Capítulo 2
Como a política do país se transformou nesses 10 anos
Naief Haddad | Passada uma década das manifestações colossais de junho de 2013, alguns analistas ainda se referem àqueles protestos como um momento com enigmas a serem decifrados. À parte essas lacunas, são várias as divergências entre os especialistas sobre os desdobramentos políticos dos atos. Um exemplo: é possível apontar uma relação direta entre junho de 2013 e a eleição de Jair Bolsonaro cinco anos depois? Com certeza, dizem alguns. Não exatamente, afirmam outros. Há dois pontos, no entanto, sobre os quais a maior parte das interpretações converge: 1) nos meses e anos seguintes, a direita soube tirar muito mais proveito daquele sentimento de indignação do que a esquerda; 2) houve algumas respostas da política tradicional às ruas, mas elas ficaram muito aquém do que os manifestantes esperavam
-
Um mosaico
Antes de abordar os efeitos das Jornadas de Junho para a política brasileira, vale a pena considerar que, quando pensada em sua totalidade, aquela onda de protestos não foi um movimento homogêneo, claramente inclinado para as causas progressistas ou para as propostas conservadoras.
“Não foi isso ou aquilo; foi isso e aquilo; junho foi várias mobilizações simultâneas, um mosaico”, escreve a socióloga Angela Alonso na introdução do seu recém-lançado “Treze - A Política de Rua de Lula a Dilma”.
Teriam, então, sido “junhos”? É o que diz Luis Felipe Miguel, professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília), ao repórter Joelmir Tavares: "Foram vários 'junhos de 2013', com movimentações em vários lugares e etapas muito diferentes".
O fato é que as motivações para os atos de Junho integram um fenômeno mais complexo do que outras grandes mobilizações populares dos últimos 50 anos, como as Diretas Já, em 1983 e 1984, e o Fora Collor, em 1992.
As manifestações não configuraram um movimento social unificado, mas um ciclo de protestos, composto de muitos movimentos, de orientações distintas, agendas próprias (e mesmo opostas), que foram à rua em simultâneo, numa justaposição. Junho foi um mosaico de diferentes. A única partilha era de alvo, a contestação às políticas dos governos do PT
#1
Um só cartaz na capital paulista reclama do governo Dilma, da corrupção e do aumento da tarifa do transporte público - Eduardo Knapp - 18.jun.2013/Folhapress
#2
Manifestantes se mobilizam contra a PEC 37 (que reduziria os poderes de investigação do Ministério Público), entre outros temas, em Franca, no interior de SP - Igor do Vale - 20.jun.2013
#3
Grupo protesta contra os custos das obras para a Copa do Mundo em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília - Sergio Lima - 14.jun.2013/Folhapress
-
Resposta fraca
Seria injusto falar numa completa inação da classe política em resposta aos gritos das multidões de 2013. A então presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, anunciou medidas para fortalecer o SUS, que mais tarde resultaram no programa Mais Médicos. Geraldo Alckmin (na época no PSDB, hoje no PSB), governador de São Paulo, e Fernando Haddad (PT), prefeito da capital, revogaram a alta do transporte público.
No entanto, uma reação mais ambiciosa, com mudanças institucionais, como boa parte das ruas desejava, não veio naquele momento, afundando a popularidade dessas três figuras públicas –como vimos no primeiro capítulo. Tampouco reformas políticas e sociais de grande porte foram implantadas nos anos seguintes.
1° capítulo
O que aconteceu no Brasil naquele junho de 2013
Angeli - 26.jun.2013
-
Como a Primavera Árabe
Em um ensaio publicado na Folha, o professor de filosofia política da Unicamp Marcos Nobre lembrou que essas manifestações se inserem no ciclo global de revoltas democráticas ocorridas de 2011 a 2013, da qual a Primavera Árabe também faz parte. Segundo ele, tanto o Brasil quanto os demais países tomados por protestos nesse período “não mostraram especial disposição em se autorreformar”.
Em outras palavras, a apatia da política institucional prevaleceu aqui e acolá uma década atrás.
“O conjunto do sistema político foi interpelado e não deu resposta alguma”, afirmou o cientista político Sergio Fausto ao jornal Valor. O curto-circuito de 2013, como ele descreve, “não produziu mudança institucional positiva que melhorasse a qualidade do Estado brasileiro e a qualidade da democracia”.
Egípcias pedem melhores condições de trabalho três dias após a queda do ditador Hosni Mubarak em meio à onda que ficou conhecida como Primavera Árabe - 14.fev.2011/AFP
-
PT ensanduichado entre pressões
Podemos, grosso modo, pensar a esquerda brasileira em dois grandes grupos: um, mais famoso, é a porção dedicada à luta institucional pelo poder, representada sobretudo pelo PT; o outro é a fatia ligada aos movimentos sociais, que atua à margem das disputas partidárias. Embora boa parte dessa segunda turma estivesse presente em Junho de 2013, o primeiro grupo subestimou o significado e o impacto dos protestos.
"Uma visão compreensiva de junho, sem resvalar em simplificações, tem que reconhecer que aquilo surgiu também pelos limites do projeto de esquerda que estava no poder. As origens eram legítimas", diz o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, também historiador e cientista político.
Angela Alonso, colunista da Folha, faz avaliação semelhante: “O PT sempre achou que a rua era sua parceira, sua aliada. Em 2013, porém, havia nos protestos grupos à direita do PT e também à esquerda. Os simpáticos ao partido estavam no governo”.
"Ensanduichada entre pressões opostas”, nas palavras da socióloga, a legenda não soube dar uma resposta à altura dos acontecimentos.
A socióloga Angela Alonso fala em vídeo da TV Folha sobre o PT e as manifestações de 2013
Angeli - 4.jul.2013
-
Declínio dos tucanos
Em um primeiro momento, o PSDB até deu sinais de que poderia surfar na insatisfação extravasada dez anos atrás, o que explica, ao menos em parte, a votação expressiva de Aécio Neves na disputa contra Dilma em outubro de 2014. A petista foi reeleita com 51,6% dos votos válidos, e o tucano obteve 48,4%.
A longo prazo, no entanto, essa vantagem se esvaiu. Um trecho de reportagem assinada por Angela Pinho expõe o baque para o espectro mais conservador, onde se situava o PSDB, segundo a socióloga Esther Solano: “Passado um tempo de 2013, a principal vítima desse processo foi a direita tradicional, avalia Solano, pois esse campo ficou sem espaço para disputar com a esquerda representada por Lula”.
Juliano Medeiros, do PSOL, pensa de modo parecido. Para ele, o campo mais castigado por 2013 foi "a velha direita de punhos de seda", simbolizada pelo PSDB.
O candidato à Presidência pelo PSDB na disputa de 2014, Aécio Neves, é carregado por um apoiador em campanha em Niterói (RJ) - Mauro Pimentel - 23.set.2014/Folhapress
-
Direita volver
Como vimos, a esquerda e a direita já conhecidas não souberam se organizar para agir diante do imponderável. Quem, então, foi capaz de se beneficiar da ebulição das ruas?
O centrão, como sempre, e uma direita nova e mais radical que a tradicional, segundo alguns analistas. Ou, de acordo com outros, uma direita que já existia, mas que ganhou uma visibilidade inédita nos idos de 2013.
“Eles [essa direita] são extraordinariamente mais competentes do que a esquerda para canalizar esse sentimento de indignação”, afirma Celso Rocha de Barros, sociólogo e colunista da Folha.
A influência de grupos como MBL (Movimento Brasil Livre), Vem pra Rua, Nas Ruas e Revoltados Online –uma surpresa para a direita tradicional– ficou evidente nos anos seguintes, especialmente nos grandes protestos pelo impeachment de Dilma, em 2015 e em 2016.
SAIBA MAIS
Veja movimentos que ganharam força após 2013
Essa nova direita passou a usar as redes sociais de uma forma vanguardista, algo que a direita tradicional nunca pensou em fazer
Grupos mais estruturados da esquerda viveram uma certa desarticulação e, em contrapartida, houve um avanço significativo dos grupos da direita e conservadores, que perderam, como diziam alguns, a vergonha e saíram às ruas porque antes quase não se viam protestos desse campo
Os movimentos de direita conseguiram capitalizar o momento, e a esquerda perdeu o controle
A questão seguinte era ver quem tinha capacidade de construir um significado para manifestações tão heterogêneas. E os setores de oposição ao petismo tiveram muito mais habilidade, pela sua presença nos meios de comunicação de massa e pela desenvoltura nas redes sociais
Protesto contra o governo Dilma na avenida Paulista, organizado por movimentos como MBL, Vem pra Rua e Revoltados Online - Jorge Araújo - 16.ago.2015/Folhapress
-
Movimentos da esquerda
Falamos dessa direita emergente, mas vale também ressaltar a força conquistada a partir de 2013 por movimentos sociais de vertentes variadas, a “outra esquerda” acima citada.
Ex-integrante do Movimento Passe Livre (MPL), grupo que organizou os primeiros atos de junho em São Paulo, Lucas Monteiro, o Legume, lembra as ações dos estudantes secundaristas no estado no final de 2015. Naquele momento, mais de 200 escolas foram ocupadas pelos próprios alunos, que protestavam contra uma reestruturação do ensino proposta pela administração estadual.
“O levante dos secundaristas, que claramente se inspiravam em 2013, derrotou o governo Alckmin, foi impressionante”, diz Monteiro, professor de história.
Independentemente do grau de relação com 2013, ativistas de segmentos como mulheres, negros e LGBTQIA+ se fortaleceram na última década. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), criado em 1997, também se expandiu neste período.
#1
Na praça da República, em São Paulo, estudantes e ativistas comemoram a suspensão do plano de reorganização escolar pelo governo estadual - Moacyr Lopes Junior - 4.dez.2015/Folhapress
#2
Centenas de moradores da Ocupação Carlos Marighella, do MTST, protestam pelas ruas da Granja Viana, na Grande São Paulo - 11.out.2014/Folhapress
É bem diferente esse ativismo de uma militância em que há uma hierarquia, um presidente, uma série de ações previamente planejadas para serem desenvolvidas. Esses novos ativistas defendem causas, valorizam a experiência, querem vivenciar tudo corporalmente
-
Pragmatismo
Evidentemente questões ideológicas distanciam esses novos grupos de cartilha progressista das organizações igualmente novas, mas de cunho conservador.
Camila Rocha, colunista da Folha, aponta um outro aspecto que os diferencia: “No caso dos movimentos autonomistas, como o MPL, é difícil haver uma continuidade porque a ideologia deles impede uma aproximação do sistema político. Isso para a direita nunca foi um problema. Grupos, como o MBL, agiram de modo pragmático e lançaram candidatos”.
-
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), um dos expoentes do MBL Gabriela Biló - 29.mar.2023/Folhapress
-
A deputada federal Carla Zambelli (PL - SP), uma das fundadoras do movimento Nas Ruas Bruno Spada - 11.abr.2023/Câmara dos Deputados
-
A deputada federal Bia Kicis (PL-DF), que foi representante do Revoltados Online em Brasília Pablo Valadares - 29.abr.2021/Câmara dos Deputados
-
Novas e velhas guardas
A entrada desse conjunto de atores, discursos e estratégias na política brasileira não implicou a morte da esquerda e da direita tradicionais, formadas pela geração da Constituição de 1988 e pela geração seguinte. Exemplo disso é Lula na Presidência, o petista que havia exercido dois mandatos antes de 2013.
Houve, então, uma sobreposição: essas velhas guardas acompanharam, estupefatas, a ascensão de uma nova direita, em grande parte radicalizada, que fincou os pés na política do país. E certamente não se compreende essa onda conservadora recente sem mirar as Jornadas de Junho.
O centrão, a velha direita fisiológica, é o grande vencedor desses dez anos de contestação sistêmica. Manda mais do que antes, e a única concessão que seus membros precisaram fazer a 2013 foi adotar o "sem partido" no batismo de suas legendas: agora se chamam Patriotas, Republicanos, Cebola, Armando, qualquer coisa que não tenha "partido" no nome
#1
Lula após receber a faixa de Fernando Henrique Cardoso em 1º de janeiro de 2003, início do seu primeiro mandato - Moacyr Lopes Júnior - 1.jan.2003/Folhapress
#2
Lula cumprimenta público em frente ao Palácio do Planalto após tomar posse para o seu segundo mandato, em 2007 - Lula Marques - 1.jan.2007/Folhapress
#3
Na cerimônia de posse neste ano, Lula acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, do vice, Geraldo Alckmin, e a esposa do vice, Lu Alckmin - Pedro Ladeira - 1.jan.2023
-
Uma década na montanha-russa
As manifestações de 2013 deram início a um período de sobressaltos na política brasileira. Vejamos um resumo possível dessa década, baseado em texto de Matheus Tupina e Joelmir Tavares.
Em março de 2014, nasceu a operação Lava Jato, que levou para a cadeia empresários e políticos, como Lula, em abril de 2018. Depois de um longo período de protestos de massa, um processo de impeachment aprovado pela Câmara e pelo Senado afastou Dilma, em 2016.
Em meio aos anos Michel Temer (MDB), Jair Bolsonaro (então no PSL, hoje PL), representante da extrema direita, saiu vitorioso na disputa ao Planalto em outubro de 2018, depois de uma campanha tensa, em que o candidato foi vítima de uma facada.
Após uma atuação desastrosa diante da pandemia e de uma série de insinuações golpistas e ataques ao STF, Bolsonaro perdeu a corrida eleitoral de 2022 para Lula, que voltou ao poder após 13 anos. Em 8 de janeiro deste ano, manifestantes golpistas entraram na Esplanada dos Ministérios e invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), espalhando atos de vandalismo.
Um ficcionista seria capaz de imaginar uma década assim?
Vídeo apresenta os acontecimentos de 24.jan.18: a condenação de Lula pelo TRF-4 e atos contra e a favor
-
Lava Jato
A efeméride de dez anos das Jornadas de Junho tem jogado lenha na fogueira de um debate entre cientistas políticos e sociólogos.
Sabemos que o processo histórico não segue um caminho linear. Feita essa ressalva, podemos apontar uma relação direta das manifestações com os episódios políticos que mobilizaram o país nos anos seguintes?
O elo dos protestos com a Lava Jato é evidente, dizem Sergio Fausto e Celso Rocha de Barros. A operação de Curitiba só ganhou musculatura graças ao uso de métodos de investigação regulamentados pela Lei das Organizações Criminosas, como delações premiadas, interceptações, gravações e obtenção de dados bancários e fiscais.
Essa lei foi sancionada por Dilma em agosto de 2013, dois meses após a eclosão dos protestos. A presidente estava sob pressão para, entre outras medidas, endurecer a legislação anticrime.
Renato Machado - 1.abr.2017
-
Impeachment de Dilma
“Em 2013, há uma grande variedade de agendas. Quando chegamos a 2015, existem um foco, a corrupção, e um alvo, que é a Dilma”, afirma Angela Alonso.
Como escreveu Fábio Zanini, editor do Painel, as revelações da Lava Jato “não foram suficientes para impedir a reeleição de Dilma [em 2014], mas acabariam dando uma contribuição fundamental para seu afastamento [em 2016]”.
Ainda segundo o jornalista, “o efeito mais profundo, no entanto, foi ajudar a destravar um sentimento adormecido há décadas na sociedade brasileira e que apenas aguardava um gatilho para aflorar: o conservadorismo político”.
No recém-lançado “Operação Impeachment", o cientista político Fernando Limongi reconstitui detalhes para mostrar como a Lava Jato foi decisiva para a queda de Dilma.
Vídeo da TV Folha lembra a defesa de Dilma durante o processo de impeachment no Senado e as manifestações nas ruas de São Paulo
-
Trunfo de Bolsonaro
Quando chegamos à vitória de Bolsonaro em 2018 e suas possíveis ligações com a panela de pressão de cinco anos antes, as divergências entre os analistas se tornam mais evidentes.
“2013 desemboca em 2018, depois de sucessivas mutações internas”, afirma Wilson Gomes, professor de teoria da comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para ele, Bolsonaro assumiu o protagonismo desse movimento de ascensão da extrema direita, ligada às convicções anti-establishment e antipetistas.
Segundo Gomes, o bolsonarismo demonstrou àquela altura “que sabia muito bem manipular o ódio nos ambientes digitais”.
"Surgiram, no bojo daquele processo [junho de 2013], grupos que encarnaram uma pauta ultraconservadora —não é nem conservadora, é reacionária, porque defende até aspectos pré-civilizatórios", diz Rosemary Segurado, professora de ciências sociais da PUC-SP, em entrevista a Uirá Machado.
O fortalecimento dessa linhagem política levou, segundo ela, à eleição de Bolsonaro em 2018.
Estamos vivendo um ciclo, que nasce em junho de 2013 e talvez só tenha terminado em 2022, uma década de padecimento
Vídeo da TV Folha de dezembro de 2018 mostra como Jair Bolsonaro chegou à Presidência da República e o que poderia se esperar do seu governo naquele momento
-
Outras respostas possíveis
Para Celso Rocha de Barros, o caminho que liga as Jornadas de Junho ao êxito do bolsonarismo é bem mais tortuoso.
“O trajeto que começou em 2013 necessariamente tinha que levar à eleição de Bolsonaro em 2018? De fato, 2013 criou um sentimento antipolítica, que deu frutos ruins. Mas Bolsonaro era a única resposta possível? Acho que não. Tivemos várias encruzilhadas no caminho, com chances de canalizar esse sentimento antipolítica de outra maneira que não fosse o bolsonarismo.”
Não acho que a eleição de Bolsonaro seja culpa dos caras de 2013. Ou pelo menos não é só deles. Havia várias respostas possíveis para 2013, e nós escolhemos a resposta errada em cada passo do processo
Alguns dizem que junho de 2013 é o bolsonarismo em germe, como se tudo que veio depois estivesse contido naquelas jornadas. Outros dizem que não existe nenhuma conexão entre os dois momentos. Ambas as posições me parecem absurdas
Ação em memória das vítimas da Covid-19 na praça dos Três Poderes, em Brasília, com faixas com críticas ao governo federal - Pedro França - 8.out.2021/Agência Senado
-
8 de Janeiro
"Junho de 2013 foi o momento em que se abriram no Brasil as comportas da antipolítica no sentido mais forte", afirma o cientista político Cláudio Couto. Segundo ele, é justamente essa rejeição aos meios institucionais que aproxima as manifestações de dez anos atrás dos ataques golpistas de 8 de janeiro, levados a cabo por admiradores de Bolsonaro.
Marcos Nobre, para quem “Junho foi um importante ponto de encontro de gerações”, diverge de interpretações como a de Couto.
O autor do livro “Limites da Democracia: De junho de 2013 ao Governo Bolsonaro” questiona: “A quem serve essa demonização de Junho? A resposta é um segredo de polichinelo: estabelecer uma ligação direta entre Junho e a ascensão de Bolsonaro e do bolsonarismo é o mesmo que livrar a cara do sistema político pelo que fez ou deixou de fazer em resposta a Junho. Pelo menos do ponto de vista de quem ocupava posições de poder naquele momento, seja a que partido pertença ou tenha pertencido”.
CENAS DOS ATAQUES DE 8 DE JANEIRO DE 2023
#1
Objetos e obras de arte do salão nobre do Supremo foram depredados - Fotos Pedro Ladeira 11.jan.2023/Folhapress
#2
Hall dos bustos do STF, muito danificado pelos vândalos em 8 de janeiro
#3
O plenário foi um dos locais mais atingidos pelos manifestantes golpistas
#4
Pichações nas janelas do STF com referências à religião e ao comunismo
#5
Estilhaços no hall dos bustos, na entrada do prédio do Supremo
#6
Galeria com retratos dos ex-presidentes do STF, no Salão Branco, foi destruída
-
As caras de 2013
Esse capítulo apresentou as linhas ideológicas que se consolidaram a partir de 2013 e as reviravoltas políticas que espantaram o país nessa década. E as mulheres e homens com atuação marcante naquele turbilhão? Quem foram? O que pensam hoje sobre as manifestações e suas consequências?
É assunto para o próximo capítulo.
Dezenas de milhares de pessoas em manifestação no dia 20 de junho de 2013 na avenida Paulista - Avener Prado - 20.jun.2013/Folhapress