Como a IA fez popularidade de Mark Zuckerberg renascer no Vale do Silício

Depois de alguns anos difíceis, desenvolvedores veem CEO da Meta como campeão do código open-source

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Mike Isaac
The New York Times

Quando Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou no ano passado que sua empresa lançaria um sistema de inteligência artificial, Jeffrey Emanuel teve suas dúvidas.

Emanuel, hacker e entusiasta de IA, havia trabalhado com modelos "fechados", aqueles cujo código de programação não podia ser acessado ou modificado. Ele estava preocupado que a IA da Meta, apresentada em um primeiro momento a alguns acadêmicos, ficasse limitada a apenas um pequeno círculo de pessoas.

Mas em um lançamento em julho do ano passado de um modelo de IA atualizado, Zuckerberg tornou o código "open-source" para que pudesse ser livremente copiado, modificado e reutilizado por qualquer pessoa.

Ilustração
Ilustração - Amanda Cotan/The New York Times

Emanuel, fundador da startup de blockchain Pastel Network, comprou a ideia. Ele disse que achou bom que o sistema de IA da Meta fosse poderoso e fácil de usar.

Acima de tudo, ele adorou como Zuckerberg estava abraçando a conduta hacker de tornar a tecnologia disponível de forma aberta —em grande parte o oposto do que o Google, OpenAI e Microsoft fizeram.

"Temos esse campeão no Zuckerberg", disse Emanuel, 42. "Graças a Deus temos alguém para proteger a cultura de código aberto dessas outras grandes empresas."

Zuckerberg se tornou o executivo de tecnologia de maior destaque a apoiar e promover o modelo open-source para IA.

Isso posicionou o bilionário de 40 anos em um dos lados de um debate controverso sobre se a tecnologia é perigosa demais para ser disponibilizada a qualquer programador que a queira.

Microsoft, OpenAI e Google têm uma estratégia de IA mais fechada para proteger suas tecnologias, por excesso de cautela. Mas Zuckerberg tem defendido que a tecnologia deve estar aberta a todos.

"Essa tecnologia é tão importante, e as oportunidades são tão grandes, que devemos torná-la open-source e disponibilizá-la o mais amplamente possível de forma responsável, para que todos possam se beneficiar", disse ele em um vídeo publicado no Instagram em janeiro.

Essa postura transformou Zuckerberg em um improvável homem do momento em muitas comunidades de desenvolvedores do Vale do Silício, provocando conversas sobre um "glow-up" e uma espécie de renascimento de sua personalidade.

Mesmo enquanto o CEO continua lidando com investigações sobre desinformação e questões de segurança para menores de idade nas plataformas da Meta, muitos engenheiros, programadores e acadêmicos abraçaram sua posição de disponibilizar a IA para as massas.

Desde que o primeiro modelo de IA open-source da Meta, chamado LLaMA 2, foi lançado em julho, o software foi baixado mais de 180 milhões de vezes, disse a empresa.

Uma versão mais poderosa do modelo, LLaMA 3, que foi lançada em abril, alcançou o topo da lista de mais baixados no Hugging Face, site comunitário para programas de IA, em tempo recorde.

Os desenvolvedores criaram milhares de programas próprios baseados na IA da Meta, como aqueles que ajudam médicos a ler exames de Raio-X até ou que criam dezenas de assistentes virtuais.

"Eu disse a Mark, acho que tornar o LLaMA open-source foi a coisa mais popular que o Facebook já fez na comunidade tecnológica em sua história", disse Patrick Collison, CEO da empresa de pagamentos Stripe, que recentemente se juntou a um grupo da Meta que visa ajudar a empresa a tomar decisões estratégicas sobre IA.

A Meta também é dona do Facebook, Instagram e WhatsApp.

A nova popularidade de Zuckerberg nos círculos de tecnologia é marcante por causa de sua história conturbada com os desenvolvedores. Ao longo de duas décadas, a Meta por vezes deixou os programadores na mão.

Em 2013, por exemplo, Zuckerberg comprou a Parse, empresa que construiu ferramentas para desenvolvedores, para atrair programadores a construir aplicativos para o Facebook. Três anos depois, ele encerrou a inciativa, irritando profissionais que haviam investido tempo e energia no projeto.

Um porta-voz de Zuckerberg e da Meta se recusou a comentar.

Softwares open-source tem uma longa e ilustre história no Vale do Silício, com grandes batalhas tecnológicas girando em torno de sistemas abertos vs. proprietários —ou fechados.

Nos início da internet, a Microsoft lutou para fornecer o software que rodava a infraestrutura da web, mas perdeu para projetos de software open-source. Mais recentemente, o Google tornou aberto seu sistema operacional Android para competir com o sistema operacional fechado do iPhone da Apple.

O navegador Firefox, a plataforma WordPress e o programa de animação Blender foram construídos usando tecnologias open-source. Zuckerberg, que fundou o Facebook em 2004, sempre apoiou a tecnologia de código aberto.

Em 2011, o Facebook iniciou o Open Compute Project, uma organização sem fins lucrativos que compartilha designs de servidores e equipamentos de data centers.

Em 2016, o Facebook também desenvolveu o Pytorch, biblioteca de software de código aberto amplamente utilizada para criar aplicativos de IA. A empresa também está compartilhando os projetos de chips de computação que desenvolveu.

"Mark é um grande estudioso da história", disse Daniel Ek, CEO do Spotify, que considera Zuckerberg um confidente. "Com o tempo, na indústria da computação, ele viu que sempre houve caminhos fechados e abertos a seguir. E ele sempre optou pelo aberto."

Na Meta, a decisão de tornar a IA de código aberto foi controversa. Em 2022 e 2023, as equipes jurídica e de políticas da empresa apoiaram uma abordagem mais conservadora para liberar o software, temendo uma reação negativa entre os reguladores em Washington e na União Europeia.

Mas os tecnólogos da Meta, como Yann LeCun e Joelle Pineau, que estão à frente da pesquisa em IA, defenderam o modelo aberto, argumentando que isso beneficiaria melhor a empresa a longo prazo.

Os engenheiros venceram. Zuckerberg concordou que se o código fosse aberto, poderia ser aprimorado e protegido mais rapidamente, disse em uma postagem no ano passado em sua página do Facebook.

Embora tornar o LLaMA open-source signifique liberar o código que a Meta gastou bilhões de dólares para criar sem retorno imediato sobre o investimento, Zuckerberg chama isso de "bom negócio".

Quanto mais desenvolvedores usarem as ferramentas de software e hardware da Meta, mais provável é que se envolvam no ecossistema tecnológico da empresa, o que ajuda a consolidar a empresa.

A tecnologia também ajudou a Meta a melhorar seus próprios sistemas internos de IA, auxiliando na segmentação de anúncios e recomendações de conteúdo nos aplicativos da empresa.

"Isso está 100% alinhado com os incentivos de Zuckerberg e como eles podem beneficiar a Meta", disse Nur Ahmed, pesquisador do MIT Sloan que estuda IA. "Todos saem ganhando com o LLaMA".

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