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Cursos de MBA estimulam networking virtual com trabalhos em grupo e aulas ao vivo

Alunos criam grupos de WhatsApp para fazer atividades e conhecer colegas

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São Paulo

A pandemia trouxe mudanças e desafios para o ensino em todos os níveis, da alfabetização à pós. E, para os alunos dos cursos de MBA, além das dificuldades esperadas pela transformação digital, a crise sanitária ainda dificultou um dos pontos mais importantes do curso: o networking.

"Aquela caminhada do aluno com o professor na saída da sala, para tirar dúvidas ou falar algo em particular, não existe na aula online", conta Raphael Menezes, 29, estudante do curso de comportamento e ciências do consumo da ESPM.

"Um dos critérios para minha escolha de MBA foi não ser educação a distância", conta Raphael. Para ele, nascido em Fortaleza e formado em direito, era importante conhecer pessoas de outras áreas de formação e que pudessem expandir os horizontes profissionais e sociais dele em São Paulo, onde mora há cinco anos.

Raphael, porém, sequer chegou a vivenciar as aulas presenciais: logo após fazer a matrícula, a faculdade anunciou que as atividades seriam remotas.

Os primeiros meses foram de adaptação, sem grandes preocupações em conhecer os colegas. Mas, à medida que as aulas continuaram virtuais e os professores começaram a propor atividades em grupo, a atenção para a turma passou a ser maior.

"Quando temos grupos de trabalho, nos reunimos em algum momento da semana para discutir. Criamos grupos no WhatsApp para conversar, o que nos leva a querer comentar também sobre o MBA. Isso gera algumas afinidades", conta Raphael.

Para Priscilla Soave, 32, também aluna do mesmo curso, fazer as atividades de forma remota deu a ela mais tempo de dedicação aos estudos.

Assim como Raphael, ela não chegou a fazer aulas presencialmente. "Em um primeiro momento, até comecei a repensar se eu iria querer continuar ou não", diz. Ela conta que, apesar de não ter dedicado tanto tempo ao networking online, conseguiu criar amizades.

Raphael Magalhães Farias Menezes, vinte e nove anos, gerente de cliente e estudante do MBA comportamento e ciência do consumo, na ESPM, na casa dele em Cerqueira César.
Raphael Magalhães Farias Menezes, 29, gerente de cliente e estudante do MBA comportamento e ciência do consumo, na ESPM, na casa dele em Cerqueira César. - Mathilde Missioneiro/Folhapress

"Nunca vi nenhum dos meus colegas e, mesmo assim, recebi ligações de feliz aniversário de alguns deles", afirma. "Você consegue criar um vínculo mesmo nunca tendo conhecido as pessoas pessoalmente."

Apesar do sucesso com os pequenos grupos de discussão, a situação está longe de ser ideal. Raphael conta que, mesmo com o esforço entre alunos para encontrar afinidades, as interações ainda são limitadas.

"Não tem espaço para tomar café, bater um papo", comenta. "Aquela questão da sala de aula de chegar 15 minutinhos mais cedo e conversar para conhecer as pessoas não existe."

A falta de autonomia dos estudantes para aproveitar ambientes virtuais acadêmicos sem os professores ainda é um entrave para replicar a socialização dos espaços físicos de convivência.

A relação entre alunos e professores também engatinha na versão online dos MBAs. As interações acabam ficando restritas aos momentos de aula e, muitas vezes, conversas que seriam particulares têm que acontecer publicamente.

Para Marcelo Orticelli, diretor de educação para executivos e desenvolvimento do Insper, os professores sempre se preocuparam tanto com o conteúdo das disciplinas quanto com a necessidade de promover ambientes de networking para os alunos.

Ele destaca que uma diferença fundamental para o processo é a do ensino a distância realizado ao vivo, com aulas por videoconferência nas quais alunos e professores podem interagir.

Além dessa sincronia, professores trabalham com a promoção de atividades em pequenos grupos de estudantes para garantir que eles possam se conhecer melhor.

"É complicado dar aula pelo computador por mais do que uma hora, então, com a ajuda de alguns mecanismos das plataformas digitais, colocamos os alunos para discutir em pequenos grupos", conta Paulo Lemos, diretor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Educação Executiva SP.

Acostumado com reuniões de final de ano agitadas entre todos os estudantes da FGV em uma casa de shows, Lemos diz que, em termos de conteúdo, não há perdas significativas na formação, mas que o networking é mais difícil.

Orticelli, do Insper, afirma que uma estratégia para manter o networking vivo durante a pandemia é apostar em marcar encontros online. Para o diretor, eles têm até uma vantagem em relação aos presenciais pela praticidade de fazer uma ligação sem precisar contar com um deslocamento.

Se as relações sociais sofreram impactos mais difíceis de contornar, professores e alunos compensam a falta com dedicação ao conteúdo e ensino. Segundo pesquisa interna da FGV, 30% dos alunos gostariam de continuar com o ensino a distância.

As instituições já estudam a possibilidade de realizar programas de MBA híbridos, com aulas presenciais e online.

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