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Serafina

'Eu o perdoei': Menina estuprada por Polanski aos 13 lan�a livro 37 anos depois

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Cena 1: Cineasta famoso, t�o genial quanto tr�gico, visita a casa de fam�lia de uma garota de 13 anos, que aspira, assim como sua m�e, ser modelo ou atriz. Ele prop�e fazer um teste fotogr�fico com a menina para um ensaio que diz estar produzindo por encomenda da revista "Vogue Paris".

Corta.

Cena 2: Entardecer. Alto de colina nos arredores de Los Angeles. Cineasta fotografa a menina, que tenta disfar�ar certa timidez. Pede que ela tire a blusa. Seus seios s�o t�o pequenos que ela nem usa suti�. A menina pensa: se tirar a blusa � o pre�o da fama, que seja. E a tira. Ele a fotografa.

Corta.

Cena 3: Dias depois. Final de tarde. Mans�o de uma estrela de Hollywood. Entre um clique e outro, cineasta abre champanhe e oferece um comprimido de barbit�rico para menina. Ela aceita. Pede novamente que ela tire a blusa. Depois que tire a cal�a e entre numa banheira. Abandona a c�mera e entra com ela.

Corta.

Essas cenas n�o fazem parte do enredo de um filme. S�o o prel�dio do epis�dio que enla�ou para sempre a vida de Samantha Gailey, hoje Samantha Geimer, 50, e de Roman Polanski, 80, diretor de cl�ssicos como "O Beb� de Rosemary" (1968) e "Repulsa ao Sexo" (1965).

� ela a menina que, aos 13 anos, foi sodomizada pelo cineasta polon�s, ent�o com 43 anos, depois de uma sess�o de fotos na casa de Jack Nicholson, no dia 10 de mar�o de 1977.

Ela o seduziu? Ou ele a enganou? Houve viol�ncia? Ou tudo foi consentido? O caso suscita mais d�vidas que certezas.

Ap�s o julgamento, o diretor ficou 42 dias preso. Depois que ele foi solto, o juiz americano, temendo uma rea��o p�blica negativa, amea�ou prend�-lo por tempo indeterminado. Polanski fugiu para a Fran�a naquela noite, em fevereiro de 1978, e nunca mais voltou aos EUA.

Durante 32 anos, Samantha ouviu, calada, todo tipo de elucubra��o p�blica sobre ela e sobre o ocorrido. Viu sua vida ser esquadrinhada, sua identidade revelada e sua imagem publicada, sem autoriza��o, em tabl�ides norte-americanos e europeus. Sua hist�ria foi relatada em biografias de Polanski e num document�rio de 2008. Na imprensa, foi chamada de oportunista e prostituta.

S� em 2009, quando o cineasta foi preso na Su��a e o nome de Samantha retornou ao notici�rio que ela decidiu dar sua vers�o no livro "A Menina - Uma Vida � Sombra de Roman Polanski" (ed. Leya), que chega agora ao Brasil.

DIFAMA��O X PRIVACIDADE

"Confesso que foi dif�cil n�o dar minha vers�o dos fatos e assistir a todos opinando sobre algo que n�o haviam presenciado. Isso foi muito doloroso para mim e para a minha fam�lia", admite.

"Mas a pris�o de Roman mudou minha atitude em rela��o a meu sil�ncio. Foi isso o que me fez, finalmente, falar." Ela s� havia dado sua vers�o a policiais, promotores, psic�logos e a um j�ri.

"A publicidade em torno do caso e o julgamento foram piores para mim do que o estupro em si", revela.

"Quando tudo terminou, eu voltei para casa, pensei: o que aconteceu foi ruim, mas durou dez minutos. Vou superar isso. Agora, ter de reviver aquelas cenas de novo e de novo e de novo a cada depoimento... Pior, jornalistas mentiam ou exageravam a hist�ria na tentativa de torn�-la mais chocante �s minhas custas", ressente-se.

Mesmo com essa exposi��o indesejada, a opini�o de Samantha pode chocar quem acompanha o debate sobre autoriza��o pr�via para biografias no Brasil. Para ela, ningu�m deveria ser proibido de escrever e publicar material sobre a vida de outra pessoa.

"Entre o direito � informa��o e o direito � privacidade, acho que o primeiro se sobrep�e. Se algu�m se sentir difamado ou violado, pode processar o jornalista, bi�grafo ou documentarista, que � respons�vel pela hist�ria que assina."

"Eu estive do lado da pessoa que � atingida e prejudicada, mas escolhi n�o me pronunciar porque achei que isso tornaria minha vida pior naquele momento. Acho que o direito � informa��o e a liberdade de imprensa s�o pilares muito importantes de uma sociedade."

ROMAN E EU

A leitura de "A Menina" afasta de Samantha a imagem de figura tr�gica. Seu relato daquela tarde de mar�o passa longe de adjetivos como "horripilante", usados por terceiros para descrev�-la.

Rememora, com naturalidade: "[Ele] est� tentando tornar bom para mim, eu sei, mas n�o � bom (...) Tudo o que ele quer � ter um orgasmo, esse pequeno espasmo que faz o mundo girar. Tomo a decis�o de simplesmente deix�-lo ir em frente, qu�o ruim pode ser, � s� sexo."

A menina cujo filme preferido era "A Dan�a dos Vampiros" (1967) foi descobrir anos depois que o autor do filme era o homem que havia virado sua vida de ponta-cabe�a. "Imagine o qu�o surpresa eu fiquei!", ri ela. Dos demais filmes de Polanski, n�o gosta especialmente de nenhum. "N�o sou chegada a dramas nem a filmes pesados."

Depois de tr�s d�cadas de di�logo apenas via advogados, um e-mail surpreendeu-a em 2009. Era o diretor que escrevia, desculpando-se por ter causado tamanho transtorno a ela durante todos esses anos. "A mensagem trouxe um grande conforto para minha fam�lia e isso fez com que eu me sentisse melhor tamb�m."

Desde ent�o, Samantha e Polanski trocam mensagens eventuais. "� muito esquisito ter a vida t�o afetada por algu�m que voc� n�o conhece, estar conectado desta maneira a um estranho", diz.

"Toda vez que ele � citado, meu nome acaba emergindo, sempre como a garota de 13 anos que foi estuprada. N�o temos muito em comum al�m da viv�ncia daqueles momentos."

Samantha diz acreditar que o cineasta, r�u confesso do crime de "manter rela��es sexuais ilegais" com uma crian�a, n�o tinha no��o de que estava fazendo algo errado. "Hoje em dia ele compreende que foi algo ruim. Eu o perdoei h� muito tempo e acho que deveriam deix�-lo retornar aos EUA. Qualquer que seja o desfecho, � tarde demais para mim. As pessoas nunca v�o se esquecer do caso. Serei sempre aquela menina."

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