Descrição de chapéu América Latina

Trem vintage conduz roteiro luxuoso de Cusco a Machu Picchu

Turista pode se hospedar em monastério do século 16, provar almoço pachamanca e até dar leite às alpacas

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imagem de trem azul passando em ponte em paisagem com árvores e montanhas

O trem Hiram Bingham parte de Cusco em direção a Águas Calientes, com drinks e refeições a bordo de vagões retrô Divulgação

Cusco, Peru

O convite à simplicidade, em conexão com a natureza, também abre espaço para o luxo no Peru. A visita a Machu Picchu pode ser acompanhada de spa nas montanhas, viagem de trem com vagões ao estilo dos anos 1920 saindo direto do hotel e requinte nos pratos, com peixe amazônico, quinoa, batata e milho.

A jornada começa em Cusco, onde fica o aeroporto mais próximo. Ao pousar lá, o momento é de se ambientar e desacelerar. A hospedagem na região do vale sagrado, a cerca de 2.000 metros de altitude e 60 km da cidade, é um pouco mais amena e ajuda a preparar o corpo e o espírito para encarar as montanhas.

Após um café da manhã com granola cultivada no vale e tuna, a fruta do cacto, é hora de partir. De janeiro a abril, no período chuvoso, o visitante tem uma vantagem extra: o trem Hiram Bingham, composição da rede Belmond, sai da porta do hotel, em vez da estação em Cusco.

Viajar em um trem que remete a cem anos de história é como fazer uma viagem a um universo conhecido apenas em livros e filmes. Impossível não se sentir transportado para o Expresso do Oriente descrito por Agatha Christie (mas sem assassinato); ou esperar que um espião no estilo James Bond esteja à espreita do vilão.

Com um mobiliário tão europeu, o toque andino do trem fica por conta do pisco sour (a caipirinha dos peruanos, preparado no bar), do som latino de banda ao vivo e das montanhas da região cusquenha.
Espiar da janela a paisagem é ter a certeza de que se vive um sonho antes mesmo de se chegar ao ponto final do trajeto. Parece se cumprir, afinal, a máxima de que o melhor da viagem é o caminho.

Mas o destino é Machu Picchu, sítio arqueológico símbolo do império inca, eleito pela Unesco uma das sete maravilhas do mundo moderno.

É possível regressar de lá no mesmo dia, em um bate e volta de trem. Para quem preferir se aventurar nas trilhas e fazer uma imersão com mais tempo, o ideal é dormir na noite anterior em Águas Calientes.

Descanso sagrado e mamadeira para as alpacas

No retorno ao vale sagrado, a manhã começa com um leite quente em mamadeiras. São para as estrelas da casa: as alpacas, de cerca de um ano de vida, se aproximam, para o deleite dos hóspedes que podem alimentá-las.

Brasileiros têm sido um público crescente entre os que procuram relaxar com conforto no Peru, ao lado de americanos, europeus e mexicanos.

No hotel Rio Sagrado, hotel da Belmond no Vale Sagrado, na região de Cusco, hóspedes podem dar leite às alpacas que vivem nos arredores
No hotel Rio Sagrado, hotel da Belmond no Vale Sagrado, na região de Cusco, hóspedes podem dar leite às alpacas que vivem nos arredores - Divulgação

"O Brasil tem lindas praias. Mas o Peru oferece uma enorme diversidade de cultura, gastronomia e paisagens", diz Javier Carlavilla, 46, gerente-geral do Rio Sagrado, hotel do grupo Belmond, com diárias a partir de US$ 743 (R$ 3.850).

É o próprio cusquenho Javier quem comanda o passeio de bicicleta pelo entorno. Há ainda ioga, hike e observação de pássaros como opção ao ar livre.

Ao meio-dia, as mesmas alpacas, agora deitadas no gramado, parecem apontar aos visitantes a próxima experiência. Perto delas, no chão, as pedras incandescentes na fogueira anunciam a pachamanca, prato feito com técnica ancestral de preparo dos alimentos embaixo da terra.

Batata, milho, carne de porco e de frango crus, temperados com ervas locais, são sobrepostos com as pedras quentes sobre folhas de banana. Depois, nova camada de folhas e um pano. Por cima, terra por completo. Meia hora depois, o almoço é desenterrado e servido com sabor intenso e aroma defumado. O paiche, peixe amazônico conhecido no Brasil como pirarucu, é apresentado em posta ou mesmo como um ceviche quente.

Uma grata surpresa é a truta. Espécie não nativa, ela se adaptou bem na bacia no rio Urubamba. É servida em carpaccio ou defumada, e também assada em uma grossa crosta de sal, produzido nas salinas de Maras, ali na região.

Entre os passeios que permitem um mergulho na cultura local, está a visita à comunidade têxtil de Chinchero. São mulheres que há quatro décadas mantêm a arte de tingir fios em cores vivas, a partir de folhas, sementes e plantas, para tecer toalhas e mantos. Cerca de 600 crianças, inclusive meninos, participam do projeto para aprender e perpetuar a técnica ancestral.

Dormir na história

Em Cusco, a história de indígenas e da Igreja Católica se misturam na hospedagem.

Antes um palácio inca, o convento Nazarenas, do século 17, abrigou beatas até se tornar hotel de alto padrão, também da rede Belmond. O local ainda mantém intacto a roda por onde as religiosas vendiam ao público pães e doces de caramelos.

Nos quartos, há um reforço de oxigênio que ajuda na aclimatação. As diárias são a partir de US$ 1.547 (R$ 8.000).

Ao lado do Nazarenas, prevalece a imponência do Monastério, construção do século 16 também transformado em hotel. O prédio de cor ocre e um cedro de 300 anos plantado ao centro do pátio encantam hóspedes e visitantes, que também são bem-vindos.

O visitante pode ainda desfrutar do Mauka, restaurante inaugurado há pouco mais de um ano, assinado pela chef Pía León. Junto com seu marido Virgilio Martínez, ela comanda o Central, eleito o melhor restaurante do mundo em 2023 pelo ranking 50 Best.

Mesmo com tanta sofisticação, a maior riqueza está na hospitalidade do povo peruano. Nos sorrisos e nos gestos gentis ao tecer um poncho e ao macerar o milho no preparo de uma pasta, o olhar e a fala são de quem se orgulha genuinamente da sua cultura. Isso sim é luxo.


Trem Hiram Bingham
Parte de Cusco para Águas Calientes todos os dias, e inclui almoço e jantar, drinques, ingresso e transfer para Machu Picchu, coquetel de recepção no hotel Sanctuary Lodge, ao lado do parque, e guia em espanhol ou inglês. Passagens de ida e volta a partir de US$ 1.140 dólares (cerca de R$ 5.900) em belmond.com/trains

Dicas para curtir melhor a sua viagem

  • Independentemente da temperatura, não esqueça do protetor solar;
  • Muita água e chá de muña, que é mais agradável do que o famoso chá de folhas de coca, ajudam a atenuar os efeitos da altitude;
  • No fim de junho acontece o Inti Raymi, festa do Sol, onde se reúnem em Cusco diferentes grupos com vestimentas coloridas;
  • Nos arredores de Cusco, é imperdível a visita à Montanha Colorida —apesar do desconforto com os 5.000 metros de altitude;
  • Vale a pena fazer uma parada de um ou dois dias em Lima, para conhecer a rica gastronomia da cidade;
  • Entre as frutas, o morango é docinho e muito barato (13 soles o quilo, ou cerca de R$ 18). Vale também experimentar o aguaymanto e a tuna, fruta do cacto;
  • Para seguir desbravando o Peru sobre trilhos, há o Andean Explorer, que parte de Cusco e passa por Arequipa e Puno, no lago Titicaca, na fronteira com a Bolívia. O roteiro dura três dias (com duas pernoites no trem) e custa US$ 5.688 (cerca de R$ 29,4 mil).
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