Ciberfeministas se organizam para incentivar mulheres na carreira de TI
Joel Silva/Folhapress | ||
![]() |
||
Astr�noma brasileira Duilia de Mello, durante palestra na Campus Party, em S�o Paulo |
Uma modelo passa em trajes curtos e apertados de uma fantasia de personagem de videogame pelo corredor da Campus Party, uma esp�cie de ninja verde com m�scara de cetim, para a qual as c�meras apontam e os cotovelos indicam. Apesar da aten��o dedicada dos homens presentes, n�o � esse o papel que as mulheres querem ocupar em um evento de tecnologia.
Na dianteira do ciberfeminismo, como resolveu se chamar a milit�ncia das mulheres para ocupar mais protagonismo e respeito na �rea de TI, est�o grupos que querem debater e empoderar garotas a meter a m�o no teclado e desenvolver projetos.
As Arduladies vieram para a feira ensinar como criar projetos com Ardu�no, uma pequena placa de circuito eletr�nico controlada por software. "J� trabalhei com uma equipe de 160 pessoas, e s� duas mulheres", conta a programadora Cristiana de Oliveira, uma das integrantes do grupo.
Isabela Mendes, t�cnica em eletr�nica e entusiasta do Ardu�no, afirma que a aus�ncia das mulheres na tecnologia remonta � educa��o infantil, quando s�o separados quais s�o os brinquedos de meninos e meninas. O computador e o videogame sempre s�o atrelados ao g�nero masculino.
"Se a escola mostrasse todas as op��es e n�o restringisse as escolhas das meninas com esse papo de mulheres fazem Humanas, homens, Exatas, ter�amos mais presen�a na �rea", comenta, enquanto Valentina, 3, filha de uma das meninas do grupo se esgueira por baixo da mesa com dezenas de CPUs.
H� 26 anos no mercado de TI, a programadora Alline Oliveira diz que j� ouviu e sofreu todo tipo de ass�dio no trabalho. Hoje ela mant�m o blog "Machismo em TI", que re�ne relatos de mulheres que enfrentam o mesmo tipo de problema e tamb�m fomenta o debate. "Percebi que falta falar sobre o assunto, expor os casos, dar apoio jur�dico para quem passa por esta situa��o".
Ela v� mudan�as na presen�a das mulheres no mercado, mas joga luz sobre outro problema: "Vejo que existem mais mulheres sim, mas por d�cadas eu tenho tentado mostrar que � poss�vel trazer mais meninas para a TI e essa n�o parece ser a quest�o. O problema � ret�-las na �rea".
FICA, VAI TER FUTURO
A perman�ncia das mulheres na tecnologia � uma das lutas do ciberfeminsmo. Segundo as entrevistadas, � comum que muitas desistam ainda durante os estudos ou no in�cio da carreira. Para a jornalista Iana Chan, da PrograMaria, as empresas perceberam o valor de ter um equipe diversa, mas n�o sabem como lidar com a quest�o. "Contratam mulheres, mas elas n�o se sentem acolhidas no ambiente acabam indo embora", comenta.
A programadora Daniela Palumbo, do Pyladies —que desenvolve workshops e oficinas da linguagem Python para mulheres— conta que sua turma na faculdade, que segundo ela j� era recordista por ter dez mulheres na sala, foi minguando ao longo dos anos. "Muitas mulheres n�o t�m um referencial dentro da tecnologia, isso desanima. A chave para ela saber que � poss�vel � ter um modelo em quem se espelhar."
Esse personagem para se inspirar, chamada de "role model", � apontada como uma ferramenta de aproxima��o das mulheres n�o s� com o tema, mas com a possibilidade de uma carreira de sucesso na �rea.
Samanta Lopes, do Reprograma, que tamb�m atua na mentoria de projetos de startup, traz mulheres em cargos diretores para conversar em sala com garotas em come�o de carreira. "Quebra o paradigma de que uma carreira de sucesso em TI � algo inalcan��vel, reservado a pessoas que s�o pontos fora da curva. Isso humaniza a lideran�a", conta.
A astr�noma brasileira Duilia de Mello, que esteve na Campus Party para uma palestra no palco principal, diz que meninas que n�o se inspiram em outras, acabam se intimidando. "N�s precisamos dizer para elas fazerem ci�ncia, n�o porque � legal, porque � empoderador, mas porque � poss�vel, porque ela quer e pode".
Nas mesas de workshops e hackatons � n�tida a presen�a de muitas mulheres na Campus Party, mas para as ativistas, ainda � um passo pequeno. "D� para perceber muito mais mulheres em rela��o ao ano passado, me orgulha muito, mas a mudan�a real do mercado ainda leva tempo", comenta Alline, do blog "Machismo em TI". Ela espera que dentro de 5 a 10 anos, o mercado de TI seja 40% de mulheres.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade