Ao visitar obras da pista do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou, neste sábado (5), as medidas de prefeitos e governadores contra o coronavírus, chamando de "projetos ditadores nanicos que apareceram pelo Brasil afora".
"Alguns governadores queriam proibir pousos. Alguns governadores fecharam rodovias federais, como o Pará por exemplo, e tiraram o poder de eu resolver as questões como eu achava que devia resolver", disse o presidente.
"Fica uma grande experiência, como alguns me acusam de ditador, os projetos ditadores nanicos que apareceram pelo Brasil afora, não só em áreas estaduais, mas em algumas municipais também. Fica de ensinamento dessa pandemia", completou.
Bolsonaro também criticou os que, segundo ele, não priorizaram a economia.
"Aquele pessoal que dizia no passado, que não era eu, 'a economia recupera depois', está na hora de botar a cabeça pra fora e dizer como é que se recupera rapidamente a economia. Sempre falei que era vida e economia. Fui muito criticado. Mas não posso pensar de forma imediata, tenho que pensar lá na frente."
A fala do presidente vem após a economia registrar retração inédita de 9,7% no segundo trimestre de 2020 na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados na terça-feira (1º) pelo IBGE.
"Esperamos que volte à normalidade o país, não digo mais rápido, que não tem como ser rápido, mas não tão demorado também", afirmou Bolsonaro.
Depois do pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Márcio França (PSB), foi a vez de outro pré-candidato, Celso Russomanno (Republicanos), aparecer no compromisso de Bolsonaro.
Além de Russomanno, que é deputado federal, estavam presentes os ministros da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e da Justiça, André Mendonça. Assim como Bolsonaro, eles estavam sem máscara.
O presidente voltou a minimizar o coronavírus. "O pessoal não tem que ter medo da realidade. O vírus, eu falei lá atrás, que ia pegar em grande quantidade de gente. Vamos tomar cuidado com os mais idosos, que tenham comorbidades, e enfrentar."
Após compromissos no Vale do Ribeira (SP) na quinta (3) e na sexta (4), Bolsonaro adiou a volta a Brasília, que deveria ocorrer na sexta, e dormiu na capital paulista, em um quartel do Exército. Pela manhã, antes de embarcar para a capital federal, ele vistoriou as obras de recuperação da pista em Congonhas.
Também estavam presentes o secretário Nacional de Aviação Civil, Ronei Glanzmann, e o presidente da Infraero, Brigadeiro Paes de Barros.
Durante a demonstração da camada porosa da pista, em que o local foi molhado com jatos d'água, Bolsonaro fez piadas sobre "pegar na mangueira".
A respeito das eleições municipais, Bolsonaro já disse que não apoiará candidatos, mas tem considerado rever a posição para alavancar nomes vistos como aliados ao menos no segundo turno das principais cidades e, assim, criar bases eleitorais para a corrida presidencial de 2022.
Em São Paulo, os pré-candidatos disputam o voto bolsonarista, inclusive França, que atua na esquerda, e Russomanno.
O deputado, ligado à igreja evangélica e do mesmo partido dos filhos de Bolsonaro no Rio, pode ter sua candidatura confirmada em São Paulo no próximo dia 16.
Ele ainda conversa com outros partidos para montar uma coligação. Há a possibilidade de apoio a nomes lançados, como França e o prefeito Bruno Covas (PSDB).
Bolsonaro chegou ao aeroporto por volta de 9h, desceu do carro e conversou com cerca de 40 apoiadores no portão de autoridades. O presidente tirou fotos e assinou uma bandeira do Brasil, mas não falou com a imprensa, que tampouco pôde acompanhar a visita da pista.
Entre os apoiadores do presidente, a presença de Russomanno foi comentada. Os bolsonaristas citaram, entre seus nomes favoritos à Prefeitura de São Paulo, o deputado, França e Levy Fidelix (PRTB), que é apoiado pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
"Acho que Bolsonaro pode apoiar indiretamente o Russomanno, como fez hoje. Acho que ele é o mais próximo do presidente", disse o professor André Gonçalves, 36, que foi prestigiar o evento.
Já França esteve no mês passado com Bolsonaro em São Vicente (SP), sua base eleitoral, durante a visita de obras de uma ponte.
O aceno de França incomodou o PSB e o PDT, que o apoia —os dois partidos fazem oposição a Bolsonaro em Brasília. O pré-candidato afirmou que o encontro foi para tratar da ajuda ao Líbano, país de origem da família de sua mulher.
Na quinta-feira, o filho de França acompanhou Bolsonaro em compromissos no Vale do Ribeira (SP). O deputado estadual Caio França (PSB) afirmou que sua presença foi institucional, já que a região é sua base eleitoral.
Neste sábado, na avenida Washington Luís, em frente ao aeroporto, houve buzinas de apoio e crítica ao presidente. Um motociclista perguntou aos apoiadores sobre os R$ 89 mil depositados por Fabrício Queiroz a Michelle Bolsonaro e ouviu gritos de "comunista", "petista" e "maconheiro".
A aeronave presidencial decolou de Congonhas às 10h30 rumo a Brasília.
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