O senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse nesta quinta-feira (31) que as interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal que mostram como ele procurou, em 2014, o empresário Joesley Batista para discutir uma nomeação para o Ministério da Agricultura não o incriminam.
"Não há nenhuma gravação minha em nenhum lugar que me incrimine ou seja desfavorável ao interesse do Brasil. As pessoas tensionam porque não me conhecem. Nunca cometi malfeito", disse Renan ao chegar à reunião do MDB que decidirá se ele será o candidato do partido à presidência do Senado.
O senador alagoano disse que sempre agiu institucionalmente.
"Sempre tive uma participação na formatação do nosso país do ponto de vista institucional."
As ligações, às quais a Folha teve acesso, mostram pela primeira vez a voz do senador em conversas com a cúpula do conglomerado de alimentação, indicando uma relação de intimidade entre Renan e os dirigentes da gigante das carnes.
Os áudios são de 2014. Em 2017, Joesley, seu irmão, Wesley, e outros cinco executivos afirmaram ter pagado milhões a deputados e senadores em eleições em troca de vantagens para a empresa. Renan está entre os delatados.
A Folha teve acesso a 18 áudios. O alvo da interceptação era Ricardo Saud, diretor de relações institucionais da JBS e quem fazia a intermediação da empresa com o Congresso.
Procurada pela Folha, a defesa de Joesley e Saud afirmou, por meio da assessoria, que "os assuntos referentes às doações eleitorais ou qualquer ato ilícito foram exaustivamente tratados e esclarecidos em acordo de colaboração firmado em 2017".
"Na medida em que investigações avançam, comprova-se a efetividade desse acordo de colaboração. Vale pontuar ainda que nunca houve interferência do senador Renan Calheiros em favor da empresa junto ao Ministério da Agricultura, mas sim do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB), conforme descrito em anexo", disse.
Os áudios de Renan Calheiros
- Interceptações da Polícia Federal de 2014 revelam intimidade entre Renan Calheiros e Joesley Batista, dono da JBS
- O alvo da PF era Ricardo Saud, ex-diretor de relações institucionais da JBS
- Joesley, Saud e mais cinco executivos se tornaram delatores em 2017
- Eles afirmaram ter feito pagamentos de mais de R$ 40 milhões para o MDB do Senado a pedido do PT
- Renan é acusado de ter recebido em seu nome R$ 9,9 milhões
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