Junto com a Web 3.0, novas possibilidades de organização e governança têm se tornado possíveis. Nesse sentido, as DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas ou Distribuídas, na sigla em inglês) podem ampliar o poder de influência de indivíduos e grupos em empresas.
Essas comunidades digitais são geridas por contratos inteligentes, conjuntos de códigos que estabelecem as regras do grupo e tomam decisões de forma autônoma. Nelas, a autogestão é controlada por meio de votos, que têm peso igual entre todos os membros.
Para o cofundador da escola de aprendizagem de novas habilidades para a economia criativa Potência School & DAO, Filipe Santos, as DAOs podem ser usadas por companhias como modelo de gestão horizontal.
Ele falou sobre possibilidades de descentralização das organizações durante o seminário Metaverso e Web 3.0, correalizado pela Folha e pelo Itaú Cultural em 4 e 5 de julho.
Um exemplo de como funcionam essas organizações são os Fan Tokens de times de futebol: por meio da compra de criptoativos digitais, torcedores ganham o direito de votar em decisões como o uniforme a ser usado no próximo jogo.
Ela [DAO] em si não vai oferecer solução ou esperança, mas a razão pela qual se inicia uma DAO pode ampliar voz, investimento coletivo, participação e voto
"É uma maneira de permitir participação na governança a alguém que, por caminhos tradicionais, não participaria", afirma.
Assim, a governança se torna descentralizada. "Porque não é uma pessoa ou um grupo que toma a decisão, mas todos os participantes."
Os contratos inteligentes são criados por meio de programação, com uso de blockchain. A tecnologia, também aplicada em criptomoedas como o bitcoin, é usada para garantir a validade de registros e informações.
Para ele, as DAOs não anulam o modelo tradicional das organizações, mas surgem como uma opção para projetos internos dessas companhias.
Empresas podem, por exemplo, criar uma DAO para testar novos produtos, serviços e canais internamente. Seus trabalhadores seriam incluídos no sistema para opinar sobre os processos por meio do voto.
Embora seja possível fazer isso analogicamente, via formulários ou email, Santos afirma que "quanto mais desmaterializado algo for, mais rápida será a sua democratização".
Para acessar a DAO, cada funcionário precisaria de uma forma de acesso digital, que funcionaria como um "crachá" para entrada e validação do voto. A diferença estaria na forma de acesso: na web 3.0, o login se dá por meio da carteira de ativos —eles podem ser criptomoeda ou outro criptoativo, a ser determinado pelo contrato inteligente.
Diferentemente da web 1.0, em que o acesso era feito por meio de email e senha, e da web 2.0, na qual eram utilizadas contas como as do Google, do Facebook ou do Twitter, na web 3.0 são usados tokens ou NFTs, por exemplo, para a entrada no ambiente digital restrito.
"É uma nova lógica de identidade e de acesso para desfrutar de uma área para membros ou fazer uma atividade que tem a ver com informação e transação", explica Santos.
Essa mudança daria mais segurança à identidade dos envolvidos no processo, que não precisam se identificar com dados pessoais.
O empreendedor observa que as soluções tecnológicas tendem a chegar mais rápido que as leis, e cada país deve criar sua própria legislação e regulamentação para as DAOs.
No caso do Brasil, é necessário que se verifiquem instâncias locais como Receita Federal e Comissão de Valores Mobiliários para a regularização das DAOs em funcionamento, de acordo com o que já é previsto em lei.
Santos afirma, ainda, que a DAO é pluralmente universal e pode ser usada para o bem ou para o mal.
"Ela em si não vai oferecer solução ou esperança, mas a razão pela qual se inicia uma DAO pode ampliar voz, investimento coletivo, participação e voto. Ela possibilita uma nova forma de se organizar uma mensagem e um propósito", conclui.
Acompanhe o seminário completo:
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