Em alta desde muito antes da pandemia, o setor de tecnologia vê explodir a procura por profissionais de áreas como computação em nuvem e cibersegurança.
É esse tipo de tecnologia que permite a realização de grande parte do que é feito na internet, de compras e transações bancárias a streaming de filmes e séries.
Para Andrea Faustino, 45, diretora de soluções em nuvem da Ericsson, o isolamento social e o trabalho remoto fizeram com que a informação precisasse fluir de forma adequada e rápida.
Wagner Sanchez, pró-reitor da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), lembra que as empresas tiveram que acelerar as transformações digitais.
“Houve um aumento da demanda por profissionais de segurança para lidar com o trabalho a distância e de profissionais de desenvolvimento para colocar no ar o ecommerce. Observamos carência de especialistas”, diz.
Um levantamento do Linkedin feito em agosto dá uma ideia da escassez: 9 das 10 profissões mais buscadas na plataforma são de tecnologia.
Essa falta de profissionais dificultou ainda mais a transformação digital. O início da pandemia foi marcado por problemas que iam de dificuldade de conexão até falhas graves de segurança em aplicativos como o Zoom, que teve reuniões e aulas invadidas com conteúdos pornográficos e de apologia ao nazismo.
Ainda assim, a plataforma, uma das mais usadas para organizar videoconferências, aumentou os lucros em mais de 1.000% só no primeiro trimestre de 2020, o que gerou um faturamento de mais de US$ 4 bilhões (R$ 22,2 bilhões) no período.
Diante da alta demanda pelo serviço, o Google liberou o acesso gratuito ao Meets, concorrente direto do Zoom.
A proteção, porém, nem sempre passa pela cabeça dos gestores e executivos de grandes empresas.
“Hoje é impossível pensar em lançar um serviço sem ter a segurança resolvida. No passado, a visão era primeiro lançar, depois resolver”, afirma João Rocha, líder de cibersegurança da IBM no Brasil.
Ele conta que o processo de convencimento da importância da segurança deve fazer parte do escopo das profissões da área. “É preciso traduzir a necessidade técnica de uma forma que o cliente entenda qual é o impacto daquilo nos negócios”, diz.
Para isso, a tecnologia deve dialogar com as áreas de marketing e de negócios.
De acordo com Rafael da Silva, coordenador dos cursos de cibersegurança e computação em nuvem da Fiap, são desejados profissionais com formações híbridas, capazes de dar conta da parte técnica sem perder de vista competências de gestão e de trabalho colaborativo.
Além do gerenciamento de times e pessoas, entra em cena a necessidade de um especialista que consiga pensar tanto a nuvem quanto a cibersegurança de forma transversal, segundo Marcio Silva, 35, gerente técnico especializado em cibersegurança, da IBM.
Para ele, é necessário ter fundamento técnico, mas também compreensão do processo inteiro: do desenvolvimento até a venda do produto para os clientes.
Antes da demanda por habilidades específicas, profissionais da área apostavam em formações generalistas em setores como sistemas de informação e ciência da computação e se especializavam depois. Hoje, há cursos de graduação que focam determinadas carreiras, como analista de teste de invasão e vulnerabilidade.
O primeiro programa específico de cibersegurança foi lançado no Brasil em 2017, pela Fiap. O de computação em nuvem, criado neste ano pela instituição, será o primeiro de São Paulo.
Para atender à urgência do mercado, a faculdade optou por emitir certificados semestrais de habilidades, que os alunos podem apresentar quando se candidatam a vagas de emprego.
Silva, da IBM, fez graduação em engenharia de computação. Ele cresceu cercado por jogos de computador e frequentando lan houses, onde se interessou por tecnologia. Depois do primeiro emprego como suporte técnico, fez a especialização em segurança e um MBA.
Andrea Faustino, da Ericsson, trilhou um caminho similar. Ela se formou em engenharia eletrônica e, percebendo as tendências da área, buscou uma especialização em telecomunicações. Vieram então uma pós voltada para marketing e um MBA.
Em uma trajetória fora da curva, Marcos Pupo, vice-presidente de computação em nuvem para a América Latina na Oracle, formou-se em arquitetura e se especializou em tecnologia depois.
Para ele, porém, o estudo formal não chega a ser necessário. A curiosidade e a vontade de aprender com a mão na massa (ou, nesse caso, no código) e ganhar experiência prática são mais importantes.
Ele afirma que a área da segurança pode ser uma boa opção para as pessoas de perfil mais tímido e introvertido.
“Nesse caso, é importante um profissional com muito conhecimento técnico. Não necessariamente todo mundo precisa ser capaz de falar com o cliente”, afirma.
GESTOR DE CIBERSEGURANÇA
Formação Em tecnologia ou outras áreas, com especialização em gestão
Salário inicial R$ 3.000
Onde estudar Fiap (graduação em cybersecurity), Universidade Presbiteriana Mackenzie (pós em segurança e inteligência cibernética), Fatec Senai (MBA em cybersecurity e governança em tecnologias da informação)
ANALISTA DE TESTE DE INVASÃO E VULNERABILIDADE
Formação Em áreas de tecnologia e computação, com especialização em segurança
Salário inicial R$ 5.000
Onde estudar Fiap (MBA em cybersecurity, forensics, ethical hacking e devsecops), Facens (especialização em cibersegurança ofensiva com certificação internacional ec-council CEH)
ARQUITETO DE SOLUÇÕES EM NUVEM
Formação Graduação em computação, com especialização em computação em nuvem ou desenvolvimento
Salário inicial R$ 3.000
Onde estudar USP (ciência da computação ou engenharia da computação), FIAP (graduação em computação em nuvem), Mackenzie (pós em DevOps engineering and cloud computing)
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