As investigações da Polícia Federal que levaram ao indiciamento do ministro Juscelino Filho (Comunicações) sob suspeita de corrupção tiveram como ponto de partida uma reportagem da Folha de 2022.
Na ocasião, o jornal revelou o uso de laranjas em licitações da estatal federal Codevasf por um empresário maranhense que posteriormente seria apontado como um dos principais elos do ministro com o suposto esquema criminoso.
Mensagens no celular do sócio oculto da empresa Construservice, apreendido em operação que usou como uma das bases reportagem da Folha, constituem a principal prova contra Juscelino (União Brasil-MA), segundo as apurações da PF.
Veja a cronologia do caso.
Empreiteiras com laranjas (4.mai.22)
Folha publica reportagem com a revelação de que a empreiteira Construservice, então vice-líder em licitações da Codevasf, tinha utilizado laranjas para participar das concorrências públicas e tinha como sócio oculto o empresário Eduardo José Barros Costa, conhecido como Eduardo Imperador ou Eduardo DP.
PF mira empresário (26.mai.22)
Usando como justificativa a reportagem da Folha sobre o uso de laranjas, a PF pede à Justiça a prisão de Eduardo DP. Antes disso, a polícia já investigava suspeitas de um esquema desse empresário com verbas do Ministério da Educação, mas passou a focar as concorrências da estatal após a publicação do jornal.
Nova operação (20.jul.22)
Após ter o pedido judicial atendido, a PF deflagra a operação Odoacro, prende Eduardo DP (ele é libertado dias depois) e apreende os celulares do empresário. Ao analisar os aparelhos, a corporação descobre mensagens do empresário com o ministro Juscelino da época em que ele era deputado federal.
As mensagens mostram diálogos do empresário e de Juscelino sobre a execução de obras e a destinação das emendas parlamentares.
Nova fase de operação (5.out.22)
A PF inicia a segunda fase da operação contra Eduardo DP, que recebe o nome de Odoacro II.
Estrada de terra (30.jan.23)
O jornal "O Estado de S. Paulo" publica reportagem na qual revela que, por meio de emendas, Juscelino Filho direcionou R$ 5 milhões do orçamento federal quando era deputado para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente à fazenda dele em Vitorino Freire (MA).
Emendas para empreiteiras (2.fev.23)
Folha mostra em reportagem que ao menos R$ 42 milhões indicados por Juscelino Filho para emendas parlamentares irrigaram contratos com empreiteiras que estavam no centro de suspeitas de irregularidades em obras da Codevasf.
Uma delas era a Construservice, de Eduardo DP, que teve R$ 19,3 milhões empenhados a partir de verbas direcionadas por Juscelino para obras em diversos municípios do Maranhão.
Ex-assessores foram sócios de empresa atribuída a ministro (3.fev.23)
O jornal O Estado de S. Paulo revela que duas pessoas que ocuparam cargos de assessoria no gabinete de Juscelino quando ele era deputado já haviam integrado o quadro societário da empresa Arco, que posteriormente a PF apontou como empresa controlada de fato pelo ministro e que teria sido usada no suposto esquema criminoso
Terceira fase de operação (1º.set.23)
É deflagrada a terceira fase da operação, que recebe o título de Benesse, mirando Juscelino Filho, Luanna Rezende, irmã de Juscelino e prefeita de Vitorino Freire, e obras da construtora Construservice.
A PF chegou a pedir buscas contra Juscelino, mas Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), negou a solicitação.
Indiciamento de Juscelino (11.jul.24)
Como antecipado pela Folha, a PF pede indiciamento de Juscelino Filho sob a suspeita da prática dos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude em licitação no caso.
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