Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula diz faltar só 'um tiquinho' para ganhar eleição no 1º turno

Petista tem 48% dos votos válidos, segundo o Datafolha, e precisa de 50% para definir a disputa sem 2º turno

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou a integrantes da coordenação de sua campanha que "falta um tiquinho" para ganhar as eleições no primeiro turno. No entanto, reunidos com o ex-presidente nesta terça (6), aliados apontaram obstáculos a serem superados para liquidar a fatura já no dia 2 de outubro.

Entre os desafios estão a carência de recursos e omissão de aliados em estados onde há forte presença do bolsonarismo, como os do centro-oeste.

"Faltam 20 e poucos dias. Todas as eleições que eu participei nunca tivemos a chance de resolver no primeiro turno como temos nessas eleições. E não temos que ter vergonha de dizer isso", disse Lula.

"Se o cara que tem 1% quer ir para o segundo turno, por que nós não podemos querer ganhar no primeiro se falta apenas um tiquinho? Um tiquinho. Veja quanto falta para a gente ganhar. Tem hora que é 5%, hora que é 4%, 3%", seguiu o ex-presidente.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em encontro com trabalhadoras domésticas no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em encontro com trabalhadoras domésticas no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC - Bruno Santos - 4.set.22/Folhapress

Lula também disse a aliados que é preciso aumentar a capacidade de trabalho e dar mais visibilidade à campanha nas ruas. "Ela precisa não só ser vitoriosa, mas ter a marca da participação popular e social, e é isso que sabemos fazer."

Para garantir a vitória no primeiro turno, uma das estratégias traçadas é atrair eleitores de Ciro Gomes, que eventualmente estejam descontentes com a postura do pedetista. A avaliação entre membros do PT é que Ciro deu uma guinada à direita.

Coordenador de comunicação da campanha, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, foi um dos primeiros a vocalizar o descontentamento com a tática de Ciro.

"Infelizmente o Ciro Gomes está rasgando a sua biografia, está fazendo uma aliança com o fascismo brasileiro", afirmou Edinho à Folha.

A investida sobre o eleitor cirista seria uma largada para a campanha pelo voto útil, baseada no discurso de que um segundo turno oferece perigos à democracia e de reunificação da direita em torno do nome de Bolsonaro.

Outro obstáculo que deve ser ultrapassado para liquidar a fatura no primeiro turno, segundo aliados de Lula, é a falta de recursos materiais, como panfletos, adesivos e bandeiras.

Segundo um integrante do comitê eleitoral, o orçamento reservado à campanha do ex-presidente sofreu uma redução de R$ 40 milhões, que serão destinados às candidaturas de deputados e senadores.

Cobrado durante a reunião desta terça, o tesoureiro da campanha, deputado Márcio Macedo (PT-SE), afirmou que já foram gastos R$ 8 milhões na confecção de material e outros R$ 8 milhões serão usados para esse fim na reta final.

Segundo o prefeito de Recife, João Campos (PSB), que participou do encontro, representantes dos movimentos sociais e sindicatos pleitearam material para panfletagem.

Participantes da reunião também relataram que há candidatos ao governo e ao Congresso Nacional em estados como Acre, Rondônia, Pará e Espírito Santo que não estão dando visibilidade a Lula e Alckmin em seus materiais de campanha, inclusive nas peças de rádio e televisão.

"Há estados em que os deputados estão fazendo campanha sozinhos. A ideia é unificar e padronizar a campanha nesses últimos dias de cima a baixo, Lula, Alckmin e o restante", afirmou o deputado José Guimarães (PT-CE).

Ainda segundo o parlamentar, Lula deverá priorizar agendas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Na tentativa de frear o avanço de Bolsonaro e seu candidato ao Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio de Freitas, ficou acertado que ex-governador Geraldo Alckmin, vice de Lula, deverá concentrar os próximos 15 dias ao estado.

Em uma reunião da coordenação do núcleo da campanha na segunda (5), foi debatida a necessidade de otimizar a agenda de Lula e Haddad por meio de atividades conjuntas no estado.

Haverá também um esforço para aumentar a participação da militância nas atividades até o primeiro turno.

Ainda em sua fala a aliados nesta terça, o petista também criticou Bolsonaro , afirmando que ele é alguém "que não conhece nenhuma prática democrática e que trabalha na base de fake news", e disse que seus adversários resolveram "nos atacar tanto quanto o nosso mais importante opositor".

"Eles atacam Bolsonaro porque querem ganhar pontinho dos eleitores do Bolsonaro e me atacam porque têm medo de que eu ganhe as eleições no primeiro turno. Eles não querem que a gente ganhe as eleições no primeiro turno. Porque quem tem 5%, 6%, 7%, 8% sonha em chegar a 30% ou 40% para ir ao segundo turno. Por que quem tem 45% não pode sonhar com mais cinco pontos e ganhar no primeiro turno?"

O candidato não citou nominalmente nenhum adversário.

O petista teve chances de vitória em primeiro turno na disputa de 2006, quando buscava a reeleição. No entanto, perdeu pontos na reta final, obtendo 48,61% dos votos contra 41,64% de Geraldo Alckmin.

São apontadas duas causas para a disputa ter chegado ao segundo turno. A primeira foi a decisão de Lula não participar de debates. A explosão de um escândalo apelidado de aloprados também teria pesado.

À época, a PF apreendeu R$ 1,75 milhão em dinheiro vivo em um hotel de São Paulo, cifra que, supostamente, seria o pagamento de petistas por um dossiê contra tucanos.

Ainda na reunião desta terça, Lula afirmou que "não irá baixar o nível" de sua campanha nem "fazer jogo rasteiro".

Ele orientou aliados a não retrucar ataques de adversários. "O dado concreto é que não temos que ficar retrucando e não tem que ficar aceitando um nível baixo de campanha. Nós não precisamos fazer jogo rasteiro, temos que tentar discutir os assuntos que interessam ao povo", afirmou.

Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostrou que o petista tem 13 pontos de vantagem sobre Jair Bolsonaro (PL) na disputa do primeiro turno. Ele marca 45% das intenções de voto, ante 32% do presidente. Em relação ao levantamento anterior, de agosto, o ex-presidente oscilou negativamente dois pontos, exatamente a margem de erro da pesquisa. Já o atual titular do Planalto ficou onde está.

Por outro lado, Ciro Gomes (PDT) foi de 7% para 9%, e Simone Tebet (MDB), de 2% para 5%. Ambos contam agora com mais exposição, e a senadora teve bom desempenho no debate realizado por Folha, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura, no dia 28, atestado em pesquisa qualitativa com indecisos pelo Datafolha.

Lula agora tem 48% dos votos válidos, na conta que exclui brancos e nulos do cômputo final, utilizada pelo Tribunal Superior Eleitoral para definir o resultado da eleição. Nela, vence de forma direta quem tiver 50% mais um voto. Na pesquisa passada, em agosto, o petista tinha 51%. Em junho, 53%. Em maio, 54%.

Considerando a margem de erro de dois pontos —para mais ou para menos—, isso significa que ele pode ter hoje 46% ou 50%, insuficientes em tese para vencer. Já Bolsonaro, seu principal opositor, tem 39%. Ciro Gomes (PDT) marca 10%, e Simone Tebet (MDB), 5%.

A campanha do ex-presidente irá entrar com representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para derrubar uma peça da campanha de Bolsonaro veiculada nesta terça (6) na propaganda eleitoral de televisão e pedirá à corte um direito de resposta.

A peça da campanha do chefe do Executivo exibe uma fala do ex-presidente sobre roubo de celulares: "Eu não posso ver mais jovem de 14, 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia, às vezes inocente, ou às vezes porque roubou um celular". Em seguida, a peça mostra pessoas criticando a declaração. "Imoral", "erradíssimo" e "jamais ele poderia falar um negócio desse" são algumas das reações.

Na representação, a campanha de Lula irá resgatar resolução do TSE que trata de desinformação na propaganda eleitoral e que impede que uma campanha veicule fatos "sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral".

Na avaliação de um aliado de Lula, ao se referir ao petista como "ladrão", a campanha de Bolsonaro desconsidera os processos que ele venceu na Justiça nos últimos anos.

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