Objeto de discussão desde que Jair Bolsonaro (PL) coalhou seu governo com figuras egressas da caserna, algumas delas do serviço ativo, a presença de militares no Executivo divide os brasileiros. Para 48%, fardados não deveriam integrar administrações civis, enquanto 47% acham o contrário.
Os dados são da mais recente pesquisa do Datafolha, que ouviu 2.016 pessoas nos dias 12 e 13 deste mês em 139 cidades. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos.
Em outras três ocasiões, em 2020 e 2021, o Datafolha fez a mesma questão, mas ela era composta pela afirmação introdutória "O governo Bolsonaro tem vários militares no ministério e em cargos diversos".
Por isso, os resultados não são diretamente comparáveis com a pergunta atual, sem a introdução de contexto, que já inexiste. Nas ocasiões anteriores, a rejeição à presença fardada era maior, chegando a 58% em julho de 2021.
O tema segue causando polêmica. O governo Lula (PT) preparou uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para vetar a ida de militares da ativa para o primeiro escalão do Executivo e para a disputa de eleições.
Hoje, isso é possível, e a possibilidade de retornar aos quartéis após perder uma eleição é vista como um dos maiores riscos de politização da tropa. Em relação ao governo, a medida não atingiria em tese aqueles deslocados para funções secundárias afeitas à área militar, como no Ministério da Defesa ou no Gabinete de Segurança Institucional.
Mas a ideia foi bombardeada no berço, e bastou uma reunião da Defesa com outras áreas para definir que a proposta deverá ser diluída, abrindo a possibilidade para a nomeação de ministros fardados.
No governo Bolsonaro, chegou a haver 10 em 23 pastas, com casos problemáticos notórios, como o da condução do combate à pandemia pelo general da ativa Eduardo Pazuello na Saúde, que ocorreu alinhada ao negacionismo esposado pelo presidente.
Lula tem uma relação delicada com os militares por associá-los à gestão anterior e por incidentes como a postagem do então comandante do Exército Eduardo Villas Bôas que pressionou o Supremo Tribunal Federal a não conceder um habeas corpus para o hoje presidente em 2018, o que não facilita o diálogo, apesar do trabalho de acomodação tocado pelo ministro José Múcio (Defesa) e pelos três comandantes de Força.
Com efeito, a maior resistência à presença de fardados no governo vem daqueles 40% que se declaram petistas (29% muito, 11% um pouco): 62% são contra. E a maior aceitação à ideia parte dos 32% (25% muito, 7% pouco) bolsonaristas que compõem a polarização nacional, com 67% de apoio.
Outro segmento associado ao bolsonarismo, como o dos evangélicos, também demonstrou mais apoio à presença fardada: 58%.
Esta mesma rodada de pesquisa do Datafolha já havia explicitado a erosão no apoio às Forças Armadas, tradicionalmente alto. Em um rol de dez instituições, elas seguem com o maior índice de confiança. Mas a taxa, 34%, é a menor da série histórica datada de 2017, e 11 pontos inferior ao registrado no primeiro ano do governo Bolsonaro.
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