O autodenominado ex-coach Pablo Marçal, condenado por furto após envolvimento com uma quadrilha que realizava fraude bancária, foi solto da prisão após passar informações sobre supostos comparsas à Polícia Federal.
Os dados fazem parte de detalhes do processo revelados pela Folha, referente à prisão de Marçal em 2005 e à condenação dele por furto pela Justiça em 2010. A investigação apontou que Marçal sabia do esquema e atuava selecionando endereços de emails de possíveis vítimas.
O atual candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB sempre negou saber do esquema e diz que atuava fazendo manutenção de computadores. Além de desmontar a versão dele, a PF cita a colaboração de Marçal na apuração do caso.
A condenação é usada com frequência como munição de rivais para fustigá-lo na corrida eleitoral. A reportagem procurou o candidato para se manifestar sobre o assunto desde a última semana, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Um ofício da PF datado de 2 de setembro de 2005 pediu a soltura de Marçal após ele revelar aos investigadores informações sobre pessoas envolvidas no esquema. O documento, que citou esse e outros fatos sobre o caso, afirma que, "pelo acima exposto, não se faz mais necessária a manutenção de sua prisão temporária".
No dia seguinte, a Justiça determinou a soltura imediata dele, enquanto manteve outros suspeitos presos.
Marçal havia sido preso provisoriamente no dia 31 de agosto, segundo dados do processo.
Um dos trechos desse despacho afirma que ele "repassou várias informações a respeito de vários envolvidos com o esquema de fraudes via internet", citando que dois dos suspeitos estariam morando em Cuiabá, "onde continuariam operando seu 'esquema'".
A investigação da PF afirma que, além de fazer a manutenção dos computadores da quadrilha, Marçal operava um programa responsável por captar emails para os quais seriam enviados spams. Por meio desses últimos, a quadrilha fisgaria dados das contas bancárias das vítimas.
O esquema envolvia o que se convencionou chamar de phishing, um velho método de fisgar pessoas na internet e induzi-las a clicar em links de sites que instalam vírus em seus computadores e celulares. A seleção de emails se dava por meio de um programa que sabia quais endereços eletrônicos eram de fato utilizados pelos usuários.
Durante uma audiência realizada mais tarde durante o processo, um agente da PF afirmou que Marçal sabia do esquema e teria passeado em carros da quadrilha. Mas também pontuou que ele deu alguma "colaboração na elucidação de alguns pontos da investigação", e a Promotoria responde que isso seria levado em consideração pelo juízo.
Trechos do interrogatório de Marçal no dia 31 de agosto de 2005 citam detalhes da atuação de integrantes da quadrilha, falam do uso de softwares e também relatam que um homem teria acesso a "todas as contas bancárias que seriam fraudadas".
Posteriormente, em 1º de setembro, há um outro interrogatório mais curto, em que há o relato de que um homem teria dito que gostaria de entrar no esquema e que esse mesmo suspeito teria intermediado a compra de um programa de computador para atuar em bate-papos em comunidades virtuais.
Embora as informações repassadas tenham sido citadas em pedido de soltura de Marçal, posteriormente o fato de ele ter citado esse tipo de detalhe foi usado para apontar discrepância com a versão dele de que não sabia do esquema e era inocente.
Marçal alegou não saber do motivo criminoso para a seleção de emails e que um dos acusados lhe dizia "que o trabalho que estava sendo realizado era de publicidade para um médico".
Em seu depoimento, Marçal afirmou que recebia R$ 350 (cerca de R$ 1.000, em valores corrigidos) para fazer serviços de informática para Danilo de Oliveira, que foi acusado de chefiar a quadrilha. Ele disse ter conhecido o homem em uma igreja.
Durante o processo, um agente da PF foi questionado se Pablo não fazia apenas a manutenção nos computadores, e o agente responde que não. "Inclusive, o Pablo é... a indicação de que ele quer enviar, ele próprio enviar, isso demonstra que ele sabe enviar [os emails mandados pela quadrilha]."
A condenação de Marçal se deu apenas em 2010. Na ocasião, ao condenar Marçal a quatro anos e cinco meses de reclusão, o juiz disse que ele teria tido um papel secundário na quadrilha. Sua pena foi extinta em 2018 por prescrição retroativa.
Em vídeo publicado em 2022 em suas redes, Pablo afirmou que consertava computadores para um "cara da igreja", que "os computadores ficavam rodando" e que "ia lá, só consertava e ia embora". Ele afirmou que todas as pessoas foram condenadas e cumpriram pena, sendo que só ele teve extinção da punibilidade.
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