Jovens mulheres em cargos de chefia enfrentam falta de representatividade no trabalho

Edição da Folha Carreiras discute desafios que elas encaram e dá dicas para quem quer liderar

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São Paulo

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TEMA DA SEMANA: jovens mulheres em cargos de liderança

Vamos começar com uma reflexão: pense em grandes líderes, pessoas que comandaram ou comandam grandes empresas. Quantas dessas pessoas eram homens? Consegue pensar em lideranças femininas?

Segundo o estudo Women in the Workplace 2022 da McKinsey & Company, o c-suite (cargos de executivos como CEO, CFO e CTO) permanece predominantemente masculino e branco. Apenas um em cada quatro líderes era mulher, sendo 1 em cada 20 uma mulher negra.

Falta de oportunidade e machismo nas empresas são algumas das barreiras que as mulheres enfrentam ao tentarem alcançar posições de liderança - Jacob Lund/Adobe Stock

Por que ainda não há igualdade de gênero nas lideranças?

  • Falta oportunidade. "Vivemos sob um teto de vidro em que as mulheres vislumbram altas posições, mas não conseguem atingi-las", diz Manoela Ziebell, professora de psicologia e coordenadora do grupo de estudos sobre desenvolvimento de carreira na PUCRS.
  • Masculinidade. Há uma crença de que o homem tem perfil adequado para ser líder. Para Ziebell, enquanto mulheres não ascenderem a posições de chefia, será difícil desmistificar essa ideia.
  • Machismo. "É o que impede a ascensão delas. Por exemplo, ao avaliar a equidade salarial de uma empresa recentemente, usamos 20 indicadores, como performance e tempo na companhia. Em todos eles, mulheres ganham menos que os homens", diz Jéssica Paraguassu, CEO e fundadora da Mulheres no Comando, plataforma de desenvolvimento de carreiras.


Quais desafios jovens mulheres enfrentam em posições de liderança?

  • São vistas com menos credibilidade. Ouvem falas como "muito nova para este cargo" ou "não será capaz e não terá competência para tal desafio", diz Vanessa Cepellos, professora de gestão de pessoas na FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
  • Elas usam "estratégias de sobrevivência" como parecer mais velha e usar salto alto ou óculos para tentar passar uma imagem de alguém madura e driblar esse desafio, afirma Cepellos.
  • Buscando ser respeitadas, assumem características tidas como masculinas —postura mais agressiva ou falar mais alto.
  • Lidam com assédio e falta de iniciativas dentro da organização para acolher e ouvir as vítimas.
  • "Há o desafio de terem que se provar de duas a três vezes mais para serem consideradas no mesmo patamar que os homens", diz Paraguassu.
  • "São questionadas sobre ter vivência e competências técnicas para alcançar tais funções, se elas sabem realmente o que estão falando", afirma Lucia Torres, especialista em carreiras.
  • Dá um scroll para mais relatos na seção Minha Experiência.


Para mudar essa realidade, é preciso:

  • Investimento das companhias em iniciativas para proporcionar oportunidades de crescimento de carreira dentro da organização;
  • Incentivo a um olhar interno: quantas mulheres ocupam cargos de liderança na empresa?


Como identificar empresas alinhadas com esses propósitos?

  • Converse com as pessoas que trabalham nestas organizações;
  • Pesquise se a empresa possui programa de desenvolvimento de liderança feminina.

Minha Experiência

Mulheres contam desafios de serem jovens líderes.

Kauanne Patrocino - news carreiras
Kauanne Patrocino, 20, CEO da Impulsiona Jovem, startup de enfrentamento às violências nas escolas através da gamificação, e diretora financeira-jurídica no cursinho FGV - UNICEF/Valencia

Desafios: "Enfrento não só como mulher, mas como uma mulher negra. Com o passar do tempo, a maior dificuldade foi aprender a lidar com a sobrecarga [de trabalho]".

Kauanne também cita algumas das suas experiências como líder de sala na faculdade de administração pública na FGV. "Lidar com as diferenças de classe social, de raça e de perspectiva de mundo foi complicado. Não sabia como liderar um grupo com perspectivas tão diferentes".

Líderes que a inspiram: "A Luana Smeets, educadora e pesquisadora de políticas públicas. Ela participou de um projeto de embaixadores para jovens de escola pública e foi a primeira pessoa que me fez ver que podemos alcançar espaços de poder".

Como se preparou para a liderança: "Como vim de projetos sociais, sou proativa e gosto de falar em público. Essa proatividade fez com que tomasse as dores dos projetos que participei e, de certa forma, me deixou em uma posição de destaque".

Dicas para jovens que desejam alcançar cargos de chefia: "Sempre fale. Uma das coisas que aprendemos como mulheres é ter um perfil de pessoas mais quietas e reprimidas, por isso, nem sempre conseguimos contribuir. Na minha trajetória, foi significativo não ter medo de falar. Nós, mulheres, temos que ter mil cuidados para não sermos descredibilizadas, mas é importante usar estes espaços de forma que nos favoreça. Tenha também uma rede de apoio de mulheres".

 Sophia Grison - news carreiras
Sophia Grison, 27, aos 26, fundou e assumiu como CEO a Dream Success, startup de consultoria e serviços empresariais - Thaís Brochetto

Desafios: "Por ser mulher, as pessoas nos rotulam muito. Se vou, por exemplo, com um decote, as pessoas me taxam como uma pessoa sensual demais".

Ela diz que também enfrenta preconceito por ser pansexual, mas estar próxima de empresários e hubs de inovação que partilham dos mesmos valores e acolhem pessoas da comunidade LGBTQIA+ é uma forma de ajudá-la nesta posição.

Líderes que a inspiram: "A Nathalia Arcuri, empresária e comunicadora. Ela tem uma história interessante como empreendedora mulher. Mesmo diante das dificuldades, sempre manteve quem ela é".

Como se preparou para a liderança: "Sempre liderei de maneira intrínseca. Era aquela criança que amava ser líder da sala".

Além disso, Sophia conta que o contato com líderes em um trabalho anterior também a ajudou.

Dicas para jovens que desejam alcançar cargos de chefia: Sophia cita o visagismo: "é uma técnica em que você aprende como as pessoas precisam te ver e entende que a nossa imagem física interfere em como as pessoas nos enxergam. Entender a minha imagem como algo estratégico me ajudou a saber como me portar".

Ela também diz que saber se comunicar e estudo contínuo são outras formas de conquistar posições de liderança.

Nívea Virgolino - news carreiras
Nívea Virgolino, 24, foi CEO por um mês em um programa de líderes da Adecco Brasil, empresa mundial de recursos humanos, aos 22, e hoje é coordenadora deste mesmo projeto em nível regional - Rennan Oliveira

Desafios: "Me sentir incapaz para desempenhar o cargo. Quando se é jovem, há este complexo de sentir-se inferior por estar falando com pessoas mais velhas e ter receio de ser trocada".

Nívea acredita que esses sentimentos são influenciados pela falta de representatividade feminina em cargos de chefia. "É mais fácil encontrar homens na liderança, por isso é difícil se enxergar e se projetar nesses espaços".

Líderes que a inspiram: "Tinha uma mulher aqui na Adecco, a Letícia Oliveira, que estava no cargo de gerente comercial aos 28 anos. Quando via ela, pensava: é onde quero chegar. Ela começou na empresa como recepcionista e, em cinco anos, foi promovida para gerente comercial. É uma projeção de carreira incrível".

Como se preparou para as posições de liderança: "Sempre fui atrás de feedbacks para entender a perspectiva de outra pessoa sobre meus pontos fortes e fracos".

Dicas para jovens que desejam alcançar cargos de chefia: "Não deixe de fazer nada por medo. O medo é um sinal de que aquilo é importante para você. Quanto mais estiver fora da zona de conforto, mais você vai crescendo e mais se sentirá confortável para fazer coisas que não fazia antes".


Não fique sem saber

Explicamos dois assuntos do noticiário para você.

Entenda o caso de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão no RS

Homens contratados para trabalhar em empresas de colheita de uva em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, foram resgatados na quarta-feira (22) em situação análoga à escravidão.

  • Empresas envolvidas: eles foram recrutados na Bahia pelas companhias Fênix Prestação de Serviços e Oliveira & Santana, duas empresas contratadas pelas vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, importantes produtoras da região.
  • O que as vinícolas falaram? Que respeitam as leis, que os contratos com as empresas terceirizadas foram rompidos e que se solidarizam com os trabalhadores.
  • Na Justiça: o proprietário das duas empresas foi preso e liberado sob fiança. O MPT (Ministério Público do Trabalho) propôs o pagamento de cerca de R$ 600 mil em danos morais para os resgatados e ainda deve decidir sobre a responsabilidade das vinícolas.
  • Opinião: Seja em Auschwitz ou em vinícolas do Sul, fomos feitos para obediência e chicote, escreve Jairo Malta, autor do blog da Folha Sons da Periferia.

Por que EUA baniu o TikTok dos dispositivos federais

Os Estados Unidos estabeleceram um prazo de 30 dias, que começou na última segunda-feira (27), para que as agências governamentais do país excluam o aplicativo chinês TikTok em dispositivos e sistemas federais.

  • A ideia não é nova. Em dezembro do ano passado, parlamentares dos EUA incluíram na proposta de gastos do governo do país uma ferramenta para impedir que funcionários usem o TikTok em dispositivos governamentais.
  • O que dizem os EUA... Que a medida foi tomada para manter informações sigilosas seguras e que as operações do aplicativo em território americano levantavam preocupações relacionadas à segurança nacional.
  • Não foram só os EUA: o Canadá também anunciou a proibição da ferramenta nos dispositivos móveis fornecidos a funcionários públicos e a Comissão Europeia fez o mesmo nos telefones corporativos de seus funcionários.
  • Como fica o TikTok nessa história? O CEO da empresa, Shou Zi Chew, vai prestar depoimento ao Congresso dos EUA no dia 23 de março para esclarecer se o aplicativo coloca em risco a segurança dos cidadãos norte-americanos.
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