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Claudia Rossi preserva legado do pai em defesa da qualidade da informação

Cinco anos depois da morte do jornalista Clóvis Rossi, filha e neta se dedicam à educação midiática

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São Paulo

Claudia Rossi se lembra de quando seu pai organizava o próprio arquivo com notícias de jornais impressos guardadas em pastas divididas por país e tema. Às vezes, fazia um círculo com lápis vermelho em volta das reportagens e pedia para Claudia e os irmãos recortarem e arquivarem.

Eram os anos 90, antes da chegada da internet. O então correspondente internacional da Folha Clóvis Rossi mantinha as pastas meticulosamente arrumadas em um móvel grande de aço. Toda vez que partia para uma de suas inúmeras viagens pelo mundo, levava uma pastinha e lia no avião.

Nesta sexta-feira (14), completam-se cinco anos da morte de Clóvis Rossi, aos 76 anos, em decorrência de um infarto. Ao longo de 40 anos na Folha, foi correspondente em Buenos Aires e Madri, colunista e repórter especial. Tornou-se um dos nomes mais importantes da história do jornal e do jornalismo brasileiro.

Claudia Rossi, filha de Clovis Rossi, durante uma palestra sobre inteligência artificial na escola Santi, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Claudia gosta de pensar que, de alguma forma, preserva o legado do pai. Tal como ele, se dedica a garantir a qualidade, organização e integridade da informação.

À frente da Conectar Educadores, Claudia une sua experiência como jornalista e pedagoga para ajudar pais, professores e alunos a entender o novo mundo da tecnologia e a navegar pelo excesso de informação.

Nas formações e consultorias que faz em escolas há dez anos, ela e a filha Natalia abordam desde orientações de segurança online, cyberbullying e saúde mental para crianças e adolescentes, até maneiras de usar a tecnologia para produzir e analisar conteúdo.

Através de exercícios, ajudam as crianças a perceber como o excesso de tempo de tela afeta a concentração e o humor, como elas devem se proteger ao jogar videogames online com desconhecidos, como precisam se comportar em grupos de WhatsApp. Mas sempre partindo do princípio de que proibir não é a solução –é preciso conversar e orientar.

As formações, realizadas nas escolas Santi, Gracinha e Morumbi de Alphaville, também ensinam como produzir conteúdo em diversos formatos e com várias ferramentas, organizar o conhecimento e se conscientizar sobre a desinformação.

Outro objetivo das palestras de Claudia é desmistificar a tecnologia.

Clóvis Rossi era o anti-ludita –ele abraçava com entusiasmo as novas tecnologias. Foi assim com software e apps para sistematização de informação, que ele usou até o fim da vida –afinal, nunca parou de viajar e fazer reportagens. "Ele era doidinho por tudo que aparecia de novidade na área de tecnologia, queria provar ferramentas que pudessem facilitar o trabalho dele."

Esse é mais um traço de Clóvis que Claudia tenta honrar. Muitos professores, por exemplo, têm receio das novas tecnologias e não sabem usar, ela relata.

Em relação à inteligência artificial, a primeira pergunta deles é: como podemos detectar o uso do ChatGPT em trabalhos escolares?

"Eu explico que é muito difícil, que não existe mecanismo de detecção de IA 100% eficiente, então é preciso ensinar aos alunos como usar e dar orientações", diz ela.

Em conversas, os alunos contam que usam ChatGPT em trabalhos escolares na grande maioria das vezes –e nunca foram "pegos" pelos professores. A estratégia, dizem eles, é tirar as palavras mais difíceis do texto gerado pela IA e substituir por vocábulos mais usados.

"Em vez de proibir, precisamos falar sobre a importância de checar as informações e as fontes do conteúdo gerado por IA e os aspectos éticos."

Passa pela identificação de desinformação, com checagem de fontes, até a importância de respeito a direitos autorais. Já se foram os tempos em que os trabalhos de escola tinham como fonte "a internet" ou "o Google".

Nas formações, Claudia ensina a usar ferramentas de IA para texto imagem e áudio e como fazer um prompt (instrução dada ao sistema) eficiente.

Será que seu pai veria a IA com bons olhos? "Com certeza não usaria para produzir conteúdo, mas acho que ficaria muito animado para experimentar a tecnologia."

Claudia Rossi, filha de Clóvis Rossi, durante palestra na escola Santi, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress
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