No sétimo mandato como deputado estadual, José Sarto (PDT), 61, iniciou a campanha para prefeito de Fortaleza apresentando seu currículo à população.
Escolhido candidato governista apoiado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, Sarto entendeu que, apesar dos mandatos consecutivos na Assembleia, precisava ser reconhecido em sua primeira eleição para o Executivo.
Nesta entrevista à Folha, Sarto acusa seu rival no segundo turno, Capitão Wagner (PROS), pelo aumento da violência em Fortaleza, ligando-o aos dois recentes motins de policiais militares no estado (2011/2012 e 2020), e tenta justificar por que o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) não esteve ativo em sua campanha no primeiro turno.
Sarto lidera a disputa eleitoral com 53% das intenções de voto no segundo turno. Capitão Wagner (PROS) aparece com 35%, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
As facções criminosas dominam boa parte da periferia de Fortaleza. Mesmo o problema sendo uma responsabilidade prioritária do governo estadual, o senhor acha que a violência é o tema principal hoje também para a prefeitura? Se você observar, a violência em Fortaleza aumentou muito de 2012 para cá depois do primeiro motim dos policiais, que foi de 2011 para 2012. O Réveillon daquele ano foi de um pânico generalizado em Fortaleza. A ação dessas facções começou a encorpar ali, no motim que nasceu também com meu adversário [Capitão Wagner].
Um ato ilegal, as forças policiais não podem fazer paralisações, e tem uma ligação umbilical os dois motins [2011 e 2020] com a violência. Mas o município já tem ajudado, com a criação das areninhas [campos de futebol society em praças], torres de vigilância e videomonitoramento nas ruas em parceria com o governo estadual.
Em seu horário eleitoral houve críticas ao governo da ex-prefeita e hoje deputada federal Luizianne Lins (PT), uma de suas adversárias, e o partido dela agora o apoia no segundo turno. O senhor conversou com Luizianne? Não conversei, mas é uma crítica programática usando pesquisa do Datafolha [de 2010] que colocava a Prefeitura de Fortaleza como a pior avaliada entre oito capitais. Tenho muito respeito a ela. Era uma crítica política, como houve críticas à gestão de Roberto Cláudio (PDT). Tenho recorrido a Belchior para falar desse assunto: "Passado é uma roupa que não se veste mais".
Dos nove candidatos derrotados no 1º turno, o senhor recebeu apoio de sete. Somente Heitor Férrer [Solidariedade] e Heitor Freire [PSL] se declararam neutros. O senhor vê isso como uma adesão às suas ideias ou pelo fato de o presidente Jair Bolsonaro [sem partido] ter declarado apoio a Capitão Wagner? Acho que é uma mensagem de que nesse momento vivemos uma crise sanitária com a Covid-19, e, em uma crise econômica que vem desse problema sanitário, é mais importante a união do que a divisão. Temos diálogo com todos e um projeto para atravessar um momento que pode ser difícil, principalmente com o término do auxílio emergencial que o governo federal paga em 2020.
Chamou a atenção até o momento que o ex-governador Ciro Gomes tenha participado tão pouco de sua campanha. O que aconteceu? Cada um tem uma função estabelecida. O Ciro teve Covid-19, acabou se afastando um pouco. Eu também tive Covid-19 e precisei ficar um tempo fora das ruas, é uma campanha diferente por causa da doença, uma campanha mais curta. Tínhamos uma metodologia para que eu me tornasse mais conhecido a uma parcela da população e nossa defesa, e que Ciro também defende, é da continuidade desse projeto com avanços.
O senhor falou em se tornar mais conhecido, mas está no sétimo mandato como deputado estadual e também já foi vereador. Por que precisou se apresentar à população? A eleição majoritária é diferente. Uma cidade com 2,6 milhões de habitantes e você, numa campanha para deputado estadual, precisa de menos votos. Obtive mais de 450 mil no primeiro turno à prefeitura. Eu sei das necessidades de uma campanha para o Executivo porque já coordenei algumas e sei que é preciso de tempinho para a população te reconhecer, da massificação do seu nome.
A Covid-19 ainda deve ser problema para todos por meses, talvez anos, dependendo do andamento da produção e distribuição das vacinas que estão sendo elaboradas. Como o senhor pretende atuar nessa questão se eleito? Vamos garantir o acesso à vacina. Nossa ideia, em parceria com o governador Camilo Santana [PT], é identificar grupos de risco, gestantes, pessoas com comorbidades, profissionais da saúde e vacinar quando for possível. Também precisamos continuar com monitoramento de casos e fazer testagens.
Houve duas ações da Polícia Federal em Fortaleza recentemente com acusações de uso indevido de dinheiro durante a pandemia, primeiro na compra de respiradores e depois de equipamentos para o hospital de campanha feito no estádio Presidente Vargas. O senhor conversou com o prefeito Roberto Cláudio sobre isso? Conversei, não há qualquer receio, foi tudo feito da maneira mais transparente possível. Como dizemos aqui no Ceará, isso é uma "marmota", uma ação estranhíssima e que vem acontecer pouco antes da eleição.
Uma delas foi com participação da CGU [Controladoria-Geral da União], que tem ligação direta com o governo Bolsonaro, estranho que demande isso bem nesse período. No caso dos respiradores a prefeitura tomou todas as precauções, processando [a empresa] e recebeu recursos de volta.
Raio-X
José Sarto Nogueira Moreira, 61
Médico, é deputado estadual desde 1995. Antes, foi vereador em Fortaleza de 1988 a 1994. Hoje no PDT, já foi filiado ao PDC, PMDB, PPS, PSB e PROS
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