Os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília foram o resultado de um "apagão geral", avaliou o governador do DF, Ibaneis Rocha, que retornou ao cargo nesta quinta-feira (16). Ele havia sido afastado do cargo no dia seguinte ao vandalismo.
"O apagão não foi de graça. Alguma coisa aconteceu para que tivesse", acrescentou após ser questionado sobre o assunto. "Foi um conjunto [de erros]. Tivemos falhas da Polícia Militar do DF, do batalhão do exército, tivemos diversas falhas em conjunto. Tenho certeza que isso a investigação vai apurar", disse.
Ibaneis afirmou ainda que foi aconselhado a não nomear o ex-ministro da Justiça Anderson Torres para a Secretaria de Segurança Pública do DF, mas apontou que na época, ele "era pessoa da minha inteira confiança e confiei de que as coisas iriam transcorrer na maior tranquilidade".
Torres foi secretário de Segurança Pública durante parte do primeiro mandato de Ibaneis a frente do DF e deixou o cargo para se tornar ministro da Justiça do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ele está atualmente preso por causa da investigação que apura o que ocorreu em 8 de janeiro.
Uma operação de busca e apreensão na sua casa encontrou a minuta de um decreto que dava um golpe nas eleições do ano passado, na qual Bolsonaro perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme revelou a Folha.
Questionado sobre a descoberta do documento, Ibaneis disse que não conseguia explicar e que isso cabia a Torres. "Aquele documento revela que na cabeça de alguém, não sei de quem, havia a intenção de dar um golpe no Brasil", pontuou.
O governador disse ainda que Torres "goza, gozava" da sua confiança. "Tinha intimidade com ele, posso dizer isso de forma categórica, e enquanto foi ministro da Justiça sempre me atendeu. Entendi que ele seria uma boa pessoa para o governo do DF".
Ele evitou responsabilizar o ex-auxiliar pelo que aconteceu no início de janeiro no Distrito Federal. "O que aconteceu foi imprevisível. Na minha visão, não foi culpa do Anderson", avaliou. Um pouco depois, ele afirmou que o plano de segurança montado para a ocasião estava "extremamente bem montado".
O governador também defendeu a própria atuação no dia. "Naquele momento, eu tinha contato com o secretário de Segurança em exercício [o delegado Fernando de Souza Oliveira]. A mensagem que ele me passava em todo momento era de que as coisas estavam tranquilas e eu transmitia essas mensagens", disse.
"Você recebe informes do seu secretário de Segurança dizendo que está tudo tranquilo, o que eu ia fazer?", continuou.
Rocha ressaltou ainda que "por duas vezes tentamos tirar os manifestantes da porta do quartel-general do Exército e nas duas vezes fomos impedidos pelo Comando do Exército. Sabíamos que aquilo era um barril de pólvora".
O político do MDB foi afastado do cargo pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A decisão inicial previa um afastamento de 90 dias, mas foi abreviada por decisão do ministro após ele concluir que não haveria riscos para as investigações com a sua volta ao cargo.
Ibaneis chegou no evento no qual foi reempossado no cargo na companhia do secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, nomeado pela vice-governadora Celina Leão (PP) após o fim da intervenção federal na segurança pública do DF enquanto era governadora.
Pouco depois, Leão chegou e se postou ao lado de Ibaneis, que a elogiou. "Fiquei 64 dias afastado e última vez que tinha encontrado Celina foi no dia 9 [de janeiro] quando fui afastado. Ela governou essa cidade com a consciência que estava fazendo o melhor para o DF", disse.
No discurso, Ibaneis afirmou não guardar mágoas nem rancor por ter sido afastado e que Moraes fez o certo ao tomar a decisão.
"Afastamento foi necessário, vivemos momentos de muita dificuldade. A invasão dos prédios foi significativa para a história desse país. Eu tenho todo o respeito por todas as autoridades, por tudo que aconteceu. Recebi meu afastamento pelas mãos do Moraes com todo o respeito, paciência".
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