O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes em sua primeira declaração pública após o indiciamento nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal nas apurações sobre a trama golpista para se manter no poder em 2022.
"O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei", disse Bolsonaro ao site Metrópoles. Posteriormente, o ex-presidente publicou a fala em rede social.
Bolsonaro disse ainda que "tem que ver o que tem nesse indiciamento" e que vai esperar o seu advogado analisar o relatório. "Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar", disse.
A menção a "criatividade" é uma referência a diálogo entre assessores de Moraes publicado pela Folha em agosto.
Reportagem naquele mês mostrou que o juiz instrutor Airton Vieira falou para Eduardo Tagliaferro, subordinado de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), usar "a sua criatividade" para elaborar um relatório sobre publicações da revista Oeste, em 2022.
Nesta quinta-feira (21), a PF encerrou apurações sobre tentativa de golpe de Estado em 2022 e concluiu que o ex-presidente participou de uma trama para impedir a posse de Lula (PT). Ainda não se sabe se o ataque golpista de 8 de janeiro de 2023 foi considerado pela PF.
Foram indiciados Bolsonaro e mais 36 pessoas, incluindo o general da reserva Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice em 2022 na chapa derrotada.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, publicou em suas redes trecho de entrevista em que chama de "narrativa furada" a ideia de que existiram "terroristas perigosos que armaram golpe de Estado" nos ataques do 8 de janeiro. A publicação foi feita depois de que foi divulgado o indiciamento do pai, mas o filho do ex-presidente não fez referência a isso.
Já Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio de Janeiro e também filho de Bolsonaro, postou a fala de Eduardo dizendo haver uma perseguição política contra o pai.
Além do ex-mandatário, foram indiciados o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, o ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem e o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno.
Em nota, o advogado Eumar Novacki, que atua na defesa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça também indiciado nesta quinta pela PF, afirmou que somente irá se posicionar após ter acesso ao relatório de indiciamento.
Segundo a PF, o ex-presidente participou da trama golpista para impedir a posse do ex-presidente Lula.
Na terça (19), a Polícia Federal prendeu quatro militares e um policial por tramarem a morte do presidente Lula, de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Moraes.
O inquérito será enviado para o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. "O relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal com o indiciamento de 37 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa", diz a PF em nota.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) ainda deve avaliar os indícios levantados pela PF para decidir se denuncia o ex-presidente. Se a denúncia for apresentada, o passo seguinte será a Justiça decidir se torna Bolsonaro réu.
Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente já havia sido indiciado nos inquéritos sobre as joias e sobre a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19.
Caso seja processado e condenado pelos crimes ligados à trama golpista, ele poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.
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