Esta é a edição da newsletter Folha Carreiras desta segunda-feira (28). Quer recebê-la às segundas-feiras no seu email? Inscreva-se abaixo.
Tema da semana: 'hidden overwork' ou trabalho oculto
Você se considera uma pessoa viciada em trabalhar? Existe um nome para isso: workaholic (trabalhador compulsivo). Trago esse termo para contextualizar um fenômeno que tomou conta do ambiente profissional.
Sabe aquilo de ler email, responder demandas do trabalho no WhatsApp ou preparar apresentações fora do seu horário de trabalho? Se você repete com frequência, sinto em lhe dizer mas pode estar fazendo hidden overwork.
Hidden o quê? Seria algo como trabalho oculto ou sobrecarga invisível do trabalho.
São pessoas que realizam atividades do seu emprego em momentos de descanso. Leva esse nome de oculto ou invisível porque não são tarefas vistas pela chefia e não são jornadas estendidas ou hora extra remunerada.
Por que isso acontece?
- Esse fenômeno é uma "obrigação velada" em que a pessoa trabalha mais porque se cobra em dar seu melhor para não comprometer sua carreira, afirma Renata Tavolaro, líder da equipe de psicólogos da orienteme, plataforma de gestão de saúde corporativa;
O profissional quer mostrar que está presente. Isso pode acontecer até quando ele está de férias.
- Exemplos: manda email sobre um assunto que leu para mostrar ao chefe que ainda está ligado na empresa, diz Lucas Toledo, diretor executivo do PageGroup, empresa de recrutamento e seleção de executivos.
'Mas, e se for um investimento na minha carreira?' Até aí tudo bem, contanto que não gere um desgaste mental e comprometa seu descanso. Vamos aos exemplos: a pessoa faz algum curso, lê livro, ouve podcast em busca de aprimoração.
Desde que seja uma atividade que traga um significado ou propósito e que te ajude a alcançar alguma meta, diz Patricia Ansarah, psicóloga organizacional e fundadora do IISP (Instituto Internacional em Segurança Psicológica).
Trabalhar muito traz prejuízos:
- Vira um comportamento tão nocivo e automático que o profissional não consegue parar de trabalhar;
- Desgaste mental e físico como perda de concentração e estresse;
- Distúrbios do sono como insônia;
- "Quando você faz mais do que deveria e não tem retorno, isso gera frustração: 'Faço tanto pela empresa e não sou reconhecido'", diz Toledo.
- As consequências são desmotivação e tomada de decisões erradas como pular de um emprego para outro.
Quem passa por isso, conta:
- A estudante de psicologia, 23, que preferiu não ser identificada, faz estágio na área de recursos humanos.
- Ela faz algumas atividades do estágio fora do seu horário de trabalho para adiantar demandas e não consegue dizer não para tarefas pedidas pela sua chefe, mesmo quando está sobrecarregada.
- Ela diz ter medo de ser ser vista diferente. Acredita que pode perder oportunidades de contratação e tem receio de não conseguir avançar.
Pandemia intensificou o trabalho oculto? Sim, especialmente pela adoção do home office.
"É como se você morasse no trabalho. No presencial, tinha momentos de conversa com os colegas e eram nessas situações que o profissional se desconectava do emprego. Em casa, o computador está sempre ligado. As pessoas não conseguem separar a vida profissional do trabalho", diz Tavolaro.
Como mudar isso?
- Mude seu estilo de vida. Não só a alimentação, mas também os seus pensamentos. "Você alimenta seu cérebro do quê?", questiona Tavolaro.
- Converse com seu líder ou com a equipe de RH da companhia para negociar suas atividades a fim de não te sobrecarregar.
- Alô, empresas: Ansarah afirma que isso só é possível quando o profissional está em ambientes psicologicamente seguros em que o colaborador pode pedir ajuda e trazer suas inseguranças.
Onde buscar ajuda profissional?
Rede de Atenção Psicossocial
Mapa mostra as unidades da rede habilitada pelo Ministério da Saúde desde set.2020 aqui.
Mapa Saúde Mental
Site reúne diversos tipos de atendimento: aqui
CVV (Centro de Valorização da Vida)
Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188: aqui
Falando em fenômeno do trabalho... hidden overwork vai na contramão do quiet quitting (demissão silenciosa) em que o intuito do movimento é colocar limites entre o pessoal e o trabalho. A ideia é não resumir sua vida apenas ao emprego.
Pergunte ao especialista
Tiramos dúvidas sobre mercado de trabalho e saúde mental.
O trabalho oculto pode desencadear um burnout? É o caminho. Explico como isso pode acontecer. Primeiro, a pessoa entra em um estado automático de ter que entregar resultados. Isso causa um sofrimento emocional que não é evidente, acontece de forma silenciosa e consome a energia psíquica do profissional. Aos poucos desencadeia os sintomas físicos, emocionais, relacionais e mentais. De repente, a pessoa está numa vida completamente disfuncional, que acarreta a improdutividade e impacta nas relações pessoais. Quando a gente vê, a pessoa pifou. Esse conjunto de sintomas que vai se estabelecendo leva ao esgotamento mental.
Sinais de desgaste provocado pelo excesso de trabalho: dores de cabeça, insônia e tremores, e sintomas emocionais como falta de motivação, baixo autoestima e perda de concentração.
Não fique sem saber
Explicamos dois assuntos do noticiário para você.
A situação da Covid piorou?
Alguns indicadores dizem que sim. Explicamos aqui.
-
Taxa de testes positivos de Covid saltam de 10% para 40% em um mês no Fleury, rede nacional de laboratórios, entre os dias 13 e 19 de novembro.
-
Na última sexta (25), o Brasil registrou 104 mortes por coronavírus e 56.889 casos da doença. Com isso, o país chega a 689.500 vidas perdidas e 35.203.980 infectados desde o início da pandemia.
- Média móvel de casos aponta alta de 163% e a de mortes, 72% em relação ao dado de 14 dias atrás.
- Casos de Covid cresceram em São Paulo, Amazonas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, aponta Fiocruz, que alerta também a possibilidade de haver dois picos da doença por ano.
- A alta de casos também reflete em uma subida de hospitalizações por Srag (síndrome respiratória aguda grave) em adultos. No estado de São Paulo, o número saltou de 134, no dia 30 de outubro, para 333 (aumento de 148,5%).
Um dos efeitos dessa alta foi a volta da obrigatoriedade do uso de máscaras no transporte público em São Paulo.
- "A volta das máscaras no transporte é importante porque está se vendo uma evolução nos casos de Covid, com subvariantes da ômicron com maior grau de transmissibilidade", afirma Álvaro Furtado da Costa, médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Nova variante: o Instituto Butantan identificou em SP a nova sublinhagem da variante ômicron, a BN.1, que já está em circulação nos Estados Unidos, Europa e Austrália.
E as vacinas? A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso emergencial de duas vacinas bivalentes (oferece imunização contra mais de uma cepa do coronavírus) produzidas pela Pfizer.
-
Primeira vacina brasileira. Começou a ser testada em humanos pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), instituição responsável pelo desenvolvimento do imunizante.
O que a Folha pensa: Vacina bivalente, campanhas e imunização infantil são armas da vez contra Covid, escreve o jornal em seu editorial.
Ouça no podcast Café da Manhã as dificuldades para o controle da Covid no próximo governo.
Brasileiros em Portugal querem voltar. O que rolou?
O sonho português não aconteceu. Despreparados, brasileiros recém-chegados a Portugal pedem ajuda para voltar, escreve a correspondente em Lisboa Giuliana Miranda.
- Os motivos?
- Custo de vida alto e recorde no preço dos imóveis. Prestações da casa própria em Portugal, por exemplo, podem disparar até 30%. Aliás, um estudo mostrou que a capital portuguesa, Lisboa, é a terceira cidade mais cara do mundo para se morar.
- Inflação alta. Em junho bateu 8,7%, a maior em quase 30 anos. Energia e alimentos puxaram alta de preços.
- Falta de planejamento para a viagem. Aliás, em meio a insatisfação com eleições no Brasil, cresceu o interesse por mudança para Portugal. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que irá trabalhar para que estudantes e trabalhadores que saíram por falta de oportunidades possam retornar ao país.
- Informações falsas de migração. Em julho, Portugal investigou ao menos 22 influenciadores digitais brasileiros por viabilizar entrada ilegal no país e aplicar golpes.
- Falando em migração...para conseguir um visto de trabalho em Portugal é preciso dispor de ao menos R$ 11 mil. Outra alternativa é apresentar um responsável financeiro com termo de compromisso.
- Opinião: Portugal recebe brasileiros como dono de uma casa pequena que quer dar festa grande, escreve o colunista da Folha José Manuel Diogo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.