Generais que comandam regiões militares evitam condenar os atos golpistas realizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em quartéis e chamam as manifestações de democráticas e pacíficas.
A Folha conversou reservadamente com cinco generais da ativa. Eles afirmam que, apesar dos pedidos dos manifestantes, não há risco de apoio do Exército a um golpe contra a democracia.
Manifestações golpistas foram realizadas na quarta (2) em ao menos 18 estados e no Distrito Federal. Os atos se esvaziaram nesta quinta-feira (3), mas foram montados alguns acampamentos em frente a quartéis.
Os comandantes regionais afirmam que alguns militares de batalhões próximos têm sido convocados para atuar no controle de trânsito ou na proteção dos prédios do Exército. A segurança dos manifestantes, no entanto, é responsabilidade das Polícias Militares.
Por ora, a ordem para os comandantes é manter silêncio sobre os atos bolsonaristas que pedem um golpe militar para reverter a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Ministério da Defesa afirmou que as manifestações são "ordeiras e pacíficas", garantidas pelo "exercício da liberdade de manifestação de pensamento e de reunião, de acordo com os princípios constitucionais e as leis vigentes".
"O Ministério da Defesa pauta-se pela Constituição Federal brasileira", concluiu.
Em sintonia com a Defesa, os generais dizem que as manifestações, mesmo com teor antidemocrático, são permitidas pela Constituição Federal e não podem ser reprimidas. Dois deles disseram que os atos demonstram a insatisfação de parte considerável da população com a eleição de Lula.
Outro comandante disse que a pauta golpista da manifestação é repudiada dentro da Força.
Os atos dos apoiadores de Bolsonaro em frente aos quartéis começaram na terça (1) e ganharam força no feriado de Finados.
Em tentativa para não prejudicar Bolsonaro, organizadores têm mudado o discurso em alguns locais, como em Brasília, e tentado disfarçar o teor golpista dos pedidos. Diferentemente de outras mobilizações a favor de um golpe militar, como a de 7 de Setembro de 2021, manifestantes pediram desta vez o que chamam de "intervenção federal".
Na visão deles, sem base em fatos, a principal diferença é que, nessa hipótese, Bolsonaro permaneceria no poder com a garantia dos militares.
Em grupos de WhatsApp e Telegram criados para incentivar as manifestações, mensagens apócrifas orientam os participantes a não citarem o nome de Bolsonaro, o número do presidente nas urnas e o slogan da campanha.
Uma delas, compartilhada na quarta, afirma que o presidente não pode ser vinculado à manifestação sob pena de o mandatário ir preso. "De forma nenhuma remeter essa intervenção ao nome do Bolsonaro. Pode ser considerado crime e ele ir preso! E não queremos isso".
Os principais atos ocorrem em frente a quartéis em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.
O acampamento no Distrito Federal está localizado na Praça dos Cristais, em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano. Há cerca de 50 barracas, algumas instaladas na noite de quarta durante a manifestação ou na manhã desta quinta.
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