Descartes (56-65). Newton des-
marcada por nomes como Copérnico, Galileu, Kepler, Francis tacou-se com as leis universais, em que o funcionamento da
Bacon, Isaac Newton e Descartes. natureza era entendido de maneira autônoma, regido por
Nicolau Copérnico (47-54), em Sobre as revo- leis matemáticas, operando, tal como as máquinas, sem a
luções das esferas celestes (54), defendeu a teoria intervenção das vontades. Para todos eles, contudo, assim
heliocêntrica, na qual o Sol era o centro do Universo e a como um relógio precisa de um relojoeiro, o funcionamento
Terra era mais um astro que girava em torno do Sol. Giordano autônomo do Universo não excluía a existência de Deus,
Bruno, a partir de Copérnico, defendeu a existência de um mas a tornava necessária.
Revisando
1. UEM 2019 A Europa Ocidental, a partir do século V, As vitórias militares de Clóvis contaram com o
viu-se dividida entre vários reinos, resultado da in- apoio da Igreja Católica Romana, decisivo para
vasão dos povos germânicos. O reino dos francos, o projeto de unificação do território.
estabelecido no norte da Gália, teve na figura de O feudalismo, como um sistema de organização
Clóvis (da dinastia merovíngea) o rei que favoreceu econômico, social e político, foi estruturado no
o processo de ruralização do território europeu. Com reinado merovíngeo de Clóvis.
FRENTE 2
Carlos Magno (dinastia carolíngea), o reino dos fran- A grande expansão de território do período ca-
cos viveu grande renovação cultural, atraindo para a rolíngeo fez que o papa Leão III coroasse Carlos
sua corte sábios das penínsulas itálica e ibérica. Magno como imperador do Sacro Império Romano
Acerca do reino dos francos, assinale o que for correto. no ano .
Durante a Alta Idade Média, a constituição dos A restauração do ensino no período de Carlos
reinos germânicos provocou uma excessiva frag- Magno foi marcada pela forte presença das cha-
mentação da posse de terras. madas artes liberais, o trívio e o quadrívio.
Soma:
231
2. Uece 2017 Servidão e vassalagem eram duas formas I. Uma forte diminuição demográfica, causada pela
de relação social existentes na Idade Média, através chamada peste negra e pelas chamadas invasões
das quais os senhores se impunham. Sobre esses mo- bárbaras.
delos de relação social, é correto afirmar que II. O aumento do número de cidades e da intensifi-
a) na vassalagem, um nobre submetia sua fidelidade cação da divisão social do trabalho que ajudou no
a outro nobre que, assim, tornava-se seu suserano. desenvolvimento do artesanato.
b) a vassalagem constituía-se pelo contrato de con- III. O aumento da atividade bancária como ativida-
cessão de terras do senhor feudal a um camponês. de cada vez mais significativa para expansão do
c) a servidão era o laço que unia um nobre a outro comércio.
através do juramento de fidelidade irrestrita a ele
e ao seu suserano. Em relação a essas informações, assinale a alternativa
d) a servidão e a vassalagem eram relações que se que apresenta as armativas corretas.
davam somente entre um nobre e um camponês a) II e III.
ligado à terra. b) I e II.
c) I e III.
3. Famerp 2017 Aparece na literatura medieval, no final d) I, II e III.
do século IX, para florescer no século XI, até se tornar
um lugar comum no século XII, um tema que descreve 6. FGV-SP 2018 Aproveitando-se do reforço populacional
a sociedade que se divide em três categorias ou ordens. e espiritual, os reinos cristãos acentuaram sua ofensiva
Jacques Le Goff. Para uma outra Idade Média, 2013. contra os domínios muçulmanos. Em 1492, concluía-se a
conquista da península, com a incorporação de Granada.
As “três categorias ou ordens” citadas no texto são, A reconquista representou, para os ibéricos, uma
respectivamente, primeira expansão feudal. Caracterizou-se pela incorpo-
a) aristocracia, burguesia e proletariado. ração de novas terras, pelo crescimento demográfico, pelo
b) militares, patrícios e camponeses. desenvolvimento das cidades, das atividades mercantis e
c) clérigos, guerreiros e trabalhadores. pela expansão cristã. No entanto, 1492 não se encerra
d) comerciantes, industriais e operariado. em Granada. Meses depois, em outubro, Colombo daria
e) classe alta, classe média e classe baixa. continuidade à conquista material e espiritual. Do outro
lado do Atlântico.
4. UFU 2017 Os especialistas em demografia histórica são (Flavio de Campos. Folha de S. Paulo, 1.10.2000. Adaptado)
mais ou menos concordes em estimar que a população
global do reino da França no mínimo duplicou entre A Reconquista Ibérica
os anos mil e 1328, passando de cerca de 6 milhões a) remonta aos meados do século IX, momento no
de habitantes para 13,5 milhões, e de 16 a 17 milhões, qual os cristãos ibéricos, refugiados no norte da
considerando as regiões que desde então se tornaram península, constituíram-se em pequenos reinos
francesas. independentes e, a despeito das suas diferenças
LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval. Trad. Antônio Danesi, São étnicas e das rivalidades, edificaram uma identida-
Paulo: Martins Fontes, 1992, p. . (Adaptado).
de cultural e política, porque objetivavam vencer
De acordo com a citação, pode-se armar que o prin- militarmente os muçulmanos.
cipal fator que permitiu o crescimento da população b) contrapõe-se ao movimento das Cruzadas porque
europeia foi a luta e as ofensivas contra o poder mulçumano
a) o controle da Peste Negra por meio da implan- não foram realizadas como uma conquista militar,
tação de medidas de saneamento das grandes mas por meio de lenta e progressiva incorporação
cidades europeias. de novas terras, obtidas com as relações de vassa-
b) o fim dos conflitos entre os reinos, especialmen- lagem, em especial a partir do século XII.
te o da “Guerra dos Cem Anos”, entre França e
c) significou uma recomposição das forças cristãs oci-
Inglaterra.
dentais e parte das orientais, a partir do início do
c) a relativa estabilidade política e econômica, que
século XIV, unificadas pelo Concílio de Trento, que
fomentou a expansão dos burgos e o aumento da
produção agrícola nos campos. estabeleceu uma nova mística em torno da figura
d) o incremento da agricultura, que impulsionou o de Jesus Cristo, que passou a ser tratado como
sistema de trocas de mercadorias promovendo a tendo essência divina e não humana.
prosperidade nos feudos. d) constitui-se em um processo que tem as suas
origens localizadas após a formação das nações
5. UFU 2019 A partir do século XI, observa-se em várias ibéricas, Portugal e Espanha, em fins do século
localidades da Europa Ocidental uma intensificação XIV, porque a expulsão dos invasores mouros de-
das atividades comerciais. Dentre os fatores que ex- pendia de uma enorme ação militar que apenas
plicariam esse “renascimento comercial”, analise as Estados unificados podiam organizar e arcar com
informações a seguir. os custos.
232 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
e) dependeu menos da ação das forças cristãs ibé- intelectuais foram buscar inspiração num período
ricas e muito mais da progressiva fragilização dos considerado por eles de grandes realizações e es-
domínios mouros nessa região, condição do califa- plendor: o Egito antigo.
do de Granada, no século XIII, que foi obrigado a e) Os renascentistas defendiam uma visão humanis-
ta, naturalista e teocêntrica, buscando superar a
mandar forças militares para conter uma série de
antiguidade clássica, período que classificaram
invasões aos seus domínios no Norte da África.
como trevas, devido à falta de produção de co-
nhecimento.
7. UFG O usurário, que adquirir lucro sem nenhum traba-
lho e até dormindo, vai contra a palavra de Deus que
9. UFRGS 2018 Sobre o desenvolvimento do pensa-
diz “Comerás teu pão com o suor de teu rosto”. Assim,
mento moderno no Ocidente, entre os séculos XIV e
o usurário não vende ao devedor nada que lhe pertença,
XVIII, é correto afirmar que
apenas o tempo, que pertence a Deus. Disso não pode
a) os estudos empíricos sobre a natureza, realizados
tirar qualquer proveito.
no Renascimento, contribuíram para o desenvolvi-
CHOBHAM, Thomas de, apud LE GOFF, J. A bolsa e a vida. São Paulo:
Brasiliense, 1989. p. 39. [Adaptado]. mento da ciência europeia.
b) o abandono do dogma cristão pelo pensamento
O texto acima apresenta o posicionamento da Igreja humanista motivou a criação dos tribunais do San-
Católica diante da crescente atividade dos usurários, to Ofício para combater as heresias.
nas cidades comerciais europeias (séc. XIII). Relacione c) a filosofia foi marcada por uma completa ruptura
usura, tempo e trabalho no discurso eclesiástico. em relação à visão de mundo, elaborada durante
a antiguidade.
8. UFMS 2020 Em 2019, completaram-se 00 anos da d) a Reforma Protestante caracterizou-se pela reafir-
morte de Leonardo Da Vinci, considerado um dos mação dos valores institucionais da Igreja e pela
maiores expoentes do movimento denominado Re- defesa do papado.
nascimento Cultural. Esse movimento foi um marco e) a rígida separação social entre a elite letrada e a
importante na sociedade ocidental, pois promoveu população camponesa impedia o desenvolvimen-
uma mudança profunda na maneira de pensar, im- to de práticas culturais populares.
pactando crenças e valores que norteavam o homem
europeu até então. 10. Uece 2016 Atente ao seguinte excerto:
Sobre as características do Renascimento Cultural, as-
A impotência do homem diante do destino, absurdo
sinale a alternativa correta.
deste último, é também o que afirmam frequentemente os
a) O conhecimento passou a ser dirigido pelo clero
personagens do teatro inglês no fim da Renascença. Ao
católico, que administrava escolas e universidades.
fazê-lo, eles não exprimem necessariamente a opinião
Assim, essa nova visão de mundo foi compreendida
dos próprios autores. Mas eles dão testemunho – o que
a partir de um único caminho: o da fé e da religião. para nós importa aqui – de um sentimento amplamente
b) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e difundido na cultura dirigente.
início do XV. Foi marcado por um espírito científico, DELUMEAU, J. O pecado e o medo. Bauru: EDUSC, 2003, p.31.
de valorização da razão e do raciocínio lógico, co-
locando o ser humano como centro do universo. O famoso autor do teatro inglês, que compôs sua obra
c) Surgiu na Península Itálica no século XVI. Promoveu no m da fase conhecida como Renascimento foi
mudanças políticas, econômicas e sociais baseadas a) Nicolau Maquiavel.
nas ideias de liberdade, igualdade e fraternidade. b) William Shakespeare.
d) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV c) Lord Byron.
e início do XV. Nesse contexto, muitos artistas e d) Edgar Allan Poe.
Exercícios propostos
1. Unicamp 2014 No Natal de 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador dos Romanos. O Imperador
FRENTE 2
233
2. Fuvest 2017
Percival, Cavaleiro da
Távola Redonda na lenda
arturiana, invocando Deus e
o mensageiro. Chrétien de
Troyes, Le Conte du Graal,
início do século XII (BnF).
Esta imagem integra o manuscrito de uma das mais notáveis obras da cultura medieval. A alternativa que melhor
caracteriza o documento é:
a) Fábula que enuncia o ideal eclesiástico, mescla a aventura cavalheiresca, o amor romântico e as aspirações reli-
giosas que simbolizaram o espírito das cruzadas.
b) Poema inacabado que narra a viagem de formação de um cavaleiro e a busca do cálice sagrado; sua composição
mistura elementos pagãos e cristãos.
c) Cordel muito popular, elaborado com base nos épicos celtas e lendas bretãs, divulgado para a conversão de fiéis
durante a expansão do Cristianismo pelo Oriente.
d) Peça teatral que serviu para fortalecer o espírito nacionalista da Inglaterra, unindo a figura de um governante
invencível a um símbolo cristão.
e) Romance que condensa vários textos, empregado pela Igreja para encorajar a aristocracia a assumir uma função
idealizada na luta contra os inimigos de Deus.
3. Famema 2019 O problema das “origens” do feudalismo gerou inúmeras polêmicas sobre o fim do Império Romano no Oci-
dente (século V) e o surgimento das instituições feudais. Comumente, aceita-se a tese da junção de formas sociais romanas e
germânicas que, justapostas, engendrariam as bases da sociedade feudal. Outros historiadores têm procurado ver na própria crise
interna do império, particularmente a partir do século III, as causas da decadência romana e sua fragilidade em face dos bárbaros.
(Francisco C. T. da Silva. Sociedade feudal, 1982. Adaptado.)
(https://en.wikipedia.org/wiki/
File:Bayeux_Tapestry_scene23_
Harold_sacramentum_fecit_
Willelmo_duci.jpg)
Ela mostra um trecho da Tapeçaria de Bayeux (séc. XI d.C.), na qual o rei saxão Harold Godwinson jura delidade a
Guilherme, o conquistador. Qual relação social, existente no medievo, está expressa nessa imagem?
a) Suserania e vassalagem
b) Servidão e senhorio
c) Escravidão e dominação
234 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
d) Devoção e fidelidade 7. UFPR 2020
e) Obediência e trabalho
A ideologia apresentada por Aldalberon de Laon foi Ao tratar das doenças e dos tratamentos médicos na
produzida durante a Idade Média. Um objetivo de tal Idade Média, o texto
ideologia e um processo que a ela se opôs estão indi- a) reconhece a diversidade dos cuidados médicos
cados, respectivamente, em: em um universo sociorreligioso uniforme.
a) Justificar a dominação estamental / revoltas cam- b) caracteriza o avanço das ciências médicas na Euro-
FRENTE 2
235
9. Enem 2019 O cristianismo incorporou antigas práticas O excerto permite armar corretamente que a Igreja cristã
relativas ao fogo para criar uma festa sincrética. A igreja a) tornou-se uma instituição do Império Romano e
retomou a distância de seis meses entre os nascimentos sobreviveu à sua derrocada quando da invasão
de Jesus Cristo e João Batista e instituiu a data de come- dos bárbaros germânicos.
moração a este último de tal maneira que as festas do b) limitou suas atividades à esfera cultural e evitou
solstício de verão europeu com suas tradicionais foguei-
participar das lutas políticas durante o Feudalismo.
ras se tornaram “fogueiras de São João”. A festa do fogo e
c) manteve-se fiel aos ensinamentos bíblicos e
da luz no entanto não foi imediatamente associada a São
proibiu representações de imagens religiosas na
João Batista. Na Baixa Idade Média, algumas práticas tra-
dicionais da festa (como banhos, danças e cantos) foram
Idade Média.
perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de d) reconheceu a importância da liberdade religiosa na
Trento (1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações Europa Ocidental e combateu a teocracia imperial.
em torno do fogo e associá-las à doutrina cristã. e) combateu o universo religioso do Feudalismo e
CHIANCA, L. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e propagou, em meio aos povos sem escrita, o pa-
santos católicos. Revista Anthropológicas, n. 18, 200 (adaptado). ganismo greco-romano.
Com o objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada
no texto adotou as práticas descritas, que consistem em 12. Unesp 2016 Os mosteiros eram em primeiro lugar casas,
a) promoção de atos ecumênicos. cada uma abrigando sua “família”, e as mais perfeitas,
b) fomento de orientação bíblicas. com efeito, as mais bem ordenadas: de um lado, desde o
c) apropriação de cerimônias seculares. século IX, os mais abundantes recursos convergiam para
a instituição monástica, levando-a aos postos avançados
d) retomada de ensinamentos apostólicos.
do progresso cultural; do outro, tudo ali se encontrava or-
e) ressignificação de rituais fundamentalistas.
ganizado em função de um projeto de perfeição, nítido,
bem estabelecido, rigorosamente medido.
10. Enem PPL 2019 A ausência quase completa de
(Georges Duby. “A vida privada nas casas aristocráticas da França feudal”.
fantasmas na Bíblia deve ter favorecido também a von- História da vida privada, vol. 2, 1992. Adaptado.)
tade de rejeição dos fantasmas pela cultura cristã. Várias
passagens dos Evangelhos manifestam mesmo uma A caracterização do mosteiro medieval como uma
grande reticência com relação a um culto dos mor- “casa”, um “posto avançado do progresso cultural”
tos: “Deixa os mortos sepultar os mortos”, diz Jesus e um “projeto de perfeição” pode ser explicada pela
(Mt 8:21), ou ainda: “Deus não é Deus dos mortos, mas disposição monástica de
dos vivos” (Mt 22:32). Por certo, numerosos mortos são a) valorizar a vida privada, participar ativamente da
ressuscitados por Jesus (e, mais tarde, por alguns de seus vida política e combater o mal.
discípulos), mas tal milagre – o mais notório possível b) recuperar a experiência histórica e pessoal do
segundo as classificações posteriores dos hagiógrafos Salvador durante sua estada no mundo dos vivos.
medievais – não é assimilável ao retorno de um fantas- c) recolher-se a uma comunidade fechada para orar,
ma. Ele prefigura a própria ressurreição do Cristo três dias estudar e combater a desordem do mundo.
depois de sua Paixão. Antecipa também a ressurreição d) identificar-se com as condições de privação por
universal dos mortos no fim dos tempos. que passavam as famílias pobres, celebrar a tradi-
SCHMITT, J.-C. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. ção escolástica e agir de forma ética.
São Paulo: Cia. das Letras, 1999. e) reconhecer a humanidade como solidária e unida
De acordo com o texto, a representação da morte ga- num esforço de salvação da alma dos fiéis e dos
nhou novos signicados nessa religião para infiéis.
a) extinguir as formas de ritualismo funerário.
b) evitar a expressão de antigas crenças politeístas. 13. Unesp 2015 Os homens da Idade Média estavam persua-
c) sacramentar a execução do exorcismo de infiéis. didos de que a terra era o centro do Universo e que Deus
d) enfraquecer a convicção na existência de demônios. tinha criado apenas um homem e uma mulher, Adão e
e) consagrar as práticas de contato mediúnico trans- Eva, e seus descendentes. Não imaginavam que existissem
cendental. outros espaços habitados. O que viam no céu, o movi-
mento regular da maioria dos astros, era a imagem do que
havia de mais próximo no plano divino de organização.
11. Unesp 2017 A Igreja foi responsável direta por mais
(Georges Duby. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos, 1998.
uma transformação, formidável e silenciosa, nos úl- Adaptado.)
timos séculos do Império: a vulgarização da cultura
clássica. Essa façanha fundamental da Igreja nascente O texto revela, em relação à Idade Média ocidental,
indica seu verdadeiro lugar e função na passagem para a) o prevalecimento de uma mentalidade fortemen-
o Feudalismo. A condição de existência da civilização te religiosa, indicativa da força e da influência do
da Antiguidade em meio aos séculos caóticos da Idade cristianismo.
Média foi o caráter de resistência da Igreja. Ela foi a b) a consciência da própria gênese e origem, resultan-
ponte entre duas épocas. te das pesquisas históricas e científicas realizadas
(Perry Anderson. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo, 201. Adaptado.) na Grécia Antiga.
236 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
c) o esforço de compreensão racionalista dos fenômenos naturais, base do pensamento humanista.
d) a construção de um pensamento mítico, provavelmente originário dos contatos com povos nativos da Ásia e do
Norte da África.
e) a presença de esforços constantes de predição do futuro, provavelmente oriundos das crenças dos primeiros
habitantes do continente.
14. UFJF 2019 O mapa abaixo informa sobre rotas mercantis que conectavam Europa medieval, Ásia e África, entre os
séculos XI e XII:
Considerando-se a natureza e a incidência das rotas indicadas no mapa, é possível concluir que:
a) A Idade Média foi um período marcado por uma economia rural, fechada e pautada pela ausência de trocas
comerciais.
b) A possibilidade de oferta de produtos de luxo oriundos do norte da África e Ásia nas principais cortes europeias
é posterior à expansão marítima do século XV.
c) Cidades como Roma, Paris e Londres são construções modernas e representativas do estilo de vida contempo-
râneo, portanto, sem elos com o mundo pré-capitalista.
d) Durante a Idade Média existia uma circulação de produtos e pessoas, o que favoreceu a formação de redes
mercantis que conectavam diversas cidades.
e) O Mar Mediterrâneo serviu, durante a Idade Média, como barreira geográfica natural, o que favoreceu o isolamento
das diferentes regiões europeias.
O excerto sustenta que o acesso ao poder por meio da riqueza era secundário na Europa Ocidental até o século XIII,
quando
a) as monarquias nacionais sobrepuseram-se aos direitos da nobreza senhorial sobre os seus feudos.
b) o esfacelamento do poder imperial romano transferiu as funções de defesa militar para os burgueses das cidades.
c) os reis absolutistas constituíram seus exércitos com recursos de impostos arrecadados de banqueiros e comerciantes.
d) as atividades comerciais e artesanais produziram novos grupos sociais no interior das cidades medievais.
e) a fragmentação econômica do continente europeu foi substituída por um só padrão monetário.
16. Unesp 2017 Em Aire-sur-la-Lys, em 15 de agosto de 1335, Jean de Picquigny, governador do condado de Artois, permite ao
FRENTE 2
“maior, aos almotacés1 e à comunidade da cidade construir uma torre com um sino especial, por causa do mister da tecelagem e
de outros misteres em que vários operários deslocam-se habitualmente em certas horas do dia”.
Jacques Le Goff. Por uma outra Idade Média, 2013. Adaptado.
1
almotacé: inspetor municipal.
O texto revela
a) a persistência da concepção antiga de emprego do tempo, associada aos ciclos da natureza.
237
b) a persistência da concepção artesanal de em- 18. Enem 2018 A existência em Jerusalém de um hospital vol-
prego do tempo, associada à busca de maior tado para o alojamento e o cuidado dos peregrinos, assim
qualidade. como daqueles entre eles que estavam cansados ou doentes,
c) o surgimento de uma nova concepção de empre- fortaleceu o elo entre a obra de assistência e de caridade e
go do tempo, associada ao exercício do trabalho. a Terra Santa. Ao fazer, em 1113, do Hospital de Jerusalém
d) o surgimento de uma nova concepção de empre- um estabelecimento central da ordem, Pascoal II estimulava
go do tempo, associada à valorização do ócio. a filiação dos hospitalários do Ocidente a ele, sobretudo da-
e) a persistência da concepção eclesiástica de em- queles que estavam ligados à peregrinação na Terra Santa ou
em outro lugar. A militarização do Hospital de Jerusalém não
prego do tempo, associada à ditadura do relógio.
diminuiu a vocação caritativa primitiva, mas a fortaleceu.
DEMURGER, A. Os Cavaleiros de Cristo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002
17. FGV-SP 2018 Este documento, do século XIV, encontra- (adaptado).
-se nos arquivos de Assize, na ilha de Ely, na Inglaterra:
Adam Clymne foi preso como insurgente e traidor de seu O acontecimento descrito vincula-se ao fenômeno
juramento e porque traiçoeiramente com outros celebrou ocidental do(a)
uma insurreição em Ely. Penetrando na casa de Thomas a) surgimento do monasticismo guerreiro, ocasiona-
Somenour onde se apossou de diversos documentos e do pelas cruzadas.
papéis selados. E ainda, que o mesmo Adam no momen- b) descentralização do poder eclesiástico, produzi-
to da insurreição, estava andando armado e oferecendo da pelo feudalismo.
armas, levando um estandarte, para reunir insurgentes, c) alastramento da peste bubônica, provocado pela
ordenando que nenhum homem de qualquer condição, expansão comercial.
livre ou não, deveria obedecer ao senhor e prestar os ser- d) afirmação da fraternidade mendicante, estimula-
viços habituais, sob pena de degola. da pela reforma espiritual.
O acima mencionado Adam é culpado de todas as e) criação das faculdades de medicina, promovida
acusações. Pela ordem da justiça, o mesmo Adam foi le- pelo renascimento urbano.
vado e enforcado.
(Leo Huberman. História da riqueza do homem, 2008. Adaptado)
19. UFU 2018 Observe a imagem.
Considerando o documento, é correto armar que, no
século XIV,
a) as violentas revoltas e mortes de camponeses
foram provocadas pelo desespero em não conse-
guir pagar, em dinheiro, aos senhores feudais, as
novas taxas e o aumento das já existentes, além
da exigência de mais tempo de trabalho nas re-
servas senhoriais.
b) as revoltas camponesas aconteceram, tanto na In-
glaterra como na França, contra os cercamentos,
que empobreceram os trabalhadores e os obri-
garam a deixar a terra pelo não pagamento do
aumento dos aluguéis, o que enriqueceu ainda
mais os senhores da terra.
c) a impossibilidade de juntar dinheiro para a com-
pra da terra onde trabalhavam fez com que
muitos camponeses se revoltassem, porque se Pintura medieval de 1411. <http://brasilescola.uol.com.br/oque-e/historia/o-
que-foi-a-peste-negra.htm>
colocaram contra os senhores que aumentaram
os impostos e exigiram o pagamento de novos;
Essa pintura retrata um dos fatores que contribuíram
algo considerado ilegal.
para a derrocada do sistema feudal na Europa Medieval.
d) o recrudescimento da servidão decorria de uma Sobre o contexto abordado, é correto armar que a
nova estrutura econômica presente na Inglaterra, rápida disseminação da peste negra decorreu em
onde as pequenas propriedades rurais e os campos grande parte em função
comunais perdiam espaço para os latifúndios pro- a) da circulação de mercadorias na Europa total-
dutores de matéria-prima para a nascente indústria. mente urbanizada.
e) as insurreições camponesas ocorridas na Ingla- b) do reforço do sistema servil, que debilitou ainda
terra e parte do Norte da Europa decorreram do mais os camponeses.
rápido processo de dissolução dos laços servis c) da crença na ira divina, que dificultava a cura pela
de produção, dirigido por uma nova elite de pro- medicina.
prietários rurais, que detinha forte representação d) do baixo nível nutricional e das precárias condi-
no Parlamento inglês. ções sanitárias dos indivíduos.
238 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
20. UEL 2018 (Adapt.) Leia o texto, analise a gura a se- e) Devido ao grande número de vítimas da Peste
guir e responda à(s) questão(ões). Negra, a sociedade na Baixa Idade Média se tor-
nou indiferente à morte, entendendo-a apenas
A Peste Negra, ou Morte Negra, era assim chamada
como uma passagem à vida eterna.
porque no seu desenvolvimento provocava hemorragias
subcutâneas, que assumiam uma coloração escura no
momento terminal da doença. A morte dava-se entre três 21. Fac. Albert Einstein 2017 [Na Europa, criaram-se] con-
e sete dias, depois de contraída a patologia, e levava de dições favoráveis para o estudo da Medicina (...). Um fator
75% a 100% dos acometidos. O agente causador da peste decisivo (...) foi a retomada da herança antiga. (...) Em boa
era transmitido pelo rato, por meio das pulgas e sua pene- parte, o Ocidente tomou contato com a herança científica
tração na pele humana causava uma adenite aguda, que clássica graças às culturas bizantina e muçulmana. A partir
recebia o nome de “bubão”, principal sintoma da doença. do século XII foram feitas inúmeras traduções do grego e do
Daí também o nome de peste bubônica. árabe para o latim, um pouco em Veneza (por seus contatos
(SIMONI, K. De peste e literatura: imagens do Decameron de Giovanni Boc- com Bizâncio), um pouco na Sicília (anteriormente ocupa-
caccio. Anuário de Literatura Umbral. Disponível em: <https://periodicos.ufsc. da por bizantinos e islamitas) e sobretudo na Espanha.
br/index.php/literatura/article/viewFile//882>. Acesso em: 2 jun. 201.) FRANCO JR. Hilário. A Idade Média, Nascimento do Ocidente. São Paulo:
Brasiliense, 2001, pp. 18
c) Na maioria dos países, a epidemia de Peste Ne- a) a literatura medieval era dominada pelo tema reli-
gra assolou burgos e castelos, mas preservou os gioso imposto pela Igreja Católica; nesse período
camponeses do contágio, por estarem eles isola- não se escreveu sobre nada que não estivesse
dos no campo. no Livro Sagrado.
d) Por viverem nos mosteiros, os membros da Igreja b) a educação formal espalhou-se pela Europa atra-
foram poupados da Peste Negra, reforçando a ima- vés da Igreja Católica, à qual estavam ligadas as
gem do clero como estamento de origem divina. escolas e as universidades medievais.
239
c) a filosofia escolástica nascida nas universidades Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:
católicas opunha-se à fusão da fé cristã com o a) F, V, V, V. c) V, V, F, F.
pensamento racional humanista. b) V, F, V, F. d) F, F, F, V.
d) apesar de controlar a literatura, as artes plásticas
ficaram livres de qualquer tipo de cerceamento 25. UFSC No final do período moderno, a Europa passou
religioso por parte da Igreja Católica. por profundas mudanças em várias áreas. Nesse con-
texto se insere o movimento cultural conhecido como
23. Fuvest 2017 Renascimento. Em relação a este tema, examine as
proposições abaixo e assinale a(s) CORRETA(S).
O Renascimento teve início na Península Itálica,
centro de um ativo comércio no Mediterrâneo.
A burguesia em ascensão nesse período, ávida
por lucros, dedicou-se ao comércio, desprezando
completamente a área cultural.
Uma das marcas mais significativas do Renascimento
foi o racionalismo, o qual se expressava na convicção
de que tudo poderia ser explicado pela observação
objetiva da natureza e pelo exercício da razão.
Estão diretamente relacionados ao Renascimento
expoentes como: Leonardo da Vinci, Michelange-
lo Buonarotti, Albert Einstein e Nicolau Copérnico.
Alexander Anievas e Kerem Nisancioglu, How the West Came to Rule. The O Renascimento foi profundamente antropocêntri-
Geopolitical Origins of Capitalism. Londres: PlutoPress, 2015. Adaptado.
co, por entender que o ser humano era a obra mais
Encontram-se assinaladas no mapa, sobre as frontei- perfeita do Criador. Dessa forma, a arte renascen-
ras dos países atuais, as rotas eurasianas de comércio tista passou a valorizar a realidade da vida humana.
a longa distância que, no início da Idade Moderna, cru- O Renascimento foi um movimento cultural que se
zavam o Império Otomano, demarcado pelo quadro. limitou às artes plásticas, não atingindo a literatura.
A respeito dessas rotas, das regiões que elas atraves- Soma:
savam e das relações de poder que elas envolviam, é
correto armar que 26. Unesp 2017
a) a China, com baixo grau de desenvolvimento po-
lítico e econômico, era exportadora de produtos
primários para a Europa.
b) a Índia era uma economia fracamente vinculada
ao comércio a longa distância, em vista da pouca
demanda por seus produtos.
c) a Europa, a despeito do poder otomano, exercia
domínio incontestável sobre o conjunto das ativi-
dades comerciais eurasianas.
d) a África Ocidental se encontrava em posição
subordinada ao poderio otomano, funcionando
como sua principal fonte de escravos.
e) o Império Otomano, ao intermediar as trocas a
longa distância, forçou os europeus a buscar ro-
tas alternativas de acesso ao Oriente.
e a cosmologia aristotélica. Ainda no mesmo ano, Gali- Estão corretas apenas as armações
leu foi intimado a comparecer à Congregação do Santo
a) I, II e III.
Ofício em Roma, acusado de defender as ideias de Co-
pérnico, consideradas heréticas pela Igreja. b) II, III e IV.
Considerando o contexto histórico do processo e c) I, III e IV.
da condenação de Galileu Galilei pela Inquisição de d) I e II.
Roma, assinale a alternativa correta. e) III e IV.
241
Texto complementar
Guia Medieval
O que é o Guia Medieval?
Um indexador de materiais didáticos e bibliográficos sobre o período medieval, produzido por especialistas da América Latina. A ideia era
agrupar conteúdos on-line sobre a história medieval, como artigos, livros, conferências e videoaulas. “Constatamos a necessidade de melhor
divulgar a produção científica sobre o período medieval realizada por pesquisadores latino-americanos”, conta Marcelo Cândido, coordenador
do Laboratório de Estudos Medievais (Leme) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Quem produziu?
Pesquisadores do Laboratório de Estudos Medievais (Leme) da USP. [...]. O financiamento é do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP. A atual equipe do Guia Medieval é formada por 20 pessoas
da comunidade USP, entre professores, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e alunos de graduação. Há ainda a participação de uma
designer e de um programador.
Como usá-lo?
Quem acessa o site encontra as informações divididas em diferentes categorias, como cronologia, regiões geográficas e temas de pesquisa.
Entre as formas de navegação, há a busca por assuntos de interesse, viagem por séculos ou espaços geográficos. O guia pode ser usado por
pesquisadores e demais interessados em história medieval. Além dos materiais escritos, há conteúdo audiovisual na plataforma, como podcasts
e videoaulas.
O que você encontra no Guia?
Atualmente são 600 documentos entre artigos, livros, podcasts, teses e videoaulas. São informações do século 5 ao 16, mas também há
materiais sobre o pós-Idade Média, como o “Neomedievalismo”. O termo é usado para se referir à interpretação que jogos e séries, como Game
Of Thrones, fazem sobre o período medieval. “É a reflexão sobre que tipo de Idade Média se produz nesse tipo de apropriação”, explicou Thiago
Ribeiro, pesquisador que lidera o projeto do guia
[...]
SANTANA, Crisley. O que você quer saber sobre a Idade Média? Guia da USP ajuda a encontrar. Jornal da USP, 10 dez. 2020. Disponível em:
https://jornal.usp.br/universidade/o-que-voce-quer-saber-sobre-a-idade-media-guia-da-usp-ajuda-a-encontrar/. Acesso em: 28 jul. 2021.
Resumindo
• A relação horizontal de suserania e vassalagem, herdeira, por um lado, do clientelismo romano e, por outro, do comitatus
bárbaro, constituiu em um pacto entre um nobre (o suserano) e outro (o vassalo). Geralmente, o suserano concedia um feudo
ao mais jovem em troca de lealdade e proteção.
• A servidão, herdeira, por um lado, do colonato romano e, por outro, da degradação de camponeses germânicos, consistiu no
fato de o servo, ligado à terra, dever uma série de impostos e obrigações ao senhor feudal. Trata-se de uma relação de tipo
vertical, por envolver ordens distintas.
• Os senhorios, herdeiros, por um lado, dos latifúndios romanos e, por outro, da distribuição de terras dos bárbaros, podem
ser chamados também de “feudos”, embora o feudo nem sempre seja um senhorio. O senhorio, unidade básica do modo de
produção feudal, é constituído pelas terras em que se localizam os servos (manso servil), as terras comuniais (manso comunal)
e as terras senhoriais (manso senhorial).
• A Igreja cristã, se foi, por um lado, o principal aqueduto sobre o qual passavam as reservas do mundo clássico, foi, por outro,
uma instituição que adotou costumes e valores dos povos germânicos. Desse modo, ao longo da Idade Média, processa-se
a cristianização da Europa, o que não se deu de forma homogênea ou inconteste.
• A partir do século IX, os monarcas, por um lado, são considerados sagrados como os últimos imperadores romanos (herança
clássica), mas, por outro, possuem funções práticas reduzidas e se submetem aos aristocratas, como acontecia com os líderes
bárbaros (herança germânica). Por isso, em relação ao que ocorre posteriormente, dizemos que o mundo feudal possui a
soberania “parcelada”, dado que há uma poderosa fragmentação no que diz respeito aos costumes, às línguas, às moedas,
aos impostos e a outros elementos da vida social.
• Perde-se a ideia de um exército unificado, do mundo antigo, os quais são substituídos pelos fragmentados exércitos feudais.
Se, por um lado, os costumes guerreiros bárbaros permanecem, por outro, surge a figura do “cavaleiro de Cristo”, muito forte
em lendas medievais como o Santo Graal, típica mistura cristã-romana-germânica.
• Na Baixa Idade Média, teve início um processo de transformação das Artes e das Letras, ancorado no exemplo clássico, geral-
mente chamado de Renascimento Cultural. O Renascimento teve como protagonistas, em primeiro lugar, os humanistas, isto
é, aqueles que trabalhavam nas universidades valorizando o estudo das humanidades para além do trivium e do quadrivium
medievais, e, em segundo lugar, o trabalho de pintores, escultores e arquitetos, geralmente feito nos ateliês, de acordo com
a noção da corporação de ofício medieval e sob patrocínio dos grandes mecenas.
242 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa Ocidental e o início da primeira modernidade
Quer saber mais?
Exercícios complementares
O trecho acima foi extraído de um documento inglês do século XI e diz respeito a uma típica relação feudal. A relação
em evidência é a
a) Vassalagem: relação recíproca entre senhores em que fica acordado a proteção por parte do Suserano e o trabalho
nos campos por parte do Vassalo.
b) Servidão: relação vertical entre senhores e camponeses que, uma vez presos à terra, não podem abandonar suas
obrigações nos feudos.
c) Vassalagem: relação horizontal entre senhores a qual cria uma teia de alianças políticas e uma maior descentra-
lização do poder.
d) Servidão: relação entre senhores e servos a qual estabelece um acordo de proteção e ajuda econômica em troca
de terras para o plantio.
e) Vassalagem e Servidão: relações equivalentes entre nobres e servos em que os vassalos asseguram o trabalho
nas terras senhoriais.
2. UFPR 2019 Leia o trecho abaixo, retirado de uma carta escrita entre 830 e 840 pelo aristocrata franco Eginhardo, em
favor de camponeses:
Ao nosso mui querido amigo, o glorioso conde Hatton, Eginhardo, saudação eterna do Senhor. Um dos vossos servos, de
nome Huno, veio à igreja dos santos mártires Marcelino e Pedro pela falta que cometeu contraindo casamento
sem o vosso consentimento [...]. Vimos, pois, solicitar a vossa bondade para que em nosso favor useis de indulgência em
FRENTE 2
relação a este homem, se julgais que a sua falta pode ser perdoada. Desejo-vos boa saúde com a graça do Senhor.
Cartas de Eginhardo. Tradução de Ricardo da Costa. Extratos de documentos medievais sobre o campesinato (sécs. V-XV). Disponível em: <https://www.ricardocos-
ta.com/extratos-de-documentos-medievais-sobre-o-campesinato-secs-v-xv#footnoteref19_nuc8key>. Acesso em 11 de agosto de 2018.
No extrato acima, encontramos elementos da vida social e econômica do período medieval europeu (Alta Idade Mé-
dia). Esse documento insere-se em qual sistema social, político e econômico predominante nesse contexto?
243
a) Feudalismo, caracterizado pela ruralização da economia, pela relação senhorial entre nobres e servos e pela
atuação social e política da Igreja Católica.
b) Mercantilismo, caracterizado pela urbanização da economia, pela relação senhorial entre nobres e camponeses
e pela atuação social e política da Igreja Protestante.
c) Socialismo, caracterizado pela ruralização da economia, pela relação remunerada entre nobres e servos e pela
atuação cultural e política da Igreja Cristã.
d) Mercantilismo, caracterizado pela urbanização da economia, pela relação campesina entre nobres e vassalos e
pela atuação social e política da Igreja Ortodoxa.
e) Feudalismo, caracterizado pela urbanização da economia, pela relação agrária entre o clero e os servos e pela atua-
ção social e cultural da Igreja Cristã.
3. Unesp 2018
Empunhando Durendal, a cortante,
O rei tirou-a da bainha, enxugou-lhe a lâmina
Depois cingiu-a em seu sobrinho Rolando
E então o papa a benzeu.
O rei disse-lhe docemente, rindo:
“Cinjo-te com ela, desejando
Que Deus te dê coragem e ousadia,
Força, vigor e grande bravura
E grande vitória sobre os infiéis.”
E Rolando diz, o coração em júbilo:
“Deus mo conceda, pelo seu digno comando.”
La Chanson d’Aspremont, século XII. Apud Georges Duby. A Europa na Idade Média, 1988.
a) Qual é a cerimônia medieval descrita no texto? Identifique dois versos do texto que contenham elementos religiosos.
b) Qual é a relação entre o rei e Rolando, personagens do poema? O que essa relação representa no contexto do
feudalismo?
4. UEM 2018 Sobre a sociedade feudal europeia, assinale o que for correto.
No feudalismo havia dois segmentos sociais importantes, e a posse de terra era um critério que os diferenciava.
De um lado, os senhores feudais, que detinham a posse das terras e o controle do trabalho servil; de outro, os
servos, vinculados à terra e sem possibilidades de ascender socialmente.
As relações entre suseranos e vassalos eram caracterizadas pela reciprocidade, de modo que a concessão de
um feudo (beneficium) pelo suserano gerava, como contrapartida, a fidelidade do vassalo.
As relações entre senhores e servos eram baseadas na ajuda mútua (recompensa aos agricultores de acordo
com a produtividade), costume que foi introduzido na Europa a partir do século VI pelos muçulmanos.
Concomitantemente à gênese do feudalismo, ocorreu na Europa a ascensão do cristianismo e sua institucionali-
zação, consolidando-se o poder particularista dos senhores feudais e o poder universal da Igreja.
O feudalismo tinha por base uma economia agrária, que se voltava para a autossuficiência e que usava moedas
de forma muito restrita.
Soma:
5. UEM 2017 Sobre a ação da Igreja Católica durante a Idade Média, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
Os anacoretas eram monges que viviam agrupados em comunidades urbanas, no vale do rio Sena, no norte da
França, onde mais tarde foi fundada a cidade de Paris.
O movimento monástico se desenvolveu nas regiões rurais da Europa, sobretudo a partir do século V, e acolhia,
em suas comunidades, principalmente a população marginalizada socialmente.
Um dos primeiros reis bárbaros que se converteu à fé cristã foi Clóvis, rei dos francos, no final do século V. Ele foi
o primeiro rei bárbaro a governar com o apoio da Igreja Católica.
A conversão dos povos pagãos muitas vezes foi acompanhada de atos de extrema violência, como os que ocor-
reram contra os saxões, que se recusavam a aceitar o cristianismo. No final do século VIII, milhares de prisioneiros
saxões foram decapitados por não aceitarem o batismo cristão.
Carlos Magno foi um dos imperadores europeus que não aceitou a religião católica, motivo pelo qual foi exco-
mungado pelo Papa.
Soma:
244 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
6. UEL 2018 Leia o texto a seguir.
A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outros combatem e os outros, enfim, tra-
balham. Essas três partes que coexistem não sofrem com a sua disjunção; os serviços prestados por uma são a condição da
obra das outras duas; e cada uma, por sua vez, se encarrega de aliviar o todo. De modo que essa tripla associação nem por
isso é menos unida, e é assim que a lei tem podido triunfar e que o mundo tem podido gozar de paz.
Adalbéron de Laon (c. 1020). Apud LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 198. p. -.
Essa imagem representa o famoso Elefante de Cremona, um presente que o Sultão Al-Kamil, do Egito, deu para o
Sacro Imperador Romano-Germânico Frederico II em 1229. Esse fato indica que as relações internacionais nesse
período se caracterizavam
a) por conflitos e diplomacia.
b) pelo isolamento entre muçulmanos e cristãos.
c) unicamente pelas guerras.
d) exclusivamente por trocas comerciais.
e) pelo privativo da corte papal em Roma.
8. UEL 2017 A respeito do período conhecido como Idade Média, durante muito tempo, historiadores e literatos refe-
riam-se a esses séculos como “Idade das Trevas”. Segundo a historiadora Nuncia S. de Oliveira, por mais que se tenha
repensado essas ideias, elas ainda persistem na atualidade. Para a autora,
afinal, quantas vezes não ouvimos críticas àqueles que porventura têm um comportamento fora daqueles tidos
como “civilizados” serem chamados de “bárbaros”? Quantas vezes não encontramos o adjetivo medieval ser usado
para definir comportamentos violentos? Ou ainda, quem nunca ouviu alguém dizer “não vivemos mais na Idade
Média” desejando exaltar a mudança de comportamentos para atitudes “inovadoras” ou “modernas”?
OLIVEIRA, N. S. O estudo da Idade Média em livros didáticos e suas implicações no Ensino de História. Cadernos de Aplicação. n. 1. v. 23. jan/jun. 2010, p.101-12.
A respeito dessas armações que a autora cita, responda aos itens a seguir.
a) Por que se construiu a ideia de Idade Média como a autora coloca?
b) Pode-se ou não contestar essa noção sobre a Idade Média? Justifique sua resposta.
9. Fuvest 2016 No século XII, padres e guerreiros esperavam da dama que, depois de ter sido filha dócil, esposa clemente,
mãe fecunda, ela fornecesse em sua velhice, pelo fervor de sua piedade e pelo rigor de suas renúncias, algum bafio de santi-
dade à casa que a acolhera. Ela, por certo, era dominada. Entretanto, era dotada de um singular poder por esses homens que
FRENTE 2
a temiam, que se tranquilizavam clamando bem alto sua superioridade nativa, que a julgavam, contudo, capaz de curar os
corpos, de salvar as almas, e que se entregavam nas mãos das mulheres para que seus despojos carnais depois de seu último
suspiro fossem convenientemente preparados e sua memória fielmente conservada pelos séculos dos séculos.
Georges Duby, Damas do século XII. Adaptado.
A partir do texto,
a) identifique dois papéis sociais exercidos pelas mulheres na Idade Média;
b) associe as relações entre homens e mulheres à estrutura social na Idade Média.
245
10. Unicamp 2016 Reproduz-se, abaixo, trecho de um sermão do bispo Cesário de Arles (0-2), dirigido a uma pa-
róquia rural.
Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível,
pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os
mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?
Fonte: http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=co_content&view=article&id=139:
sao-cesario-de-arles-sermao-13-parauma-paroquia-rural&catid=28: outros-artigos&Itemid=28.
A partir desse sermão, escrito no sul da atual França, é correto armar que:
a) A Igreja Católica assumia funções espirituais e deixava à nobreza o cuidado da saúde dos camponeses, através
de ordens religiosas e militares.
b) O cristianismo tinha penetrado em todas as categorias sociais e era interpretado da mesma forma através da
autoridade dos bispos.
c) Práticas consideradas menos ortodoxas por Cesário de Arles ainda encontravam espaço em setores da socieda-
de e a elite da Igreja tentava se afirmar como o único acesso ao sagrado.
d) O avanço do materialismo estava afastando da Igreja os camponeses, que, com isto, deixavam de pagar os dízi-
mos eclesiásticos.
11. UEM 2016 As Cruzadas foram expedições de caráter militar e religioso organizadas pela Igreja Católica. O termo
“cruzada” é uma referência aos trajes usados pelos participantes, que traziam em suas vestimentas uma cruz verme-
lha bordada na altura do peito, simbolizando a relação do homem com Deus.
Sobre os objetivos das Cruzadas, assinale o que for correto.
Isentar os servos do pagamento da corveia (prestação de trabalho gratuito) aos senhores feudais.
Conquistar os territórios americanos recém-descobertos por Cristóvão Colombo para realizar a catequização das
populações indígenas.
Expulsar os muçulmanos de Jerusalém, cidade considerada pelos cristãos como Terra Santa, já que foi nesta
cidade que Jesus Cristo foi crucificado e sepultado.
Restituir a unidade cristã nas terras do Império Bizantino e ampliar o poder, naquela região, da Igreja Católica, já
que estava enfraquecido pela fundação da Igreja Ortodoxa.
Perseguir os cátaros ou albigenses que viviam em território francês, mas mantinham autonomias política e religiosa.
Soma:
Quando, no século XI, o papa Urbano II convocou a Primeira Grande Cruzada ao Oriente, usou como justicativa para
tamanha movimentação de tropas e recursos o projeto de
a) reafirmar a universalidade da fé católica, ameaçada pelas conversões em massa dos cristãos do Oriente ao islamismo.
b) reunificar os Impérios Romano do Oriente e do Ocidente, separados desde o Édito de Tessalônica de 5.
c) retomar a posse de reinos cristãos ibéricos ocupados por muçulmanos, num projeto militar chamado de Reconquista.
d) defender os cristãos do Oriente e a retomada dos “lugares santos” que estavam em posse dos muçulmanos.
e) punir os cavaleiros cristãos que desobedeciam a Paz e a Trégua de Deus, enviando-os em missão suicida ao Oriente.
13. Unicamp 2018 A ideia de que a demanda de especiarias resultava da necessidade de disfarçar o gosto da carne e do peixe
putrefatos é um dos grandes mitos da história da alimentação. Na Europa medieval, os alimentos frescos eram mais frescos que
os atuais, pois provinham da produção local. Os alimentos em conserva mantinham-se em salga, curtição, dessecação ou gor-
dura, assim como hoje em dia são enlatados, refrigerados, liofilizados ou embalados a vácuo. De qualquer forma, os aspectos
determinantes do papel desempenhado pelas especiarias na gastronomia eram o gosto e a cultura. A cozinha muito temperada
com especiarias era objeto de desejo por ser cara e por “condimentar” a posição social dos ricos e as aspirações de quem
ambicionava sê-lo. Além disso, a moda gastronômica predominante na baixa Idade Média europeia imitava as receitas árabes,
que exigiam sabores doces e ingredientes fragrantes: leite de amêndoa, extratos de flores aromáticas e outras iguarias orientais.
Adaptado de Felipe Armesto-Fernández, 1492: o ano em que o mundo começou. São Paulo: Companhia das Letras, 201, p. 2.
246 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
14. Unesp Era uma doença exótica, contra a qual os organismos dos europeus não tinham defesas. Veio da Ásia pela rota da
seda. Veja: a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento.
Georges Duby. Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos, 1998.
O texto refere-se à peste que atingiu a Europa no século XIV. Indique dois fatores, além da falta de defesa dos organismos
dos europeus, que ajudaram na propagação da doença, e explique a associação, feita pelo texto, da peste com o progresso.
15. UFSC Na Idade Média, entre os séculos XII e XV, verificou-se uma ascensão da economia europeia. No entanto,
dentro desse período, em meados do século XIV, ocorreu uma significativa retração econômica. Em relação a este
assunto, é CORRETO afirmar que:
a crise econômica verificada em meados do século XIV se deveu às Cruzadas, movimento religioso que deslocou
milhares de homens em idade produtiva rumo ao Oriente Médio.
a Peste Negra acarretou uma drástica diminuição da população, com reflexos diretos na economia.
tudo indica que a Peste Negra originou-se no Oriente, matando mais de um terço da população europeia.
a crise econômica gerada pela Peste Negra foi o marco decisivo para o fim do sistema feudal.
como forma de fugir da Europa infectada pela Peste Negra, milhares de europeus se dispuseram a seguir as Cruza-
das para libertar Jerusalém sitiada.
a ascensão econômica entre os séculos XII e XV foi uma realidade exclusiva dos países ibéricos, em função das
grandes navegações lá iniciadas.
Soma:
16. UFPR 2015 Sobre Joana D’Arc, o historiador Jules Michelet escreveu:
Pela primeira vez, sente-se, a França é amada como uma pessoa, e ela torna-se tal desde o dia em que a amam. Até ali era uma
reunião de províncias, um vasto caos feudal, um país imenso, de ideia vaga. Mas desde esse dia, pela força do coração é uma pátria.
MICHELET, Jules. Joana D' Arc. São Paulo: Fulgor, 19, p. 1.
Comente esse excerto, explicando as consequências da Guerra dos Cem Anos (133-13) para a França e para o
sistema feudal.
17. Unesp [Na Idade Média], chamava-se ‘lepra’ a muitas doenças. Toda erupção pustulenta, a escarlatina, por exemplo,
qualquer afecção cutânea passava por lepra. Ora, havia, com relação à lepra, um terror sagrado: os homens daquele tempo
estavam persuadidos de que no corpo reflete-se a podridão da alma. O leproso era, só por sua aparência corporal, um pe-
cador. Desagradara a Deus e seu pecado purgava através dos poros.
Georges Duby. Ano 1000 Ano 2000. Na pista de nossos medos. São Paulo: Unesp, 1998.
O texto mostra a associação entre doença e religião na Idade Média. Isso ocorre porque os homens do período
a) abandonaram o conhecimento científico, acumulado na Antiguidade, sobre saúde e doença; daí a época medie-
val ser apropriadamente chamada de “era das trevas”.
b) recusavam-se a admitir que as condições de higiene então existentes fossem inadequadas e preferiam criar
explicações astrológicas para os males que os afligiam.
c) estigmatizavam os portadores de doenças e os isolavam, ao contrário do que ocorre hoje, quando todos os do-
entes são aceitos no convívio social e recebem tratamento adequado.
d) eram marcados pelo imaginário cristão, que apresentava o mundo como um espaço de conflito ininterrupto
entre forças divinas e forças demoníacas.
e) rejeitavam a medicina, pois a associavam a práticas mágicas e a curandeirismo, preferindo recorrer a exorcistas a
aceitar os tratamentos prescritos nos hospitais.
18. UFRGS 2015 Considere as seguintes afirmações acerca das relações entre o Oriente e o Ocidente no mundo medieval.
I. Uma das causas da queda do Império Romano do Ocidente foi a expansão do islamismo pelo território da Europa
ocidental.
II. A cultura árabe legou para as sociedades europeias estudos sobre autores como Platão e Aristóteles, estabele-
FRENTE 2
247
19. UFSC 2015 Sobre o período conhecido como Idade Média, é CORRETO afirmar que:
o romance de cavalaria foi um gênero literário que divulgou ideias de amor cortês.
a peste negra foi uma doença que teve graves consequências para a sociedade medieval, dizimando parte da
população europeia.
as universidades criadas no período tiveram importante papel no desenvolvimento da cultura e do ensino no
Ocidente.
a formação das corporações de ofício está relacionada à efervescência comercial da Europa no início da Idade Média.
várias dissidências da Igreja surgiram no período, como foi o caso dos cátaros. Devido ao acolhimento à diversi-
dade defendido pela Igreja, as comunidades cátaras puderam ser mantidas.
o cristianismo difundido pela Igreja penetrou de tal maneira em todas as camadas da sociedade medieval que foi
capaz de anular as crenças pagãs de origem antiga.
as ordens mendicantes foram criadas por uma parcela do clero medieval que defendia o conceito de usura e
estimulava o acúmulo de bens e lucro.
Soma:
20. Unicamp 2015 Guerreiros a pé e cavaleiros fizeram um caminho através dos cadáveres. Mas tudo isso ainda era pouca
coisa. Fomos ao Templo de Salomão, onde os sarracenos tinham o costume de celebrar seus cultos. O que se passou
nestes lugares? Se dissermos a verdade, ultrapassaremos o limite do que é possível crer. Será suficiente dizer que, no
Templo e no pórtico de Salomão, cavalgava-se em sangue até os joelhos dos cavaleiros e até o arreio dos cavalos. Justo e
admirável julgamento de Deus, que quis que este lugar recebesse o sangue daqueles que blasfemaram contra Ele durante
tanto tempo.
Raymond d’Aguiller, Historia Francorum qui ceperunt Jerusalem. http://www.fordham.edu/halsall/source/raymond-cde.asp#jerusalem2.
Acessado em 01/10/201.
21. Mackenzie 2015 Durante o século XV, a Europa experimentou o início de uma expansão marítima, que é um marco
no início da europeização do mundo. Entre os motivos que levaram os portugueses a buscarem a Expansão Marítima,
podemos apontar
a) a queda de Constantinopla para o império turco otomano, em 45, levando os países católicos a buscarem um
novo caminho que os conduzissem à Terra Santa.
b) o crescimento da circulação monetária e a consequente estabilização dos preços, na época, permitindo o acú-
mulo de que passou a ser investido nas empreitadas marítimas.
c) o fortalecimento do poder dos monarcas europeus, que passaram a governar em caráter absolutista e centraliza-
ram todas as decisões do Estado em suas mãos.
d) a consolidação do sistema de manufaturas controladas pelas grandes corporações de ofício, que passaram a
financiar a Expansão Marítima em busca de novos mercados consumidores.
e) a necessidade da expansão comercial, que aumentaria os poderes do rei, manteria os privilégios da nobreza e
elevaria os lucros da burguesia, pois o controle comercial do Mediterrâneo pertencia aos italianos.
22. Uepa 2014 Produzir e divulgar livros em Portugal, no século XV, estava longe de ser uma tarefa tranquila. Em 1451, no
mesmo ano em que Johannes Gutenberg (1400-1468) revolucionava a Europa com a prensa mecânica, o rei Afonso V (1432-
1481) promulgava um alvará mandando queimar livros falsos ou heréticos, difundidos ainda como manuscritos. Foi sob este
clima de forte repressão cultural que o país adotou a tipografia, por volta de 1490. Durante o reinado de D. Manuel I, entre
1495 e 1521, o ofício ganhou impulso, graças à ação empreendedora de Valentin Fernandes, um alemão de nome lusitano.
Essa expansão, porém, não significou o fim da repressão.
ZILBERMAN, Regina. “Letras entre a cruz e a espada”. In: Revista História. Ano 2, nº 19, 200, p. 8.
A censura à publicação de livros no Império Português do século XVI, no contexto de expansão da arte tipográca
na Europa, se explica pelo fato de(a):
a) difusão das ideias humanistas através de obras de grande tiragem produzidas por escritores renascentistas por-
tugueses como Luís de Camões e Gil Vicente, ferozes opositores da doutrina católica.
b) preocupação geopolítica de controlar a difusão de ideias religiosas e políticas nas colônias americanas, de modo
a conter a notória expansão religiosa protestante na América Portuguesa, como ocorreu com a instalação da
França Antártica.
c) criação da tipografia ser avaliada pelo Tribunal do Santo Ofício como uma ameaça ao domínio ideo-
lógico católico na Península Ibérica, já abalado pela forte presença religiosa islâmica.
248 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
d) nova tecnologia ser vista pelo estado português de forma ambivalente: tanto como revolução cultural quanto
como instrumento de subversão dos princípios morais da sociedade civil e religiosa.
e) invenção dos tipos móveis ter sido feita por um alemão protestante, o que assinalava o perigo do domínio po-
lítico-religioso alemão da nova tecnologia, num contexto de disputa por espaços coloniais entre as potências
europeias.
a) Aponte três críticas realizadas pelo Renascimento ao modo de organização política, econômica e cultural do
período que denominamos hoje como medieval.
b) Indique três características econômicas presentes na Idade Média.
24. UFSC 2019 A imagem a seguir, conhecida como o Homem vitruviano (192), foi desenhada por Leonardo
da Vinci (12-119) e é acompanhada por diversas notas sobre anatomia. A obra pertence aos estudos de da Vinci
dedicados à representação do corpo humano, uma preocupação essencial dos artistas do Renascimento.
As mudanças resultantes do movimento renascentista causaram impactos em diversas áreas da sociedade europeia
e mundial. As artes, a literatura, as ciências e a medicina foram amplamente afetadas pelas mudanças conceituais
FRENTE 2
proporcionadas pelos rumos do Renascimento. Muitos artistas e estudiosos do período, como Leonardo da Vinci,
eram italianos e desenvolveram suas obras e pesquisas nas cidades italianas.
a) Por que a Península Itálica é reconhecida como o “Berço do Renascimento”? Apresente duas razões e justifique-as.
b) No centro dos ideais renascentistas estavam alguns conceitos considerados fundamentais, dois dos quais são
citados abaixo. Defina-os:
1. Antropocentrismo:
2. Racionalismo:
249
25. Unesp 2013 Podemos afirmar que as obras A divina comédia, escrita por Dante Alighieri no início do século XIV, e
Dom Quixote, escrita por Miguel de Cervantes no início do século XVII,
a) parodiaram as novelas de cavalaria e defenderam a hegemonia da Igreja Católica e da aristocracia, respectiva-
mente.
b) derivaram de registros orais e foram apenas organizadas e sistematizadas na escrita de seus autores.
c) contribuíram para a unificação e o estabelecimento da forma moderna dos idiomas italiano e espanhol.
d) assumiram forte conotação anticlerical e intensificaram as críticas renascentistas à conduta e ao poder da Igreja
Católica.
e) retrataram o imaginário da burguesia comercial ascendente na Itália e na Espanha do final da Idade Média.
26. FGV-RJ 2015 Observe atentamente a imagem abaixo e responda às questões propostas.
Os quatro evangelistas, iluminura de 820, Catedral de Rafael: Madonna Cowper, 1504/1505. National Figura3: Michelangelo: David,
Aachen, Alemanha. Gallery of Art, Washington. 1504. Galleria dell’Accademia.
Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_ Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ Fonte: Disponível em: <https://pt.wi-
carol%C3%ADngia>. Acesso em: ago. 201. wiki/Renascimento>. Acesso em: ago. 201. kipedia.org/wiki/Renasci mento>.
Acesso em: ago. 201.
250 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
No nal da Idade Média, a Europa Ocidental passou por transformações sociais, políticas e econômicas relacionadas
ao desenvolvimento do comércio e das cidades. E, no âmbito da cultura, as cidades italianas constituíam um ambiente
propício para a consolidação de um movimento de transformação cultural, o chamado Renascimento.
a) Disserte sobre uma transformação socioeconômica que possibilitou a afirmação da cultura renascentista na
Península Itálica.
b) Cite e analise um aspecto da cultura renascentista que entrava em conflito com os ensinamentos da Igreja.
c) Analise um aspecto do Renascimento no âmbito das artes.
28. UEPB 2014 Das universidades medievais italianas surgiram duas práticas culturais que teriam impacto na formação de
estudiosos: o estudo vernacular, a língua própria de um lugar, e a prática da retórica (...). Os letrados italianos, como Petrar-
ca e Leonardo Bruni, defendiam o uso do próprio idioma para se expressar, e não a língua oficial da cristandade, o latim.
A utilização de uma língua própria estimulava a adoção de expressões da particularidade de cada local, criando um estilo
próprio e negando a padronização feita por outros (...). A retórica tinha a função de educar e persuadir. O ato de estudar e
debater levava à reformulação dos pensamentos e à capacidade de expressar ideias publicamente.
José A. de Freitas Neto e Célio Ricardo Tasinafo. História Geral e do Brasil. SP. Editora Habra. p. 18.
29. Fuvest 2016 O grande mérito do sábio toscano estava exatamente na apresentação de suas conclusões na forma de “leis”
matemáticas do mundo natural. Ele não apenas defendia que o mundo era governado por essas “leis”, como também apre-
sentava as que havia “descoberto” em suas investigações.
Carlos Z. Camenietzki, Galileu em sua órbita. 01/02/201. www.revistadehistoria.com.br.
Tal como demonstra a citação de Giordano Bruno, sentenciado pela Inquisição à morte na fogueira, a magia desper-
tava o interesse de pensadores e cientistas que estudavam as formas de intervir nas forças da natureza, no período
entre os séculos XV e XVI. Com base no exposto,
a) explique como a citação de Giordano Bruno contraria os princípios que sustentaram a ação da Inquisição;
b) relacione a citação de Giordano Bruno aos valores renascentistas sobre o conhecimento humano.
BNCC em foco
EM13CHS105
1.
EM13CHS401
2.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13CHS101
3.
Aquele que jura fidelidade ao seu senhor deve ter sempre presente estas seis palavras: incólume, seguro, honesto, útil,
fácil e possível. Incólume, na medida em que não deve causar prejuízos corpóreos ao seu senhor; seguro, para que não
traia os seus segredos ou armas pelas quais ele se possa manter em segurança; honesto, para que não enfraqueça os seus
direitos de justiça ou outras matérias que pertençam a sua honra; útil, para que não cause prejuízo às suas possessões; fácil
ou possível, visto que não deverá tornar impossível ao seu senhor o que facilmente poderia fazer...
a)
b)
253
marinhos e abismos. Por fim, os versos “para El Rey, o Glorio- BNCC em foco
so, / não há mais trevas no mar”sugerem o estabelecimento da
primazia da Coroa portuguesa sobre importantes rotas maríti- 1. Um modo de desconstruir o discurso de apropriação do passado cria-
mas no início da Idade Moderna. do no século XIX por meio da narrativa histórica é relembrar que não
existe uma ideia de destino ou imutabilidade na história. As condições
9. A e os fatores que levaram Guerra de Reconquista e formação dos
reinos de Portugal e Espanha são totalmente distintos da realidade
10. a) As especiarias eram produtos de origem vegetal, como cravo, de Portugal quando da ascensão dos nacionalismos, a partir do sé-
canela e pimenta, considerados exóticos e muito apreciados culo XIX. A narrativa histórica também ajuda a quebrar a ideia de que
na Europa justamente por serem trazidos de terras distantes, um único povo teria direito quela terra, por ter se estabelecido nela há
como as Índias. Como o enunciado destaca, essas merca- eras. A história da humanidade é composta de migrações e contatos,
dorias eram caras e, portanto, apenas os mais ricos podiam portanto ideias como pureza geográfica e racial não se sustentam..
adquiri-las, reforçando a sua posição social.
2. O termo “Reconquista” é fruto da ideia de que a península Ibérica
b) O comércio de especiarias na Europa cresceu a partir das pertenceria cristandade europeia, herdeira do Império Romano,
Cruzadas, com a intensificação do comércio pelo mar Me- e deveria ser retomada das mãos dos invasores muçulmanos.
diterrâneo durante a Baixa Idade Média. Surgiram em várias O uso desse termo é problemático por várias razões: por legitimar a
partes da Europa feiras e rotas comerciais marítimas, fluviais e ideia de a península ter sido de fato invadida e conquistada, quan-
terrestres. As especiarias eram obtidas por meio de rotas que do a historiografia mais recente percebe o movimento dos árabes
como migrações; por dar a entender que a península pertencia
ligavam a Ásia ao Mediterrâneo. Os mercadores das cidades
cristandade; e por criar uma fronteira cultural entre muçulmanos
italianas, por exemplo, compravam as especiarias de Constan-
e cristãos que, na prática, não existiu.
tinopla e as revendiam em outras áreas da Europa.
3. Ao misturar a ideia de pertencimento territorial e a luta por uma
11. O mercantilismo era caracterizado pela busca de uma balança
causa maior, como Deus, a Guerra de Reconquista resultou em
comercial que mais exportasse do que importasse e pelo prote-
uma fusão de referências culturais e na ascensão de personagens
cionismo econômico.
históricos que moldaram a forma como a população se reconhe-
cia enquanto habitante do Reino de Espanha e como entendia sua
12. B
história. Também influencia pela negação de identidades, ao retirar
13. a) Portugal era favorecido por aspectos como: posição geográfi- muçulmanos e judeus do convívio social (e do país) até que se con-
ca; paz interna, fruto de relativa estabilidade política; formação vertessem ao cristianismo. Desse modo, a Guerra de Reconquista é
e reunião de navegadores, matemáticos, geógrafos e astrôno- a base de vários modos de pensar a Espanha e os espanhóis, nos
mos; tradição marítima e pioneirismo na formação do Estado diversos períodos históricos subsequentes, até os dias atuais.
Nacional Moderno.
b) Metalismo: acumulação de metais preciosos dentro do ter- Capítulo 2 – A formação das estruturas
ritório nacional. Identificação entre a riqueza de um país e coloniais
a quantidade de moedas em circulação no seu território.
Protecionismo: direito exclusivo dos governos sobre a co- Revisando
mercialização de certos produtos em todos os seus domínios,
principalmente nas colônias (pacto colonial). Imposição de bar- 1. E 6. Soma: 01 + 08 + 16 = 25
reiras tarifárias aos produtos estrangeiros. Balança comercial
favorável: volume de exportações superior ao de importações. 2. Soma: 01 + 04 + 08 = 13 7. E
Estímulo produção manufatureira e diminuição das importa-
ções. Posse de colônias de exploração como forma de garantir 3. C 8. C
a balança comercial favorável. Colonialismo: conquista e domí-
4. C 9. D
nio de territórios ultramarinos. A colônia como uma economia
complementar metrópole, com produção totalmente voltada 5. E 10. C
exportação.
Exercícios propostos
14. C
1. D 13. D
15. A expansão marítima portuguesa foi um dos principais episódios
da ambígua transição da Idade Média para a Idade Moderna, épo- 2. C 14. A
ca em que a cultura europeia estabelece as bases do pensamento
cientifico, ao mesmo tempo que mantinha uma forte carga de re- 3. B 15. D
ligiosidade (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”). Nesse
contexto de transformações materiais e espirituais, assistimos ao 4. E 16. D
prenúncio da integração econômica mundial (“Deus quis que a ter-
ra fosse toda uma”) e a constatação empírica da esfericidade da 5. B 17. A
Terra (“Surgir, redonda, do azul profundo”). Por fim, temos a conco-
6. B 18. B
mitância entre o apogeu das conquistas navais lusitanas e o início
da decadência do seu poderio político-econômico (“Cumpriu-se o 7. A 19. E
Mar, e o Império se desfez”).
8. E 20. D
16. Era dever do Estado, representado pelo rei, coordenar medidas
econômicas, de cunhos técnico e militar, para a realização das via- 9. E 21. C
gens ultramarinas e, como consequência, a exploração mercantil
nas colônias conquistadas. 10. C 22. A
34. Soma: 01 + 02 + 04 = 07 47. D 7. a) Na tabela, observa-se que havia populações indígenas distri-
buídas pela maior parte do território americano, as quais viviam
35. Soma: 01 + 04 = 05 48. D nas mais variadas formas de organização social e política. Não
36. Soma: 01 + 08 + 16 = 25 49. B obstante, salta aos olhos a maior densidade demográfica na
Cordilheira dos Andes, centro do Império Inca, e no México,
50. a) A instalação representada é um engenho; a força motriz utili- centro do Império Asteca, regiões onde viviam populações se-
zada é a água; a mão de obra predominante é a escravizada; dentárias, que desenvolveram complexas redes de estradas,
e o produto processado é o açúcar. técnicas agrícolas, obras de irrigação, sistemas de servidão
coletiva, centros cerimoniais e palácios.
b) A articulação entre essas regiões se dava por meio do tráfico
de escravizados para o Brasil. De Angola, pessoas eram trazi- b) À época do contato europeu, destacava-se, na Cordilheira
das como mão de obra escravizada para a Colônia. dos Andes, o Império Inca e, no antiplano central mexicano, o
Império Asteca (ou Mexica), além do decadente mundo maia,
Exercícios complementares na península de Yucatán. Todos os regimes constituem teo-
cracias com forte destacamento do poder real, no caso de
1. a) De acordo com o texto, Gil Vicente e Camões criticam “a bru- mexicas, comungando inclusive de uma mesma cosmologia.
talidade, a covardia, a avareza, a crueldade, a pilhagem e o
desprezo pelas sensibilidades, costumes, crenças e propriedade 8. B 9. D 10. B
dos locais” o que significava “o reverso da medalha do papel
de colonizadores”, podendo, inclusive, refletir negativamente 11. Os mapas representam objetos e realidades distintas. O primei-
e levar, “ degenerescência moral e o declínio das virtudes ro demonstra o território da América portuguesa e elementos
cívicas de Portugal”. considerados características essenciais; no caso, o pau-brasil, os
animais, trabalho e religiões indígenas. Já o segundo mapa repre-
b) Entre as formas de resistência presença portuguesa no Bra- senta todo o continente da América do Sul, destacando a América
sil, podemos citar fugas, ataques contra os colonos e alianças portuguesa das possessões espanholas e demonstrando a situa-
locais ou com estrangeiros em lutas como a Confederação ção sob uma perspectiva macro.
dos Tamoios (1554-1567), na capitania de São Vicente.
12. a) Entrepostos comerciais litorâneos responsáveis pelas trocas
2. a) Nota-se, no texto, um conhecimento amplo a respeito dos cos- entre colonizadores e nativos.
tumes e das maneiras de outras populações, fato que só foi
possível graças ao contexto das Grandes Navegações. Nesse b) A produção predominante entre os séculos XVI e XVII foi a
ínterim, o texto refere-se a contatos ora pacíficos e marcados da cana-de-açúcar. O feitor era o responsável imediato pela
por trocas (caso da amizade do imperador japonês), ora confli- eficiência do trabalho escravizado.
tuosos e marcados por guerras (caso da morte do rei francês).
13. E 14. C 15. C
b) Domingo Francisco de San Antón Muñón Chimalpahin Quauhtlehua-
nitzin (1579-1660), conhecido como Chimalpahin ou Chimalpain, 16. a) Entre os séculos XVI e XVIIl, o Vice-Reino do Peru foi uma das
escreveu a história do México e de outras nações vizinhas em mais importantes áreas de exploração do Império Colonial
náhuatl e castelhano, cobrindo os anos entre 1589 e 1615 (embora Espanhol. Dentro da lógica do pacto colonial e da política mer-
refira-se também a períodos pré-coloniais) e utilizando, para isso, cantilista, a mineração era a principal atividade econômica.A
testemunhas indígenas. Nesse sentido, a obra destaca-se por mão de obra compulsória indígena era sistematicamente utili-
zada (mita e encomienda).
representar uma perspectiva indígena desses processos históricos.
255
europeus: as sociedades coloniais miscigenadas eram únicas, assim, mão de obra para a realização de obras públicas ou
não sendo europeias nem ameríndias. para fortalecer os exércitos. Muitas vezes, o escravizado era
vendido ou trocado pelo seu dono. As pessoas escravizadas
b) Os colonizadores espanhóis tentaram integrar os indígenas ao costumavam trabalhar na agricultura, na mineração ou em
trabalho colonial com táticas não exploradas pelos portugue- serviços domésticos. Alguns chegavam a se tornar militares,
ses, como as encomiendas. O colonizador português pensava funcionários públicos ou comerciantes, conseguindo, em cer-
no indígena como trabalhador e alvo de cristianização. tos casos, acumular riquezas.
18. a) Em relação aos indígenas, podemos mencionar os ataques b) Na América portuguesa, os escravizados passaram a se tornar
noturnos ou em terreno coberto, canoas encouraçadas que importantes mercadorias, e instaurou-se uma grande rede de
resistiam aos tiros das armas de fogo dos espanhóis e valas tráfico de pessoas, que vigorou entre os séculos XVI e XIX, tendo
com estacas para empalar as montarias hispânicas. Em rela- marcado profundamente a história da humanidade. A escravidão
ção aos espanhóis, podemos destacar a utilização de armas moderna – como costuma ser chamada a escravidão praticada
de fogo e de cavalos. Outro aspecto que pode ser apontado nesse período – é essencialmente comercial/mercadológica.
como consequência da ocupação espanhola foi a dissemina- Milhões de pessoas foram capturadas na África, separadas de
ção de doenças. suas famílias e transportadas para lugares distantes em porões de
embarcações (conhecidas como navios negreiros) que cruzavam,
b) Além da utilização de armas de fogo e de cavalos (fato que o primeiro, o Oceano Índico, depois o Oceano Atlântico. Foi dessa
próprio texto da questão relativiza ao citar que a superiorida- forma que, por mais de 300 anos, o Brasil recebeu pessoas es-
de bélica espanhola era compensada pelo grande número de cravizadas. Ao chegarem aqui, os africanos escravizados viviam
nativos), os espanhóis disseminaram doenças que vitimaram em condições miseráveis, sofriam maus-tratos e eram obrigados
muitos nativos. Vale ainda ressaltar que, em vários casos, os a trabalhar incansavelmente. Caso se negassem ou resistissem
espanhóis firmavam alianças com os nativos para incentivar (o que ocorria constantemente), sofriam pesados castigos físicos
conflitos locais e, dessa forma, facilitar a ocupação e a conquis- e psicológicos.
ta do território. A destruição da estrutura produtiva dos povos
nativos e a imposição do trabalho compulsório aos indígenas 28. Um dos aspectos possíveis é a variedade étnica dos africanos; e
(mita e encomienda) também podem ser colocadas como fato- uma das características é a diversidade da composição da popu-
res determinantes para o alto índice de mortalidade indígena. lação negra.
21. O primeiro mapa representa o nordeste da América portuguesa 31. As capitanias eram administradas de modo hereditário e eram
e suas capitanias, criadas para a produção do açúcar. O segundo descentralizadas no que diz respeito unidade colonial. O Go-
mapa, por sua vez, demonstra a ocupação do litoral da Colônia, verno-geral, por sua vez, era centralizado e tinha seu governante
em referência ao sistema colônia-metrópole. nomeado pela Coroa.
22. Dois objetivos: fixar a população portuguesa terra e produzir 32. a) Os proprietários de terras e escravizados, conhecidos como
mercadoria de alto valor para o mercado europeu. Duas carac- “homens bons”; elite colonial; latifundiários; aristocracia; no-
terísticas: existência de uma quantidade de capital circulante na bres da Colônia; classe alta.
Colônia, empregado não só no tráfico negreiro como também na
criação do gado e na lavoura de subsistência, voltadas principal- b) Fiscalização das condições da vida urbana (abastecimento,
mente para o mercado interno; e desenvolvimento de relações salubridade, posturas etc.); arrecadação de tributos e adminis-
comerciais internas e com outras regiões, apesar das proibições tração de contratos; e justiça de primeira instância.
características do monopólio metropolitano.
33. A 34. C 35. F; F; V; F; V
23. A exigência de uma grande produção de açúcar dedicada ao mer-
cado externo levou formação de latifúndios graças ao sistema 36. a) Entre as práticas punitivas descritas no texto e presentes ao
de plantations. Esses latifúndios caracterizaram as sociedades da longo do período colonial brasileiro, podemos identificar os
América portuguesa. suplícios, os enforcamentos, os cadafalsos e os pelourinhos.
257
Exercícios propostos c) A diferença entre as expediçes de apresamento e as reali-
zadas pelos jesutas diz respeito ao trabalho. Eles buscavam
1. E 11. A converter os indgenas ao cristianismo, e não os forçar ao tra-
balho fsico, como pretendiam os bandeirantes.
2. D 12. B
8. E 9. A
3. E 13. Soma: 01 + 04 = 05
10. a) Eram expediçes dedicadas a explorar os interiores da Am-
4. C 14. A rica portuguesa, realizadas nos sculos XVII e XVIII. Foram
responsáveis pelo aprisionamento de indgenas e pela desco-
5. C 15. C berta de recursos economicamente valiosos, como as jazidas
de ouro na região das Minas Gerais.
6. A 16. Soma: 01 + 04 + 16 = 21
b) Os bandeirantes e colonos aprisionavam indgenas para se
7. E 17. Soma: 01 + 16 = 17
utilizar do conhecimento deles na exploração das terras e
8. C 18. A para forçá-los à escravidão como mão de obra nas lavouras.
9. Soma: 04 + 08 + 16 = 28 19. Soma: 01 + 16 = 17 11. a) Os bandeirantes são vistos como heris pelas caractersticas
dadas a eles, como corajosos e empreendedores, e pelo que
10. D 20. D realizaram, entre elas a descoberta de recursos valiosos e um
aprofundamento do conhecimento do interior do Brasil.
Exercícios complementares
b) Os bandeirantes são vistos como viles pelas atitudes tomadas
1. a) Entre os fatores que levaram à crise do açúcar, estão: a ex- em relação aos indgenas, que resultaram em aprisionamen-
pulsão dos holandeses do nordeste e a consequente perda tos, destruição de populaçes inteiras, danos irremediáveis à
do monoplio açucareiro nas Antilhas e seu maior nvel tc- cultura desses povos e sua contribuição direta na manutenção
nico; o reaquecimento da produção e consumo de açúcar de do trabalho escravizado indgena.
beterraba na Europa; o endividamento dos senhores de en-
genho e a lenta resposta da Coroa portuguesa para oferecer 12. B
novos investimentos.
13. a) A Guerra dos Mascates foi um conflito local entre senhores
b) Não teria havido um ciclo açucareiro pela manutenção de sua de engenho de Olinda e comerciantes portugueses instalados
em Recife. A guerra foi consequncia do endividamento dos
produção e importncia por sculos na pauta das exportaçes
senhores de engenho de Olinda e a busca destes por supre-
e no atendimento ao mercado interno. Deve-se considerar a
macia no poder local.
impropriedade de utilização do conceito de “ciclo” tendo em
vista a dinmica colonial que não se resumia apenas a um pro- b) A Guerra dos Emboabas foi travada porque os paulistas ligados
duto exportador. ao bandeirantismo, que descobriram as jazidas de ouro, inco-
modaram-se com os desbravadores que chegaram ao local
2. O declnio relativo do setor açucareiro da Amrica portuguesa, a
aps a descoberta para realizar a exploração do raro metal. O
partir da segunda metade do sculo XVII, deveu-se à concorrn-
conflito se iniciou com o pedido dos bandeirantes feito à Coroa
cia da produção de açúcar implementada em diversas colnias
para obter exclusividade na exploração e extração das minas.
europeias na região caribenha (Martinica, Guadalupe, Jamaica,
Barbados, entre outras). 14. A principal atividade econmica que condicionou o surgimento
dos caminhos da Estrada era a extração de ouro e diamantes/
3. C 4. D
mineração. Dois dos interesses da Coroa para controlar esse
caminho eram: impedir o roubo dos recursos valiosos extrados;
5. a) A mitologia refere-se à ideia de que o bandeirante era um
garantir o monoplio desses produtos.
heri do desbravamento do interior do territrio colonial, con-
quistando o aumento das fronteiras. 15. a) A capitania de São Paulo vivia basicamente de uma produ-
ção agrcola de subsistncia e, principalmente, de uma
b) Em geral, essa mitologia não faz referncia ao fato de os
produção agrcola voltada para o mercado interno, visando
bandeirantes estarem envolvidos em processo de captura, es- abastecer a região das minas. Outra atividade era o comrcio,
cravização e comercialização de indgenas, alm do massacre que, atravs dos rios, abastecia a região mineradora — ativi-
dos povos nativos e da destruição de quilombos. dade econmica chamada de comrcio das monçes, vital na
capitania de São Paulo no sculo XVIII.
6. a) As bandeiras tinham como principais atividades a busca, o
aprisionamento, a escravização e o comrcio de indgenas, b) O sculo XVIII foi marcado pela intensificação do processo
alm da busca por metais preciosos, como as jazidas de ouro de interiorização dos luso-brasileiros no territrio colonial
encontradas na região de Minas Gerais. devido a uma srie de fatores econmicos, principalmente
a pecuária e a atividade mineradora. Tal fato agravou as
b) Os bandeirantes são vistos pela historiografia e pelo conhe-
disputas territoriais entre Portugal e Espanha na Amrica,
cimento popular paulista como corajosos desbravadores e
diludas por meio de vários tratados de limites, destacando-
empreendedores, os pioneiros do Brasil. Essa visão justificaria a
-se o Tratado de Madri, de 1850.
prevalncia paulista do perodo e atualmente criticada por ten-
tar amenizar as açes dessas figuras. 16. B
7. a) As expediçes de apresamento ocorriam com o objetivo de 17. O nordeste açucareiro dos sculos XVI e XVII foi marcado por uma
capturar indgenas e forçá-los ao trabalho escravizado. sociedade ruralizada, escravista, de claras demarcaçes, e de
economia pautada pela agronomia e pelo isolacionismo, com foco
b) Dois processos histricos resultantes das expediçes de apre- no mercado externo. Já em Minas Gerais, no sculo XVIII, há uma
samento foram a destruição de várias culturas e populaçes sociedade urbanizada, tambm escravista, mas com demarcaçes
indgenas, e a entrada cada vez mais profunda dos colonos no sociais menos rgida (ascender socialmente era mais possvel ali
interior do continente. do que no nordeste dos dois sculos anteriores), e cuja economia
3. C 8. B
Frente 2 4. E 9. C
2. D 2. C 7. D
7. C
3. B 3. E 8. C
8. A
4. Soma: 01 + 02 + 08 = 11 4. E 9. E
5. B 9. B 5. C 10. B
10. a) A Revolução Neoltica significou a transição dos grupos huma- Exercícios complementares
nos de uma condição de nmades para a sedentarização, com
o desenvolvimento da agricultura e posterior desenvolvimento 1. a) A escrita no Egito e na Mesopotmia marcava as distinçes
das cidades. sociais entre as pessoas. A hierarquia social era rgida e quem
possua o acesso à escrita era um grupo muito limitado. Nesse
b) A afirmação de que os grupos humanos anteriores ao de-
caso, o Estado legitimava essa divisão e mantinha a domi-
senvolvimento da escrita eram “pr-histricos” traz a ideia, nação da elite composta dos sacerdotes em detrimento das
equivocada, de que eles não tinham histria. demais camadas sociais, como os camponeses.
Exercícios propostos b) Essas civilizaçes foram marcadas por um Estado que inter-
feria diretamente na economia, supervisionando colheitas e
1. D 6. Soma: 01 + 02 + 04 + 08 = 15
possuindo certo controle da irrigação, em acordo com as po-
2. E 7. C cas de enchente. As pessoas comuns trabalhavam e o que era
colhido primeiro era entregue ao Estado e depois redistribu-
3. E 8. E do entre a população, reafirmando a dominação que existia
nesse perodo.
4. D 9. A
2. a) Os rios Tigre e Eufrates são os principais recursos hdricos
5. F; V; V; V; F 10. C da região, e seu regime fluvial (cheias) promove a fertilização
do solo, criando condiçes favoráveis às atividades agrcolas.
Exercícios complementares Devido à aridez do clima dessa região, os rios e suas
margens se tornaram as áreas de ocupação preferencial, no
1. E 6. C estabelecimento das primeiras civilizaçes mesopotmicas.
2. A 7. D
b) Nos últimos anos, o principal conflito regional esteve vinculado
3. B 8. B ao grupo autodenominado Estado Islmico e suas preten-
ses expansionistas, compreendendo desde o leste srio at
4. D 9. D o noroeste iraquiano. As motivaçes do Estado Islmico são
poltico-religiosas, uma vez que pretendem implantar a sharia,
5. B 10. A um estado regido por leis islmicas.
BNCC em foco 3. A 5. B
1. D 4. C 6. A
259
7. D 9. C 20. D
8. a) O trecho faz uma comparação entre Ilíada e Odisseia, sen- 10. D 21. A
do a primeira uma epopeia guerreira, enquanto a segunda é
uma coletânea de lendas e aventuras marítimas. Desse modo, 11. B 22. A
Ilíada está inserida no contexto da Guerra de Troia, lutas por
territórios e disputas entre os diversos povos. Na Odisseia, o 12. C 23. A
destaque é a razoável paz após o fim da guerra e o retorno de
13. B 24. B
Ulysses para a sua terra.
14. A 25. D
b) A organização política dos egípcios visava centralização em
torno da figura do faraó e da alta elite próxima a ele, além da 15. E 26. C
extensa utilização da agricultura em grande parte do Egito. Já
os gregos e fenícios se caracterizavam pelas cidades-estado 16. E 27. A
independentes, mantendo relações mediante trocas comer-
ciais feitas por terra e mar. 17. E 28. B
1. A Exercícios complementares
2. Os povos mesopotâmicos eram muito dependentes do comércio 1. A Grécia foi marcada por diferentes momentos em sua história. Du-
externo. O uso da moeda como objeto de troca se constituiu em rante o período arcaico, de 800 a.C. a 500 a.C., havia um governo
agente facilitador desse processo, pois era uma medida de valor feito pelas elites agrárias. Já no período clássico, séculos V-IV a.C., a
comum entre os envolvidos. Ainda nesse contexto, o sistema ban- democracia foi instituída e as decisões e o poder político foram dados
cário foi responsável por efetuar a guarda e o saque dos valores. aos cidadãos. A Ágora e a acrópole passaram a ser locais de debates
e pensamentos para a organização da pólis. Apesar dessa participa-
3. C ção política dos cidadãos, este era um grupo bastante limitado, sendo
considerados apenas os homens, maiores de idade e filhos de pai
ateniense. As mulheres, os escravos e os estrangeiros eram excluí-
dos de seu papel político e não eram considerados cidadãos.
Capítulo 3 – A Antiguidade Clássica
2. a) No mundo greco-romano, a mão de obra predominante era
Revisando a escrava, especialmente o escravo de guerra. Sobretudo na
Roma Antiga, que possuía numerosos escravos, estes reali-
1. 6. D zavam todo tipo de trabalho nos meios urbano e rural. Nesse
período, o trabalho manual era visto como algo degradante,
2. E 7. D relacionado aos grupos inferiores. Os escravos estavam ex-
cluídos do direito de participação política.
3. B 8. Soma: 01 + 02 + 04 + 08 = 15
b) Durante a Antiguidade Clássica, o conhecimento não estava
4. D 9. D
relacionado ao trabalho, diferentemente da modernidade, em
5. B 10. Soma: 02 + 04 + 08 = 14 que a noção de trabalho foi transformada em algo positivo.
Na Idade Moderna, a partir da exaltação do uso da razão, as-
Exercícios propostos sociada a uma postura de observação e experimentação, o
homem pode avançar ainda mais no conhecimento do mundo
1. D 4. C ao seu redor, aplicando esse conhecimento e proporcionando
inovações tecnológicas na estrutura de produção.
2. B 5. B
3. a) Ser um habitante de Atenas não implicava, necessariamente,
3. D pertencer condição de cidadão. Para tal, o indivíduo deveria
ser homem, adulto, livre e filho de pais atenienses.
6. a) O modelo político aristocrático que antecedeu a democracia
era caracterizado por famílias nobres, e somente homens b) Metecos eram os estrangeiros residentes em Atenas. Dentre
nascidos em Atenas, filhos de pais atenienses e que tinham seus deveres, estavam o pagamento de tributos e a participa-
posses eram os detentores de direitos políticos, ocupavam ção na defesa da cidade. Dentre seus direitos, estavam o de
cargos públicos e escolhiam a maneira que isso ocorreria, se tornarem proprietários de terras e o de exercerem alguma
uma oligarquia formada por eupátridas. Na democracia, as atividade profissional (comércio, artesanato, educação etc.).
reformas iniciadas por Sólon possibilitaram a futura ampliação
da participação política de mais cidadãos, independentemente 4. B
de sua origem; entretanto, as mulheres não eram cidadãs e a
escravidão permaneceu. 5. a) Na canção “Mulheres de Atenas” é possível identificar re-
ferências a duas importantes epopeias gregas: a Ilíada e a
b) Na Grécia Antiga o voto era permitido apenas para homens, Odisseia. Ambas as obras tratam de narrativas pautadas no
maiores de idade, livres, nascidos em Atenas com pai atenien- mundo mitológico grego.
se. Nas democracias ocidentais contemporâneas, o direito ao
voto foi ampliado para as mulheres, porém ainda existe a li- b) As mulheres, na Atenas da Antiguidade, eram, socialmente,
mitação por idade e a restrição aos estrangeiros a depender submissas figura masculina. Na música apresentada, tal ca-
de cada país. Além disso, os analfabetos não são obrigados a racterística é retratada pelo verso “Vivem pros seus maridos,
votar, porém os seus direitos por muitos anos foram excluídos. orgulho e raça de Atenas”. Outro elemento característico da
condição da mulher, no mesmo contexto, aparece na can-
7. D 8. A ção no excerto “Geram pros seus maridos os novos filhos
261
b) Medida social: Otávio Augusto estabeleceu novas regras em tem elementos dessas duas religiões, associados s tradições
Roma, criando uma divisão censitária, das ordens senato- árabes e s revelações que teriam sido feitas a Muhammad.
rial, equestre e do restante, e esses direitos dependiam da O judaísmo aguarda o retorno de um messias, enquanto cris-
renda dessas pessoas, o que limitava ainda mais qualquer tãos e muçulmanos acreditam que o messias já veio ao mundo
tipo de participação. Medida política: houve a continuação nas figuras de Cristo e Muhammad, repectivamente.
das instituições da República, mas isso apenas na aparência,
pois Otávio Augusto era um ditador e suas decisões pos- b) A unificação foi feita por meio da religião, pois as palavras de
suíam peso. Muhammad também chegaram ao poder político, criando uma
coesão maior entre os diversos grupos árabes. Dessa forma, o
islamismo se tornou predominante entre a população e conti-
nuou a se expandir após a morte de Muhammad.
Capítulo 4 – Outras Idades Médias
c) Os motivos dessa divisão remontam época da morte de
Revisando Muhammad, quando os muçulmanos se dividiram, desta-
cando-se dois grupos opostos: os sunitas, que achavam que
1. B 6. D a sucessão de Muhammad não precisava ter laços consan-
guíneos, podendo assumir o posto outros líderes islâmicos
2. A 7. C
próximos ao poder político, diferentemente dos xiitas, que só
3. A 8. B aceitavam descendentes diretos de Muhammad como seus
sucessores. Esse conflito perdura na atualidade e ainda gera
4. E 9. D debates entre os diversos grupos islâmicos.
Exercícios complementares
BNCC em foco
1. a) Política: havia uma grande divisão de tribos independentes.
Religiosa: não havia uma única religião, e a maioria da popu- 1. Soma: 01 + 04 + 08 = 13
lação era politeísta e acreditava em vários deuses; no período
pré-islâmico, a cidade de Meca já era um local de peregrina- 2. B
ções, como ocorre até hoje, mas para o culto politeísta.
3. D
b) A partir do trecho citado no enunciado, é possível compreen-
der que fé e conhecimento não eram contraditórios no mundo
islâmico, mas complementares. Os povos árabes eram conhe-
cidos por seus estudos de Medicina e Matemática. Capítulo 5 – A Idade Média na Europa
ocidental e o início da primeira modernidade
2. A expressão “Idade Média” surgiu durante o Renascimento e foi
criada pelos humanistas para denominar o período entre a Anti- Revisando
guidade Clássica e o Renascimento. Além disso, no século XVIII,
os iluministas denominavam o período como “Idade das Trevas”, 1. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27 4. C
sempre em oposição ao momento em que eles estavam viven-
do, considerado o do esclarecimento. Além de ser pejorativo, o 2. A 5. A
termo “Idade das Trevas” não é explicativo sobre o período,
sobretudo porque parece desconsiderar a criação das univer- 3. C 6. A
sidades e as diversas trocas culturais entre povos distantes e a
cultura árabe-muçulmana. 7. A partir do texto, é possível inferir que a Igreja condenava a usura
ou o empréstimo a juros; diante disso, é justificado com a afirma-
3. E ção de que o tempo pertence a Deus, portanto ele é divino e não
deve ser comercializado como essas transações. O trabalho é
4. a) Trata-se da peregrinação dos muçulmanos cidade de Meca, bem-visto, mas não a usura. Assim, o lucro pode até ser alcançado,
um dos fundamentos do islamismo: se tiver condições físicas mas deve vir do trabalho, e não da venda do tempo divino.
e financeiras, todo muçulmano deve ir a Meca ao menos uma
vez na vida. 8. B 9. A 10. B
b) Meca foi uma região muito importante na unificação, pois o retor- Exercícios propostos
no de Muhammad cidade e os elementos comuns da religião
mantiveram a tradição da peregrinação, mas agora para cultuar 1. a) Carlos Magno, antes mesmo de sua coroação pelo papa,
Alá, fortalecendo o processo de unificação da península Arábica. já possuía extensas conquistas pelo Reino Franco, as quais
continuavam a se expandir para regiões onde hoje se en-
5. a) As três religiões são monoteístas. O cristianismo é derivado contra a Alemanha. Por esse grande poderio, o papa Leão III
do judaísmo, conservando o Velho Testamento. O islamismo o coroou como imperador dos romanos, o que o legitimava
14. D 28. D
10. C
Exercícios complementares 13. a) As especiarias eram produtos de origem vegetal, como pi-
menta, cravo, canela e noz-moscada, vindos principalmente
1. C 2. A da Ásia e utilizados pelos europeus devido ao forte sabor
e aroma. A partir do texto apresentado na questão, percebe-
3. a) A cerimônia mencionada dita no poema é a sagração do cava- -se que esses artigos eram uma forma de distinção social, pois
leiro, conhecida como homenagem. A partir dos trechos como eram de difícil obtenção e de regiões distantes. Além dos usos
“Deus mo conceda”, “Que Deus te dê coragem e ousadia”, é em alimentos, essas ervas eram utilizadas para fins medicinais.
possível compreender que se trata de uma sagração, além da
“vitória sobre os infiéis”, tipicamente um dever dos cavaleiros. b) O comércio das especiarias era feito pelas rotas comerciais es-
palhadas por toda a Europa, África e Ásia. A Rota da Seda era
b) A relação existente entre o rei e Rolando é a suserania e vas- uma das mais famosas e fazia a conexão da China a Constanti-
salagem, fidelidade e acordo entre dois homens nobres. Essa nopla e outras partes do Mediterrâneo. Além dessa rota terrestre,
relação entre membros da nobreza era muito comum; o suse- o Oceano Índico era utilizado para levar especiarias das Índias.
rano permitia o uso da terra, e o cavaleiro prestava serviços
militares quando fosse preciso. 14. Além da falta de defesa dos organismos dos europeus, a propaga-
ção da doença era muito rápida, e a falta de condições sanitárias
4. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27 e de higiene agravaram a situação. Ademais, as intensas trocas
comerciais com regiões distantes trouxeram produtos e movimen-
5. Soma: 02 + 04 + 08 = 14 tação de pessoas, disseminando a doença. O trecho de Duby fala
sobre progresso, pois esse período é conhecido pela expansão
6. A Igreja Católica teve um papel central na criação e na continua- comercial e pelo aumento da população nas cidades. Todavia,
ção do feudalismo. Por possuir grande influência, seus membros esse crescimento também propiciou o aumento da doença, e
constantemente reafirmavam a divisão social entre os que traba- a sua proliferação foi feita rapidamente pelas pulgas dos ratos.
lham, os que oram e os que guerreiam. A partir de seu poderio,
ela possuía muitas terras e aliados em vários reinos; com os 15. Soma: 02 + 04 = 06
batismos de reis, cada vez mais a sua confiança e fidelidade a
tornavam parte essencial do mundo feudal. Por isso e outros fa- 16. Os séculos XIV e XV são um período marcado por transformações
tores, ela foi um elemento basilar na vida social, política e cultural sociais, políticas e econômicas. Nesse contexto, ocorreram más
do medievo. colheitas, que geraram a fome, a peste negra, que dizimou a maior
263
parte da população da Europa, além dos conflitos da Guerra dos das pessoas e da própria natureza (naturalismo). A partir des-
Cem Anos. Portanto, esse momento trouxe novas definições da sas características, é possível perceber como as pessoas
economia; posteriormente, o mercantilismo seria mais dominante representadas estão muito próximas da realidade, tanto em
que o antigo sistema feudal, e os poderes locais se tornariam cada tamanho quanto em proporção.
vez mais centralizados em torno de reis e rainhas. E é preciso dizer
que isso não significou uma total centralização política, e muito b) O Renascimento é o processo de transição da mentalidade
menos um desaparecimento do sistema feudal. medieval para a mentalidade moderna. Por meio das artes,
essa mudança fica muito presente; as representações hu-
17. D manas tentam ser mais racionais, mais matematicamente
calculadas, e o ser humano passa a ser colocado como um
18. D ser de possibilidades abertas para o conhecimento e a crítica.
Nesse sentido, o crescimento comercial e a vida urbana pas-
19. Soma: 01 + 02 + 04 = 07
sam a ser fatores que caracterizam essa transição.
20. a) O principal motivo econômico foi a tentativa de retomar o controle
27. a) A península Itálica já era, há muitos anos, um local de comércio
das rotas comerciais do mar Mediterrâneo, que, em alguns sécu-
e encontro de diversos povos; por essa razão, tornou-se um
los, foi mais fortemente influenciado pelos árabes e muçulmanos.
dos centros comerciais mais ativos do Mediterrâneo. Desse
O motivo político se relacionava ajuda que a Igreja Católica pre-
modo, os novos grupos sociais foram surgindo e desejavam
cisou conceder ao Império Bizantino, que, embora não idêntico
novos produtos e novas artes, o que favoreceu mudanças nos
ao lado ocidental, partilhava muitas semelhanças com a Igreja diversos âmbitos da vida social, cultural e política.
Católica. Apesar dessa ajuda, os membros da Igreja tinham outras
ambições além de uma mera ajuda contra os islâmicos. b) A teoria heliocêntrica de Copérnico questionava o geocen-
trismo, defendido pela Igreja e por alguns de seus membros.
b) A nobreza liderou a Cruzada. O cronista do texto apresentado
Além disso, houve a crítica ao uso do latim para todos os âm-
na questão justifica o apoio de Deus dizendo que essa era uma
bitos e o favorecimento do uso da língua de cada localidade.
reparação necessária ao que os muçulmanos estavam fazendo
desses locais sagrados do cristianismo, principalmente Jerusalém. c) O uso da perspectiva linear e o efeito de um espaço tridimensio-
nal nas pinturas, além da representação das pessoas cada vez
21. E
mais próxima do ser humano e de suas medidas geométricas.
22. D
28. E
23. a) Os renascentistas criticavam o modo de organização políti-
29. a) Uma das leis mais conhecidas de Galileu foi a de que todos os
ca que eles diziam ser mais fragmentado politicamente, pois
corpos em queda livre caem com a mesma aceleração inde-
existiam vários reis e, no período do movimento renascentis-
pendentemente de suas massas, a lei dos corpos em queda.
ta, houve ascensão de novas dinastias e, em alguns locais, a
tentativa de centralização. Na Idade Média, a economia era b) Galileu foi julgado pela Inquisição de seus escritos críticos, muito
predominantemente rural, e, em momento posterior, as pes- comuns no Renascimento, o que a Igreja não tolerava de manei-
soas criticariam a vida nos campos e em volta de muralhas e ra tão direta. Além disso, a defesa do heliocentrismo foi um dos
torres. No âmbito cultural, reprovavam a forma como as pintu-
principais pontos em que ele foi acusado mais fortemente.
ras e esculturas eram feitas; afinal, fazia-se uma adaptação da
Antiguidade Clássica, enquanto os renascentistas buscavam 30. a) A fala de Giordano Bruno contrariava os princípios da Igreja
as formas e os modelos semelhantes ao período clássico. Católica no sentido de que ele propunha a ação e o comporta-
mento por meio das produções culturais e inovações científicas.
b) A Idade Média foi um longo período de tempo, com predomí- A citação apresentada na questão indica que o homem poderia
nio de economia rural, permeada pela fidelidade da suserania e agir, criar e saber, ser um agente ativo na natureza. Por essa
vassalagem. Ademais, o comércio marítimo e terrestre estava razão, ele foi considerado um herege, neste caso, como mago,
em expansão e havia uma constante busca por novos locais. e teria a sua punição, a morte na fogueira.
Por fim, a produção em seu início era voltada para os feudos,
e havia o uso de moedas, que variavam de região para região. b) A citação de Giordano Bruno se relaciona aos valores renas-
centistas, que incentivavam a ação do ser humano, na qual ele
24. a) A península Itálica contava com vasto comércio e era uma região deveria ser um agente ativo, transformando sua realidade e o
de encontro e trocas de ideias entre diferentes populações, permi- mundo. Dessa forma, o racionalismo e esse ímpeto de ação
tindo o desenvolvimento de novos conhecimentos. Além disso, a eram vistos negativamente pela Igreja.
Itália havia sido o centro do Império Romano e possuía diversos in-
telectuais de sua localidade e advindos de outros locais. Ademais, BNCC em foco
as ricas famílias que a habitavam financiavam obras de arte e im-
pulsionavam cada vez mais o desejo e a busca por esses artigos. 1. Soma: 01 + 02 + 04 = 07