Na periferia de São Paulo, neste sábado (11), o candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) fez um diagnóstico dramático da vida no Brasil e mencionou vitórias contra a ditadura e a inflação como incentivos para a renovação política.
“Nós ganhamos todas, isso é importante para quem está desanimando, para quem está revoltado”, discursou ao lançar a candidatura a deputada federal pelo PDT de Tabata Amaral, 24.
“Agora merdalhou geral. Não dá para dizer diferente”, resumiu em um salão na Vila Missionária, bairro no extremo sul da capital paulista onde Tabata nasceu e cresceu.
Chamada de tesouro pelo pedetista, a candidata tem uma longa história de superação. Sua principal bandeira é melhorar o ensino público. “Vamos sobralizar a educação”, disse em referência a Sobral (CE), reduto eleitoral de Ciro e cidade-modelo na área.
Segundo Tabata, a última vez que um presidenciável esteve na Vila Missionária foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1989.
“Estou realizado na política, mas me sentiria um covarde se eu, vendo o que está acontecendo na economia e na política brasileira, não tendo rabo de palha, sabendo que as coisas podem ser diferentes, se eu me omitisse nessa hora”, disse Ciro.
“E aí acabei virando presidente, candidato a presidente da República”, corrigiu-se. “Para presidente ainda faltam uns 60 milhões de votos, mas isso é um detalhe”, brincou para diversão da plateia.
Ciro lamentou a situação do país.
“Hoje, quando nos preparávamos para esse evento emocionante, 13,7 milhões de brasileiros amanheceram com a humilhação do desemprego, 32,2 milhões brasileiros vivendo de bico, correndo do rapa nas ruas e praças do Brasil ainda tentando não viver do crime nem da tentação do narcotráfico”, discursou.
“O que está falhando miseravelmente é a política, companheirada. Eu não precisava dizer isso para vocês, mas aqui é uma espécie de treinamento para a militância da Tabata”, afirmou. Ele pediu que os simpatizantes se empenhassem em conquistar votos para a candidata e outros aliados para renovar o Congresso.
Tulio Gadelha (PDT-PE), namorado da apresentadora Fátima Bernardes e candidato a deputado por Pernambuco, também estava no ato.
Mais cedo, eles almoçaram na casa de Tabata.
Telefone tocando, cachorro latindo, a comida no forno, Maria Renilda, mãe da candidata, serviu carne, arroz, feijão e ovo para os convidados. Também estava lá Renan Ferreirinha (PSB-RJ).
Tabata levou Ciro escada acima. Na laje posaram para fotos. "Desculpa te alugar", ela disse. "Que alugando nada. Estou emocionado desde a hora em que me convidou para vir."
Tabata cresceu na periferia. Conseguiu bolsas em escolas particulares, gastava três horas diárias no transporte público e mal tinha dinheiro para se alimentar.
Foi parar na Universidade Harvard, nos EUA, e lá conheceu Ciro. Ela foi assistir a uma palestra dele, perguntou o que tinha a dizer a jovens sobre política, ouviu uma resposta franca e acabaram discutindo astrofísica.
Na mesa do almoço na Vila Missionária, dois anos depois, voltaram a falar de política.
"Está na Folha. A questão [do PT] é expor Haddad ou não expor Haddad. O país inteiro refém disso", criticou Ciro.
"Haddad é uma pessoa muito boa e não percebe as malícias da política. Mal foi lançado e já caiu na armadilha de dizer que, entre Alckmin e Bolsonaro, ele votava no Alckmin", comentou.
Ciro ficaria com qual? "Eu estarei lá no segundo turno, não vou deixar o Brasil cair nessa encruzilhada", disse. "Essa é a resposta para quem tem mais treinamento."
"Veja em Pernambuco a sacanagem", disse Gadelha, candidato a deputado federal pelo estado. "A propaganda é só Marília [Arraes] e Lula, o PT vende duas ilusões."
O pernambucano pegou o celular. "Fátima escreveu que, assim, Ciro vai ganhar seu voto", contou Gadelha sobre a namorada, Fátima Bernardes, que ficou feliz com os elogios que o presidenciável fez, mas não declarou seu voto.
"Isso aqui [candidaturas como Tabata e Tulio] é o que vai salvar alguma confiança no sistema democrático. Do jeito que está a juventude não quer saber de nada", disse Ciro.
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