Na contramão de um saldo nacional bastante negativo, o PSDB conquistou resultados relevantes nas eleições municipais deste ano no Rio Grande do Sul. Vitórias em Gravataí e Viamão no primeiro turno e viradas em Caxias do Sul e Santa Maria no segundo turno garantiram ao partido o comando de 4 das 10 maiores cidades gaúchas.
O crescimento de 29 para 35 prefeituras no estado dá sobrevida à ambição da legenda de lançar o governador Eduardo Leite à Presidência em 2026. Por outro lado, não aplaca a dificuldade de fazer uma campanha de terceira via após uma sucessão de crises internas e em meio à polarização nacional entre o PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro.
Em artigo publicado na Folha na terça (29), o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, mais uma vez reafirmou a intenção de lançar o governador gaúcho à Presidência da República daqui a dois anos.
"Eu vejo hoje o Eduardo Leite maior do que o PSDB", diz o prefeito Adiló Didomenico, reeleito em Caxias do Sul, maior cidade da serra gaúcha, com 463 mil habitantes.
No domingo (27), ele derrotou Maurício Scalco (PL) por 51,4% a 48,6%, recebendo o apoio crítico do PT contra um candidato ligado ao bolsonarismo, hoje a maior força política da região. Esse endosso virou munição para a oposição à direita. "Tentaram me colocar um carimbo de esquerda durante um bom tempo, não pegou", afirma.
O prefeito, que se identifica como de centro-direita, diz acreditar que o PSDB ainda sofre as consequências da estratégia adotada em 2022, quando abriu mão de lançar candidato a presidente após a desistência de João Doria e apoiou Simone Tebet (MDB).
"Começou errado fazendo aquelas prévias, depois não lançando o candidato. Abriu espaço para outros partidos crescerem e hoje está bastante fragilizado", diz. "Na eleição para prefeitos, se não fosse a liderança do governador, seguramente nós teríamos tido mais problemas."
Para ele, Leite é o nome tucano à Presidência, mas os próximos meses serão fundamentais para definir o futuro político do governador e a sobrevivência do partido.
O PSDB conquistou 273 prefeituras, nenhuma delas de capital, em 2024. O número representa uma queda de quase 50% em comparação com as 523 vitórias em 2020.
Os resultados foram obtidos graças ao desempenho no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul e Pernambuco, os três estados com governadores do partido.
Em São Paulo, a sigla foi engolida por rivais como o PSD e não conseguiu eleger nenhum vereador para a Câmara Municipal da capital.
Para sonhar com 2026, Adiló sugere uma federação maior com outros partidos —hoje, está apenas com o Cidadania— ou a fusão com outras siglas. "Na estrutura nacional, o PSDB vai ter que se reinventar, e se reinventar muito rápido."
Se, em Caxias do Sul, o PSDB contou com o voto útil do PT, em Santa Maria a união das direitas em torno de Rodrigo Decimo garantiu o terceiro mandato consecutivo para os tucanos.
O político saiu atrás no primeiro turno, mas derrotou o deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) por 54,5% a 45,5%, com declaração de apoio crítico de candidatos do PL e do Novo e engajamento do governador na campanha.
Decimo diz que só será possível projetar o futuro do partido em 2025. "Vamos ter mais clareza a partir do início desse novo ciclo, dessas novas gestões que o PSDB estará à frente no estado", diz.
A vitória do grupo de Leite em Santa Maria também foi uma derrota para o ministro petista Paulo Pimenta, natural da cidade, que chefiou no governo federal a Secretaria Emergencial criada para a resposta à tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul. Pimenta é cotado para disputar o governo estadual ou o Senado em 2026.
No saldo final da eleição no Rio Grande do Sul, PP e MDB foram os dois partidos que mais elegeram prefeitos, com vitórias em quase 60% dos municípios. O PSDB ficou em quinto, atrás ainda de PDT e PL.
A presidente do PSDB-RS, Paula Mascarenhas, que é a atual prefeita de Pelotas, disse que os resultados de Caxias do Sul e de Santa Maria mostram o partido como uma "força capaz de dialogar com os dois polos da esquerda e da direita, hoje representados com mais força pelo PT e pelo PL".
Sobre Leite, afirma que há um desafio que nomes "fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais enfrentam na busca por projeção". "Há uma possibilidade, quem sabe para 2026, ou talvez mais adiante um pouco, para que isso se consolide em torno dele".
Porém a popularidade de Leite foi posta em xeque em sua base eleitoral. Seu candidato foi derrotado no primeiro turno, interrompendo uma sequência de três mandatos do PSDB em Pelotas, onde o governador já foi vereador e prefeito —elegeu Paula como sucessora.
Com a derrota de Fernando Estima, que ficou em terceiro lugar, o segundo turno na cidade ficou entre o ex-prefeito Fernando Marroni (PT) e o empresário Marciano Perondi (PL).
Parte do PSDB apoiou o candidato do PL, mas Leite e Paula abriram voto crítico para Marroni. Foi a primeira vez que o governador gaúcho declarou voto em um candidato do PT em 16 anos de vida pública.
Em uma disputa acirrada, Marroni venceu com 50,36% dos votos válidos —menos de 1.300 votos de diferença para Perondi.
A vitória selou o bom resultado do PT nas maiores cidades do extremo sul do Brasil, após vencer no primeiro turno em Rio Grande, Bagé e São Lourenço do Sul. Somados, os quatro municípios têm cerca de 675 mil habitantes.
Leite também enfrentou dificuldades na capital Porto Alegre, onde o PSDB não conseguiu consenso para lançar uma candidatura competitiva a tempo. Em cima da hora, acabou apoiando Juliana Brizola (PDT), que terminou o pleito em terceiro lugar.
No segundo turno, Leite declarou apoio para o candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB) contra Maria do Rosário (PT).
Apesar da proximidade ideológica maior entre Leite e Melo, vitorioso no domingo, o apoio foi criticado por setores do PT como uma ingratidão.
Em 2022, Rosário e outros nomes da esquerda deram apoio crítico a Leite no segundo turno da disputa ao governo. Já Melo apoiou o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), apesar de o MDB compor a chapa de Leite com o vice Gabriel Souza.
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