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Segurança não justifica omissão de dados sobre viagens de ministros do STF, afirmam especialistas

Avaliação é que informações gerais poderiam ser divulgadas sem risco e que falta de transparência prejudica corte

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São Paulo

A alegação genérica de que questões de segurança justificam a falta de divulgação de informações sobre viagens envolvendo ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) não é suficiente para fundamentar a ausência de dados sobre os magistrados nesses casos, afirmam especialistas ouvidos pela Folha. Ao mesmo tempo, a postura prejudica a imagem da corte e pode fragilizá-la institucionalmente, dizem eles.

A corte gastou quase R$ 200 mil em diárias de quatro policiais federais que acompanharam ministros do tribunal em viagem aos Estados Unidos no fim do ano. A assessoria do STF não divulgou quem são os ministros nem o motivo das viagens alegando questões de segurança. No período, somente o ministro Edson Fachin divulgou compromissos públicos, programados para ocorrer no Brasil.

Fachada da sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, em dia nublado
Fachada da sede do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília - Gabriela Biló - 3.mai.2022/Folhapress

"O STF não informará dados sobre quais policiais judiciais ou agentes atendem quais ministros por questões de segurança", afirmou o tribunal em nota. "Num contexto de elevadas ameaças ao STF e seus integrantes, a divulgação de nomes de policiais judiciais ou outros agentes, conforme análise técnica do setor de segurança, coloca em risco os servidores, suas famílias e as autoridades", completou.

Para Bruno Morassutti, diretor na Fiquem Sabendo, agência de dados especializada em LAI (Lei de Acesso à Informação), e membro do Conselho de Transparência Pública da Controladoria-Geral da União, é razoável a preocupação com a segurança dos ministros, mas isso não pode comprometer a transparência dos dados.

Segundo Morassutti, um dos autores da coluna Transparência Pública na Folha, o ideal é que as informações sejam divulgadas antes mesmo das viagens.

Casos sensíveis, entretanto, podem motivar divulgação posterior ao evento. Ainda assim, as decisões quanto à omissão de informação precisam estar bem fundamentadas e não podem partir de justificativas genéricas, além de precisarem respeitar uma restrição temporal sobre até quando o dado deve ser omitido.

"Quando se trata dos magistrados mais importantes do Judiciário nacional, deveríamos ter informações sobre suas atividades de forma mais transparente. A transparência fortalece a reputação e a imagem institucional, além de evitar desinformação [sobre a atuação dos ministros]", afirma. "Muito melhor seria fortalecer a transparência para combater rumores e boatos que são criados."

Mesmo com restrições de segurança que possam justificar a ausência de detalhes sobre as viagens, é desejável que o tribunal ofereça mais informações sobre o caso, como o motivo da viagem e o nome dos ministros, afirma Morassutti.

Ele afirma que seria positivo haver mais transparência em relação à agenda dos magistrados, como já acontece no Executivo. "Esse movimento de aprimoramento da transparência de cortes supremas não é exclusivo do Brasil. Isso aumenta a confiança que temos na instituição. Um tribunal que perde a confiança da população se torna institucionalmente mais frágil."

Para Juliana Sakai, diretora-executiva da ONG Transparência Brasil, não é razoável a omissão dos dados, principalmente no caso em que o evento já ocorreu. "O argumento de segurança não se sustenta e gera mais desconfiança a respeito de como o dinheiro público é usado pelo tribunal", afirma.

Ela diz observar um movimento crescente no sistema de Justiça brasileiro para dificultar o acesso a informações públicas. Como exemplo, cita resolução aprovada em novembro do ano passado pelo CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) que exigiu a identificação das pessoas interessadas em consultar o salário de procuradores.

Ainda segundo Sakai, a questão da segurança é frequentemente utilizada de maneira genérica para justificar a ausência de informações que deveriam ser públicas. "Esse argumento é utilizado de forma completamente abstrata, dizendo-se que há potencial risco, mas sem falar de elementos concretos."

Ela afirma que as instituições podem, a depender do caso, analisar quanto de informação podem oferecer sem comprometer a segurança dos envolvidos, mas que a ausência de dados simples, como o nome dos magistrados que fizeram a viagem, não é razoável.

"Talvez a gente não precise saber o endereço exato para onde foram os ministros, mas precisamos saber o que estamos pagando. Existe um nível de transparência necessário, e eles não estão dando nenhum", afirma.

De acordo com Sakai, a ausência das informações aumenta a desconfiança contra a instituição. "Querem se blindar contra a opinião pública, mas essa falta de prestação de contas não é condizente com o fortalecimento democrático", afirma.

Para Marco Antonio Ferreira Macedo, professor do departamento de direito público da UFF (Universidade Federal Fluminense), a resposta do tribunal ao caso não se adequa ao princípio de publicidade presente na Carta Magna.

"Na Constituição, não há norma explícita de sigilo. Muito pelo contrário, a norma é a publicidade, conforme artigo 37", afirma. Ele argumenta que a questão de segurança não parece justificar a ausência de dados gerais sobre a viagem.

Segundo Macedo, a prática é prejudicial à transparência e à ideia de responsabilização. Além disso, a falta de informação criaria "blindagem para os ministros não serem criticados".

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