Uma gastronomia apoiada em ingredientes patagônicos —cordeiro, carnes de caça, truta, frutas vermelhas e cogumelos— vem ajudando a incrementar o turismo fora da alta temporada em Bariloche (Argentina).
É nos meses de frio mais intenso que 75% dos visitantes brasileiros chegam à região em busca da neve, do esqui, dos passeios por lagos e dos picos com vistas panorâmicas.
Neste ano, houve um crescimento de 8% de turistas do Brasil. Para explicar essa alta, o Emprotur, órgão de promoção turística local, cita a estreia de voos diretos diários à região, localizada no parque nacional Nahuel Huapi, junto à Cordilheira dos Andes.
É nesse cenário, de ambientes distintos, que se forma uma gastronomia igualmente diversa. Nas montanhas, obtém-se carnes de caça, cogumelos e frutas vermelhas. Nos rios e lagos, pesca-se variedades de trutas, peixe de carne delicada e suave. Nos campos planos, de vegetação árida, criam-se cordeiros.
São receitas que surgem amparadas por profissionais das ciências, como a veterinária Karina Cancino, empenhada em desenvolver um trabalho conjunto com chefs capaz de agregar valor ao produto final.
Para ser reconhecido como cordeiro patagônico, diz ela, o animal precisa alimentar-se de leite materno e das gramíneas do campo. O resultado é uma carne vermelha e brilhante, como demonstrou em uma aula gratuita na quinta edição do Bariloche a la Carta, que acabou nesta semana.
“Uma vez ao ano, o festival mostra uma das fortalezas de Bariloche que é a nossa gastronomia”, diz o diretor do evento, Lucio Bellora. Com apoio do governo, ele crê em ações como essa para atrair turistas ao longo de todo o ano. “Bariloche tem 150 mil habitantes e recebe, só na semana do festival, 40 mil pessoas.”
A feira reúne cerca de 80 expositores e 70 restaurantes, que preparam os produtos da região a preços especiais e organizam aulas e jantares com chefs convidados.
No Llao Llao, hotel tradicional da cidade construído numa colina no início do século 20, o chef Federico Domínguez Fontán recebeu o colega Pedro Lambertini, autor do livro “Al Natural” e apresentador de programas de TV.
Surgem em seus preparos, ingredientes como a merluza pescada em anzol, o cordeiro de aroma profundo e o morel, um cogumelo em inesperada forma de colmeia. “Sou defensor dos produtos locais. Cerveja, frutas vermelhas e chocolate também estão muito arraigados”, diz Fontán.
Em um passeio pela cidade, nota-se como é forte a cultura do chocolate e da cerveja, que faz uso de lúpulo de vales irrigados pelo degelo dos Andes.
Na Mamuschka, fábrica e loja de chocolates com quase 30 anos, as barras são feitas a partir do grão, iniciativa inovadora na Argentina. “O cacau vem da Venezuela, do Brasil e da Colômbia, e nós processamos aqui. Do mesmo grão fazemos os sorvetes”, diz a proprietária, Carolina Carzalo.
Também tem veia vanguardista a cervejaria artesanal Berlina, cuja produção é aberta ao turista. A cervejaria deu tratamento particular à abóbora, para incorporá-la num dos rótulos, ao adotar um hábito indígena de cocção, o curanto, que pressupõe um cozimento embaixo na terra, alimentado com pedras de rios da região e folhas aromáticas.
A jornalista viajou a convite do Emprotur, da Secretaria de Turismo de San Carlos de Bariloche e da Secretaria de Turismo de Rio Negro
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.