Como a antes isolada Isl�ndia vive explos�o no turismo
Chris Baraniuk/BBC | ||
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Um n�mero de turistas v�rias vezes maior que a popula��o islandesa visitou o pa�s em 2016 |
A menina deposita uma imensa quantidade de lama branca nas m�os de uma amiga, que sorri enquanto v� o material escorrer de volta para a �gua. H� dezenas de pessoas em volta, imersas at� o pesco�o em uma imensa piscina relaxante de �gua quente.
Estamos em novembro, e a temperatura exterior � de zero grau, mas a Lagoa Azul � um banho quente –um term�metro digital mostra que a temperatura da �gua � de 38�C. Frequentadores fazem m�scaras de lama e tiram selfies usando smartphones em sacolas imperme�veis.
A Lagoa Azul � conhecida por quem visita a Isl�ndia. O imenso tanque artificial, aquecido por uma usina geot�rmica, � particularmente impressionante � noite. Nuvens de vapor sobem em dire��o ao c�u enquanto multid�es de turistas brit�nicos, franceses, americanos, russos e chineses relaxam na �gua.
As �guas quentes da Isl�ndia s�o populares h� bastante tempo, mas o n�mero de pessoas visitando a ilha europeia cresceu de forma dram�tica nos �ltimos anos. A popula��o islandesa � de apenas 330 mil pessoas, mas no ano passado o pa�s recebeu cerca de 1,7 milh�o de visitantes. E o n�mero continua crescendo.
Esse boom de turismo pegou a Isl�ndia de surpresa –e est� mudando esse outrora isolado pa�s de maneiras interessantes.
APOSTA
Depois da crise global de 2008, o valor da coroa islandesa despencou. Como parte da recupera��o econ�mica, o pa�s concentrou esfor�os nas divisas proporcionadas pelo turismo. Mas mesmo os respons�veis pela campanha se surpreenderam com a resposta.
"Ningu�m esperava o que estamos vendo", diz Inga Pallsdottir, da Promote Iceland, uma ag�ncia de promo��o internacional da ilha.
A Isl�ndia, na verdade, � um exemplo de diversas mudan�as ocorrendo no mundo: uma �nfase na ind�stria de servi�os como o turismo, que atualmente prov� um em cada 11 empregos no planeta; flutua��es em economias nacionais que t�m efeitos internacionais; e o impacto de viagens a�reas mais baratas.
Mas o aumento no n�mero de visitantes se deve tamb�m a uma maior exposi��o da Isl�ndia. O pa�s esteve frequentemente no notici�rio internacional nos �ltimos anos. Houve a crise financeira que derrubou o sistema banc�rio e jogou o pa�s em um caos pol�tico. E ainda as erup��es do vulc�o Eyjafjallaj�kull em 2010, que cancelou voos ao redor do mundo.
E, no ano passado, a sele��o islandesa encantou amantes do futebol ao redor do mundo quando disputou pela primeira vez a Eurocopa e chegou �s quartas de final, eliminando no caminho a Inglaterra.
Mas um dos principais fatores de exposi��o foi a oferta de passagens de baixo custo para voos partindo da Europa e dos EUA. O n�mero de passageiros no Aeroporto Internacional de Keflav�k tem crescido regularmente nos �ltimos dez anos. Apenas em 2016, foram quase sete milh�es de pessoas passando pelo terminal, um aumento de 40% em rela��o ao per�odo anterior.
Uma estrat�gia promocional ajudou: a companhia Icelandair passou a oferecer paradas em Reykjav�k em voos transatl�nticos. David Goodger, analista da firma Oxford Economics, explica que isso criou uma oportunidade para turistas. "Passageiros interrompem suas viagens para passar algumas noites na Isl�ndia. A empresa fez um belo trabalho para vender a ideia."
REFLEXOS
O efeito da chegada dos turistas � vis�vel, especialmente em Reykjav�k.
"Essa �rea que voc� est� vendo era abandonada durante a crise", conta Palsdottir, apontando para o lado de fora de um hotel de luxo da capital.
Em outras partes, segue o trabalho para cuidar das hospedagens. Um novo hotel cinco estrelas da rede Marriott vai abrir em 2018. No aeroporto, um cartaz informa aos passageiros sobre uma expans�o de 7 mil metros quadrados. At� a Lagoa Azul est� sendo ampliada.
A gama de atra��es tamb�m est� crescendo. Em 2014, um novo passeio foi criado para levar turistas a passeio por um t�nel cavado em uma geleira. No ano seguinte, 22 mil pessoas visitaram o local, 50% a mais que o esperado.
Chris Baraniuk/BBC | ||
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Popula��o local teme gentrifica��o e disparada em pre�os imobili�rios por causa do turismo |
Mas essa turma precisa comer, e um dos principais desafios da ind�stria aliment�cia local � atender �s demandas de turistas que esperam poder pedir de tudo –e para "ontem".
Isso n�o � nada f�cil na Isl�ndia, que importa a maior parte dos alimentos que consome. E isso ficou especialmente dif�cil depois da desvaloriza��o da coroa –um impacto disso foi o fechamento das tr�s filias do McDonald's do pa�s, depois de os custos de importa��o dos ingredientes dispararem.
Mas at� isso virou atra��o: uma refei��o de hamb�rguer e fritas comprada em 30 de outubro de 2009, um dia antes do fechamento dos restaurantes, fica exposta em um hostel de Reykjav�k e turistas podem tirar fotos a seu lado. Mesmo quem n�o puder ir � Isl�ndia pode acompanhar a webcam ao vivo.
A redu��o nas importa��es tamb�m teve um lado bom. Islandeses se dedicaram � produ��o local de frutas e vegetais, usando estufas alimentadas com energia geot�rmica. Uma fazenda local at� abriu um restaurante.
O OUTRO LADO
Muitos neg�cios se beneficiaram do turismo, mas nem todo mundo est� feliz. Moradores de Reykjav�k temem que a cidade possa perder sua identidade com a prolifera��o de hot�is de metal e vidro. E o aumento da demanda por acomoda��o pode levar � especula��o imobili�ria.
Recentemente, por sinal, o governo decidiu limitar a quantidade de quartos oferecidos pelo Airbnb no pa�s. A ideia era acalmar moradores de �reas como o centro de Reykjav�k, que temiam aumentos no pre�o de im�veis e alugu�is.
Outra preocupa��o � com o impacto ambiental. Salome Hallfredsdottir, da Associa��o Ambiental Islandesa, conta que ficou chocada com a quantidade de carros que viu estacionados durante uma recente visita a Landmannalaugar, um campo de lava fossilizada nas Highlands Islandesas.
Ela se preocupa especificamente com o impacto nas Highlands, que ela afirma ser "o �nico peda�o de vida de selvagem ainda intacto na Europa". H� um imenso debate no pa�s sobre a necessidade de transformar a regi�o em �rea preservada.
Chris Baraniuk/BBC | ||
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Ambientalistas se preocupam com impacto em �reas ecologicamente sens�veis da ilha |
H� preocupa��o especial com os ve�culos off-road. "Basta que apenas um motorista deixe marcas para que outros pensem se tratar de uma rota oficial", diz Hallfredsdottir.
Os danos causados �s forma��es rochosas e plantas podem ser consider�veis. "N�o queremos que todas as partes das Highlands sejam acess�veis."
Ela quer um aumento no n�mero de guardas florestais para orientar turistas e tamb�m intervir na preven��o de polui��o ou comportamento negligente.
Mas isso demanda verbas: a mais recente proposta, a cria��o de um taxa compuls�ria de US$ 14 como ingresso em parques nacionais foi derrubada pelo Parlamento em 2015. Hoje, as pessoas pelo menos pagam pelo estacionamento em um dos mais populares parques nacionais, o Thingvellir.
Mas defensores do turismo acreditam que as visitas podem ter um impacto positivo no geral. "Todos nos beneficiaremos no longo prazo. Teremos melhores estradas e melhores trilhas", diz Pallsdottir.
DEPEND�NCIA ARRISCADA?
A Isl�ndia poderia, por�m, estar caminhando para uma "bolha" do turismo?
O setor hoje compete com a pesca pelo t�tulo de principal motor econ�mico do pa�s, movimentando cerca de 23% do PIB, o dobro do registrado em muitos pa�ses europeus. Varia��es cambiais s�o um risco: recentemente, uma valoriza��o da coroa junto ao d�lar e � libra esterlina aumentou o custo de viagem para dois dos principais grupos de visitantes –americanos e brit�nicos.
"Nossos modelos mostram que h� um relacionamento claro entre movimentos de c�mbio e o desempenho do turismo", afirma David Goodger, da consultoria Oxford Economics.
As recentes proje��es s�o de que a ind�stria do turismo seguir� crescendo no pa�s, mesmo que diminua o ritmo. Mas isso n�o � garantido.
"Grandes varia��es cambiais podem atrapalhar isso. Se a Isl�ndia ficar cara demais, poderemos ver o processo de crescimento ser revertido."
Em outras palavras, a bonan�a do turismo, que ajudou a fortalecer a coroa, pode reverter o processo se a cota��o da moeda subir muito.
Pelo menos por enquanto, por�m, a multid�o n�o parece estar diminuindo.
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