Caso a disputa à Prefeitura de São Paulo se cristalize em torno dos atuais líderes de intenção de voto, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) podem disputar um espólio de cerca de um quinto do eleitorado que hoje declara preferência em candidatos minoritários.
O deputado federal tem potencial de atrair mais eleitores de Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), caso se confirme a influência dos apoios do presidente Lula (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) sobre a decisão de voto do eleitor.
Já o atual prefeito tende a ser o principal beneficiado dos votos de Kim Kataguiri (União Brasil).
Boulos e Nunes atualmente lideram a corrida eleitoral, em empate técnico, com 30% e 29% das intenções de voto, respectivamente, de acordo com pesquisa Datafolha. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.
O deputado é apoiado por Lula, e o prefeito, por Bolsonaro. Se a eleição fosse hoje, tanto o presidente como o ex-mandatário poderiam ter influência decisiva, mostra a pesquisa.
Entre os entrevistados pelo Datafolha, 24% dizem que votariam com certeza em um nome indicado pelo petista, e 42%, que jamais o fariam.
O endosso do ex-presidente, por outro lado, traz mais rejeição: 63% dos eleitores de São Paulo dizem que não votariam de jeito nenhum no candidato indicado por ele; 17% afirmam que com certeza fariam isso.
O cenário leva a campanha de Boulos a insistir no elo do prefeito com Bolsonaro. E, por outro lado, influenciou Nunes a adotar uma postura de distanciamentos e aproximações com o ex-presidente.
Por um lado, seu entorno insiste que é Bolsonaro quem o apoia, e não o contrário. Por outro lado, ele foi ao ato na avenida Paulista em prol do ex-mandatário, a quem já chamou de "democrata".
Atrás dos dois líderes na pesquisa vêm Tabata, com 8% das intenções de voto, Marina Helena, com 7%, e Kim, com 4%.
A sete meses da eleição, ainda há incerteza considerável no cenário.
Não está certo quantos eleitores sabem que de fato Marina Helena é a candidata do Novo. Há a possibilidade, que ela refuta, de ter sido confundida com a ministra de Lula Marina Silva (Rede).
Corrobora para essa percepção o fato de ela ter maior índice de conhecimento entre os eleitores menos escolarizados do que entre os mais instruídos, o que vai na contramão da tendência habitual.
O grau de conhecimento dos candidatos é justamente outro fator de incerteza na disputa paulistana. Pouco mais da metade dos eleitores (53%) diz conhecer Tabata. Marina Helena e Kim têm índices ainda menores, de 46% e 33%, respectivamente.
Além disso, uma parcela considerável dos eleitores ainda não sabe responder, ou responde errado, quem são os candidatos apoiados pelo atual e pelo ex-presidente —46% no caso de Lula e 63% no de Bolsonaro.
Supondo que o grau de conhecimento sobre os apoios aumente com o decorrer da campanha, e que o poder do presidente e do ex-presidente de atrair ou repelir eleitores se mantenha, Boulos pode obter de 1,4 a 5,3 pontos que hoje seriam de Tabata.
O valor mínimo corresponde ao de eleitores dela que dizem com certeza votar em um nome escolhido por Lula. O máximo, ao total dela, menos aqueles que dizem com certeza não votar em um indicado pelo petista.
Já Nunes, com o mesmo raciocínio aplicado ao endosso de Bolsonaro, poderia obter de 0,6 a 1,4 ponto de Tabata, já que 83% dos eleitores dela afirmam que não votariam em um nome indicado pelo ex-presidente.
No caso de Marina Helena, essa parcela também é expressiva —de 72%, mais um indício de possível confusão com a ministra de Lula, uma vez que a candidata do Novo, à direita, trabalhou no governo Bolsonaro.
Hoje, o peso do petista e do ex-presidente poderiam fazer com que até 4,6 pontos de Marina Helena fossem para Boulos, e no máximo 2 para Nunes.
O cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da FGV, ressalta por outro lado que, mesmo se a candidata terminar o primeiro turno com uma votação pequena, Nunes pode se beneficiar em uma segunda etapa, uma vez que tem mais afinidade ideológica com o Novo.
"Em uma eleição muito acirrada, 2% podem fazer toda a diferença", diz.
Nunes seria o destinatário natural da maioria dos votos de Kim, pois 72% dos eleitores dele dizem que jamais votariam em um indicado por Lula.
O deputado federal, porém, tem sofrido pressão interna em seu próprio partido para desistir da candidatura. Caciques da União Brasil preferem apoiar a reeleição de Nunes.
O peso dos apoios políticos pode variar de acordo com a conjuntura, diz o professor da FGV.
A depender da situação econômica, de eventuais declarações de um ou outro, ou da evolução das investigações envolvendo Bolsonaro, por exemplo, o poder de ajudar ou atrapalhar os indicados muda.
Por outro lado, Teixeira ressalta que o grau de influência de Lula na eleição paulistana está em consonância com o resultado eleitoral de 2022 na cidade, o que aponta um cenário relativamente cristalizado.
Na eleição presidencial, Lula ganhou de Bolsonaro na capital paulista por 54% a 46% dos votos válidos. Segundo o Datafolha, 55% dos paulistanos votariam com certeza (24%) ou talvez (31%) em um candidato apoiado por ele.
Teixeira avalia também que os eleitores de Tabata podem se dividir entre os dois candidatos na liderança em um eventual segundo turno, uma vez que ela tem alguns posicionamentos mais identificados com a esquerda, mas outros menos, caso das políticas de segurança e contra as drogas.
Em um cenário do Datafolha sem Tabata entre os candidatos, Boulos e Nunes seguiram empatados, ambos com 33% dos votos.
O atual prefeito também poderia potencialmente receber mais votos entre os 14% de eleitores de São Paulo que declaram voto em branco/nulo ou nenhum. Nesse grupo, a rejeição a um nome indicado por Lula é maior do que a um endossado por Bolsonaro.
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