O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) defendeu nesta quinta (14) a decisão de não divulgar seu voto na aprovação de Flávio Dino para o STF (Supremo Tribunal Federal) e disse sofrer "intenso ataque" do governo Lula (PT) e de parte do PL do Paraná, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Não me surpreende o intensivo ataque daqueles que desejam ocupar o cargo que legitimamente conquistei nas urnas, com o apoio do povo paranaense. Aos meus eleitores e apoiadores, digo: não divulgar o voto na indicação de autoridades é uma prerrogativa do parlamentar", escreveu em uma publicação em rede social.
"O intenso ataque que tenho sofrido do atual governo Lula, de parte do próprio PL paranaense, além das ameaças do PCC, fazem-me agir, nesse momento, com cautela e no exercício efetivo de uma prerrogativa que tenho, tudo de forma a preservar minha independência", afirmou.
Uma das críticas ao ex-juiz veio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O parlamentar publicou uma foto de Moro em suas redes sociais ao lado de um diabo e escreveu: "Tira o seu da reta e dane-se o resto. É só votar a favor e depois não dizer em quem votou".
A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (PL) também atacou o ex-aliado. "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido", afirmou Michelle pelas redes sociais.
A ex-primeira dama também compartilhou a foto de uma mensagem trocada pelo senador com um contato chamado "Mestrão". No texto, revelado pelos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, Moro diz a "Mestrão" que manterá seu voto secreto como "instrumento de proteção".
Moro e Jair Bolsonaro romperam em 2020, quando o ex-juiz deixou o comando do Ministério da Justiça acusando o então presidente de tentar interferir na Polícia Federal. Eles se reconciliaram no segundo turno da eleição de 2022, quando o hoje senador assessorou o então candidato em debates na TV.
Na quarta (13), em um dos momentos inusitados da sabatina de Dino na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Moro cumprimentou o ministro e acabou sorrindo com uma brincadeira feita por ele.
Posteriormente, ao discursar, Moro reclamou de críticas que recebeu em redes sociais por ter sido fotografado em meio a risadas com o indicado do presidente Lula.
"Vossa excelência perguntou algo e eu achei graça e dei uma risada. Tiraram várias fotos e já viralizaram, como se isso representasse minha posição", disse Moro, acrescentando que os dois foram juízes federais na mesma época.
Ele disse também que não perderia "a civilidade" e que o país "precisa disso para diminuir a polarização".
Uma troca de mensagens ocorrida no plenário entre Moro e o primeiro suplente de seu mandato, o advogado Luis Felipe Cunha, na noite desta quarta, indica que o ex-procurador e ex-deputado federal Deltan Dallagnol estaria "desesperado".
O diálogo, captado pela Folha durante a sessão que aprovou Dino, também faz menção a uma estratégia adotada pelo senador. Não há detalhes sobre o motivo de desespero do ex-procurador da Lava Jato nem sobre a estratégia de Moro.
Pessoas próximas, porém, afirmaram que a reação emocional de Deltan tem a ver com o fato de o ex-juiz da Lava Jato não ter declarado voto contra a indicação do ministro de Lula. Isso sinalizaria, para ele, que Moro votou pela aprovação de Dino.
"Amigo, pela estratégia relatada, aparentemente, não há o que ser dito. Eu disse ao Deltan que vc [você] sabe o que faz e que estarei ao seu lado sempre, por lealdade e por saber que você è uma [sic] cara correto", disse o advogado na mensagem.
O senador é alvo de uma ação movida pelo PL e a federação formada por PT, PV e PC do B por suposto abuso nos gastos da pré-campanha do ano passado.
A suspeita é a de que o escritório de Cunha não prestou efetivamente os serviços previstos no contrato e o dinheiro abasteceu ilegalmente a pré-campanha de Moro —o que o senador e seu partido rechaçam.
Mesmo com a votação sendo secreta, boa parte da oposição revelou que votaria contra Dino —como o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) em entrevista à Folha, o líder do PL, Carlos Portinho (RJ), e Damares Alves (Republicanos-DF).
Moro, no entanto, não quis abrir seu voto. O senador disse a jornalistas nesta quarta que a sabatina poderia mudar sua posição: "A gente é sempre uma pessoa aberta ao diálogo, a gente conversa com todo mundo. Resolvemos as questões para discutir o que a gente diverge e o que a gente concorda".
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