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reportagem

Depois da Primavera

Al Jazeera English tenta recobrar credibilidade

SAMY ADGHIRNI

RESUMO

A TV Al Jazeera quer fazer de seu servi�o em ingl�s uma porta de entrada para o Ocidente. Sua imagem de independ�ncia, por�m, foi posta em xeque ap�s mostras de parcialidade ao cobrir conflitos na S�ria e no Bahrein, aliados ao Qatar, petromonarquia absolutista que sedia a TV e tem a maior renda per capita mundial.

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Num fim de tarde de agosto de 2011, quando os rebeldes l�bios j� haviam tomado o pal�cio do ditador Muammar Gaddafi em Tr�poli, uma equipe da Al Jazeera English descansava no lobby de um hotel de luxo na cidade. Um produtor desceu do quarto e juntou-se aos colegas. "Voc�s n�o v�o acreditar no que estava passando na CNN", lan�ou, ao se acomodar � mesa. "Uma reportagem sobre o zool�gico de Tr�poli!". Risada geral.

O rapaz emendou: "Enquanto a gente acompanhava os rebeldes hoje de manh�, fazendo imagens exclusivas de combates na periferia, os americanos estavam empacados, sem conseguir nada melhor do que filmar le�es enjaulados". Todos concordaram: a Al Jazeera estava deixando para tr�s os demais canais internacionais de not�cia. E a conversa mudou de rumo.

Dois meses depois, a Al Jazeera anunciava, em primeira m�o, a morte de Gaddafi nas m�os de insurgentes.

Desde 2010, a Primavera �rabe tem feito mais do que projetar a emissora de volta ao centro das aten��es mundiais, de onde havia sido deslocada desde a "guerra ao terror" de George W. Bush (2001-09). As revoltas selaram o �pice de reconhecimento popular e profissional nos 17 anos de vida do canal fundado pela monarquia do Qatar, um min�sculo pa�s cujo territ�rio equivale � metade do Estado de Sergipe aben�oado com a terceira maior reserva de g�s natural do mundo.

Com recursos ilimitados e dom�nio sem igual dos temas regionais, a esta��o percebeu antes de todo o mundo a magnitude da revolta na Tun�sia, em dezembro de 2010, e humilhou a concorr�ncia na cobertura da insurrei��o no Egito, um m�s depois.

Enquanto suas acanhadas rivais �rabes insistiam em negar a realidade, a Al Jazeera capitalizava a imagem de primeira TV �rabe "independente" e escancarava o terremoto social e geopol�tico em curso. Para acompanhar as revoltas, milh�es de lares no Oriente M�dio sintonizavam a emissora, cujo nome significa "a ilha".

O canal reinava tamb�m na internet, superando o "New York Times" em acessos di�rios gra�as aos blogs ao vivo e arrebanhando multid�es de seguidores no Twitter e no Facebook. Internautas eram estimulados a postar v�deos e informa��es, criando uma fonte constante de not�cias.

Fora do mundo �rabe, as aten��es reca�ram sobre a outra Al Jazeera, em ingl�s, criada sem grande repercuss�o em 2006. Presente em 130 pa�ses, ainda n�o tem distribui��o no Brasil. Em �rabe ou em ingl�s, as reportagens n�o escondiam a simpatia pelos protestos, o que retroalimentava o fervor das massas �rabes, submetidas, desde a Independ�ncia, conquistada meio s�culo antes, a regimes opressores, incompetentes e corruptos.

Detestados pelos regimes ainda em vigor, profissionais da Al Jazeera eram espancados e presos em T�nis na e no Cairo, sentindo na pele o drama dos manifestantes. Algo profundo estava acontecendo, e a TV do emir que queria ser influente e amado na regi�o era parte integral da mudan�a.

Em mar�o de 2011, a ent�o chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, engoliu a seco a queda de amigos ditadores na Tun�sia e no Egito e disse que a Al Jazeera mostra "real news" --not�cias de verdade. O canal, enfim, se livrava do estigma de "TV do Bin Laden".

As constantes grava��es enviadas por jihadistas, entre os quais o pr�prio Bin Laden, a seus correspondentes e reproduzidas mundo afora lhe rendeu a pecha de "porta-voz da Al Qaeda", apesar dos la�os privilegiados de Bush com o emir do Qatar, Hamid bin Khalifa al Thani. O presidente republicano nunca sinalizara arrependimento pelos bombardeios americanos que destru�ram escrit�rios da Al Jazeera no Afeganist�o e no Iraque, em 2001 e 2003, respectivamente --este �ltimo tendo matado um jornalista e ferido outro.

A coroa��o mais vistosa --o reconhecimento dos pares americanos-- veio em seguida. Naquele mesmo 2011, a escola de jornalismo da Universidade Columbia, s�mbolo m�ximo de prest�gio no "m�tier", entregou seu pr�mio anual � Al Jazeera English pela cobertura dos protestos.

"As revoltas �rabes foram, sem d�vida, uma oportunidade para n�s. Era uma hist�ria enorme, e todo mundo queria entender o que estava realmente acontecendo", me disse o brit�nico Al Anstey, 46, diretor geral do canal em ingl�s, no sof� de sua espa�osa sala, no mezanino da reda��o central, em Doha. Veterano das gigantes ag�ncias noticiosas Reuters e Associated Press, Anstey � um brit�nico alto e cordial, que naquela manh� usava palet� sem gravata. "A Primavera �rabe trouxe muita gente at� n�s, e muitos ficaram."

No calor das mudan�as que pipocavam pela regi�o, com revoltas derrubando autocratas e deflagrando guerras civis, pouco importava se a opini�o p�blica �rabe soubesse desde sempre que a Al Jazeera n�o passava de um instrumento de prest�gio para o Qatar.

Na L�bia, os rebeldes agitavam a bandeira roxa e branca qatariana, enquanto ca�as enviados por Al Thani engrossavam os bombardeios ocidentais a Tr�poli. A mesma emissora que passara anos militando contra interven��es estrangeiras no Oriente M�dio agora participava de um ataque internacional para derrubar Gaddafi.

Naquele momento, no entanto, n�o fazia diferen�a se a emissora em �rabe chamava as for�as leais ao regime de "mil�cias pr�-Gaddafi" e as v�timas rebeldes de "m�rtires". O que valia era a luta pela liberdade, martelada na tela por analistas e �ncoras como causa comum a os povos da regi�o. O Qatar e sua TV internacional pareciam estar do lado certo da hist�ria.

BAQUE

Essa percep��o popular sofreu um primeiro baque com a eclos�o, ainda no primeiro semestre de 2011, dos protestos no Bahrein, pequena e abastada petromonarquia do golfo P�rsico. O cen�rio se repetia: protestos em massa contra um regime autorit�rio, repress�o, viol�ncia e mortes. Mas, desta vez, a revolta n�o merecia destaque na Al Jazeera. Vozes oposicionistas ficaram de fora da programa��o.

A omiss�o deixou claro o desconforto do sunita Qatar com os manifestantes bareinitas, na maioria xiitas. Protestos xiitas na Ar�bia Saudita tamb�m foram ignorados ou menosprezados. Para as monarquias �rabes, seguidores do isl� xiita s�o uma amea�a alimentada pelo Ir�, o poderoso e inc�modo rival persa que domina a outra margem do golfo P�rsico.

Quando os Emirados �rabes Unidos e a Ar�bia Saudita mandaram soldados para ajudar o Bahrein a reprimir os protestos, o primeiro-ministro do Qatar, Hamad Jassim ibn Jaber, disse em entrevista � Al Jazeera em �rabe que se tratava de uma opera��o de "assist�ncia e apoio". E exortou a oposi��o bareinita a aceitar a oferta de di�logo feita pelo governo.

Um embaixador ocidental conhecedor do Qatar resume um sentimento que se espalhou ap�s os protestos no Bahrein: "A m�scara caiu, e ficou evidente que a Al Jazeera est� alinhada aos interesses das monarquias sunitas do golfo".

Embora concorrentes com agendas muitas vezes conflitantes, as dinastias reais mant�m um pacto em torno de objetivos comuns: sobreviv�ncia, estabilidade para exportar g�s e petr�leo, propaga��o de uma ideologia islamita sunita, com n�veis diferentes de conservadorismo, al�m da resist�ncia �s pretens�es hegem�nicas do Ir�.

A cobertura dos levantes nos pa�ses aliados ao Qatar recebeu uma enxurrada de cr�ticas na m�dia internacional. Em maio de 2011, reportagem do "Washington Post" destacava a diferen�a entre o bem-sucedido trabalho jornal�stico no in�cio da Primavera �rabe e a perda de credibilidade exposta no Bahrein. Depois, "The Economist", "The Guardian" e "New York Times" e outros tamb�m apontaram falhas e contradi��es.

"Vejo que voc� est� aderindo ao coro", diz Al Anstey, com ironia, quando levanto a quest�o do Bahrein. O chefe da emissora em ingl�s nega inger�ncia pol�tica em quest�es editoriais. E afirma que os cr�ticos deveriam ver "Shouting in the Dark", document�rio filmado clandestinamente na capital bareinita que evidencia a brutalidade policial contra manifestantes antirregime. O trabalho faturou v�rios pr�mios internacionais de jornalismo em 2011 e enfureceu o governo de Manama.

"Essa produ��o, sozinha, d� prova da nossa independ�ncia. Se faltasse independ�ncia, n�o ter�amos exibido", explica Anstey. Mas "Shouting in the Dark" nunca foi ao ar no canal �rabe, carro-chefe da emissora que tem audi�ncia estimada em 70 milh�es de espectadores no hor�rio nobre, sobretudo no Oriente M�dio e na Europa.

"H� mais linhas vermelhas na Al Jazeera �rabe", me contou, por e-mail, o brit�nico Hugh Miles, autor de um livro sobre a Al Jazeera. "Por causa do idioma, ela � politicamente mais sens�vel e tamb�m mais poderosa e, por isso mesmo, mais controlada."

DEBANDADA

O Bahrein deflagrou uma crise interna na emissora e uma debandada nos postos de comando. Um dos primeiros a pedir demiss�o foi Ghassan Ben Jeddo, chefe da sucursal em Beirute. Ele alegou sentir-se "eticamente desconfort�vel" com a linha editorial adotada pelos chefes. Em seguida, quem renunciou foi o pr�prio diretor-geral da rede, o palestino Waddah Khanfar, alegando j� ter atingido a meta de al�ar a Al Jazeera na elite do jornalismo mundial.

Muitos, por�m, atribuem sua sa�da a embara�osas revela��es do WikiLeaks, em 2010. Telegramas secretos da diplomacia dos EUA mostram que o Qatar usava o poder de sua emissora internacional como instrumento de barganha na rela��o de for�as com o aliado americano. Khanfar foi substitu�do por um parente do emir, no cargo at� hoje.

Nova leva de funcion�rios pediu as contas alegando insatisfa��o com outro tema: o alinhamento cego aos rebeldes islamitas na cobertura da guerra na S�ria. Rep�rter experiente, Ali Hashem foi embora ap�s ter sido impedido de falar sobre a forma��o de grupos armados na oposi��o s�ria --segundo ele, a inten��o era n�o comprometer a vers�o veiculada na TV de um levante pac�fico contra Assad.

No conflito aberto que hoje assola o pa�s, quem comanda a linha de frente anti-Assad s�o combatentes da Al Qaeda, entre os quais muitos jihadistas estrangeiros. O Qatar fornece armas, dinheiro e apoio diplom�tico � rebeli�o s�ria.

A cobertura s�ria tamb�m foi a gota d'�gua para Aktham Suliman, que abandonou seu posto de correspondente em Berlim ap�s denunciar "editores ocultos que ningu�m conhece, mas cuja influ�ncia todo mundo sente".

Anstey evita pronunciar-se sobre ex-funcion�rios. Mas insiste em que a cobertura na S�ria s� n�o � mais equilibrada porque o regime de Assad se recusa a permitir a atua��o da Al Jazeera sob seu controle. Com isso, equipes de reportagem s� podem circular em �reas insurgentes.

MAL-ESTAR

O mal-estar acerca da esta��o aumentou ap�s a circula��o de um v�deo na internet (veja em bit.ly/massalma) que registra a recente morte de um rep�rter que cobria o conflito acompanhando rebeldes em Deraa, ao sul de Damasco. Ele � abatido por tropas leais ao regime enquanto corre para atravessar uma rua deserta. A grava��o comprometeu a Al Jazeera por v�rias raz�es. Primeiro, o jornalista n�o vestia colete � prova de bolas nem usava nada que o identificasse como profissional de imprensa. Al�m da falta de equipamento, ele mostrou despreparo ao se arriscar em �rea de fogo cruzado, contrariando precau��es b�sicas em cobertura de guerra.

O mais embara�oso foi a revela��o de sua identidade. Mohammed al Musalma era um militante oposicionista que acabara recrutado para ajudar na cobertura local. Um homem engajado numa das partes do conflito que estava cobrindo. "Se n�o h� mais distin��o entre ativistas e jornalistas, ent�o todos est�o em perigo", disse Suliman, ex-correspondente em Berlim, � revista alem� "Der Spiegel".

A Al Jazeera afirma que al Musalama era um colaborador sem v�nculos formais com a empresa. "Por isso n�o fizemos muito estardalha�o acerca de sua morte", justificou um representante.

Nos �ltimos meses, as cr�ticas se voltaram para a vis�o positiva da Al Jazeera na cobertura dos governos islamitas eleitos no rastro das revolu��es tunisiana e eg�pcia. A linha editorial contrasta com a crescente insatisfa��o popular acerca da in�pcia e do autoritarismo dos novos dirigentes, segundo escreveu Ahmed E. Souaiaia, professor da Universidade Iowa.

O pesquisador em comunica��o Ibrahim Saleh, da Universidade do Cabo, tra�a o diagn�stico da transforma��o. "[O canal] come�ou como um sonho que virou realidade quando mudou todo o cen�rio da m�dia e ofereceu esperan�a de real sabedoria de reportagem. O tempo exp�s a hipocrisia e a propaganda em vez dos padr�es profissionais".

AUDI�NCIA

Muito se especula em torno da audi�ncia da Al Jazeera, cujos dados s�o guardados como segredo de Estado. Mas a emissora admite registrar uma queda significativa nos �ltimos dois anos. Para o especialista em m�dia palestino-americano Jamal Dajani, o fen�meno traduz com clareza a decep��o dos telespectadores. "A popularidade caiu ap�s o pico de 2011", me disse ele, por e-mail.

A emissora garante ter mantido a lideran�a entre redes de not�cia �rabes e atribui a diminui��o da audi�ncia ao fim do monop�lio estatal da m�dia na Tun�sia, no Egito e na L�bia, que gerou uma prolifera��o de jornais e canais de TV independentes. Os ve�culos de imprensa p�s-revolucion�rios aderiram ao jornalismo mordaz e cr�tico que um dia foi marcada registrada da esta��o qatariana.

"Desde a Primavera �rabe houve uma explos�o de canais focados em temas dom�sticos. A verdade � que n�o podemos competir com eles na cobertura de not�cias locais", admitiu o sudan�s Salah Eddin Elzein, diretor do Centro de Estudos da Al Jazeera, �rg�o de planejamento estrat�gico e promo��o intelectual da emissora. "Isso nos trouxe um desafio e nos obrigou a refletir sobre maneiras de preservar nossa vantagem competitiva."

A esta��o nega ter sido abalada pelas cr�ticas, mas admite preparar uma reformula��o editorial, t�cnica e log�stica. Empresas de auditoria e consultores privados trabalham h� meses com diretores e editores para pavimentar o caminho rumo a uma nova Al Jazeera. "Estamos envolvidos no processo. Essa reestrutura��o � parte de um plano estrat�gico, � uma transforma��o completa", diz Elzein.

Miles, o autor do livro sobre a emissora, afirma que a reconstru��o da marca � uma necessidade. "Sua reputa��o foi muito prejudicada, por isso est�o mudando".

Um representante da esta��o diz que se trata de ajustes de rotina. Entre as mudan�as, ele cita a uma nova identidade visual e a maior converg�ncia entre as plataformas tradicionais e digitais. Dentro de um ano e meio o resultado completo ser� vis�vel, prev�.

O futuro tamb�m passa por uma presen�a maior da Al Jazeera English na Am�rica Latina, onde a difus�o ainda � menor do que no resto do mundo. "Precisamos e queremos estar no mercado brasileiro, e j� come�amos a trabalhar nisso", diz Anstey. "Mas a distribui��o no Brasil � complicada." O pa�s tem cerca de 10 milh�es de descendentes de �rabes.

Al�m dos canais em �rabe e ingl�s, a Al Jazeera tem uma emissora voltada para os B�lc�s e anunciou planos de transmitir em franc�s e turco. Fala-se, ainda, num futuro servi�o em espanhol. Canais esportivos pagos j� representam alguma fonte de renda. Para os c�ticos, a expans�o multil�ngue atende o plano do Qatar de ampliar sua influ�ncia para o resto do mundo. A tese � corroborada pelos bilh�es de d�lares investidos na Europa em �reas t�o diversas quanto esporte, im�veis e luxo.

Mas a meta mais ambiciosa da Al Jazeera passa pela recente aquisi��o da americana Current TV, criada sem sucesso pelo ex-vice-presidente Al Gore. O objetivo � claro: conquistar o mercado dom�stico nos EUA. A Al Jazeera comprou escrit�rios suntuosos em v�rias cidades do pa�s, onde se tornou um dos raros ve�culos a fazer contrata��es em massa.

Num cen�rio de crise mundial para o jornalismo, a TV do Qatar oferece sal�rios acima da m�dia e infraestrutura de sonho para reportagens no mundo inteiro. A empresa diz ter 3.000 funcion�rios, dos quais 400 jornalistas, espalhados por 60 reda��es nos cinco continentes. A CNN tem algo como 4.000 funcion�rios e 45 escrit�rios pelo mundo.

A sede da Al Jazeera ocupa um quarteir�o inteiro numa �rea afastada alguns quil�metros do centro da sopor�fera Doha. No port�o principal do complexo, h� um incessante vaiv�m de sedans e picapes de luxo que abundam no pa�s da renda per capita mais alta do mundo, de US$ 102.800 anuais (no Brasil, a renda per capita � de US$ 12.000).

A reda��o do servi�o ingl�s � moderna e confort�vel e tem profissionais de todas as idades e biotipos, de mais de 60 nacionalidades, segundo a empresa. Lembra uma t�pica reda��o ocidental, com leve predomin�ncia de mulheres, poucas �rabes, na maioria anglo-sax�s. No mezanino que abriga as salas do editores, o ambiente silencioso lembra mais uma empresa do que uma reda��o.

"Gosto de trabalhar aqui e me sinto perfeitamente confort�vel com o que fazemos", diz a brit�nica Laura Kyle, j� maquiada para assumir seu turno na bancada do telejornal. "Trabalhei na TV estatal chinesa e sei exatamente o que � um �rg�o de propaganda. Posso garantir que, aqui, isso n�o existe."

Ex-funcion�ria do "International Herald Tribune", a neozelandesa Yasmine Ryan � produtora do site em ingl�s e blogueira. "Venho da velha m�dia', jornais defasados e em decl�nio. Hoje at� a BBC � engessada. Na Al Jazeera tudo � din�mico, a empresa se expande e temos recursos para fazer jornalismo de verdade."

O servi�o �rabe fica num pr�dio menor, ao lado, simples e antigo. H� menos mulheres e mais homens, sempre vestindo os trajes tradicionais --t�nica branca e "keffieh" na cabe�a. Um funcion�rio aponta para o carpete e conta uma anedota. Em 2000, o ent�o ditador eg�pcio Hosni Mubarak visitou a reda��o. "Aqui, neste exato local, Mubarak parou e disse: � esta caixinha de f�sforo que causa tanto barulho?'".

Uma salinha abriga uma esp�cie de museu para visitantes. O acervo inclui livros, equipamentos de transmiss�o usados em guerras nos anos 90 e objetos pessoais de rep�rteres mortos em campo, chamados de "m�rtires".

Apesar das ressalvas, a Al Jazeera ainda � capaz de brilhar. Sua cobertura da ascens�o chinesa, da repress�o em Mianmar e da guerra no Mali continua sem igual. Em janeiro, o correspondente do canal em ingl�s no Brasil, Gabriel Elizondo, foi um dos primeiros a chegar a Santa Maria (RS) ap�s o inc�ndio na boate que matou 241 pessoas. Suas reportagens foram visivelmente mais completas e precisas que as da concorr�ncia.

A TV tamb�m produziu nos �ltimos meses investiga��es com valor de acervo hist�rico sobre a ascens�o do cl� Assad na S�ria e as negocia��es secretas entre Israel e Jord�nia ap�s o atentado fracassado do Mossad contra o l�der do Hamas em 1997. Dajani, o especialista em m�dia, lembra que a Al Jazeera � uma das raras TVs a oferecer at� hoje cobertura extensiva da Primavera �rabe.

"A neutralidade completa � um mito no mundo �rabe", afirma. "O L�bano tem uma d�zia de canais por sat�lite, cada um representa uma ideologia sect�ria diferente. No Ocidente tamb�m sempre h� algum vi�s, principalmente quando se trata de linhas pol�tico-partid�rias."


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