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Direita tem explosão de perfis verificados e ganha exposição no Twitter

Selos pagos garantem prioridade aos conteúdos desses assinantes na plataforma

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São Paulo

As novas regras do Twitter estão amplificando vozes da direita radical na plataforma. Com o sistema de selos pagos, implementado há duas semanas, a concentração dos usuários verificados nesse espectro ideológico saltou de 0,7% para 15,4%: um crescimento superior a 20 vezes.

Imagem ilustrativa do logotipo do Twitter
Imagem ilustrativa do logotipo do Twitter - Olivier Douliery/AFP

Essas contas pagaram pelo selo ou o obtiveram a partir de uma redistribuição feita sem transparência pela companhia de Elon Musk. Especificamente entre os influenciadores do debate político no Brasil, os perfis com selo nesse grupo mais à direita representam agora 15,5% do total de verificados —antes, eram 5,9%.

De outro lado, a esquerda e o centro tinham maior relevância na rede e perderam perfis verificados nessa nova disposição, numa combinação entre baixa adesão ao plano pago e remoções dos distintivos antigos.

A análise foi realizada pelo DeltaFolha a partir do GPS Ideológico, ferramenta que posiciona no espectro ideológico as principais figuras públicas da rede e seus seguidores (veja a metodologia aqui).

Para essa análise, as contas foram dispostas em uma reta ideológica e divididas em dez grupos com tamanhos iguais, de maneira que o meio da régua não representa necessariamente o centro político. Foram considerados os perfis de 2.243 influenciadores do debate político e 105 mil seguidores ativos selecionados aleatoriamente em uma base com 1,8 milhão de contas.

As novidades adotadas por Musk impactam diretamente a experiência no site, pois os perfis com o selo passaram oficialmente a ter prioridade algorítmica, ou seja, estão sendo exibidos com maior destaque.

Publicações, retuítes e respostas publicadas pelos assinantes do Twitter Blue e demais verificados já são recomendados ativamente na timeline e nas buscas, mesmo para quem não segue essas contas. Os usuários acabam mais expostos a conteúdos de pseudoinfluenciadores e de perfis privilegiados pela empresa.

A transparência de algoritmos, responsáveis por recomendar e direcionar publicações a usuários, é um dos deveres das plataformas previsto no PL das Fake News, que teve a votação adiada na Câmara dos Deputados.

"Em breve, os assinantes com o símbolo azul de verificação terão prioridade no ranking de buscas, menções e respostas, para ajudar a diminuir a visibilidade de golpes, spam e bots", justificou a empresa em dezembro de 2022, ao anunciar o plano pago.

Essa diretriz, combinada à nova disposição ideológica dos perfis verificados, tende a alterar a balança do debate político na rede.

Considerando a divisão dos usuários em dez grupos iguais, os dois mais à direita são os únicos com aumento de contas validadas. Eles concentram agora 30% dos perfis com o selo, ante 14% no outro extremo.

Entre os influenciadores políticos, a distribuição é mais homogênea, mas com um movimento similar. As duas faixas mais à direita agora reúnem 28% dos perfis verificados, contra 15% no lado oposto.

Essa diferença pode ser explicada não apenas pela maior disposição da direita em pagar pelos selos, mas também pela remoção em massa dos selos concedidos na antiga gestão. O número absoluto de perfis verificados caiu de 1.121 para 342 entre os influenciadores políticos e de 294 para 208 entre os usuários da amostra analisada.

Antes, os ícones eram distribuídos gratuitamente e serviam para autenticar figuras de relevância pública, com o objetivo de coibir contas falsas e diminuir a desinformação.

No dia 20 de abril, a empresa removeu as marcas antigas, depois de anunciar que elas seriam exclusivas para pagantes do Twitter Blue, além de políticos e algumas organizações selecionadas pela plataforma. Levantamento do DeltaFolha mostrou que 73% dos perfis mais populares com o selo antigo não haviam assinado o plano e foram impactados pela medida, em uma amostra com 2.832 contas verificadas.

Diante da baixa adesão, a plataforma "devolveu" o status a parte dos influenciadores, até mesmo contra a vontade de alguns, caso do youtuber Felipe Neto. Seguido por 16,3 milhões na plataforma, ele recusou o ícone e criticou o novo sistema.

Mesmo com as devoluções, o novo levantamento mostra que apenas 0,2% dos usuários analisados possuem o selo azul atualmente (20 a cada 10 mil usuários), indicando um baixo êxito comercial do Twitter Blue. No Brasil, a assinatura custa a partir de R$ 42 por mês, ou de R$ 440 no plano anual.

O atacante Neymar e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —com 62,1 milhões e 11,3 milhões de seguidores, respectivamente— são exemplos de personalidades que voltaram a exibir o distintivo sem que, aparentemente, fossem assinantes.

Os dados sugerem que a popularidade das contas com mais de 1 milhão de seguidores foi o principal critério para a restituição dos selos, mas talvez não seja o único. Com algumas exceções, a maioria dos influenciadores que perdeu o status e não voltou a exibir o ícone está abaixo dessa faixa de alcance na rede.

A devolução dos selos rendeu críticas inclusive entre alguns apoiadores de Musk. Ao lançar o Twitter Blue, o bilionário havia afirmado que o sistema de verificação antigo era "corrupto", que "não deveria haver um tratamento diferente para celebridades" e que a cobrança criaria "um ambiente mais democrático".

Na prática, as novas regras implementadas por Musk potencializam vozes alternativas e empurram as conversas na rede para o lado ao qual o empresário está ideologicamente alinhado. No Brasil, por exemplo, alguns canais antes rotulados como disseminadores de fake news, no escopo dos inquéritos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, agora possuem o selo de verificação e suas recompensas.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Twitter não esclareceu os questionamentos apresentados e apenas respondeu com um emoji de fezes.

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