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Marçal domina bolha de podcasts bolsonaristas, e Nunes é ignorado

Candidato do PRTB é o que tem maior parcela de apoiadores do ex-presidente entre seus eleitores

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São Paulo

Milhares de visualizações, mais de 30 horas acumuladas de vídeos e outros milhares de cortes ajudaram Pablo Marçal (PRTB) a ganhar visibilidade entre os seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que declarou apoio a Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo.

Pesquisa Datafolha revelou que o eleitor de Marçal é mais bolsonarista do que o do atual prefeito.

Nos últimos dois meses, o candidato do PRTB esteve nos principais podcasts alinhados com a direita, alguns deles com apresentadores que se engajaram na campanha de Bolsonaro em 2022. Marçal participou de pelo menos 20 atrações que, na íntegra, somam mais de 10 milhões de visualizações e quase 30 horas de exposição.

Pablo Marçal e Jair Bolsonaro, que entregou medalha ao influenciador
Pablo Marçal e Jair Bolsonaro, que entregou medalha ao influenciador - Reprodução/@pablomarcal1 no Instagram

As entrevistas no YouTube acabam virando um repositório de vídeos para seguidores do candidato do PRTB produzirem conteúdo viral em outras redes sociais.

O influencer estimulou competições e premiou com valores em dinheiro quem postava cortes de suas falas e conseguia o maior engajamento. A prática levou a Justiça Eleitoral a suspender as redes sociais do candidato, após denúncia do PSB, da concorrente Tabata Amaral.

A ronda em podcasts se intensificou nos últimos dois meses e incluiu idas a canais sobre finanças, política, entretenimento e variedades. Neles, o candidato falou sobre a campanha, sua vida pessoal e empreendimentos. Foi assim no Café com Ferri, em 6 de agosto, no qual o influencer admitiu gerar "idiotices" para ser conhecido.

"Se o cara é hater, ele trabalha para mim sem carteira assinada, [é necessário] ser amado e odiado", afirmou. "Peço até desculpa se alguém me conheceu por alguma idiotice. Tenho que entrar na cabeça das pessoas."

No episódio de mais de 1 hora e 30 minutos, ele conversou com o influenciador financeiro Rafael Ferri. Bolsonarista, o apresentador participou de uma live da campanha do ex-presidente na véspera da votação em 2022.

O podcast também entrevistou o prefeito Ricardo Nunes, em junho. A participação teve pouco mais de 3 mil visualizações. Já a de Marçal acumulava 427 mil visualizações no YouTube até o dia 27 de agosto.

A GTF, empresa da qual Ferri é sócio, afirmou que Tabata Amaral foi chamada, mas não aceitou ir ao programa. "Foram convidados candidatos que Ferri admira e que avaliamos que têm proximidade com a audiência do canal".

Outro empresário que fez campanha para Bolsonaro em 2022 e que recebeu Marçal em seu podcast foi Tallis Gomes, fundador do Easy Taxi e sócio da G4, plataforma para educação executiva. A conversa no podcast Vox Luminis durou mais de 1 hora e 40 minutos.

Em julho, Tallis virou tema de debate nas redes sociais após afirmar que não contratava "esquerdistas" para seu negócio atual e também exaltou "70 horas ou 80 horas por semana de trabalho". "Foi para viralizar", disse ele em entrevista à Folha.

De todas as participações de Marçal em programas de internet, a que teve maior visualização foi no podcast Os Sócios: 1,4 milhão. O canal dos influenciadores Bruno Perini e Malu Perini faz parte do grupo Primo Rico e enfoca temas como empreendedorismo, mercado financeiro e dicas de saúde.

Ao longo de 1 hora e 50 minutos, o candidato do PRTB respondeu perguntas de assuntos que variaram do treino diário de exercícios do influencer a propostas para a capital paulista.

Numa das respostas, o candidato afirmou que prefeitos do interior transportam moradores de rua em vans para a cracolândia, região onde usuários de drogas se concentram na região central de São Paulo. O apresentador disse acreditar que era boato. "Isso acontece de fato?", questionou. "Todo dia", afirmou Marçal, sem apresentar provas.

Em outra conversa com influencers de finanças, o candidato foi ouvido pelo canal Irmãos Dias, que, em abril de 2022, entrevistou o então presidente Bolsonaro, no Palácio do Planalto. A conversa exibida em 13 de agosto teve mais de 280 mil visualizações.

Até o momento, o canal não ouviu outro candidato na capital paulista. O apresentador André Janeiro Dias afirmou à Folha que Guilherme Boulos (PSOL) não aceitaria ir ao podcast em caso de convite. Ele relatou que tentou, sem sucesso, chamar o presidente Lula (PT).

"O pessoal de esquerda costuma selecionar canais que tenham muito a ver com o público deles, então a gente tem muita dificuldade em chegar nessas pessoas. Geralmente [elas] recusam os convites", disse.

Com alvo certeiro no público conservador, Marçal esteve numa atração do Brasil Paralelo, líder no segmento de conteúdo voltado para a direita. No programa Contraponto, ele propôs "resetar a cabeça das pessoas" para fazer o Brasil se tornar uma "nação de primeiro mundo".

O episódio acumulava 615 mil visualizações até o dia 27 de agosto. À Folha o Brasil Paralelo informou que chamou todos os candidatos à Prefeitura de São Paulo e que aguarda a participação deles na sua atração.

Outra vitrine para o candidato do PRTB foi um programa voltado ao entretenimento. Ele esteve no podcast Groselha Talk, que já recebeu personalidades da internet como a atriz e tiktoker Cela Lopes e o ator Thomaz Costa.

Marçal não era a única atração do programa. Dividiu holofote com o influenciador Felca, conhecido por vídeos de reacts e de repercussão de assuntos em alta nas plataformas.

"Falar sério na internet não chama a atenção. Vim aqui hoje para furar essa bolha", afirmou. Na conversa, o influencer falou sobre a luta que promete ter com pugilista Popó, prevista para dezembro. O programa teve mais de 416 mil visualizações.

Desde a eleição de 2022, os podcasts viraram alvo das campanhas políticas por atingirem públicos segmentados. Esses programas não precisam cumprir as regras exigidas às rádios e televisões Por serem concessões públicas, os veículos tradicionais estão obrigados a destinar tempo igual para todos os candidatos.

"O que vale para as rádios e TV em termos de controle prévio de eventual propaganda [positiva ou negativa] não se aplica mesmo às plataformas de internet em geral em razão de não serem concessionárias de serviço público", informa o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

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