Irritados com a falta de articulação política do Planalto com o Congresso, partidos do centrão rejeitam a possibilidade de ocupar espaços na vice-liderança na Câmara.
Partidos como PRB, PSD, DEM e MDB não quiseram se associar às posições. Os postos são importantes por auxiliarem o líder da Casa na articulação com parlamentares, e eram uma aposta do governo para melhorar a interlocução com o Legislativo.
Com isso, a composição de seus parlamentares aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (25) é apenas de deputados independentes das legendas, muitos dos quais já ocupam espaço na tropa de choque do governo.
Um exemplo é o presidente da chamada "bancada da bala", Capitão Augusto (PR-SP), aliado de Bolsonaro, mas sem trânsito partidário: não conseguiu viabilizar uma candidatura avulsa à presidência da Casa no início do ano, quando seu partido decidiu apoiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Além disso, três dos deputados que ocuparão a função são do próprio PSL, partido do presidente e também do líder do governo, Major Vitor Hugo (GO).
O usual é que as posições de vice-liderança sejam ocupadas por parlamentares da base aliada do governo. Em 2016, Michel Temer indicou 15 deputados para essa função, oriundos de 13 partidos diferentes.
Marx Beltrão (PSD-AL), que foi ministro de Michel Temer, e Silvio Costa Filho (PRB-PE), por exemplo, chegaram a ser convidados extraoficialmente para compor o quadro de vice-líderes. Mas líderes do centrão afirmam que seria confirmar que fazem parte da base do governo, algo a que não estão dispostos sem que haja contrapartida do Executivo.
Já no Solidariedade, líderes afirmam que Lucas Vergilio (GO) pode sofrer sanções partidárias por ter confirmado sua posição à revelia da legenda.
Como ainda há espaços na vice-liderança, as siglas dizem que esperam alguma sinalização do Planalto —das nomeações em segundo escalão, por exemplo— para que haja mudança na decisão.
Além disso, a insatisfação com a falta de poder de Vitor Hugo é um dos fatores apontados para que não se queira ocupar uma posição subordinada a ele.
Partidos dizem que só acumulariam desgaste, sem nenhuma condição para de fato negociar com os parlamentares.
O mesmo princípio é aplicado para a dificuldade em encontrar um relator para a reforma da Previdência, principal pauta econômica do início da gestão Bolsonaro.
Deputados do centrão, como o ex-líder do governo de Michel Temer, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), foram sondados para assumir a tarefa, mas têm demonstrado pouca disposição.
Cogita-se entre as líderes deixar que algum deputado do PSL fique com o texto, ampliando ainda mais o isolamento do governo, que tem colocado seu próprio partido em todas as posições-chave de articulação: além da líder da Câmara, a presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) ficará com a sigla, e a deputada Joice Hasselmann (SP) é a nova líder no Congresso.
A articulação do Planalto com o Congresso tem sido alvo constante de críticas dos parlamentares. Um dos principais pontos de conflito é a nomeação de cargos de segundo e terceiro escalão nos estados.
A ideia do governo de criar um "banco de talentos" para que deputados façam indicações por meio de uma plataforma online caiu mal entre os parlamentares, que se dizem ofendidos com o discurso antipolítica adotado pelo presidente.
Além disso, condicionam a votação da reforma à apresentação do texto que mudará a lei da aposentadoria dos militares.
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