De acordo com o que tem circulado em grupos bolsonaristas no WhatsApp e no Telegram, não há uma orientação homogênea sobre qual deve ser o mote principal e o conteúdo dos cartazes para os atos que estão sendo organizados para o 7 de Setembro.
Se por um lado há mensagens que destacam os atos pela "democracia" e pela "liberdade", termos que são comumente distorcidos na retórica do presidente Jair Bolsonaro (PL), há intenso compartilhamento de mensagens contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e de teor golpista, pedindo que o presidente acione as Forças Armadas.
Um áudio que viralizou defende cartazes com frases como "fora, comunistas", "fora, STF" e "fora, Lula" e diferentes mensagens sugerem faixas com pedidos para que Bolsonaro "acione as Forças Armadas" junto a expressões como "voto impresso e contagem pública", "limpe o STF", "acabe com o comunismo" e "faça o saneamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal".
O assunto aparece em mensagens sobre o 7 de Setembro que mais viralizaram nos grupos monitorados pelo Observador Folha/Quaest, entre 26 de agosto e 1º de setembro, considerando 511 grupos bolsonaristas no WhatsApp e 176 no Telegram. O restante da amostra é composto por grupos de esquerda ou que seguem classificados como indeterminados.
Além disso, continuam sendo compartilhadas teorias da conspiração que apontam para um plano para impugnar a chapa de Bolsonaro, incluindo participação de um trio de Brasília e do PT, e que também chamam para os atos.
Bolsonaristas estão organizando atos em diferentes cidades do país no mesmo feriado em que, no ano passado, Bolsonaro deu declarações golpistas e atacou o STF.
Apesar da busca em dar caráter eleitoral para as manifestações, é imprevisível qual será a conduta do presidente e agora candidato à reeleição. Neste sábado (3), Bolsonaro se referiu ao atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, como "vagabundo".
Em 2021, nas semanas que antecederam o 7 de Setembro, o clima de alta tensão na crise entre os Poderes estava instalado. Havia temor de violência e até mesmo de insurreição de policiais pelo país, além do espectro de que Bolsonaro pudesse tentar algum tipo de golpe na data.
"Nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi tão importante ou será importante" e "creio que chegou a hora, de nós, no dia 7, nos tornarmos independentes para valer" foram algumas de suas falas à época.
O 7 de Setembro deste ano marca os 200 anos da Independência do Brasil. O presidente deve participar dos atos em Brasília e no Rio de Janeiro.
Tanto no WhatsApp quanto no Telegram, parte das mensagens mais virais encontradas na última semana são de convocatórias sem ataques diretos às instituições.
"Atenção Patriotas! Dia 7 de Setembro vamos pintar as ruas de verde e amarelo!!! Pela liberdade! Pela democracia! Pela reeleição do nosso Presidente Jair Bolsonaro!", diz uma delas.
Uma outra fala em liberdade, mas adota tom inflamado e letras maiúsculas: "Povo compatriota vamos reagir 07/09/2022 é nossa ultima manifestação passiva, vamos defender nossa liberdade, nosso Brasil depois pode ser tarde!!!!!", diz parte da mensagem.
Ao mesmo tempo, o destaque no período nos grupos de WhatsApp foi de uma mensagem que diz também em letras maiúsculas: "Atenção pessoal, para 7 de Setembro não escrevam nos cartazes as palavras democracia e liberdade!!!!".
Ela vem acompanhada de um áudio de cerca de cinco minutos, em que entre outras coisas é dito que tais pautas seriam uma confirmação, para pessoas de fora do Brasil, de que Bolsonaro seria um ditador. "Vai parecer que a gente está pedindo socorro", diz.
A pessoa defende que os cartazes devam conter, em várias línguas, termos como "fora, STF", "fora, Ciro", "fora, comunismo" e "fora, esquerda". É possível que a mensagem tenha sido reciclada do ano passado, quando narrativa semelhante foi divulgada. Em 2021, foram vários os manifestantes com cartazes contra o STF em inglês e outros idiomas.
Uma mensagem compartilhada nas duas redes orienta que não seja escrito o artigo 142 da Constituição —que bolsonaristas consideram uma autorização para intervenção militar— ao mesmo tempo em que sugere que sejam levadas faixas pedindo a Bolsonaro que acione as Forças Armadas junto a expressões como "voto impresso e contagem pública" e "limpe o STF".
"Olha o recado do nosso Presidente Bolsonaro! Última chamada 07/09/2022, Não vamos pedir fechamento de nada, tampouco [artigo] 142 ou algo do tipo. O PR pedi que cobremos transparência nas eleições. Sejamos estratégicos e vamos às ruas pacificamente nesses termos", diz o texto (assim como os demais, reproduzido pela reportagem com as palavras e pontuação originais, incluindo eventuais erros gramaticais).
Na retórica de Bolsonaro, os termos transparência e limpas, ao falar das eleições, são usados como condicionantes para aceitar o resultado do pleito. "Serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas", afirmou em recente entrevista ao Jornal Nacional.
Compartilhada no WhatsApp, uma outra mensagem diz que "os grupos de direita precisam fechar com uma pauta única!" e que "os administradores dos grupos precisam se comunicar".
"Atenção urgente compartilhe", começa o texto em letras maiúsculas e na sequência traz os horários dos atos em algumas cidades e dá as seguintes orientações: "Todos em verde e amarelo" e "Façam seus cartazes de cartolina e caneta esferográfica com a pauta única: presidente acione as FFAA e faça o saneamento dos ministros Supremo Tribunal!".
A descrição de um dos grupos de Telegram monitorados diz que "o Dia 7 de setembro decidirá as eleições deste ano". "Se não mostrarmos nossa força nas ruas, a fraude poderá ser colocada em prática. Temos que fazer a maior manifestação da história do Brasil".
Os termos pesquisados pela Quaest abrangeram variações da data, como 7/9, Sete de Setembro, e 07 de setembro, além das palavras e expressões "Independência", "Será gigante" e "Vai ser gigante".
"Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no dia 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez", disse Bolsonaro durante convenção do PL no Maracanãzinho, deixando no ar um sinal de ameaça. "Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo", completou em referência ao STF.
Em outros momentos, busca dar algum verniz democrático aos atos, como em evento no interior da Bahia, quando relacionou os mesmos à democracia e à liberdade. Disse, contudo, que "a democracia se faz no voto, no voto transparente, no voto confiável".
Em entrevista ao Jornal Nacional, Bolsonaro foi questionado sobre apoiadores que defendem pautas antidemocráticas como um golpe militar e o fechamento do Congresso e do STF e respondeu que entende como "liberdade de expressão".
"Quando alguns falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo para esse lado", afirmou o presidente.
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