Fabula Na Lit Infant
Fabula Na Lit Infant
Fabula Na Lit Infant
Quando uma literatura específica para crianças surgiu, por volta do final do século
XVII, os contos de fadas, principalmente os divulgados por Charles Perrault (França,
1697), passaram a ser sinônimos de literatura infantil. Entretanto, antecedendo os contos de
fadas, encontramos um outro tipo de texto endereçado ao leitor-mirim. Trata-se das fábulas,
gênero muito antigo, com raízes na literatura oriental e que se estendem à ocidental com
fabulistas que se tornaram famosos como o grego Esopo (540 a.C.), o romano Fedro (10
a.C.–69 d.C.) e o francês La Fontaine (1621–1695).
Se em Esopo e Fedro não havia a preocupação explícita com o público infantil,
este passa a centralizar a atenção de La Fontaine que, em 1668, ao publicar seu primeiro
livro de Fábulas, dedica-o a sua alteza o Delfim da França, na época, com seis anos.
Apresentando duas dedicatórias, uma em prosa, outra em versos, La Fontaine
revela seu propósito educativo ao se dispor a recriar as fábulas de Esopo, afirmando que
estas espalham “na alma, sem que se sinta, as sementes da Virtude, ensinando-nos a nos
conhecer sem que disto nos apercebamos”(La Fontaine, v.1, p.30).
Evidenciando que a preocupação com textos apropriados à criança advém de
tempos antigos, La Fontaine recorre a Platão (428-347 a.C.) que em sua “República”
recomenda que as fábulas, por conterem sabedoria e virtudes, deveriam ser contadas para as
crianças, desde a mais tenra idade, junto mesmo com o leite materno (La Fontaine, V.1,
p.37).
As considerações de La Fontaine mostram que as fábulas contêm elementos
essenciais para a formação da criança. Ao mesmo tempo que cativam o ouvinte/leitor, estas
histórias centralizam-se na transmissão de um ensinamento, uma lição de vida, uma
verdade de cunho geral, a que La Fontaine denomina de “a alma” da fábula, em torno da
qual o fabulista estrutura o “corpo”.
1. Esopo
O pavão e a grua
O caráter antitético desta fábula surge desde o título ao opor duas aves que
primam pelo contraste de suas plumagens: o pavão com suas penas “de ouro e púrpura” e a
grua de cor cinzenta.
Sem qualquer indicação temporo-espacial, a fábula expõe um brevíssimo diálogo
entre as duas aves que, de acordo com o estudo de Portela (1983:129), estrutura-se da
seguinte forma: situação + ação (do pavão) + reação (da grua) + resultado.
Se o pavão em seu discurso apresenta como argumento a beleza de sua plumagem
em contraste com a ausência desse atributo na grua, esta, por sua vez, contra-argumenta
com o enaltecimento de sua capacidade de cantar e de voar nas alturas, enquanto o pavão,
equiparado a um galo, está fadado a caminhar pela terra.
A moralidade que encerra a fábula, “melhor a glória em andrajos que a desonra no
fausto”, permite que se proceda à identificação da grua com a glória e o pavão com a
desonra. Voar e cantar nas alturas são, portanto, características superiores que merecem ser
vangloriadas, enquanto que a ausência destas duas qualidades demonstra a inferioridade do
ser, mesmo que este, aparentemente, tenha maior brilho.
O pavão e a gralha
Os pássaros discutiam:
— Quem será nosso rei?
— Por minha beleza, serei eu — disse o pavão.
Todos o aprovaram. Mas a gralha argumentou:
— Vejamos. Tu és nosso rei, uma águia nos ataca. Como vais nos salvar?
Previdência é sabedoria.
(Esopo, 1997, p.140)
Nesta fábula o caráter antitético não reside no contraste de plumagens, uma vez
que as duas aves são belas, mas, sim, no grau superior de inteligência e de racionalidade da
gralha.
A estruturação desta fábula segue os mesmos parâmetros da anterior:
situação+ação do pavão+ reação das aves e da gralha+resultado. Um narrador em 3ª pessoa
A gralha e os corvos
A gralha e os corvos
2. Fedro
3. La Fontaine
Monteiro Lobato
— Isto é o que resta duma antiga expressão portuguesa que foi perdendo
sílabas como a gralha perdeu as penas: “Leigo com leigo, clérigo com
clérigo”. Em vez de clérigo o povo dizia “crérigo”. Ficaram só as primeiras
sílabas das duas palavras.
(Lobato, 1982, p.12)
O corvo e o pavão
Referências bibliográficas
ESOPO. Fábulas Trad. de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 1997.
FEDRO. Fábulas de Fedro. 5ª ed. Trad. e estudo por Maximiano Augusto Gonçalves. Rio
de Janeiro: Livraria H. Antunes, 1957.
LA FONTAINE. Fábulas de La Fontaine. Trad. de Milton Amado e Eugênio Amado. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1989, II volumes.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. 32ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.
________________. A barca de Gleyre. São Paulo: Brasiliense, 1972.
COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil: história, teoria, análise. 1ª ed. São Paulo:
Quíron; Brasília: INL, 1981.
GONÇALVES. Maximiano A. Fábulas de Fedro. Texto latino, ordem direta, tradução
justalinear e literária, com anotações da obra completa de Fedro. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Livraria H. Antunes, 1957.
PORTELLA, Ovaldo, A fábula. Revista Letras, UFPR, Curitiba, nº 32, pp.119-138, 1983.